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[Música] [Aplausos] [Música] muito boa tarde bem-vindos todos aqui na feira do livro é mais uma apresentação de um ensaio ou de um retrato da fundação Francisco Manuel dos Santos Hoje vamos falar sobre Bruno kander o homem que vivia no escuro esta conversa vai servir para percebermos Porque é que o Candé era
Alguém que iluminava e iluminou a cidade o seu bairro muitas pessoas à sua volta temos connosco a Catarina Reis que é a autora do ensaio que é jornalista é jornalista da mensagem e começamos por fazer um elogio da mensagem e dar os parabéns à mensagem porque acabou de ser
Anunciada como com o prémio sapo de órgão de comunicação social 20 22 portanto a Catarina está duplamente Parabéns não só pelo livro mas por pertencer a equipa da mensagem que é um projeto único não só reconhecido de Lisboa e agora também a nível nacional e está connosco também é Olga que a irmã
Do Bruno cadé Hã eu vou começar precisamente pelo início do do livro da Catarina e que diz o seguinte no dia em que morreu Bruno candee deixou em cima do balcão da cozinha dois ovos já cozidos um frasco de feijão Frade por abrir e uma lata de atum as correr estes
Elementos eram já a representação de uma vida em suspenso uma refeição pronta que nunca aconteceu quando a família rompeu casa dentro para reconstituir os últimos Passos dele não foram só os ovos e o e o atum e o feijão um bairro inteiro ficou em suspenso Quando aqueles três tiros
Arrebataram Bruno numa avenida de Lisboa Bruno candee foi o primeiro homem em Portugal cujo cuja de origem numa condenação por ódio racial portanto além de tudo o resto que o Bruno eh deixou a sua morte obviamente terrível e tremenda eh com tudo Marca um momento histórico em Portugal Catarina tu começaste ou
Pensaste em fazer esta reportagem um ano após a morte do Bruno candê porque eu que é que o que é que te iluminou à procura deste deste homem e desta história bem antes de tudo muito obrigada a todos por estarem aqui presentes os conhecidos não conhecidos
Ah aqueles que já já estão a repetir a dose Pela terceira ou quarta vez não é muito obrigada porque muitos não conhecem o Bruno Candeia passaram a conhecer com esta com esta história e eu também só conheci o Bruno Candé quando ele entrou pela nossa casa dentro nas notícias pelos piores motivos possíveis
E o que nós Nessa altura é que pouco se falava de facto daquilo que era o Bruno cadé não sabemos exatamente que legal é que ele tinha deixado inicialmente até E isto é uma das coisas que nós exploramos no livro ele era assinalado apenas como um homem negro que foi abatido a tiro
Numa avenida em moscavide eh e não sabemos absolutamente nada e foi isto e é muito este teu trabalho também da mensagem que é ir além das primas dos dias e tentar perceber de facto quem é que era este homem quem é que era este homem e que legal é que ele tinha
Deixado Porque nós já sabíamos de coisas que íamos sabendo não é que era um homem apaixonadíssimo por uma zona muito marginalizada na cidade a zona jxellas e eles já tinha até sido referido em algumas reportagens anteriores também mencionamos isso no no livro A forma como ele via aquele sítio como um pedaço
Para isso quando para todos aqueles que não vivem lá não é ou quase todos aqueles que não vive lá é visto com o estigma Tremendo e portanto este homem acabamos nós por descobrir fez de facto muito pela sua cidade pelo seu bairro e portanto um ano depois eh da morte do
Bruno entender eu vou bater à porta da Olga da família dos Amigos para tentar perceber quem é que esta quem é que era este homem e acabo por descobrir aqui um legado muito bonito no teatro a nível social que ele deixou na zona j e em
Lisboa este este lá que se refere à Catarina é a zona J enxelas daqui a pouco já vamos falar Ah também com uma ataque que está a chegar o cantor Maite tá um bocadinho atrasado mas que entrará daqui a pouco também E participar neste neste debate antes disso a irmã mais
Velha do broncandeia Olga fez da sua maior missão educar os três filhos do Bruno o Ivo o Ruben que está aqui A Bia para que cresçam sem raiva do país onde nasceram Na verdade o Candeia foi sempre um otimista e ironia do destino ele que não acreditava
No racismo como algo intrínseco ou seja qualquer coisa que era porque era assim e que não era possível mudar acabou por como uma vítima de um crime por ódio racial Olga como é que nos pode apresentar o Bruno cadé Quais são as características do seu irmão que gostaria de salientar
Olá boa tarde a todos muito obrigado pela vossa presença o Bruno era um jovem forte alegre amigo adorava Lisboa morador de um bairro social zona J da qual era a pequena cidade dele não é Olga Quando é que a sua família chegou à zona J em 1984 e Em que circunstâncias Olga nós
Moravamos aqui perto por acaso aqui desta zona e depois fomos realizados na zona J mas não eram bem habitação aquilo era um casas que foram feitas de emergência para realizar porque foi um ano em que houve uma tempestade muito grande em Lisboa e as casas começaram a ruir as
Casas antigas e então fomos realizados aqui perto na Avenida Miguel Bombarda e depois fomos para não vivíamos na Avenida Miguel bombar e depois fomos realizar [Música] Olha foi muito bom muito bom porque foi para lá família toda os amigos vivíamos todos ali eram um bairro onde foram naquela altura os imigrantes
Das casas que estavam em carência que estavam mal e que estavam a cair mesmo fomos todos realizados ali e crescemos ali todos juntos como se fossemos uma família quer contar algo como é que o Bruno Candé vai para casa pia e como é que ele descobre o teatro
O Canindé foi para casa pia porque Éramos Seis Irmãos e eles eram os dois rapazes a minha mãe achou por bem irem para Casa Pia porque na altura havia muita dificuldade né seis filhos e vivíamos assim um pouco apertados e eles foram e as meninas ficaram em casa
E o teatro o Bruno nasceu com o teatro o Bruno nasceu com o teatro porque ele desde Pequenino já fazia o próprio teatro em casa todos nós vimos o Bruno a crescer já com o teatro olha agora faleceu na semana passada Tina Turner quem o Bruno imitava
Muito muito mesmo e ele adorava era a Tina Turner punha a boca e pintava os Lábios vermelho dançava dançava e eu sempre atrás dele não faças isso não sejas assim depois um palhaço mas nasceu com o teatro nasceu mesmo com o teatro ele tinha um talento muito grande desde pequeno e houve um
Dia que tu todo o bairro mas sobretudo a vossa casa ficaram extasiados com a participação do caderno uma novela não foi isso foi um Foi uma mudança na vida dele não é não foi foi um Marco Foi um Marco a visibilidade Ou seja já não era o palhaço ele era aliás inspetor da
Polícia assim e ele fez um de inspetor e Mas ele já tinha feito outros trabalhos na televisão mas ela aparecer de repente Távamos a ver a novela e quando ele aparece ali um ponto Grande a minha mãe levantou abraçou a televisão olhou o Bruno o Bruno eles são mãe eu desaparece pouco
Não não é meu filho meu filho e no dia seguinte o Bruno andar pela rua do bairro e toda a gente olha um espeto armado inspetor Max e o candidato vaidoso todo cheio de orgulho de ele mesmo que ele gostava muito dele mesmo quando é tinha esse essa particularidade
Ele gostava sim uma boa auto estima e ela gostava dele muito muscular era uma presença tinha uma presença muito forte em todos os aspetos na alegria na amizade nele mesmo e ele gostava dele ele gostava dos outros agora O Bruno é teve um acidente de 2017 certo teve um
Acidente e renasceu como é que foi esse acontecimento na vida dele e na vossa também Foi um momento muito triste na nossa vida em que pensamos que o Candé não se a levantar mais bicicleta ele foi a zona J porque ele já não vivia na zona J ali ele foi lá Pronto estar
Com os amigos e depois foi voltou para casa de bicicleta porque a distância não é assim muito muito grande então ele fazia muito bem o trajeto de bicicleta e ele caiu e teve um acidente muito muito grande Que Nós pensamos que o Canindé não ia conseguir se reerguer não é mas
Como é o Bruno é tão forte e gosta da sua da sua personalidade gosta de em primeiro lugar ele e ele gostava mesmo assim o Bruno conseguiu ele tinha uma força interior muito grande e o grande é conseguiu ultrapassar mesmo os médicos ficaram espantados porque tinham dito Aleluia andar
Não ia andar mais e que pronto ele ia ficar inutilizar mas o Candeia um ano já estava a andar já estava a falar já estava a querer trabalhar no teatro de qual eu gostava muito lembrou-se dos textos e ele prometia sempre quando ele começou-se a lembrar porque ele ficou
Sem memória Durante algum tempo quando eu falava com ele pelo telefone fazíamos viver chamada eles e olha mano eu prometo eu vou sair desta eu vou andar eu vou conseguir Eu prometo e ele conseguiu como como a Catarina disse o Bruno Candé considerava a zona a zona J em selas como um lugar
Onde se viu o paraíso e nunca assinou sozinho não é Catarina O que é que que herança é que o Bruno deixou na zona J podemos falar da casa conveniente Mas também de outras coisas não é do do testemunho que passou Há muitos jovens através do teatro sim antes disso
Deixa-me só desculpa estar aqui no alinhamento mas só a fazer aqui um parentes àquilo que estávamos a falar desta questão do muito partido muito particular e que nós acabamos por destacar muito no livro que é este lado do Candé que não acreditava ou não queria pensar muito no no racismo hum às
Vezes muita gente tem me perguntado Isto é um livro sobre racismo e eu digo não isto não e a pessoa racismo haverá muitos bons Aliás a fundação tem um também sobre sobre isso editada há pouco tempo Isto é um livro sobre o Bruno entender obviamente que teremos que falar sobre
Sobre o racismo eh é o elefante na sala e mas isto é sobretudo a história do Bruno cadé e o Bruno Candé apesar de ser otimista não era ingénino não podemos tomar este otimismo dele perante o racismo como uma ingenuidade porque há um episódio também que mostra isso ah
Quando ele tinha este sonho da representação quando tem que procurar outros trabalhos porque a representação como todos sabemos não é um emprego fixo Temos que estar sempre em busca ah de novas oportunidades e do nosso do nosso lugar o nosso próprio espaço ele recusou-se teve esta conversa creio que
Com o Olga ele recusava-se a ser mais um preto mas nas obras ele dizia isto eu não vou ser mais um preto nas obras isto eu não vou certo pode ser tudo posso tentar outros trabalhos mas isto eu não vou ser Portanto ele tinha esta consciência do estigma ele não era
Engenho sobre só que eu escolhia usar esta discussão de outra forma de uma forma otimista sem generalizar e e por isso é que destacamos este otimismo do do Candé falando aqui da casa conveniente que é de facto o Max está aqui em nesvas que era que era amiga do
Do Bruno que faz parte da casa conveniente é triste e muitos daquilo que está no livro vem dela sentou-se comigo durante algum tempo foi uma partilha um bocadinho difícil para me contar não só ela e a Mônica calha não só o início da casa conveniente mas também o impacto que cobram esteve na
Casa conveniente a casa conveniente nasceu em 1992 ali no Castro André o Castro André é muito longe de ser aquilo que que conhecemos hoje como cá Sodré uma zona altamente marginalizada e a casa conveniente instala-se lá e eu gosto muito deste quando a Mônica me explica isto que é não foi como a
Pretensão solidária que que eles foram para lá era para estar onde ninguém está para contar aquele lado também da cidade não é propriamente solidário Mas é porque a arte também vive disso e portanto eles precisavam de absorver isso daquele lado do cachodré e curiosamente quando o gajo Sodré começa
A sentir esta viragem que que sentimos hoje eles mudam-se para a zona J muito empurrados também pelas pessoas que se faziam parte já da casa conveniente nomeadamente o renego Boss amigos do do Bruno e mudam vão se mudando para para a zona j e há aqui uma transformação muito
Bonita na na zona J por causa da casa conveniente por causa desta companhia que o Bruno o renéia e o vós ajudaram a levar para a zona j o renego conta-me uns episódios muito engraçados eu lembro estas expressões dele que é Catarina sábado um domingo em vez das pessoas
Irem para o centro da cidade ir ver teatro de repente estavam aí para a zona J de repente tinhas a 14 e atrizes conhecidos na zona J isto nunca tinha acontecido é uma dinâmica completamente diferente é uma mudança na cidade que não foi propositada mas acabou por acontecer porque estas pessoas trabalhavam para
Isto de alguma forma muito naturalmente e portanto Este foi um dos legados que o que o Bruno acabou mesmo por por deixar e queria só contar também Quem tiver oportunidade de ler o livro saberá a história do do René é muito engraçada o amigo do Bruno porque
O René é cruza-se com a casa conveniente quando está no estabelecimento prisional de Vale dos Judeus e queria fazer alguma coisa relacionada com teatro então chega a uma carta ao Dona Maria em que ele diz bem alguém nos pode ajudar aqui nós gostamos de fazer um teatrinho qualquer
Coisa não sei muito bem Pronto cria uma ajuda e e de facto há uma resposta do outro lado nomeadamente da da Mônica calha e diz ok então vamos tratar disso e eles começam um projeto eh na prisão e o René é salta dali exatamente como a voz saltam dali para a casa conveniente
Ou seja há uma continuidade ou de facto uma marca muito grande e o que aconteceu com o Bruno também foi isso não foi da prisão para cá para fora mas foi essa marca que a casa conveniente deixou nestas pessoas como transformou também as suas vidas este livro parte de um projeto do Bruno
Que também queria escrever um livro mas que como sempre no Bruno Candeia era aquilo que eu falava há pouco que era as coisas nunca eram só ele eram sempre projetos com os outros então o Bruno foi para a Rua perguntar às pessoas o que é que para cada um as pessoas mais
Diversas significa Ser miserável Quem são os miseráveis da sociedade entre outras eh a Catarina hoje não trouxe mas se tem os papilins eh que que enfim que existem dessa recolha que o Candeias fez entre algumas respostas as seguintes só é miserável quem não tem voz política disse um sociólogo ou alguém sem
Identificação diz aqueles que tendo consciência da vida nada fazem para mudar o que está errado aqueles que quando lhes é conflito poder usam não é benefício próprio e não em função das pessoas que servem este Queria te pedir para juntar ao mesmo tempo esta ideia dos dos
Miseráveis a ideia que o Bruno tinha do que era um miserável da sociedade e ao mesmo tempo não é muito fácil mas falar sobre o facto um facto evidencias no livro que é que as ocorrências racistas em Portugal são consideradas inexpressivas ou seja continuam a ficar
No escuro essas sim sim de facto até aí o Candé era muito cadé era muito de partilha não não optou por ser ele dizer que aquele achava do bairro e das pessoas do bairro que é que é isto serem Os Miseráveis da sociedade mas optou por
Ir ouvir as pessoas e perceber o que é que é na cabeça delas se as ideias batiam certo com os dele porque o estigma é uma coisa que é conhecida de todos os que moram na na zona j e ele não era diferente e portanto isso terá partido daquele que conhecemos depois
Das notas dele terá partido muito muito daí e facto esta questão do e falamos do racismo não é que os miseráveis até poderíamos ir para Outros tantos assuntos mas eh mas aqui falamos do do racismo de facto nós não temos dados não temos temos alguns relatórios mas não
Temos dados que nos indiquem em que ponto é que nós estamos E isto é como se nós tivéssemos uma venda é como se estivessemos cegos porque não conseguimos ter percepção da realidade que nos rodeia não é portanto os números são números e têm o seu lugares devemos deixá-los no seu devido lugar não
Significam tudo mas aqui são muito importantes para nós termos consciência do que é que da realidade que nós estamos a viver e do como é que nós podemos de facto mudá-la a transformá-la para melhor e foi interessante perceber que ah de facto relatórios que não indicando dados dizem que
Racismo é indispensiva em Portugal mas depois há apave a associação de apoiar vítima faz um trabalho em que tenta perceber com uma amostra eh relativa se eh Isto é mesmo assim e o que eles acabaram por perceber é que a maioria das pessoas ou não sabe sobre os seus
Direitos e portanto não este esta questão do racismo não é colocada às autoridades ou às vezes não acredita há aqui um sentimento de impunidade não é acham que há aqui um sentimento de impunidade e portanto não não expõe esses casos e isto é muito preocupante não é primeiro porque não ter
Consciência dos nossos direitos é porque há aqui algum trabalho que está que está em falta e e depois porque estamos a fazer alguma coisa mal quando as coisas chegam às autoridades e nos dão esta consciência de que nada é feito e portanto nada a Continuar a ser feito
Condenação do Bruno acaba por se ficar aqui uma espécie de ação exatamente homicida acaba por mudar aqui um bocadinho as coisas mas não tudo é uma é um ponto e vírgula e não um ponto final de nesta nesta questão estamos no fundo a tratar com um nome próprio não é
Chamar as coisas pelos nomes não é racismo como é que é Olga enfim esta evidência do racismo Foi flagrante através do caso do seu irmão que teve muitas exposição mediática aquilo que eu lhe pergunto é na sua vida ao longo do tempo algo mudou relativamente à discriminação racial ou não
Nós a nossa casa nunca tivemos esse tipo de conversas sobre o racismo não sei se é porque o meu pai era português a minha mãe negra o meu pai Branco português então em casa nós nunca falamos sobre isso claro que na rua íamos passando por certas situações mas
Nada assim muito grave depois da morte do Candé a minha assim eu morei o meu pensamento e da minha família toda principalmente da minha mãe que diz o que é que eu vim fazer para aqui e um casamento os filhos me Trouxeram para aqui e hoje tiram um filho negro não é então
Nós mudamos muito em relação acabamos Por acreditar sim que existe racismo e não o racismo não vai embora o racismo está para ficar temos estabilidade com ela e pronto é isso que eu acho é Olga muito obrigada por ter estado aqui conosco tudo bom para os filhos do
Candeev vamos receber agora uma ataque acabou de chegar vamos aqui fazer uma uma trocaloga muito obrigada para muito bem uma tá ainda bem assim a resfregar não é veio a correr para aqui teve um contratempo não pode chegar logo no início enfim mas também estava estava previsto eh prevista a intervenção da
Olga eh e foi e é Com muito gosto que eu recebemos aqui matei nasceu em Cabo Verde mas cresceu e viveu toda a sua vida adulta no bairro de lisboeta de selas ah na verdade uma Taia é o Rúben mata ele ao de Sousa não é e ficou em
Terceiro lugar na grande final do Festival da canção 2019 ela licenciada em animação sócio cultural e é esse trabalho que se dedica na Santa Casa da Misericórdia onde é impulsiona a inserção social jovem no bairro da Boa Vista tem participado em vários projetos musicais e é bastante conhecido pelo
Grande público como a Tai não estava aqui no início nós fizemos um retrato do do candee eh também de alguma forma um retrato do do que é a zona J de chels eh E estávamos agora a falar do racismo eh dizendo as coisas como elas são eu
Perguntei à Olga eh como é que ao longo da vida Ela tinha vivido a discriminação racial se tinha havido uma diferença alguma evolução nos últimos anos começo por essa pergunta para cima OK não só para si como tantas pessoas que encontra no seu trabalho não é todos os dias
Então boa tarde boa tarde a todos quero quero só fazer aqui um pequeno parenteses relativamente ao tempo que eu demorei a cá chegar lamento lamento este este atraso tive realmente um contratempo perto de não conseguir estar mas por por largos momentos pensei que se em vida se eu falharia com o Bruno
E então hoje também não poderia falhar e essa é a grande razão para eu ter feito aquilo que tive que fazer para poder estar cá esta tarde muito obrigada há algumas questões aí no texto que não estão não estão corretas o levantamento que foi feito não não corresponde Mas eu
Sou mais fácil aqui também um outro parenteses homem Cabo Verde é o meu pai Angola é minha mãe eu como diria como diria que sou quase alfacinha ali São Jorge de arroz foi onde eu nasci [Música] exatamente não é porque tem tem que chupar mistura É só por isso e dizer-vos o seguinte
Relativamente à questão à questão do racismo que há um tempo pesadíssimo e não só pelo termo para o pelo conceito Mas pela vivência e por tudo aquilo que que traz que traz associado e olhando olhando aquilo que é a nossa história aquilo que foram as nossas vivências é realmente
Um percurso com peso com peso com alguma mágoa com muita dor e se nós olharmos para trás eu deixo deixo aqui um exemplo muito claro eu lembro-me que há uns anos atrás 30 30 32 anos atrás eu estudei a Maria pia e na altura na altura havia uma uma colega minha
Escola que me disse eu não quero brincar com ele porque ela é um preto das barracas enfim doeu-me aquilo foi foi complicadíssimo o que é certo é que 30 anos depois há uma menina que diz que não quer brincar com meu filho porque ela é preto portanto meu filho hoje tem
Hoje tem sete altura tinha 5 e se pensarmos que a evolução chega e tem chegado a diversas áreas nesta área tem sido complicado acho que mudou muito pouco portanto a perspectiva relativamente àquilo que é a diferença pela cor não mudou aquilo que mudou aquilo que mudou foi o empoderamento das pessoas o nosso
Empoderamento de hoje podermos estar aqui sentados com um microfone aberto com diálogo aberto com a capacidade de poder argumentar sobre esta questão sem que isto seja tratado na base do soco das chapada não é podemos sentarmos e abordar esta questão como ela como ela merece ser tratada com
Respeito com dignidade e como a convicção certa para efetivamente promover alguma mudança portanto foi isto que mudou foi o nosso empoderamento a nossa capacidade de comunicar e conhecendo um bocadinho o meio para onde circulamos não é poder chegar chegar a outras pessoas poder impulsionar aqui outros comportamentos poderem influenciar positivamente comportamentos
Foi isto que mudou é difícil mas vamos ter que passar pelo crime que levou o Bruno Evaristo Marinho auxiliar da ação médica reforma a diesel Combatente matou por conceito contra a cor de pele e assim foi sentenciado pela justiça a Catarina escreve e o homem de 76 anos lembrou que
Em casa teria armas do ultramar e tencionava usá-las Evaristo foi Combatente na guerra Colonial fez serviço militar em Angola entre 1966 em 1968 estava reformado da profissão da Auxiliar da ação médica Voltou ao local nos dias seguintes à procura de Bruno tudo começou por causa da cadela do
Bruno uma coisa completamente trivial e e anotica quase não é se não tivesse satisfeitos tão trágico Portanto o senhor Voltou ao local onde tinha cruzado com o Bruno e com a cadela do Bruno voltou nos dias seguintes à procura de Bruno perguntando por ele aos Comerciantes só o encontraria três dias
Depois para ele tirar a vida Catarina que foi muitíssimo noticiado Como dizia uma Tai para se ter consciência das coisas Muitas vezes temos que levar com elas assim como se fosse como dizia uma chapada não é um bufão a morte do Bruno também foi isso não é foi uma uma morte
Que ele era tu e que evidenciou retorno o Bruno na verdade vamos um bocado de todos é que é mediatização da morte do Bruno Candé poderá ter ajudado a esta sentença histórica e também as características particulares desde deste homem sim olha vai muito ao encontro muito por acaso
Daquilo que que eu matei acabou de dizer eu passo a explicar Porquê fazias a questão há bocado a alga de O que é que mudou não é que é que mudou com com esta sentença com este crime com esta grande perda que foi sobre tudo isto não é
Muito além do julgamento que todos nós acabamos por por conhecer foi muito mais do que isto e este é o lugar do livro é aquilo que era que era o Bruno Candeia e aquilo que ele nos deixou e aquilo que perdemos por termos perdidos mas é muito difícil eu conseguir dizer o
Que é que esta sentença transformou porque claro que podemos dizer que centro histórica há aqui uma transformação no olhar da Justiça no nosso olhar no olhar daqueles que perspetivam sequer fazer alguma coisa eh a favor do racismo e na cabeça daqueles que sofrendo alguma coisa acham que
Muito muito bem afinal a impunidade que falávamos há pouco não é assim tão real Claro que sim podemos olhar para isto desta forma optimista mas um caso não são casos e eu lembro que quando eu e Olga fomos à à RTP África há uma semanas e fomos recebidas pelo Carlos Pereira apresentadora e
Humorista ele confidencia-me e eu acho que não estão aqui em nenhuma Inconfidência péssimo desculpa mas ele confidencia olha Catarina passado dois dias daquilo ter acontecido o senhor virou-se para mim na rua e disse eu vou-te fazer o mesmo que aquele fez eu vou-te fazer a mesma coisa ficar agora
Nós vamos fazer isto tudo e portanto há aqui de facto alguma coisa que não mudou e e acho que temos que entender uma coisa que é foi altamente mediático o caso o Bruno era ator o Bruno participou em novelas eh tinha tinha uma exposição diferente e isto ajudou ao caso
Obviamente Catarina mas ao mesmo tempo essa imagem e esse conhecimento que as pessoas tinham a imagem que ele tinha cidadão exemplar de um homem exemplar ao mesmo tempo não foi fácil até a sentença ou seja também houve é preciso dizê-lo uma tentativa de memorizar ou ou difamar
Até o Bruno portanto não foi exatamente não foi fácil pegando nestas coisas todas que estamos aqui a falar pegando Ah no sítio de onde ele vinha a zona J foi muito utilizada isto zona de criminalidade portanto obviamente que ele só pode ter provocado aqui alguma coisa era negro portanto bem vamos pegar por
Aqui portanto a defesa pegou muito em tudo o que pode para se defender e de facto Isto não foi para a frente e bem mas também porque o próprio arguido facilitou aqui as coisas acho que temos também que dizer isto hã houve uma uma frieza mas aquilo que eu quero deixar
Uma confissão ou uma confissão e e algumas [Música] considerações bastante graves mesmo mesmo em tribunado ou seja além daquelas que já sabíamos que tinham sido preferidas ah durante o crime pois se repetiu-as em Tribunal mas eu eu gostava que o lipa também de deixar aqui uma uma mensagem porque
É uma perda tremenda Como já falamos e foi um julgamento muito difícil e tem uma carga emocional tremenda para para a comunidade mas aquilo que o mapa dizia de com o Bruno foi-se um bocadinho de nós e ele diz isto porque conhecia o Bruno porque havia aqui uma afinidade mas quando isto
Acontece isto mexe numa isto mas com uma comunidade inteira não é uma comunidade que vê uma pessoa a morrer por uma característica que é intrínseca e que não pode mudar e isto é o mais grave tudo porque além de dos amigos e da família que obviamente
Sofrem com isto há uma comunidade que se revenda aquilo e que sente meses Isto é óbvio que aconteça logo a seguir e por isso é que eu acho que também é muito importante pegarmos neste debate para falarmos daqueles pais direitos que muitos ainda não sabem que estávamos a
Falar cá pá fez este este trabalho muito ainda não sabem que que os têm em muitos ainda não acreditam que eles podem ter e portanto eu acho que esse debate deve ser positivo neste sentido acho que devemos deixar isso e acho que era também a discussão que o Bruno gostaria
Que nós todos tivéssemos é importante dizer também que a comissão para a igualdade faz recolha de dados por discriminação racial e que já existem muitas instituições e existe muitas pessoas a tentar mudar o que isto o que aqui tem sido referido como algo que tem mudado pouco não é matar na experiência
Cotidiana no trabalho cotidiano como é que as pessoas sabem dos seus direitos sabem como defender há mais suficientes já para que enfim então protegidas por exemplo a denúncia para denunciar eu acho que esta coisa de podemos falar sobre sobre estes estes problemas por si só já é uma ajuda
E deixa-me recuar aqui um bocadinho eu acho que esta esta sensação de que este senhor não ficou impone e que realmente houve justiça é um saco vazio é um saco cheio de nada isto tem até uma relação Direta com aquilo que acabaste de dizer com a
Exposição do Bruno com o facto de de estarmos a viver um tempo um tempo de uma afirmação e de um posicionamento das Muitas comunidades afrodescendentes com com a situação Clara daquilo que se vive nos Estados Unidos e toda aquela corrente e acontecimentos que infelizmente para alguém vieram ao
Público Portugal não se quis naquele momento é deixar ficar deixar cair o rótulo de Realmente somos um país racista e somos um país racista não quer dizer que tu que tu ou que tu que sejam racistas não é isto é forma como o país posiciona é que a racista duro de ouvir
É fazer uma verdade e dizer o seguinte se não fosse se não houvesse esta questão era apenas mais um que teria morrido a voz de uma bala a voz de uma de uma de uma mensagem sim xenoff racista e que efetivamente não teria acontecido nada até mesmo para este homem ter sido
Condenado ele confessou Ele veio ele veio a si e disse quais eram as suas motivações caso contrário não teria sido condenado mas partido do princípio ou qualquer pessoa qualquer pessoa que impunham empunha um revólver e que mata alguém e que mata alguém é portanto é o criminoso por por que motivação seja
Matou É deve ser condenado por agora reparem uma coisa no final disso tudo ou durante esta acontecimento perdão aquilo que veio veio acima da mesa foi um conjunto um conjunto de situações a tentar justificar o crime que aquele senhor cometeu portanto um conjunto de argumentos no sentido de descabelar a imagem do Bruno
Kander para que a defesa pudesse ser um argumento válido que justificasse a sua morte Portanto isso é pegar na vítima e transformar em agressor portanto é é extremamente importante que nós queremos consciência daquilo que aconteceu e aquilo que aconteceu acontece noutros sítios mas não acontece só fora de Portugal acontece cá também e
Repartamos a falar de Lisboa em que recebemos pessoas do mundo inteiro em que efetivamente somos pessoas informadas viajamos também e há aqui esta esta vontade de Expressa de recolher bem de receber bem eh os meus pais viajaram vieram até cá foram acolhidos Lutaram enfim e dizer-vos o quê ainda assim Isto
Continua a acontecer só dentro da parte que se diz infeliz nem todos tiveram a sorte de ser bons candês matar o Bruno tinha consciência e a Catarina este livro é uma grande reportagem é um grande retrato também e faz um diagnóstico é uma é uma radiografia de tudo o que estamos a
Falar aqui mas eu dizia que o Bruno queria não queria ser uma exceção queria ele queria ser chessional e há uma grande diferença não é entre querer ser alguém que não tem que não segue aquele destino que não é bom e que supostamente está traçado para ele mas que quer ser
Excepcional eu perguntava matei porque a música também tem feito muito por esta excepcionalidade não é porque até pela excelência mostrar a excelência da expressão de quem é vítima de racismo por exemplo que é impossível mas vamos meter a cor de parte vamos meter esta questão do racismo de parto eu realmente
Posso dizer que a música tem sido tem sido uma uma amiga de todas as horas tem estado muito presente na minha vida e também me ajudado a treinar aqui um caminho com dignidade com respeito com com valorização enfim mas aquilo que eu quero ser a forma como eu quero ser lembrado
É quer que as pessoas efetivamente como conheço e que saibam que no final do dia independentemente ser músico de trabalhar com crianças trabalhar com idosos quer ser lembrado por ser boa pessoa e eu hoje tenho três filhos e no final do dia aquilo que eu quero é que
Eles saibam Ok o meu papá foi boa pessoa independente da área de intervenção da área profissional que eu que ele teve onde novamente a cor de parto é quer ser lembrado pelas características daquilo que é o meu trabalho não quero não quero de maneira alguma e
Quem me conhece sabe eu não ando com a bandeira levantada até porque quando se levantam Bandeiras pois saem sai uns lagartos bastas pedras à espera de uma oportunidade só para dizer mal é uma oportunidade só para se empoderarem como uma coisa que na verdade nunca fizeram nada para mudar
Portanto eu não levanto Bandeiras eu defendo eu defendo situações que vou vivendo que vou vivendo é e tento passar aqui uma mensagem no sentido de que as pessoas realmente devem poder devem aprender a comunicar para conseguirem resolver os problemas na base do Diálogo é isto [Música] a música exatamente a música era aquilo
Que eu dizia há pouco que é quando tem relação com aquilo que mudou eu hoje é o facto de também ter ter uma posição com algum com algum destaque com alguma visibilidade também me põe aqui numa posição também de algum privilégio e este privilégio não é só perante
Perante o público mas também dentro do meu grupo de paz de eu poder de eu poder chegar chegar ao meu bairro portanto onde eu cresci eh e de alguém dizer olha atenção mantém aquele que se passa aqui não tem a ver contigo não tem a ver contigo portanto protegem também protegem imagina Eh
Vamos vão vão uma festa num sai de um bairro para ir uma festa num outro bairro dizem não mata Aquilo não é festa para ti tu hoje não não tem relação com aquilo Ah não querem que eu vá aquela festa ou por ser eu aliás exatamente por ser eu defendem também um pouco
No sentido condicionarem ali aquela questão que poderá acontecer ou não para não me envolver com aquilo portanto este este é o verso não é este é o verso do ver aqui alguma alguma visibilidade não é Portanto o grande público já me reconhece mas também aqueles que são os
Meus pares também reconhecem a mim esta diferença e creio que reconhecem uma ataca um homem bom falarmos hoje sobre uma sobre uma pessoa excepcional que de facto foi mais excecional ainda que tenha sido uma exceção também pelado Positivo pelo que vemos com duas pessoas excecionais com uma Tai com a Catarina Reis convide-vos
A ler este livre e também refletir em sobre as várias dimensões que existem neste livro A catedina queria anunciar algo que é uma mensagem positiva otimista como o Bruno era agora no final Catarina sim de facto Ah eu acho que a conclusão que temos que tirar daqui é
Que nós nunca falamos e ouvimos tanto quanto hoje não é temos muita informação sempre a chegar e Portanto acho que temos que ter tomar-se não é Cuidado Mas temos que dar muita importância àquilo que falamos e aquilo que ouvimos e escolher o nosso lado de alguma forma não é
E Olga eu estou sempre a repetir isto ela já está farta de ouvir isto mas eh Olga é assim a minha grande lição de empatia neste mundo acho que ainda não Não surgiu ninguém que ia bater-se nisto ela escolheu ela e o resto da família e a escolheram este late bom da questão
Numa altura de grande aperto e decidiram transformar aquilo que poderia ser raiva não não vai para para os filhos primeiro do candê para os três filhos e agora para a comunidade e portanto Olga se nós sempre estar salva aqui ou empresto o microfone porque tem um anúncio para fazer porque sabia
Olga conseguiu materializar esta transformação Olá boa tarde mais uma vez não é depois de de tanta luta passou-se quase três anos para o mês que vem faz três anos com meu irmão foi assassinado e para poder continuar o legado dele nós decidimos abrir uma associação que vai se chamar África
André África André era o nome dele e África porque é para toda a África vai ser a associação vai trabalhar na área da cultura gastronomia Africana e Portuguesa ação social pronto vai abranger tudo e convido a todos que um dia passam as células vão nos visitar Ainda não temos
Espaço estamos a começarmos a sessão já é uma realidade já está registrada o africana africana muito obrigada [Aplausos] posso deixar aqui deixar aqui um deixar um apelo e pensa efetivamente e vamos olhar para isto de uma forma positiva pensem realmente onde é que vai a nossa responsabilidade
Esta parte diz a pouco na comunicação pensem [Música] naquelas palavras aquelas frases que nós demos demos como que nós que foram normalizadas através do tempo o sol preto não é obras é para os pretos enfim aquelas frases aquela aquelas frases que dissemos a vida toda e quando dizemos aquelas frases com as
Quais nós às vezes nos envergonhamos e dizem assim é pá mas tu não tu és diferente aconteceu isto com aquele fulano e depois não mas tu não tu és diferentes e pensam e pensam na responsabilidade das vossas ações vossas Nossas ações nós nós temos aqui esta pequenita tal como tantos outros pequenitos
Espalhados por este país mundo fora que não não vem como manual de instruções portanto não há um disco rígido que que é aplicado que é aplicado a estes Miúdos que lhes digam que existe uma diferença na cor que existe mediocridade na cor que existe que existe
Inferioridade na cor ou na cor ou não é a diferença de género enfim é responsabilidade Nossa é responsabilidade Nossa preparar as crianças para o futuro e se é para preparar elas para o futuro preparem nas em bem tenham que esta responsabilidade de criar e de preparar crianças no sentido
De serem melhores pessoas é os conteúdos que nós vamos apresentando que nós vamos dando essas pequenas esponjas deve realmente condicionado deve ser realmente condicionado mas condicionado pela positiva para que do Futuro sejamos todos os melhores homens Ok portanto é responsabilidade Nossa treinar os homens do Futuro treinam
Muito muito obrigada a todos fica o convite para lerem o livro da Catarina para lembrar a memória do Bruno kander foi um prazer estar aqui com todos muito obrigada [Aplausos] [Música]