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[Música] [Aplausos] [Música] muito boa tarde a todos muito bem-vindos este é mais um lançamento de um livro da fundação Francisco Manuel dos Santos da coleção retratos e ensaios neste caso é um um ensaio o compadrio em Portugal de João Ribeiro bidi este ensaio trata de uma coisa da
Qual toda todos nós já falamos Mas provavelmente H boca pequena publicamente fala-se pouco não é do compadrio hoje vamos tratar aqui de algo que é o gato escondido com o rabo de fora não é vamos avaliar um bocadinho o tamanho do gato e o tamanho da cauda que
Fica fora do rabo que fica de fora H temos connosco António José eh seguro político português membro e antigo secretário Geral do partido socialista ex-ministro da República portuguesa atualmente é professor auxiliar convidado Sim certo da Universidade autónoma de Lisboa e no Instituto Superior de Ciências Sociais e políticas e também Patrícia Silva professora
Auxiliar em Ciência Política que nos vai ajudar a perceber aquilo que o João Ribeiro bidi constata no seu livro e e que é a falta de investigação nesta área H precisamente o João Ribeiro bid bidi a sua tese de doutoramento em sociologia intitula-se Anatomia da Cunha portuguesa foi de
2020 e foi a primeira tese sobre o tema é o único português a ter desempenhado funções dirigentes nas duas principais organizações internacionais de direito privado comissão das Nações Unidas sobre o direito comercial Internacional e conferência Daia de direito internacional privado representou Portugal no grupo de estados contra a
Corrupção do Conselho da Europa e no grupo de trabalho sobre corrupção nas transações comerciais internacionais da ocde é desde 2022 General council e diretor para os assuntos globais no projeto internacional de Ocean cleanup Hum eu vou começar com eh exemplos muito antigos eh com os
Quais também o bidi eh começa o livro e diz-nos o seguinte no alto da Barca do Inferno de Gil Vicente datado do século X a certa altura o diabo gos com o corregedor simbolizando a magistratura exclamando ó amante de perdiz sendo que a Perdiz é uma ave que se dizia ser
Usada como pagamento para subornar alguém pedindo-lhe favores ou o diálogo entre Sebastião e Julião no Primo Basílio de essa em que Julião afirma durante todo o caminho não deixou de falar ex citad da sua tese do escândalo dos patrocinados do barulho que faria se fossem injustos Arrependido agora de não
Ter metido mais es cunhas vamos buscar um exemplo bem mais recente contemporâneo está precisamente na página 24 deste ensaio e que é a reprodução de uma carta é um exemplo de um pedido em contexto de proximidade familiar há algo evidentemente há alguns elementos que estão e apagados não é
Estão não se conseguem destinar meu caro x eu vou substituir por x aquilo que está a Preto meu caso xiz um abraço não te incomodei antes porque sei que tens andado muito ocupado como combinado junto o CV da minha filha X para estudares a possibilidade dela poder
Trabalhar na tua área tendo em conta tratar-se de um setor em desenvolvimento permanente e onde certamente necessitará de gente nova e qualificada disposta a aprender a x que nasceu e estudou em x está disponível para apanhar um avião e vir falar contigo para que a possas conhecer e decidir peço-te apenas que
Como amigo de longa data sejas Franco comigo e me digas se existem possibilidades reais de lhe dares emprego para ela poder organizar a vida de qualquer modo sei que farás o teu máximo para assegurar um emprego para ela junto de ti e da tua estrutura abraço amigo x bem
Eh está tudo neste x não é na relação do X com o x relativamente à sua filha x não é x e é muito difícil nós chegarmos a entender Quem são estes x ou revelar-se não é e antes de mais eu perguntava por de onde veem este
Interesse no no início do livro diz que é um interesse que vem desde da adolescência H diz também que sempre foi alto pedidos e que um e que uma vez se sentiu incomodado eh ao ponto de ter uma profunda indignação consigo próprio e que tem uma memória física dessa indignação já vamos começar
Por aí pela sua motivação para para este tema é a segunda vez que me fazem essa pergunta hoje h eu quero mas tenho que começar por uma coisa se me permite Não não quero que ninguém Leia o livro e que leia ou que ouça nas minhas palavras
Nada de moralista esta conversa só só pode ter só pode resultar se partirmos para isto um pouco perdoamos noos todos uns aos outros antes de começarmos a falar sobre sobre o tema e portanto deixemos os moralismos de lado ninguém é melhor do que ninguém nesta conversa mas é fundamental que esta
Conversa tenha lugar e esse é um dos objetivos do do livro O Caso enfim um caso corrente mas há cerca de 15 anos alguém que eu conhecia precisava de vir para Lisboa por razões familiares pessoais eh e pediu intercedeu para que eu pudesse ajudar junto de alguém eh
Para que essa pessoa pudesse ter acesso a um determinado emprego em funções públicas eh e eu acedi a esse pedido e passei o o currículo e falei com a pessoa eh e de facto isso concretizou-se eh e ainda hoje me lembro e ainda hoje como digo não é algo que que me orgulho
E portanto não naturalize isso é o mais importante eu penso que muito do que acontece tem a ver com isso as pessoas já acham normal portanto eu penso que o facto de ainda sentir que que não agi da melhor forma eh me mantém me mantém honesto nesta nesta discussão isso é é
Muito importante eu penso que o que mais me surpreendeu na altura não foi tanto o pedido foi o a facilidade com que foi possível eh aquilo acontecer eh e portanto depois obviamente imaginei as milhares de circunstâncias ou se calhar as dezenas de milhares de circunstâncias nas últimas dezenas de anos em que
Coisas IDE aconteceram ou mesmo milhões Ah isso é um número muito largo é um número difícil mas há uma distinção que faz no seu livro e que eu lhe pedia para fazer para nós que é entre compadrio Cunha favorecimento pode-nos esclarecer s o o compadrio é o é o pano de fundo é
O caldo de cultura é é a tessitura que liga às pessoas as relacionalidad que criam as condições para que haja um mínimo de confiança de confiança tática de confiança estratégica das pessoas se sentirem à vontade para fazer o pedido e isso resulta de de vários tipos de relações
De vários tipos de afinidades de vários tipos de cumplicidades e e portanto o compadrio Na minha opinião é precisamente esse quadro base que permite depois fazer os pedidos meter a cunha e e ser objeto de um favor de um favorecimento é importante também partilhar a a definição de Cunha toda a
Gente usa a palavra Cunha mas nem não é muito conhecida a origem da palavra cunha porque é que se usou a palavra ou se usa a palavra Cunha para estes pedidos para estes favores e todos sabemos que H alguma coisa que se põe na porta põ se na porta para deixar a porta
Meio aberta não é mas o o o cutileiro no no no livro que escreveu sobre o alentejo h explicou a sua interpretação e e observada no terreno o país sempre importou a maquinaria os tratores as máquinas de costura enfim o país estava e eh em ter tempos numa situação mais
Difícil do ponto de vista tecnológico e portanto não havia dinheiro nem meios financeiros nem conhecimento não havia peças socel portanto os tratores variavam não é e portanto o o deser ras descanso português que é outra palavra muito típica lá arranjava uma peça não é lá lá fazia uma pequena peça que
Resolvia temporariamente o problema e que prolongava a vida do trator e lá está não é preciso estudar engenharia para e resolver o problema do motor não é não é preciso criar uma empresa para começar a construir tratores nacionais a Cunha lá resolve o problema durante mais
Algum tempo mantendo o status quo e e evitando que que se tenha que enfrentar outras dificuldades e se imaginando que há uma urgência não é que a Cunha pressupõe nesse enquadramento seria num cenário de urgência é preciso continuar a laborar ou é preciso que a máquina continue e portanto rapidamente tem que
Se arranjar Mas não é isso que acontece está entrar um pouco na nas nas desculpas que nós encontramos para meter as cunhas não é às vezes é porque é urgente às vezes é porque não temos outra forma de o conseguir é tão difícil encontrar alguém os ex sim mas isso é só
Uma desculpa É bom que que tenhamos consciência que isso é apenas uma justificação e o que a tese mostra é que é que obviamente os portugueses sabem o que estão a fazer quando estão a meter uma cunha eh mas em cada situação conseguem encontrar justificações e muitas vezes justificações absolutamente
Válidas do ponto de vista moral se consegue compreender às vezes por empatia às vezes por solidariedade para tentar resolver problemas das pessoas que pedem h e portanto às vezes por por ótimo ótimas razões do plano moral mas é sempre que que faz isso está-se a degradar a regra está-se a degradar o
Acesso igual a uma oportunidade a um serviço público e está ser há sempre alguém que vai ficar para trás e Nós não sabemos Quem é esse alguém que fica para trás Qual é a perda que existe não é para alguém e ao mesmo tempo desmotiva como sociedade como comunidade
Desmotiva que seja um bem comum que as pessoas possam valer pelo pelo que são pelo que fazem pelo que estudam pelo que provam pelas provas que prestam porque as pessoas acabam perceber bem isto Há de haver sempre outra maneira de conseguir ter acesso a um emprego de
Qualidade e o acesso ao emprego de qualidade na minha opinião Talvez seja o ponto onde devemos concentrar mais atenção Com certeza que há as cunhas no Sistema Nacional de saúde agora há menos por causa da informatização mas até há bem pouco tempo havia Eu já vi aqui um
Um trejeito e portanto afinal não há menos H mas também a questão da inscrição nas escolas enfim agora também houve umas alterações mas também houve muitos casos em que se usavam moradas falsas para ter acesso a ensino público de qualidade enfim há várias áreas onde temos cunhas e onde temos compadrio mas
No acesso ao emprego de qualidade é onde eu acho que temos que centrar mais atenção eh o o o João Eh fala no seu livro nomeadamente do eh que fez uma pesquisa simples eh creio que em 2021 terá sido ou 2022 já eh que fez uma pesquisa simples na na internet na EDP
Na galpe eh e que constatou o que é comparado com os com empresas similares estrangeiras europeias foi um pouco Nunca achei que ia encontrar o que encontrei mas à cautela lá fui aos sites e escolhi as grandes empresas nacionais cotadas em bolsa h e depois tentei cooperar com empresas do mesmo setor da
Dos Países Baixos em termos de oferta de em oferta portanto fui aos sites das várias empresas e fui às páginas de recrutamento e depois comparei empresas do mesmo setor enfim os países baixos têm 17 milhões de habitantes são mais ricos tendo tudo isso em conta mas na
Verdade houve casos que me chocaram a caixa geral de depósitos na altura que eu Visitei o site só listava estágios é muito difícil compreender que uma empresa da dimensão da caixa geral de depósitos não tenha nenhum recrutamento para para nenhum nível de direção eu sei que às vezes se usam
Empresas de recrutamento para determinadas posições e portanto Mas mesmo isso podia estar indicado no site e não estava nas outras empresas praticamente não se vê cargos de direção de recrutamento de direção também sei que podem usar empresas de recrutamento mas na verdade é que noutras empresas nos países baixos todos esses cargos
Estão listados eu próprio as minhas atuais funções eu fui ao site da organização estava lá à posição e enviei o meu currículo e fui selecionado no meio de 450 candidatos e portanto isso já há um há aqui um indicador que não há uma cultura de abertura para que haja acesso a emprego
De qualidade o mesmo acontece por exemplo no porto de Lisboa empresa pública ou nas águas de Portugal eh em que às vezes até é difícil encontrar a página de recrutamento tem que se tem que se ir com vários cliques que dizer é difícil encontrar portanto tudo isso
Revela uma cultura em que o o encarar o acesso ao emprego e o emprego como algo que deve estar disponível para que todos estejam em pé de igualdade e possam disputar fruto do seu mérito daquilo que fizeram profissionalmente e academicamente e puderem num processo competitivo ter acesso esse emprego de
Qualidade isso não é algo que esteja e em vigor em Portugal uhum Patrícia Silva o o o o o João no seu livro indica enfim fala de um de um fator que está eh que está envolvido e enfim eh em toda esta questão que é pobreza não é pobreza em Portugal e tem
Precisamente a ver com isto e precisamente agora falou de uma outra questão que é meritocracia hum Como é que vê eh a meritocracia em Portugal estou a virar a questão ao contrário Sim já percebi que sim e obrigado por ter feito isso eu já estava aqui encaminhada com a resposta mas eu
Queria só antes mesmo de me dirigir essa questão da da meritocracia gostava também de falar de de mencionar essa questão da pobreza não é e da não não tanto da pobreza mas sobretudo da questão da existência de desigualdades económicas e sociais que são S enormes em Portugal e que não e que obviamente
Não não não é uma exclusividade portuguesa Portugal não é seguramente o único país a ter problemas de desta questão da desigualdade económica e social apesar disso os últimos dados que temos colocam Portugal no sexto país com maior foço entre aqueles que muito t e aqueles que menos T Europa no contexto
Europeu resultado disso é que nós que temos de facto uma distância muito grande entre aqueles que têm menos acesso tê menos informação tem menos poder económico e e e depois isso também está relacionado com o acesso à informação que estas pessoas podem ter e isso coloca-as naturalmente numa posição
Desvantajosa e mais difícil de aceder muitas vezes a alguns serviços públicos e muitas vezes até de aceder a formação de qualidade que depois lhes permita também ter acesso a estes a estes empregos etc e o compadrio também se alimenta dessas desigualdades e há que é uma quando Nós pensamos que não é uma
Inevitabilidade nós podemos resolver isto pensemos sempre da posição tão difícil em que Portugal se encontra quando colocamos e quando pensamos em que em em que ponto estamos quando olhamos para esta questão da desigualdade e ao mesmo tempo acho que vale a pena também olharmos para esta questão das desigualdades económicas e
Sociais porque elas também refletem e são a a a a justificação para o facto que muitas vezes as pessoas têm dificuldade em aceder à informação o o estava há pouco a dizer que Às vez é preciso clicar em muitos sites e muitos sítios para chegar àquele e e tem muita
Formação e consegue fazer isso e consegue ir essa à procura dessa informação as pessoas que que vêm de de um quadro económico e social mais difícil terão seguramente mais dificuldade de acesso a esta informação e de a processar é que não é só o acesso não ela só estar ali é dificuldade da
Própria pessoa processar a informação e de compreender essa informação e como o emaranhado eu eu desafio qualquer um a tentar resolver um problema eh burocrático complexo às vezes eu próprio já tive lidar com alguns destes problemas e penso que a complexidade é de tal ordem que aquilo que as pessoas
Pensam é se eu tenho um caminho que me pode abreviar e facilitar aqui provavelmente quase todos já vivemos essa experiência bom não Vamos agora abrir essa caixa de pandora Não não vamos ter um papelinho no final para cada um fazer a remissão das suas culpas mas a verdade é que é
Essa é a essa desigualdade e essa é a dificuldade de processar esta informação e que torna não só não é só uma questão do de haver doos serviços poderem ter dificuldade na na provisão de alguns de alguns bens aos cidadãos que seguramente também temos de enfrentar esse dilema
Mas é sobretudo esta dificuldade eu não consigo compreender o que me é pedido Portanto o tempo que um que uma pessoa que precisa de ir trabalhar para colocar comida na mesa Porque neste momento é disso que também se trata eh esse tempo se eu tiver oportunidade
De contactar alguém que sei que tem esse poder e que sei que tem que me permite ter essa porta aberta e que me resolve o problema muito mais rapidamente esquece é um canal que é que é quase inevitável que as pessoas recorram a esse canal uhum h no livro fala-se de uma
Normalização Aliás já referiu aqui uma normalização relativamente a estes métodos com aspas eh portanto a cunha é é um expediente de uso frequente normalizado é uma condição idiossincrática do nosso país isso já vamos falar sobre isso se é ou se não é eh mas é transversal e baseia-se numa teia de relacionalidade
Eh relativamente ao que disse podíamos dizer que é como uma pedra no charco que faz muitos círculos dos pequeninos aos maiores É verdade que tem a ver com o acesso ou a bens ou a educação ou qualquer coisa ou alguma coisa a que se almea que se quer que se pretende mas no
Ciclo mais pequeno a Cunha funciona não é até para e numa Terra pequena ou num círculo mesmo dentro da pobreza não é certo é é é uma é uma gota de água na verdade no oceano e essa o facto de muitas vezes ser uma gota de água no
Oceano é o que faz com que sejamos mais predispostos a aceitar e e e em alguns contextos Na verdade até até existem as pessoas que se se congratulam-se depois o alcance que este que este acesso que não lhes gera devido e que eh fez com que o funcionário desviasse a
Sua atenção para outros quando outras pessoas que não têm este acesso ficam naturalmente ainda mais eh prejudicadas e esta incapacidade de olharmos para além daquilo que é o meu ganho imediato o meu ganho presente e o meu bem individual e não de pensarmos que muitas das vezes estamos a tratar de bens
Comuns e que afetam os outros também isso faz com que de alguma forma permitamos que que seja um um problema que seja extenso que nós não conseguimos medir não conseguimos de facto medir essa extensão pelo menos de uma forma objetiva infelizmente mas que ela é de tal forma extenso que a
Melhor forma que nós temos para para termos esta perceção da extensão e olharmos para para a perceção que as pessoas têm da do compadrio e eu obviamente não faço aqui nenhuma sondagem mas E e essa é a razão pela qual trago estes papéis todos porque eu trago percentagens porque acho que é
Sempre útil trazer percentagens é muito interessante quando eu comissão europeia tem vários relatórios sobre sobre corrupção e é muito interessante quando se nota que em Portugal 60% das empresas portanto dos empregadores e dos dos gestores entendem que esta é a única forma em Portugal de se fazer e de ser
Bem sucedido nos negócios ou seja 60% o que é o que demonstra esta extensão é como se fosse uma inevitabilidade é quase uma inevitabilidade 27 por dos portugueses acha que na verdade é aceitável fazer este tipo de trocas é aceitável trocar benefícios fazer favores pedir algo à administração
Pública 16 6% acha que até é aceitável dar dinheiro portanto é e e atenção que reconhecer isto num questionário nós sabemos que às vezes as pessoas também mentem nos questionários portanto est se estes são os valores que são reportados provavelmente eh eh esconderão números a esconderão mais ainda o fenómeno real
Que poderá existir e a última nota que última percentagem que eu gostava de deixar porque eu acho que ela também ajuda a alimentar de alguma forma o debate é a forma como não só Já se tornou algo que é está entranhado quase já se naturalizou como a maior parte dos
Portugueses começa a achar que é Não há necessidade que nenhum mecanismo que qualquer governo venha aprovar pode limpar o país desta epidemia h e que portanto que é impossível é quase como se nós deixamos de acreditar que é possível fazer alguma coisa para tornarmos eh o o acesso e para para nos
Libertarmos no fundo deste peso que o compadrito traz E que nos traz peso um peso coletivo muito grande Eh vamos terminar precisamente as últimas questões vão ser sobre essa inevitabilidade é inevitável ou não é absolutamente idiossincrático ou não H Mas eu faço-lhe ainda outra pergunta muito direta diz que não conseguimos
Medir e eu pergunto Mas porque é que a academia não se interessa por este tema porque é que só há só uma tese is era outro livro exato quer dizer bom eu há um outro ensaio da fundação mas é um ensaio não é não é uma tese de doutoramento quer dizer trata-se
Da primeira tese sendo que é referido no livro que aliás Fomos até Gil Vicente não é mas que todas as revoluções a Revolução Liberal enfim todas as revoluções todas as transformações eh tudo o que aconteceu em Portugal historicamente teve uma eh permanência residual ou algo que permaneceu sempre
Que é esta ideia do favorecimento e da Cunha nós temos esta dificuldade em medi-lo ou seja houve muito tempo para estudar isto não tivemos temos Com certeza temos tempo em primeiro lugar eu acho que começam já existir alguns estudos que nos permitem avaliar eh esta extensão por um lado porque medimos
Através destas perceções e se se os cidadãos percebem que esta é extensão do fenómeno Isso significa que tem também com contacto com o fenómeno e e que de alguma forma estão a refletir as suas experiências individuais em segundo lugar alguns estudos mas que olham para outras dinâmicas de corrupção há há
Estudos sobre que também liga aqui esta ideia da da distribuição de cargos na administração pública na utilização de alguns serviços públicos para beneficiar e familiares filhos de familiares de amigos e que há aqui também alguma relação e pode ser pessoal pode ser partida Ária pode ser política portanto
Também já há estudos que que medem esse tipo de favorecimento mas nesse caso repar que é é relativamente fácil de medir Porque apesar de tudo as nomeações para a administração pública estão são publicadas elas estão em diária da República não é muito fácil consultar diária da República mas mas desculpe
Insistir eu não lhe perguntei qual é a dificuldade do tema nós sabemos que o tema perguntei diretamente porque é que a academia não se interessa nesse tema porque é incómodo porque é lhe incómodo eu acho que há há outros H há um ensaio nomeadamente sobre o ensino superior e o
Desenvolvimento saí este ano eh pela Fundação que reflete precisamente sobre isso eh sobre aquilo que é eh dentro da academia uma certa H um certo estar ficar no mesmo sítio estuda-se naquela Universidade progride naquela Universidade pouco sai faz-se carreira naquela Universidade ou seja não pode podemos não falar de Cunha mas pelo menos
E a ideia de situação instalada eh é muito frequente percebo que Percebo o que está a ligação que está a fazer deixa-me dizer que uma das razões pelas quais não é tão estudado na academia objetivamente é pela razão que é apontada neste ensaio de que é muito
Difícil Obter dados e a academia é fortemente pressionada para publicar resultados muito rápidos para ter teses de doutoramento que se realizam em 4 anos ou mais no meu caso que foram muito mais do 4 anos mas e portanto existe esta pressão o compadrio ocorre na
Escuridão na sombra no é um é segredo é algo que nem detentores de cargos políticos nem detentores de Cargos da administração pública gostariam de objetivamente denunciar e não há também eh mecanismos que que favoreçam esse dessa denúncia destes casos e portanto torna-se muito difícil investigar Eu não
Creio que seja porque se trata de um tema difícil eu trabalhei sobre nomeações para a administração pública que é um tema também difícil de tratar e e contudo acho que não é essa não é nessa não foi a dificuldade dificuldade é que de facto existe muita pressão para que os resultados sejam publicados
Rapidamente e eu e portanto as pessoas de alguma forma na academia também evitam temas que sabem que super difícil Obter dados h e e acho que provavelmente também fo também sentiu essa essa dificuldade aou ter dados objetivos que nos permitam medir essa extensão do fenómeno vou passar vou passar-lhe a
Palavra António José seguro precisamente porque nem tudo é segredo e e nem tudo é inevitável H afinidade política é descrita aliás é referida a uma descrição no livro relativamente à afinidade política como proximidade ao poder a qualquer poder e cont o João Ribeiro bidi ao poder de como uma
Vantagem enorme para que as ações de favorecimento tenham lugar e cita nas obtenções de vantagens injustas e no bloqueio ao mérito essa afinidade política é bem explícita na denúncia dos outros que não a têm e prejudicam os nossos partilham tal afinidade em eu vou ler só o cabeçalho e e e o um
Cherto Zinho muito Pequenino de uma notícia da Lusa de 22 de maio de 2012 e o cabeçalho o Lead diz o seguinte o líder do PS António José seguro defendeu hoje em estrasburgo o esclarecimento do caso que envolve o Ministro dos assuntos parlamentares Miguel relvas e o jornal
Público e o cherto é precisamente uma citação sua e que diz Em que diz precisamente a vida política a vida pública numa democracia tem que ter n de Transparência a 100% e por isso quando há dúvidas sobre o comportamento de membros do governo ou de outros políticos elas devem ser cabalmente
Esclarecidas não pode ficar Nenhuma Dúvida dou a quem doer e seja quem for e falava num encontro de jornalistas portugueses em strasburgo quer nos falar do que é que foi a sua proposta de uma lei da Transparência relativamente aos órgãos de social foi uma Talvez um dos poucos
Diria eu sinais de que é possível fazer-se alguma coisa para mudar aquilo que é o status do Poder da relação do Poder nomeadamente com a imprensa enfim tá-me obrigar a ir revisitar a minha outra Encarnação não eu espero que continue a ser esta por favor na Esse foi um caso
Muito muito específico queis tomado por muitas outras pessoas e que no fundo tem a ver com a transparência e saber verdadeiramente quem era o Benário efetivo do capital dos órgãos de comunicação social em Portugal ou seja uma coisa quem dá a Cara outra coisa quem verdadeiramente está por trás e na
Minha visão e conceito de democracia Considero que doses e doses de Transparência são fundamentais porque a democracia implica num dos seus valores essenciais escrutínio nenhum Poder Sem control nenhuma ação sem ser escrutinada e escrutinada em última instância pela cidadania que vota de quatro em qu anos ou escrutinada na
Digamos opinião pública e portanto eu considero que uma democracia bem iluminada ou seja com poucas zonas de escuridão ou nenhuma é uma democracia com uma elevada qualidade e com grau de qualidade segundo uma cultura que se baseia no amiguismo e que a cidadania em larga escala considera que o amiguismo é mais
Eficaz para obter um determinado resultado do que uma lei naturalmente que é algo que está profundamente errado e que também não contribui para a qualidade da própria democracia eu não ponho tanto a tónica em quem pede Geralmente quem pede muitas das vezes nem tem sequer consciência de que está a provocar um IL
Eu ponho a questão em quem decide perante a Cunha a influência o suborno e a consequência dessa decisão portanto uma pessoa desesperada não consegue de outra forma razões que podemos discutir dirige-se a alguém que supostamente tem o poder para poder decidir se daí resulta um prejuízo privado ou um prejuízo para
Horário público naturalmente que isso é algo ável e inclusivamente nalguns casos configura um crime portanto esse essa situação eh é para mim Evidente para terminar e responder à sua pergunta eu tenho para mim que nós vivemos numa sociedade de favores e de dependência quando deveríamos numa democracia no estado de
Direito viver numa sociedade com uma cultura de direitos e deveres o música Fredo já faleceu no início deste século realizou um trabalho em que fazia várias perguntas sobre autarquias locais e cidadania e uma das perguntas era a seguinte quando tem um problema o que é que faz vai à
Assembleia municipal no final colocar a questão vai à sessão de câmara colocar a questão ou seja denuncia é isso ou vai falar com o presidente da Câmara ou com o amigo do presidente da Câmara 80% das respostas foram Claras vou falar com o presidente da Câmara ou com um
Amigo do presidente da Câmara ora quando uma sociedade tem a perceção que o importante é se dar com quem manda com quem tem o poder ou com os amigos de quem tem o poder não aje segundo as regras nem sequer acredita que agindo segundo a regras consegue obter aquilo
Que justificadamente pode ter direito Este é um problema que a atravessa o século XIX antes e depois da Revolução Liberal que atravessa ao século XX antes e depois da república e que infelizmente perdura na nossa democracia que está prestes a completar 50 anos a ideia que
O de cidadão comum português pode ter é que de facto em termos políticos e em termos legislativos só existem medidas anticorrupção quando existe um escândalo ou quando há uma sucessão de escândalos ou quando há uma evidência absoluta há uma há uma espécie de denúncia desculpe uma há uma denúncia pública eh o
Contrário do que dizia ou seja não ficou à porta fechada alguém a ideia de alguém se portou mal e soube-se à porta fechada mas alguém se portou mal e ve cá para fora cá para fora não eu acho que a questão é mais profunda e está mais
Enraizada porque Qual é a sanção para quem é apanhado cometer um ilícito desse géo Pois por isso falei há uma indignação nas redes sociais não é aliás o torg há muitos anos diria que nós somos socialmente um povo de de de de de indignados e mas indignados eh apenas no
Nosso Recanto não é censuramos passivos mas verdadeiramente passivos Quais são as pessoas que não áto eleitoral votam de acordo com comportamentos menos éticos que alguns po partid O que é que pesa mais no ato eleitoral o dinheiro que temos na carteira ou essa exigência ética é porque se essa cidadania também não
Valorizar E não exigir essa dimensão ética a fasquia moral do caráter da República não é muito grande e baixa e portanto eu Julgo que muitas das coisas tem a ver com leis com códigos de Conduta com comportamentos mas também tem a ver com a exigência da alteração desta cultura
H a pergunta não é muito fácil vou fazê-la diretamente quando uma pergunta é difícil o mais fácil é abreviá-la e torná-la simples um político que lute contra este status qu tem consequências e que tipo de consequências a primeira consequência é que quando se ve ao espelho de manhã sente-se bem e dorme
Tranquilo na noite anterior a outra consequência é que muitas das vezes é visto como julgas que és mais que os outros e os interesses não perdoam muito bem H volta si h para outra questão que é uma questão complexa tratada no seu livro que tem a ver precisamente com as latitudes das
Afinidades políticas É verdade que diz que que essa relacionalidade vai da direita até à extrema esquerda mas é muito crítico relativamente à esquerda quando a esquerda se liba um pouco da cultura do compr adrio é isso não é esse é um eu eu eu vi que a fundação fez um um quadrado
Zinho nas redes sociais com uma declaração minha e mas este é um tema que exige mais do que um mem mais do que um quadrado nas redes sociais tema complexo Eu evito sempre dizer que é uma questão complexa Porque isso normalmente é para ganhar tempo enquanto estou a
Pensar na resposta ou ou ou para justificar o que vem a seguir hh mas na verdade quer dizer nós não associamos o combate à corrupção eh ao às bandeiras políticas do PCP eh ou do bloco de esquerda ou até de alguns setores mais ortodoxos de Esquerda do PS
Nós ouvimos falar aquela coisa do grande capital não é dos grandes interesses mas não há uma censura relativamente à corrupção à pequena corrupção não é sistemática e sobretudo um partido como o PCP que tem responsabilidades autárquicas históricas e portanto teve em posição de ter resolvido em grande
Medida muita da corrupção ao nível do Poder local e a razão por isso é um pouco ideológica e lá está não é só em Portugal é é é está presente noutros países é porque sem o dizerem não quero fazer aqui um processo de intenção isto é uma análise política e ideológica eh a
Corrupção acaba por ser algo que degrada o sistema capitalista e a Democracia Liberal portanto Há até um interesse estratégico que a corrupção continue e aumente porque prova que o sistema capitalista e a Democracia Liberal não funciona e e está em crise portanto há um interesse estratégico desse ponto de
Vista não é por acaso estas comparações são sempre difíceis mas não é por acaso que por exemplo em regimes como em Sistemas como da China os casos de corrupção são punidos ao mais alto nível com pena de morte porquê porque há a perceção muito clara que a corrupção degrada o
Sistema político degrada a legitimidade do sistema político degrada a confiança dos cidadãos na governação do partido comunista chinês portanto fazendo a interpretação ao contrário a corrupção em Portugal degrada ao regime democrático degrada às conquistas de Abril degrada à qualidade da Democracia Portuguesa e isso serve aquilo que é o
Projeto político do Partido Comunista português e portanto não há grande interesse em fazer disso um grande combate político uhum degrado ao mesmo tempo aquilo que também está na raiz da da corrupção e da Cunha que é a confiança no sistema político portanto andamos aqui eh como pescadinha de rabo na boca
H se falarmos assim não é que isto é uma espécie de sistema circular eh ou podemos falar da tal inevitabilidade ou não e vou juntar como estamos mesmo no fim vou juntar duas questões eh que é eh é inevitável sermos assim ou Portugal ter eh este cenário relativamente à Cunha a
Compr deio a todas as formas de favorecimento h e por outro lado perguntava-lhes algum país democrático onde este tipo de favorecimentos tenha sido reduzido eh não digo completamente eliminado mas que esteja a um ponto residual isso não é possível também temos que ser Claros
Quer dizer vida a vida é o que é a vida em sociedade é o que é e não há nenhum país do mundo não há nenhuma sociedade no mundo em que não hajam mecanismos alternativos às regras que estão em vigor o que há é diferentes intensidades
H e o que nós vemos quando comparamos os índices de desenvolvimento humano das Nações Unidas com os índices de perceção de corrupção os países são praticamente os mesmos os que estão lá em cima no índice de desenvolvimento humano desenvolvimento na educação na saúde eh no PIB são praticamente os mesmos os que
Têm menos perceção de de corrupção portanto há pelo menos aqui uma correlação e portanto eu quero porque é que eu não posso aceitar a ideia de inevitabilidade eu sei que muita gente na sala dentro de si está a dizer não vale a pena Isto vai ser sempre assim a
Minha mãe diz-me isso e portanto eu não posso aceitar isso e não posso aceitar isso porque isso isso quer dizer que nós não vamos resolver o problema das nossas pobrezas não vamos resolver o o nosso problema de pobreza crónica sempre a 20% nós andamos em governos atrás de governos mas a pobreza
Crónica nos 20% continua lá eh não há um governo que enfrente o combate à pobreza como uma prioridade política portanto não quero aceitar que estamos condenados a ter essa pobreza e eu acredito que ao combatermos essa pobreza mas também a combatermos a pobreza das qualificações que com isso vamos conseguir enfrentar o
Problema e reduzir as intensidades de compadrio de Cunha e de corrupção eh e eh qualificações dizem qualificações não é as pessoas terem o curso ou terem o canudo para ter um emprego isso também foi uma mentalidade que se enraizou e que também é reveladora do problema Ah
Isto é só para ter aqui o canudo não interessa nada se aprenderam alguma coisa ou não aprenderam tem o canudo e se dá acesso ao emprego porque são licenciados e porque agora apareceram umas leis que dizem que são licenciados é que podem ter determinad empregos não acesso às qualificações e educação de
Qualidade é que as pessoas desenvolvem sentido crítico capacidade de questionar capacidade de interpretar de terem acesso aos serviços públicos e de poderem questionar a forma como são servidos acionarem o tal elevador social sim precisamente e portanto não pode não podemos aceitar e desistir que isto seja uma inevitabilidade podemos dizer bem
Nunca vamos ch uma sociedade perfeita mas isso não existe nem nunca vai existir a China teve uma revolução cultural da das revoluções culturais mais violentas da história da humanidade em que famílias foram destroçadas com a imposição de Novos Valores culturais e mesmo depois dessa revolução cultural mecanismo semelhante à Cunha o Gui
Permaneceu mesmo com essa revolução cultural e portanto vai sempre haver esse mecanismo agora podemos é reduzir os graus de intensidade que temos sobre compad e Cunha eu quero responder à pergunta do disto ser só em Portugal não é só em Portugal quer dizer em França uma democracia europeia há duas
Expressões o piston e o passe de rá e se falar com muitos franceses dizem que iso é um desporto Nacional portanto não somos só nós que dizemos que isto é um desporto nacional com vários campeões conhecidos eh pois isso não sei o problema é se D direito a medalha e n
Alguns casos mesmo alguns com medalha alguns casos T dado direito a medalha a reeleição e esse é que é o problema não é H bem o o João Ribeiro de Bidu diz que no Livro quase a fechar que sempre que fal em público sobre estes temas som brindado com alguns sorrisos amarelos e
Mesmo com alguns silêncios incómodos e incomodados creio que isso não acontecerá aqui não aconteceu com certeza nesta mesa onde falamos abertamente e de uma forma completamente Franca sobre um assunto que ainda é um assunto bastante eh difícil de abordar até diria acha que sim não eu acho que não que não é
Difícil de abordar é difícil de assumir e Pelos vistos tem sido difícil de combater o que acha Patrícia eu acho que eh não é um tema difícil de abordar se nós nós pensarmos naquilo que está na raiz do problema e acho que esse é que é
O o esse deve ser o mote para decisores políticos é que não devem nós devemos evitar esta ideia de que devemos matar o compadrio como se fosse possível fazê-lo sobretudo tendo em conta as características desta desta estrutura desta quase instituição mas devemos olhar para as fontes do problema onde
Está o problema a questão das desigualdades da da qualificação dos portugueses da qualificação dos gestores e dos empregadores E aí sim essa essa esses essas peças que são a chave para o desenvolvimento da Democracia para desenvolvimento económico do país são também a chave para resolver este
Problema e aí sim se olhares para isso acho que não devemos ter problema nenhum em encarar este problema de frente muito obrigada Aos três o compadrio em Portugal ensai de João Ribeiro bidi já está nas livrarias e à venda também no site da fundação Francisco Manuel dos Santos muito obrigada obrigada [Música] ch
2 comentários
Muito importante este debate! Obrigada pela partilha!
Não entendo como estas discussões não são regulares e transmitidas nacionalmente, quando são precisamente o que mais preocupa os portugueses, que cada vez menos votam à conta delas.