🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
não
pass tá gelo aqui ai que gelo Ai que
frio bem-vindo boa semana boa semana
[Música]
bichitos vamos lá a refecer as coisas
Também estás lado nosso muer Como tão
todos pelo menos naquelas primeiras
horas pois pois pois vamos lá isso por
[Música]
favor não
acredito t
igual ice ice babe aqui no uma versão
Claro sinf clor neste dia estávamos em
1881 e morri em Lisboa Ah eu vi logo
tinha que
sercial H aos 83 anos o gelo conserva
bem caso literalmente pois falamos do
Niro e
restat português Martinho Bartolomeu
Rodrigues vamos saber quem foi Martinho
Bartolomeu Rodrigues vamos bora o nosso
Martinho nasceu em
1797 também em Lisboa de pai Galego e
mãe portuguesa vem ao diabo e escolha
que misturada mesmo eu acho que pior que
isto Só se os dois pais fossem galegos
ou se os dois pais fossem Portugueses e
vocês a maior parte do nosso auditório
pode confirmar isto porque do mal é pelo
menos que um deles fosse Galego Ou pelo
menos que um deles fosse português para
traçar um pouco não é para não ser uma
coisa sim é um bocadinho de vinagre no
sangue que horror peço imensa Desculpa à
Galiza e a Portugal Eh agora um
bocadinho mais a séria o avô materno do
nosso Martinho chamava-se Julião Pereira
de Castro um homem importante eh também
era Galego tem nome importante Já estás
a ver é engraçado este nome muito
português mas era são galegos portanto
sabemos que partilhamos também apelidos
e tudo mais e este Julião Pereira de
Castro mais ou menos em 1782 fundou mais
ou menos não precisamente em 1782 fundou
uma fábrica de neve na sua quinta da
Serra que fica na serra de Monte junto
uma fá de gelo tal e qual eu até tinha
escrito a pergunta mas o Tiago fez h e
este vamos todos morrer começa
precisamente assim eu a passado de carro
por pel uma autoestrada onde tem aquelas
placas de que monumentos é que estás a
passar naquele preciso momento e vi real
fábrica de gelo e eu disse assim ai
tenho que descobrir o que é isto E é
assim que cheguei depois e o e e tem
aqui Um Twist incrível esta hist
curiosíssimo já agora ainda antes dele
abrir esta fábrica estamos ali na década
de 80 do século XV eh ele já era
comerciante de gelo ou neveo que era o
nome que se dava Desde o tempo do marqus
Pombal aquela reestruturação das da
indústria e tudo mais que ele organiza
com escolhendo os os os os vários
empresários vá ou industriais da das
várias áreas e o negócio tinha corrido
tão bem Este Julião que era já mesmo
neveo da casa real ou seja a pessoa que
fornecia o gelo à família h tá chateada
olha para gelo lá da família uma
importância Central enorme enorme Claro
eh e tinha Este era um contrato que
tinha com a família real serviços tal e
qual e tinha que fornecer onde quer que
o rei estivesse Claro e Por conseguinte
como acordo estava em Lisboa era também
o fornecedor de gelo de toda a cidade de
Lisboa é uma distinção que lhe dava
muitas garantias e prerrogativas por
exemplo porque é um negócio muito
específico por exemplo ninguém lhe podia
fazer entraves ao transporte não podia
dizer faz
tal e qual que é uma coisa muito
perecível como sab o gelo h o transporte
agora como curiosidade era feito de de
barco através dos rios uma grande parte
desse transporte vem das das Serras não
é das zonas altas tem que ser a mais de
1000 m de altitude Onde está gelo há
poos é muito fascinante a história mesmo
e fazia-se há sítios onde se punha em
tanques para para a água gelada também
Poços de onde se extraía h e e havia
estante em várias Serras não só na serra
da estrela de onde vinha grande parte do
Gelo mas depois de outras Serras também
porque se vive aqui no século 1 e 18v
uma mini idade do gelo na na Europa
portanto as temperaturas mais frias e
havia mais Serras que tinham ele tinha
de vir para Lisboa onde demorava a maior
parte das pessoas e onde estava a corte
de Serras relativamente mais distantes
trazia Aquilo em barco trazer Aquilo em
barco e depois transportado de outra
maneira de noite o que faz todo o
sentido Claro mais fresco mais fresco
Exatamente é muito fascinante toda esta
tudo em nome da boa preservação
Já já vamos Ah sim sim que da da carga
ex exatamente que vê blocos vêm claro
nós sabemos um bloco de gelo dura e
bastante tempo não não não derrete como
um cbzinho Não é não deites o gelo aí
para para o lav looi quein toping é pá
não me estragues o isque exatamente não
estragar o isque H portanto como eu
dizia ninguém lhes podia causar em
traves ao transporte ele era feito de
noite tinha postos pelo caminho onde
continuava onde se punha para no caso da
de paragens ou de ficar dia
provavelmente e esta neve que é o gelo
mas chamava-se Neve muitas vezes sim
para chegar em perfeitas condições até
porque se não chegasse no contrato havia
multas grandes pesadas para para est
para estes para Estas pessoas paraos
niros sim e essas multas por uma
curiosidade que eu achei muito graça
eram dadas não o rei não ficava com elas
eram dadas eh para eh obras de de
assistência social no caso o hospital de
todos os santos como sabíamos o
principal hospital de Lisboa H que
ficava que ficava no no no rciu e que
foi caiu no o terramoto agora esta
distinção de neveo da casa real já
existia desde o século X7 portanto
estamos em 1600 e tal Desde o tempo dos
filipes porque foram até eles que
trouxeram para cá se calhar este este
gosto muito amigos de spá gelo ele
adorava spá gelo sim sim sim e misturava
ali no seu Tinto de Verano tin
exatamente Tinto de Verano sim tá FR
está muito quente é ótimo Tinto de
Verano e e depois vai continuar nos Reis
seguintes mesmo quando eles voltam a ser
Reis portugueses em Lisboa como em Versa
isto era também assim uma coisa muito
apreciada pelas cortes para que servia
então o gelo vamos saber no Palácio Real
para especialidades como o sorvetes por
exemplo para esse tipo de sobremesas
Claro para fazer bebidas refrescos
bebidas eh frescas Claro lembramos não
havia a eh não havia refrigeração
artificial como nós temos hoje os
frigoríficos ainda que antes da invenção
dos frigoríficos já começasse a ver
outro tipo de de de refrigeração
artificial mas aqui ainda era natural
eles falavam em cultivar gelo e em eh
assim porque eh ou fabricar gelo até
porque ele era feito intencionalmente
tens imagina tanques gigantes abaixo no
sítio onde tja baixas temperaturas que
enches de água para para formar gelo
daquela maneira e depois ou então
extrair dos Tais poos eu acho isto tudo
fascinante era também usado na cozinha
na cozinha que era também o uso que o
povo L dava para A Conservação sim e até
para a a eh higiene higienizar e as
coisas e até para fins medicinais era
usado o gelo bem nós sabemos não é nós
um pontapé numa porta sim sim um bocado
mais nervosos E tens depois gelo no pé é
verdade sim é uma coisa muito comum é
uma coisa não mas aquele põe gelo não é
ISS sei não el estava com a parte do
pontapé na porta Claro os pós méd os
médicos dizer ponha gelo é o equivalente
aos informáticos dizer reinicie Claro o
computador e quantas vezes ouvimos essa
frase na nossa vida ponha gelo Men
exatamente ponha gelo menino meta gelo
nisso no caso era também usado para
tratar febres panto para baixar a a
temperatura etc este gelo vinha entre de
outros lugares da serra da estrela
maioritariamente e vai evoluindo ao
longo do tempo portanto tentar chegar o
mais próximo possível da do sítio da
Serra da lousã E no caso desta real
fábrica do Gelo do nosso Julião vinha da
Serra de Monte junto ainda que ele
tivesse explorações nas nos outros
sítios também serra da estrela e da
lousã e lá vinha ele para Lisboa Como eu
disse através dos rios tinha umas rotas
e particulares ele tinha uma Visão
Empresarial tão notável que foi
expandindo este negócio que era no
fabrico da neve contratando também ali
pequenos niros locais juntando aquilo
tudo num rede exatamente um homem com
uma visão grande foi aumentando os os
pontos também com as construção de de
uns pequenos portos onde dava jeito no
rio h e depois aumentou as Serras onde
fazia a extração e até dominava o
comércio na capital Aliás ele tinha
tanta visão para o comércio e
aproveitando esta moda quando se começa
a generalizar mais est consumo dos o que
chamaremos gelados sim seja em refresc
seja em gelados mesmo como nós os
conhecemos os sorvetes etc que resolve
abrir em 1778 o café da neve e vai
abri-lo no devia ser o sítio mais famoso
não é uma monumental Praça de Lisboa
depois do terramoto O terreiro do Passo
era uma novidade esta moda dos cafés nós
já falamos aqui e importada da Europa
numa altura em que Lisboa era tavernas
eram onde vais beber vinho era eram
tavernas e Aqui começa a nascer a moda
dos cafés com tulli com frequentado por
pela pela burguesia até pela
aristocracia também gente calçada gente
calçada exatamente er sítios fashionable
se quiseres depois ele tinha pouco tempo
e vai alugar a um italiano e o café vai
mudando de nome casa de café italiana
Café do Comércio e café dos jacobinos
Porque variava conforme e as pessoas que
o frequentavam depois todo este Império
vai passar para o seu genro e do genro
vai passar para o filho dele o nosso
morto Martinho Bartolomeu Rodrigues ele
já não é Niro da casa real o cargo tinha
sido entretanto extinto mas continuava
a este negócio do da família Claro Este
pólio da família do do gelo que servia
em bebidas e gelados só que o seu nome
vai ficar ligado Claro ao lugar onde ele
os vendia porque tal como o avô ele abre
um café no Rocio e outro no antigo Café
da neve estamos em 1829 e o nosso morto
vaihe mudar o nome para café Martinho
que era o seu próprio nome claro que
volta que isto deu incrível eu se
descobri isto S pesquisar esta história
agora para não se confundir com o tal
outro que ele tinha aberto no recio para
quem quer saber fica ficava já não
existe tá lá o prédio só a onde é a
porta do Teatro Nacional de Dona Maria
segunda nesse Largo que já se chamou
Camões antes de se fazer a estátua no
outro sítio e hoje chama-se Dom João da
câmara e a porta do do Teatro Nacional
há pessoas nunca lá entraram não é não é
aquela entrada Man momental que fica no
recio é de lado vá e e era aí que ficava
este café Martinho do rcio e o outro que
ficava naquelas Arcadas passa a ficar
conhecido como o Martinho da arcada que
é hoje o café mais antigo de Lisboa
ainda em funcionamento para quem não
conhece nós estamos lhe a chamar café
mas é na verdade um restaurante e é um
restaurante até bastante bom tem o seu
obrigatório bifa Martinho e outras
especialidades é um lugar muito
histórico é referido 100 vezes na
literatura portuguesa e é muito famoso
sobretudo pela sua clientela ainda antes
da vigência do nosso Martinho e portanto
quando era tal explorado pelo tal
italiano era o lugar escolhido pelos
políticos liberais conspirava contra a
monarquia absoluta Eli à sua mesa con é
incrível é incrível S incrível e foi ali
à uma daquelas mesas que foi assinada
escrita pelo menos assinada não escrita
a carta constitucional de 1824 por isso
é que se chamava também o café do
jacobinos portanto era ali que conforme
as pessoas que ali frequentavam antes
disso chegou a ser encerrado pelo
Intendente Pina Manique que que nós
falamos também já que de com a acusação
de que era um antro de jogo e gente mal
comportada o que não era mentira na
altura depois no início do século XX já
tinha já não era propriedade desta
família mas sim da família Mourão uma
família histórica ligada ao café
Martinho da arcada e ali aconteciam
reuniões secretas da Maçonaria porque um
destes mourões era foi tesoureiro para
aí do Grande Oriente lusitano também se
juntavam ali os republicanos primeiro
para conspirar mas depois também já em
república Afonso Costa Manuel da Raga
Bernardino Machado estamos a falar de
presidentes da da República que lá iam
todos os dias his foi todo encher ali o
bandulho naquele lugar e depis muito
engraçado no estado novo ao mesmo tempo
que lá iam o António Ferro o Ministro
das obras públicas o Duardo peixo já
aqui falamos também al conspirou contra
o Salazar há um um podcast muito
interessante chamado operação papagaio H
que fala sobre um golpe para derrubar o
Salazar o s que tem muita graça e era
ali também à mesa do Martinho da arcada
que se conspirava ou seja se calhar ao
lado estava o António ferro e eles aqui
a dizer como é que a gente devemos de
matar o Salazar mete picant ali no PR
exatamente para ele contar e também
claro os artistas não só falamos dos
políticos os artistas o Cesário Verde o
António boto o Mário do Sá Carneiro o
alada Negreiros uma figura também que i
lá todos os dias depois o do tal do rcio
eh que talvez eh eh conhecido por tinha
outra clientela portanto dividia-se Ok o
Guerra Junqueiro o Alexandre colan todos
os dias às 11 horas lá estava não quer
dizer que não funcionasse também como um
café restaurante Claro o essa de ciros
que fala o quando fala do Martinho ele
tá a falar do rcio sim e às e há
histórias épicas de pancadaria lá dentro
quando sim tal eig quando os grupos de
estudantes ou que seja não se entendiam
por estas questões que vibravam muito
com a peça o livro O cois que escreveu e
andava tudo à padaria e voavam mesas no
Café marho Martinho Claro o nome mais
associado ao Martinho da arcada é o
Fernando Pessoa várias vees há há uma
ligação gigante entre os dois eh Aliás o
Martinho da arcada cultiva muito essa
essa essa memória do do do Fernando
Pessoa que tem lá uma data de retratos
na parede eh aliás há há há retratos
muito famosos do do Fran pessoa que são
tirados no Martinho da arcada e tem uma
mesa reservada para toda a eternidade lá
no Martinho da arcada ele frequenta
sobretudo nos últimos 10 anos da sua
vida fazia do Martinho o seu escritório
ia para lá escrever foi uma dessas mesas
à mesa que lhe tá reservada que escreveu
a mensagem também uma grande parte do
livro do desassossego e também foi lá
que três dias antes de morrer tomou o
seu último café com o Almada Negreiros
depois nos anos 80 dos já 1980 esteve
para ir para o galheiro É verdade
queriam reformar transformar fazer outra
coisa ali eh e Valeu a intervenção de
uma associação a Associação pessoana dos
Amigos do Martinho da arcada que o
conseguiu salvar e dinamizar hoje mais
de 240 anos depois o Martinho da arcada
que já tá noutra família homenageia
outras figuras também com as suas mesas
que é uma forma de homenagem o Eduardo
Lourenço o José Saramago o Júlio Pomar o
Manuel de Oliveira que se juntam a
outras figuras mais próximas de nós que
ali iam muitas vezes o Agostinho da
Silva a Amália trouxemos aqui também
muitas dessas figuras e muitas outras
pessoas claro eu acho que diria quase
toda a gente sim e e depois se hoje a
clientela é menos intelect É verdade
também as pessoas estão cada vez mais
estúpidas as pessoas em geral não só
você o bif continua ótimo a a fascinante
história do café mais antigo de Lisboa
que começa numa fábrica de gelo da Serra
de montejunto não deixa de ser irónico e
o Tiago já aqui deixou esse lá miré esta
ligação entre o Fernando Pessoa e nesta
história Porque o gelo nós sabemos é
água e água também sabemos não era uma
bebida que ele apreciasse muito o
Martinho Bartolomeu Rodrigues morreu faz
hoje 143 anos bravo bravo bravo Y
2 comentários
O café parece o café oficial do "Vamos todos morrer" 😢
A talho de foice, foi no Martinho, numa conversa entre Agostinho da Silva e Fernando Pessoa que se imaginou aquilo que agora se designa por CPLP.