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bem-vindos de regresso a estas conversas 52 conversas a propósito dos 10 anos do Observador dos 5 anos da Rádio observador e também do futuro do futuro do país no seu curto prazo num outro prazo de 10 anos eh hoje temos connosco e Miguel Saraiva Miguel Saraiva é arquiteto é fundador de uma empresa de de arquitetura também é se seu CEO e vamos falar um bocadinho do que é não apenas esta atividade Mas da forma como esta atividade se Inter no fundo com o com o com com o país eh Miguel eh nós às vezes olhamos para a arquitetura durante muito tempo olhou-se para a arquitetura quase como uma coisa que fosse supérfula quase como se fosse um luxo quase como fosse a necessidade de ter uma casa bonita porque depois do resto se fosse tudo se não caísse já estava bem é verdade muito bom dia bom dia um prazer est mas hoje em dia apesar de tudo já não é assim não é hoje em dia já há noção de que um arquiteto pode fazer a diferença numa quando construímos sim eh Há uma evolução enorme na na profissão por diferentes razões eh eu acho que o Boom que houve no princípio do século de estudantes de arquitetura acabou por descer o curso com média de entrada mais elevada mais alta mais alta e quer dizer era tinha um lado quase espantoso porque era entrada média de entrada mais alta e depois desemprego na altura hav desemprego e a mais mal remunerada com certe mal remunerada e mal remunerada É verdade eu acho que que esse Boom que que aconteceu no princípio do século eh teve a virtude de introduzir um arquiteto em cada família praticamente portuguesa eh e por isso Começou a haver uma uma atenção sobre sobre o tema da arquitetura e sobre a própria profissão e isso veio valorizar a mesma também acho que a evolução cultural do Povo português começa a a dar mais valorização à própria profissão as p não sei se perguntássemos há 20 anos a uma pessoa da classe média Qual é que era o papel do arquiteto na sociedade as pessoas tinham muita dificuldade em definir iso se calhar iam cair nessas definições mais [Música] e menos interessantes diria eu mais supérfulas da da profissão como as que frio hoje a a profissão tem um um reconhecimento da sociedade muito maior quer dizer as pessoas têm a perfeita consciência que o arquiteto tem um papel preponderante na sociedade seja no desenvolvimento das cidades e e que tem um papel preponderante na na inclusão da sociedade no próprio espaço urbano começaram a perceber talvez também um bocadinho pela própria pandemia e as características da da da doença E que nos encla rou todos e tornou as cidades gigantes e as casas mínimas eh e por isso também tiveram a perfeita consciência que a casa hoje é não além de ser um abrigo é um momento de conforto eh e por isso hoje a profissão é vista de uma forma completamente distinta do que era há 20 anos atrás e e e e isso é muito importante não só para a profissão mas também para a sociedade em si mas há 20 anos atrás nós construíamos construíamos construíamos hoje aquilo que se muitas vezes se refere é que não se constrói constrói-se muito menos não se constrói sequer o necessário e porque o que é que tá acon É verdade houve um grande Boom de construção também pós 25 de Abril houve e um grande buraco e houve movimentos migratórios enormes não só da da África ou das ex colónias para Portugal isso criou um desequilíbrio enorme no Parque Habitacional existente à altura surgiram os bairros de lata nas periferias envolvendo vines já já hav havia já um défice também anterior mas muito agravado por este movimento migratório também houve um movimento migratório muito acentuado no pós-25 de Abril das zonas rurais para as zonas urbanas e a pressão começou a ser muito grande Pois houve o nos anos 90 fim dos anos 90 houve muita construção essa construção que se refletiu muito no setor privado mas também no nos programas de Peres e cdg por isso os planos especiais de ramento também havia coisas vistosas como a como a como a expo por exemplo sim eh tudo quase ao mesmo tempo por isso Houve aqui uma simbiose entre o setor privado e o setor público que foi muito importante e que requalificou as cidades proporcionou a uma grande parte da população que estava altamente condicionada a ter uma habitação a ter a possibilidade de ter e por isso H dignidade de habitar eh e depois cai-se novamente num num Marasmo e num grande vazio e e pronto e deixou-se de construir e principalmente deixou-se de construir habitação também tivemos o subprime que que inverteu aqui um bocadinho o processo subprime vai assustar toda a dívida contraída para habitação porque foi aí que que ele nasceu não é e quer dizer que ele nasceu nos Estados Unidos e mas depois a onda chegou à Europa e refletiu-se também não só na área da habitação em Portugal mas também pela obra pública e pelo volume da obra pública e o que é que ISO representou nas contas do estado eh mas houve há um iato entre dois os anos 2005 2006 até hoje com uma grande dificuldade em responder a toda a procura que é completamente desproporcional à oferta e hoje em dia temos um problema da Habitação P que sim mas mas entretanto apesar de tudo nesse período dá-se uma eu diria considerar que é uma transformação porque antes nós tínhamos uma um grande esforço de construção da Habitação nova e tivemos nestes últimos 10 12 anos um esforço como sempre paralelo e nos tempos anteriores de reabilitação para um arquiteto pegar num prédio antigo e reabilitado é tão ou mais desafiante do que construído de raiz eu acho que é que é muito diferente e e e e se Ambos são construção têm abordagens completamente distintas não só na na sua parte técnica como também na sua escala e no seu desafio criativo Um Desafio criativo eu acho que na minha visão é é maior na na construção nova do que na na reabilitação a reabilitação eh tem como uma primeira abordagem o respeito pelo pela história e pré-existência existência e temos uma grande vantagem é que temos lá a escala a escala do objeto está lá e e e por isso partimos de algo concreto que existe eh a construção nova é uma folha em branco e por isso é um na minha perspectiva é um maior desafio sendo ambos muito importantes e ambos muito desafiantes h eu gosto de fazer ambos r vejo-me a fazer ambos o resto da vida sabendo que a reabilitação tem um uma abordagem Talvez um pouco mais cuidada porque ao fim ao cabo nós vamos perpetuar a história do local vamos perpetuar a história do objeto que é o edifício e e e temos um desafio também muito interessante que muitas vezes os edifícios antigos que tiveram diferentes funções durante a sua vida vêm a ter uma nova vida com uma com um novo uso com uma nova função isso também é muito interessante na reabilitação E isso não acontece na construção nova porque quando nós temos um programa para desenvolver uma habitação nova temos um uso indexado definido pelo promotor seja ele privado ou público e por isso é diferente e hoje em dia um arquiteto passa mais tempo aos estirador ou mais tempo a tratar da burocracia eu acho que na melhor das hipóteses é 50 50 mas tem muita burocracia associada o nível de interações que o arquiteto tem com os diferentes agentes que rodeiam é enorme as pessoas não têm essa consciência é necessário a burocracia ou é ou está aí Um dos problemas que nós temos para nos faltar mais construção em algumas áreas eu acho que que a que a burocracia é em excesso mas por um lado eu até compreendo Porque é que ela existe porque houve uma necessidade de haver um maior control sobre todo o processo eh porque a burocracia não existe só na relação entre o arquiteto e a entidade pública existe também muita burocracia hoje ao nível do arquiteto com o seu cliente privado e com a obra por isso hoje produz-se mais papel escrito do que papel desenhado que é uma pena e por isso o arquiteto hoje tem 50% na melhor das hipóteses como eu dizia há pouco de de burocracia in cho e e de 50% de desen nós agora vamos ter enfim vamos ver como é que funciona exatamente na prática uma desburocratização do processo de licenciamento que passa por responsabilizar mais os projetistas não só os nos arquitetos também os engenheiros eh como é que isso como é que se olha para isso eu acho que o o Eu costumo dizer E tenho dito em vários fóruns que isto é uma lei para pessoas sérias e para pessoas que querem ter uma boa prática profissional e porquê porque talvez seja o Primeiro Momento pelo menos da minha geração onde torna-se muito visível a responsabilidade dos técnicos o quadro legal com esta nova legislação não se altera mas ela torna-se mais visível e por isso nós ficamos mais expostos a ao risco nós tínhamos um ler entre nós e e e à aprovação que eram as entidades públicas que nos davam um determinado conforto através de um ofício e esse Ofício agora desaparece e por isso a relação eh passa a ser mais direta e mais visível em relação ao erro o erro existe sempre quer dizer a arquitetura é feita por pessoas e por isso o erro está sempre presente mas mas o erro é é é tado nos serviços públicos ou é é era detetado os serviç muitas vezes da ideia que os serviços públicos o papel que tinham era era mais complicado do que facilitar Hum eu hoje Devid à experiência prática que tenho da profissão acho que o o serviço público também ele tem muita dificuldade em em em se pronunciar porque o quadro legal é o mesmo para quem desenha e para quem Analisa e o quadro legal é de tal forma complexo que é muito difícil para quem está a analisar validar soluções Sem muitas vezes entrar em conflito com a própria legislação que existe que é muito avulsa e que ela própria entra em conflito com ela própria por exemplo onde é que onde é que há problemas assim onde é que detetar alguns dessas contradições dessas complexidades acho eu acho que o problema da da da da análise por parte da administração pública como estava lhe a dizer é é é igual ao ao setor privado nós temos o mesmo quadro legal regimos pelo mesmo quadro legal e o problema é igual eu acho que há Talvez uma dificuldade de compromisso em termos do tempo eu não diria que o problema esteja tanto na na na análise de projeto está no tempo de análise de projeto e da e da complexidade que existe que é uma teia entre as diferentes entidades que se pronunciam sobre um projeto eh a as interações que existem entre o requerente e a câmara e por isso com o entre o arquiteto externo e o O interno da câmara eh é de tal ordem que arraste imenso o projeto no tempo e e por isso o tempo para mim não deriva da legislação S somente da legislação Claro que ela tem Impacto mas também deriva dos meios que a administração pública hoje tem ao seu dispor para ser mais rápida a a responder aos desafios atuais nesta área por isso eu acho que o grande problema aqui tá na na na capacidade da administração pública se organizar estruturar e e conseguir responder em tempo útil aos Desafios que são-lhe propostos Mas e o arquiteto enquanto o arquiteto para do eitos é um criador não é portanto não é apenas é um criador e esse esse lado criador vos o arquitetura e Teve até em Portugal alguns nomes grandes não é portanto Pessoas que ficaram muito conhecidas premos internacionais eh isso criou um padrão isso criou a ideia de que o arquiteto é realmente um criador ou é um ajudante de de Porque durante muito tempo para resolver os problemas o melhor era contratar um um desenhador e não o arquiteto é um criador e na sua génese tá tá tá a criação tá tá tá a ideia Isso é o que nos motiva E é isso que que nos faz viver neste turbilhão de de sentimentos e de relações eh é evidente que a complexidade do exercício da profissão hoje é enorme seja por questões legais seja por questões técnicas eh mas o o o o o arquiteto por por defeito é é multidisciplinar e sendo multidisciplinar agreguem si próprio uma série de conhecimento que lhe permite desenvolver a sua criação suportada em em leis ou em técnicas eh eu acho que essa questão de procurar outras profissões para o exercício da nossa profissão que talvez na minha Ótica seja a profissão que tem o a melhor mais bem definido dos seus atos próprios do exercício da da mesma foi um Foi um momento que eu acho que já desapareceu por isso a sociedade reconhece que o papel do arquiteto é essencial e por isso procura o arquiteto e já não procura as outr as outras profissões para exercer a nossa profissão eh Mas acima de tudo é um criador mas que o envolveram numa teia de complexidade enorme com outro tipo de valências eu acho que hoje o arquiteto tem eh ao contrário de há 20 ou 30 anos atrás já não é a aquele profissional liberal puro que existia felizmente a profissão evoluiu o reconhecimento do arquiteto é muito maior na sociedade e por isso nós temos outras formas de exercer a profissão seja na em fundos de investimento seja e nas fiscalizações seja nos Project Manager eh seja na área financeira nos bancos e por isso hoje quem quer est na profissão como um criador tem a possibilidade de o fazer e não tem dúvidas daquilo que quer porque se tiver dúvidas vai vai exercê-lo de outra forma por isso quem fundou um Ateliê hoje é para ser um criador e não ser um burocrata nós estamos o tempo corre e nós temos muito mais tempo mas como criador prefere o cliente que lhe chega e pede uma Vivenda ou serviço público que L chega e pede um bairro de habitação social onde onde as normas são absolutamente draconianas as áreas de cada as áreas de cada apartamento o dinheiro a gastar eu acho que toda a arquitetura deve ter algum controle de custos por isso o limite não pode ser o céu Apesar às vezes nos apcer que seja eh eu eu respondendo diretamente eu eu gosto muito do tema da da da construção de custos controlados e por isso adita à habitação social e por isso eu prefiro fazer um um bom projeto de habitação social acho que é muito mais desafiante do que fazer uma moradia sabendo que ambos os programas motivam porque o o o o o o programaticamente aquilo que eu gosto mais de fazer é habitação eh e Ambos são desafios de escalas diferentes mas ambos têm o mesmo propósito dar conforto a quem os habita através da funcionalidade da materialidade e da forma eh mas eu eu gosto mais do programa acho o programa mais desafiante em termos de habitação social é mas é mais difícil não é é mais complexo porque para já temos sempre a folha de Excel ao lado H mas talvez pelo propósito que serve e esse desafio e eu acho que a complexidade do desafio acrescenta valor ao ato de desenhar e a mim não me assusta minimamente e acho que é a escala também também é diferente e por isso eu acho que é é mais interessante mas sendo muito complexo mas estamos a falar em habitação e e e eu acho que toda a habitação como lhe disse deve ser uma habitação de custos controlados quer dizer nós não a arquitetura não pode mover só pelo custo Ah é muito bom arquiteto porque gastou muito mais do que gastaria é evidente que há condicionantes Essas condicionantes são armas interessantes são desafios interessantes podem ser ultrapassados com um bom desenho O que é que faz subir o custo da arquitetura e da construção bem o o o desenho em si tem um impacto direto no no custo e isso está mais que provado mas o que faz hoje em dia se aumentar o custo de construção é que nós tínhamos uma mão deobra por exemplo muito barata e hoje em dia já não é tão barata até porque ela é bastante especializada e por isso não podia continuar a ser tão barata e isso tem um impacto enorme no valor Global da construção também eh os fatores externos à própria construção TM vindo a encare-a a questão da da da materialidade ter-se movido por outros lados do do Hemisfério hoje em di e torna a materialidade da construção mais cara em si mas eu acho que o grande Impacto vem da do do custo de construção vem da da mobra e E porque é que em Portugal nós temos tão poucas soluções de de casas pré-fabricadas não temos ou com módulos pré-fabricados não tem sim há assemblagem fabricação em é Um Desafio também não é portanto é Um Desafio e pode baixar fazer baixar muito os custos Teoricamente tem várias vantagens poderá se for bem não existe essa tradição em Portugal porque a mão deobra era barata era barata e por isso a mão deobra tradicional manteve-se até aos dias de hoje depois temos um problema de escala nós não temos construção modular se não tivemos indústria a modular e por isso com e isto acaba por ser uma pescadinha de rabo na boca pela simples razão que não havendo indústria nós não temos meios para implementar a a construção modular começam a dar agora os primeiros passos a nível industrial e por este esta e é é Esta área desenvolvendo-se a construção começa a ser modular mas a verdade é que nós não temos escala suficiente para o fazê-lo de uma forma individual quer isto dizer nível Nacional por isso a construção modular tem que ser e a indria a nível europeu sim mas ibérico não chega hum talvez talvez H mas à escala Nacional eu acho que é muito difícil eh os espanhóis estão muito mais evoluídos do que nós Nisso porque T um mercado muito maior aliás eu considero que existe uma indústria da construção em Espanha em Portugal não existe não há escala para isso e por isso nós os amb aos espanhóis ou então temos dificuldade de ter essa construção modular e por isso não temos preço porque a construção modular hoje em Portugal a a única virtude que tem é que tem uma das poucas virtudes que tem é que é mais rápida discussão em relação à tradicional mas o preço é muito similar ainda por isso nós temos que aumentar muito a a o volume de construção modular para que ela seja mais competitiva A somar a isso e sendo o Estado um grande um um dosos grandes eh players da encomenda se ela própria não mudar os seus hábitos de contratação pública Nós também temos dificuldade aem introduzir a construção modular e por isso essa construção modular é essencial na minha perspectiva não há alternativa é urgente é urgente para responder à urgência que existe no país em termos de Déficit Habitacional mas eu acho que ainda estamos um pouco longe disso bem o tempo voou como acontece quase sempre nestas entrevistas Muito obrigado Miguel foi um prazer enorme muito obrigado