🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
bem-vindos de regresso a mais um clube dos 52 portanto este conjunto de entrevistas que estamos a realizar a propósito dos 10 anos do Observador dos 5 anos da Rádio observador e o a nossa convidada de hoje é bem conhecida dos portugueses lin belesa lin noblesa foi foi ministra Foi muita coisa na vida teve um papel importante na evolução da condição feminina em Portugal também antes eh e agora é presidente da fundação eh champol limou que tem também um um trabalho importante na área da investigação científica e da Saúde portanto as duas As duas áreas eh perguntar-lhe a alguém que tem tanta experiência Qual é a sua visão para daqui a 10 anos é Um Desafio difícil para si L nobela é Um Desafio muito obrigada em princípio em primeiro lugar pelo convite e depois o desafio é conseguir responder é conseguir responder não é eh conseguir e eh eh para mim sobretudo conseguir distinguir aquilo que eu gostaria que acontecesse nos próximos 10 anos e aquilo que e se calhar penso com mais probabilidade que que vai acontecer portanto tentei conciliar um bocadinho as duas coisas dizer o que é que me parecia a mim que que que era importante que acontecesse eh tendo a noção de que há inúmeros obstáculos inúmeras dificuldades que têm a ver desde logo com o enquadramento internacional porque que estamos a passar tem a ver com com as dificuldades nacionais isto isto Aliás foi feito antes das eleições sim de 10 de Março e portanto sem saber muito bem como é que mas numa altura em em que compreendíamos que que que a situação que a situação que resulta das eleições poderia ser e eh complicada como Aquela que efetivamente resultou Mas enfim não não é disso que estamos a falar estamos a falar de de como é que as coisas poderiam acontecer daqui para Diante O grande desafio é evidentemente e antever e não misturar desejos com com com probabilidades mas quando fala de por exemplo de área que conhece bem que a área da que a área da saúde ela transformou-se muito nas últimas décadas primeiro com a digamos a construção de um serviço público Universal que e já existia mas foi sendo construído e foi sendo alargado e depois com aquilo que é a situação atual em Portugal em que temos uma eu vou usar o termo complementariedade sem carga política que há de facto na na vida doss cidadãos no dia a dia dos cidadãos eles sabem que além do serviço público todos aqueles que têm possibilidade possibilidades ISO são muitos entre seguros de saúde e adse e outros regimes que têm alguma escolha digamos assim esta esta evolução temse quer dizer tem sido na sua perspetiva eh não apenas positiva como mostrar um caminho de futuro a possib esta complementariedade entre setores é um caminho em que e no existindo estado social o estado social eh é mais um estado de garantia do que um estado prestador em minha opinião o estado social deve ser em primeiro lugar um estado de garantia e as questões de quem presta de certa maneira não são tão relevantes como como a questão básica de que num país civilizado as pessoas têm acesso a cuidados de saúde independentemente da sua capacidade económica e dos conhecimentos que eventualmente possa ter portanto a questão essencial é que as pessoas tenham esse acesso eh o depois pode ser garantido de uma maneira ou de outra como aliás as experiências dos países europeus demonstram Não não são todas são todas iguais pronto eh na na minha opinião em Portugal as coisas têm eh eh evoluído sem que haja por detrás eh um um pensamento muito eh informado orientador sobre como é que deve fazer eh eh Há uma situação em que as pessoas se sentem que têm ou não têm acolhimento com aquilo que existe eh e eh aqueles que podem ser prestadores vão ocupando o espaço e a que as pessoas que as pessoas sentem que precisam sem que haja uma um quadro orientador muito clar hoje sente-se nessa posição não é que é prestadora de é prestadora enfim como responsável da fundação mas sou sou prestadora numa entidade privada sem fins lucrativos que é que é digamos uma terceira e terceiro tipo em relação ao estado que diretamente presta ou enades há mais entidades desse gnero no no sistema não é misericórdias por exemplo sim eh e a a a sabe isto é uma história que tem evoluído como eu digo muito em função do da procura e das necessidades que as pessoas sentem Mas com muita dificuldade em enfrentar as coisas do ponto de vista dos princípios e a situação é muito diferente da que era por exemplo quando eu fui ministra da Saúde há 30 e tal anos pronto porque há prestadores privados com com eh eh com uma intensidade e uma qualidade que naquela altura prática ente não existia e e com alguma dificuldade em ser muito Claro na definição de princípios deixa-me que faça referência a uma coisa que a mim que é o sistema da adse o sistema da dse existe desde o 25 desde antes do 25 de Abril enfim é uma uma um sistema antigo que foi evoluindo hoje na verdade é é um seguro de saúde e e a que as pessoas têm aqui os aqueles que servem o estado TM acesso Se quiserem para esse efeito descontam 3,5 do do seu vencimento e é e é isso que financia o sistema é um sistema que foi inicialmente criado pelo estado que hoje é mantido e e e dominado certa maneira na sua e no seu funcionamento pelo Estado e que na verdade permite à aqueles que trabalham para o estado e recorrerem a prestadores que não são aqueles que existem no Estado eh Há aqui uma uma história que normalmente não é formulada desta maneira Mas eu vejo assim eh eh que que tem algum que temos alguma dificuldade em compreender Como como é que eu eu não sou contra a assistência da ads não estou a tentar dizer isso estou a tentar dar um exemplo do que eh eh existe e funciona um bocadinho fora de uma discussão em torno de quais é que deviam ser os princípios e e e e as formas como nós eh garantimos o acesso das pessoas a cuidados de saúde já agora deixa-me também que só que lhe dê um exemplo daá 30 tal anos dos tempos em que eu fui ministra da saúde já foi há uma eternidade eh Há um hospital que é que é perten a uma misericórdia e que funciona no interior do serviço Nacional de saúde julgou com uma razoável ignorância por parte da generalidade daqueles que falam destas questões e que é o hospital da perlada do porto o hospital da perlada e é é é é um hospital enfim de de de muito sofisticado que sim com especialização foi que sobretudo a ortopedia medicina física e Reabilitação portanto nessas áreas eh que eh na altura que gua a mim de cedir foi deixado eh sob o controle da misericórdia do porto inserido no serviço Nacional de saúde partilhando de certa maneira funções com o Hospital de Santo António e eu na altura e tomei esta decisão de deixar ficar isto na misericórdia e e a funcionar no no no contexto do serviço Nacional de saúde pensando que que essa eh que esse exemplo podia eventualmente ser reproduzido ficado no fundo e não aconteceu foi isolado e e a maior parte das pessoas supõem que nem sabem que que as coisas funcionam desta maneira portanto é per eu não sabia devo confessar é perfeitamente possível e encontrar formas harmónicas de inserção de outros prestadores a na no no no no contexto daquilo a que asidade dos cidadãos têm acesso e eh de uma maneira razoável controlada e enfim parece-me que há muita falta de de capacidade de olharmos para o que temos e de funcion armos em função daquilo que temos mas agora enfim até na sua qualidade nova que é estar numa Fundação portanto fazer parte de um organismo que não é estado nós em Portugal às vezes parecemos hesitar entre acreditar que as soluções estão no estado e nos governos ou acreditar que as soluções estão nas pessoas no fundo nas pessoas e em momentos mais críticos momentos de mudança momentos de e aflição muitas vezes e fica-se com sensação que são as pessoas queam as pessoas que as pessoas organizadas nas empresas nas associações que acabam muitas vezes por fazer com que o país dê a volta como como como se costuma dizer F cidade civil estamos a falar mais do que a sociedade civil a sociedade civil quer dizer a sociedade civil no fundo se considerarmos também todosas tamb Asas asas no fundo a iniciativa dos cidadãos em vez de estarmos à espera que alguém nos resolva tudo bom de certa maneira a fundação chapal existe nesse contexto não é portanto António chapal Mou decidiu decidiu eh deixar uma parte substancial daquilo que ele tinha para uma Fundação que que atuasse eh eh na na na enfim em torno da investigação e em saúde não estou a dizer os termos exatos do testamento mas em torno disto eh e e e e na verdade somos uma uma entidade privada eh eh o que para muitos efeitos posso lhe dizer da Minha experiência é é muito positivo porque temos uma margem de uma capacidade para tomar decisões e e e e e para ir modificando quando quando é caso disso a forma como funcionamos eh mas ao mesmo tempo não temos não temos de remunerar a acionistas e portanto temos um caráter bastante especial em relação eh eh ao setor privado em geral a que pertencemos eh eu Julgo que é um exemplo extraordinário que resultou da vontade de uma pessoa que tinha os meios e que quis que que as coisas funcionassem assim eh e e e enfim eh eh temos a nossa margem fazemos somos basicamente uma instituição de investigação porque o que Ele nos disse é que Devíamos fazer pesquisa científica na área da Medicina expressão que ele que ele utilizou eh eh na verdade também prestamos de cuidados cuidados de saúde porque eh entendemos escolher eh fazer investigação eh com um sentido de que possa ser efetivamente utilizada isso eh implicava e implica que possamos ter recursos a pessoas que prestam cuidados de saúde eh podíamos ter ter feito isso e por e simplesmente recorrendo a outros prestadores mas preferimos ser nós a prestar diretamente esses cuidados e e a podermos fazer nesse contexto da investigação como entendemos que ela deve ser feita e e e Julgo que a experiência tem sido positiva positiva mas já agora voltando ao exemplo de António champol eh ele começou por ser E íamos podemos dizer que há duas fases na vida dele que é a fase em que ele é um um grande Industrial portanto com enfim todos lhe associamos por exemplo a siderurgia nacional que hoje já não existe pelo menos nos termos em que ela construiu e depois quando regressa eh outra vez a Portugal vai para o setor financeiro eh isso também não é um sinal não apenas do país mas até quase da Europa e e Admito que sim que não que não fosse uma história isolada mas também provavelmente era era a forma como ele podia proceder naquelas circunstâncias que eram umas circunstâncias muito especiais em que o regresso dele coincidiu um pouco com com a altura em que a constituição foi modificada e e e e setores que tinham sido nacionalizados puderam ser reprivatização pessoas ao momento em que as coisas acontecem e e e que são muitíssimo relevantes também para as escolhas que que podem fazer ISO mas isto também tem a ver um bocadinho com a questão de saber se nós Portugal podemos ter indústria porque muitas vezes fala-se disso não é até no quadro atual europeu SIM neste momento o problema até já é um quadro europeu não é exclusivamente Nacional pronto ou não não é só aqui e certamente eu eu pertenço à aqueles que que que acreditam que que a Europa precisa de encontrar caminhos de uma maior autonomia em relação às áreas só o museu do mundo assim está o sítio on é simpático viver no museu mas certo mas mas gostaria de que a Europa fosse mais ativa na na no desenvolvimento de de de atividades de caráter Empresarial que tê uma enorme importância hoje no mundo e que estamos um pouco a olhar para o que se passa entre os Estados Unidos e agora a Ásia e muito mais ativos e muito mais capazes de desenvolver Grandes projetos se calhar do que a maior parte dos europeus enfim e desse ponto de vista tenho pena e nesse quadro por exemplo uma das coisas que no seu texto refere a importância de por um lado da educação e por outro lado da investigação eh ah nós temos hoje em dia enfim muitas pessoas a sair da das Universidades mas parece que estamos com aquele problema que não sei até que ponto é que é possível revertê-lo em que estamos a exportar e jovens qualificados e importar uma mão deobra que faz muita falta aí a nossa economia e ninguém duvida disso mas que é menos qualificada eh O que é que nós necessitamos O que é que sente que se podia ser feito para contrariar esta tendência que é uma tendência emfim dos últimos anos mas que tomara eu ter essa tomara eu ter essa resposta porque eu acho que e e esse é que é que leva esses jovens irem embora onde as casas caras M eu eu eu Julgo que nós se calhar pensamos precisamos de pensar em relação à saída dos jovens e de uma maneira mais atendendo à realidade do do que é a nossa por exemplo eh eh hoje e os hospitais Ingleses estão cheios de Enfermeiros portugueses portanto é uma carreira e eh fácil e e Atrativa e para as pessoas que se formam em Portugal em enfermagem pronto e é um drama que começa a existir para os nossos hospitais e para as nossas as necessidades eu acho que não podemos olhar para essa questão eh pensando eh que os enfermeiros são Funcionários Públicos como os outros todos e tem que se inserir em carreiras e em regras e não temos de ver qual é a procura que efetivamente existe para para esses profissionais que que são preciosos para nós mas que sentem que lhes é muito mais fácil fazer e e isto é um pouco a regra enfermeiros tem muitos enfermeiros e muitos médicos na Fundação Portanto tem forma de os reter lá tem conseguido e o e encontro mas eu tenho mais margem do que o que tem os os mas mas mais mais margem o que é quer dizer mais margem negocial ou mais dinheiro mais possibilidade mais possibilidade de valorizar as pessoas e de forma a que elas que queram vir trabalhar com a fundação champalou em vez de trabalhar nros sítios é É exatamente esse tipo de necessidade a que eu estou a fazer referência quer dizer é muita mais flexibilidade às vezes dizem Ah é mais rico paga melhor não é só isso PIS não certo e e eu eu espero que não eu espero que não alguns aspectos imagino que sim que que mas espero que não porque e e aquilo que nós tentamos que o nosso corpo Clínico eh cinta eh é um um espaço a aonde pode prestar cuidados de saúde em termos que considera adequados e positivos onde possa fazer investigação e em termos de desenvolver as suas carreiras de uma maneira eh porventura mais Atrativa e com orgulho de serem profissionais da casa e e e eu acho há aqui fatores que que Admito que também pesem e muitas vezes ouo profissionais dizer que é assim mas a mim Eh o que o que me parece é que é Preciso olhar com este tipo de atitude para os profissionais nas mais variadas áreas e e não nos limitarmos a dizer que eles fogem como aliás eh em em eh eh em Portugal a gente houve queixas não só de que eles vão para o estrangeiro como que fogem do do do serviço Nacional de saúde como se não fossem cidadãos portugueses aqueles que também são tratados no setor que não é público de prestação de cuidados de saúde sim sim faz faz faz do setor público até para outros setores enfim não é só com médicos enfer mas mas nos Profissionais de Saúde muito essa história fogem como se fossem tratar e não sei bem quem mas mas certamente não não se está a pensar que ou ou as pessoas não têm consciência quando falam são cidadãos portugueses como aos outros que que que que escolhem ser ver os cuidados de saúde prestad de outra maneira agora a questão que que que que que a referiu é muito mais Ampla do que isto não é como é que nós conseguimos que o nosso país seja suficientemente atrativo para os jovens que que que que vamos formando para eles sentirem que há aqui uma solução e eu acho que isso tem a ver com desenvolvimento combate à pobreza com com com regras que que tornem o nosso país mais atrativo do ponto de vista do investimento portanto é é é uma coisa é um problema muito mais amplo do que negociações mais ou menos eh especializadas em certos setores para que não saiam de Portugal eh profissionais daqueles que precisamos muito e enfim não queremos falar aqui de políticas curto prazo mas eh no ambiente eh no ambiente eu diria mais menos do que política se calhar mais comunicacional mais social mais cultural quase o país começa a estar preparado para outras soluções que não sejam apenas aquelas que vêm do passado eu espero que sim Eu espero que sim e e desejo aliás tentei escrever nesse sentido Acho que sim Acho que H acho que há práticas de de de de em áreas em que em que precisávamos de de funcionar de outra maneira e eu vou aproveitar para falar numa que me parece particularmente importante e não muito refletida na nossa prática da administração e que é sermos capazes de escolher os melhores para desempenhar as funções que são necessárias e estou a falar nomeadamente da abação pública e desligar a administração pública de decisões de caráter político estrito Isto é nomear as pessoas que são politicamente mais próximas parece-me absolutamente essencial para que a administração pública ultrapasse muitas das dificuldades em que está e e para sermos mais decentes como como sociedade Como sabe a prática nos países não não é sempre igual pronto há países onde a administração pública está mais perto do do polí E H país onde é completamente independente Eu eu acho que H uma enorme vantagem no Unido e na Irlanda por exemplo onde onde a administração pública é independente eu eu Julgo que isso é é eu Julgo que caminharmos nesse sentido é absolutamente essencial por um lado para que as pessoas se vejam justamente tratadas em em função das capacidades que têm e por outro lado também para que a administração seja mais capaz e e para que deixemos de pensar que eh eh os partidos políticos se se se muitas vezes ou as pessoas que que decidem eh em função eh se se terminam por e questões menores e menos nobres do que é e conseguir servir os cidadãos da melhor maneira e que possamos e eu acho isto uma uma questão hoje absolutamente crucial eh eh Como sabe foram criados mecanismos para que para que este tipo de evolução pudesse acontecer eh existem depois muitas dúvidas sobre como é que funciona ou deixam de funcionar mas eu acho que a instituição desses mecanismos e de certa maneira Isto pode ser às vezes muito mal entendido mas voltarmos a um esquema em que os dirigentes da função pública eram pessoas muito consideradas pelas suas capacidades por aquilo que sabiam fazer por aquilo que que podiam pôr ao serviço dos cidadãos Isto é muito muito importante e isto vale para os hospitais vale para para para as direções Gerais vale Vale para toda a gente eh durante uns tempos andamos a discutir o que é que eram lugares de nomeação política ou não eram e eu achei sempre que concessiva condescendência para para para a dimensão e da da do que é que era e lugares de nominação política ou não para mim a administração política a administração pública toda não é e não deve ser lugares de de nomeação política e eu acho que isto hoje é é é uma questão muito importante bem o tempo voou Muito obrigado tínhamos mais enfim acabamos bem com é uma boa sugestão Mas muito obrigado Mais uma vez por ter vindo cá conversar muito obrigada eu muito obrigada