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[Música] [Aplausos] [Música] sejam bem-vindos a mais um debate diretamente da Praça da fundação sobre um ensaio ou retrato lançado pela Fundação Francisco Manoel dos Santos Albert Einstein dizia que é mais fácil desagregar um átomo do que um preconceito e que na verdade é muito difícil percebermos porque é que muitas vezes julgamos alguém antes sequer de de conhecermos Hoje vamos falar sobre o ensaio preconceito e discriminação em Portugal de Rui Costa Lopes que está aqui ao meu lado psicólogo social e estão connosco também o psicólogo social Jorge vala e o jornalista da SIC Cláudio França eu começo por perguntar ao Rui Qual foi a motivação e quais os objetivos para a escrita deste livro bem era está muito alinhado com os objetivos gerais da fundação de fomentar o debate e é importante que haja discussão e há muita discussão Nem sempre é uma discussão informada A ideia era fundamental era fundamentalmente trazer um pouco de de conhecimento científica um debate que ocupa muito o espaço público muitas vezes não tão com tão sustentado em em no no conhecimento científico e portanto era a ideia de trazê-lo trazer esse conhecimento para o debate com a ideia de discutir este fenómeno como um problema social Uhum E daí organizar o livro em termos de um diagnóstico ou no sentido de perceber até que ponto somos afetados por esse problema em termos de causas de onde é que vem esse problema e em termos de soluções como é que nós estamos e como é que fazer um ponto da situação digamos assim e Professor Jorge e o que é que Quais são as suas considerações depois de ter lido o livro então muito boa tarde a todas e e a todos em primeiro lugar as minhas saudações à Fundação por ter tido a iniciativa de publicar este livro Com certeza os parabéns ao Rui por o trabalho que realizou eu gostava exatamente de partilhar convosco e a forma como eu reagi este livro que mais Me interessou despertou o meu o meu interesse e e começaria por referir um aspecto que é muito importante hoje na academia que é a divulgação Científica o Rui falou referiu já esse aspeto mas parece-me extraordinariamente importante que haja da nossa parte eh este eh esforço da nossa parte da academia da parte da academia este esforço para partilharmos eh com a comunidade eh as investigações que vamos fazendo o Rui escreveu este livro mas ele próprio é investigador e nesta área portanto é um domínio que ele conhece eh eh extraordinariamente bem e digamos que isto faz parte de eh no meu entender e de um projeto mais global de contribuirmos eh para eh uma cidadania eh informada e a questão da informação o o o Rui também eh a referiu depois há aqui um certo número de aspectos que eu tomei nota e que gostava de partilhar convosco muito rapidamente uhum o primeiro eu penso que muitos de vós já leram o livro mas se o forem ler reparam que há uma enorme precisão conceitual e como o Rui disse a palavra preconceito é utilizada muito no espaço público nos média no debate político e há esta preocupação e e grande de ser clarificar Nós já vamos professor já vamos fazer clarificação examente minuto e aí eu eu ress salvava eh ou sublinhava três aspectos que é o facto de o Rui dissecar este conceito e o relacionar com outros conceitos que são importantes eh para entendermos o que é o próprio preconceito não há preconceito sem emoções e sem sentimentos não há preconceitos sem estereótipos e finalmente o preconceito é um prepar da a quer dizer legitima a ação geralmente uma ação negativa aquilo que aqui no livro é discriminação mas o Rui podia também ter abordado não só a discriminação mas a violência ou a agressão de uma de uma forma geral é evidente que é necessário fazer economia e por isso eu percebo esta opção um outro aspecto que me parece importante é que nós temos aqui informação e eu penso que e nós precisamos e de regressar à informação e este livro contribui para isso tem não só do ponto de vista conceitual como do ponto de vista dos dados sobre diferentes tipos de preconceitos o Rui selecionou três tipos de preconceitos o sexismo o preconceito contra as pessoas racializadas e o preconceito contra os imigrantes eh necessidade de fazer uma seleção mas o preconceito eh é alguma coisa que está ligada associada à nossa construção de ideias acerca de grupos sociais que não são eh os nossos estes são os aspectos que eu para já queria reforçar e espero que estejam de acordo comigo eh quando lerem o livro vão ver que não são é claro como nos ajuda e nos informa sobre a realidade e especificamente sobre a realidade portuguesa eu perguntei-me no início O que é que nos faz não gostarmos de alguém sem nada sabermos sobre essa pessoa torna-se muito mais difícil quando sabemos a história dessa pessoa quando ela nos nos é próxima e e por isso mesmo Cláudio e este convite para conhecermos a tua história e dar a conhecer o teu ponto de vista sobre este tema H Cláudio tu eh quando conversamos antes do debate disseste que houve duas três traves mestras na tua eh Enfim no teu percurso e relativamente a estas questões as Caldas da Rainha que foi onde tu cresceste h a educação certo e e também a herança da tua avó certo sim a questão também dos dos valores desportivos que ah do rugby Exatamente exatamente são quatro s trê juntei Eu juntei a tua avó sim eh mas em primeiro lugar Agradecer o convite da fundação cumprimentar O Rui também o professor José vala e cumprimentar todos aqui presentes eh por terem tirado um pouco do vosso tempo para falar destas questões e ouvir falar destas questões eh muito importantes e cada vez mais mais importantes tendo em conta a ascensão de de extremismos de políticas eh de extrema direta que também são abordadas pelo Rui no no livro eu gosto sempre de ter uma abordagem mais positiva porque éum imagem que transmite Eh o meu percurso e o meu processo de integração como a como a Filipa falava há aqui três eixos tes três pilares fundamentais que que que falam muito do que é o meu percurso a questão eh da educação da família os valores a família que que podes dizer que veio Originalmente Luanda exatamente a família a questão também e h da eh dos valores passado através do desporto e a questão da cidade onde eu cresci no processo de integração a minha família os meus avós em particular vieram para Portugal nos anos no início dos anos 80 por causa da guerra civil em em Angola à procura de de uma vida melhor como muitos pal lopos fizeram e na era após era colonial e e através aqui a falar do primeiro do primeiro do primeiro Pilar que é a educação que é aqui a minha avó foi com quem eu cresci e onde eu me estabeleci na nas calas da rainha e passou-me sempre uma educação muito rigorosa muito de de muita disciplina mas também de muito amor e de muito respeito pelos outros eh e e aqui eu penso que a minha avó foi fundamental porque sabendo tudo o que se passou durante a guerra colonial e no início da guerra civil quase que nos colocou e digo nos colocou porque a minha avó veio por causa do meu avô mas com ela Trouxe sete filhos neste caso seis porque a minha mãe acabou por ficar em em Angola porque já porque já Estudava na altura neste caso no bé no sul porque a minha mãe tirou enmagem em em Luanda e e acabou por criar sempre uma carapaça um escudo protetor através da educação por tudo o que passou em Angola mas tentar proteg do que nós psos encontrar na sociedade A questão aqui dasas acabou por ser muito acabou por ser fundamental o meu avô recebe uma proposta de trabalho para as calas da rainha ele era torneiro mecânico e eu acho que as calas foi fundamental porquê Porque se nós nos estivéssemos inserido numa cidade grande como Lisboa a Porto provavelmente iríamos para a periferia não aqui numa questão depreciativa mas numa questão que era onde estavam grande parte das Comunidades ou seja e portanto não tinham não tinham feito uma integração aqui aqui mais neste caso de proximidade ou seja Vamos juntar-nos às pessoas com quem nós temos mais afeto mais proximidade dissolvidos na com exatamente ou seja H neste caso puxados empurrados para para a periferia e aqui neste caso as Caldas acho que foi fundamental uma cidade muito mais pequena do Oeste h e e e aqui o processo de integração na cidade foi fundamental porque eu lembro-me agora já não existe mas lembro-me de todos os anos durante o verão haver uma festa que eram as festas do ambo o festival do ambo exatamente em que as comunidades palop através da cultura gastronomia artesanato música mostravam O que o que o que essa cultura tinha de melhor à população que havia nas calas e esse processo acabou por ser fundamental de proximidade ou seja de nos sentirmos parte da sociedade de nos sentirmos parte da comunidade das Caldas da Rainha e depois aqui a questão do desporto muito dos valores muita da educação que a minha avó passou passou me passou em casa a minha avó agora diz em jeito de brincadeira que que em casa era um quartel nós não achávamos piadas nenhuma na altura mas agora faz-nos todo o sentido ou seja a minha avó acabou por Nos preparar do que nós poderíamos encontrar na sociedade no futuro e É engraçado porque o meu avô é que era militar é que trabalhava na academia militar na amadora mas e passava a semana toda fora de casa mas era queem nós ansiávamos casa é que tinha esteno era queem nós ansiávamos que chegasse porque a minha avó era todos os dias era o acordar era o deixar as coisas direitas era eraa ajudar em casa e e Isso acabou por Nos preparar muito o sair de casa e estar pronto para tudo o que o que fossemos encontrar então eu identifico aqui estes eixos principais a questão da educação da minha avó a questão da cidade e a questão do rebi que é a questão da comunidade ou seja também o sentimento de pertença em que eu senti-me apenas como mais um para para chegar um objetivo aqui mais questões desportivas eu queria esclarecer relativamente ao ao rugby para quem não sabe tu jogas é jogador de rugby de de S competi com nucas Cis rugby e já repr presentaste a seleção nacional ou seja no no no teu percurso até à tua chegada a um estágio na Sique na verdade não houve situações e eu perguntei disseste-me já antes em que te sentis discriminado Sim há aqui uma questão que eu mais uma vez que ao fundamental a tal carapaça que a minha avó acabou por construir à nossa volta para nos proteger eu acredito que ela e conta muitas vezes a questão do de estar na fila de voto e perguntarem o que é que ela lá está a fazer são coisas que que eu nunca senti aí está porque ela preparou-se acaba por ser talvez vocês podem pensar e pá mas este rapaz é um bocado ingénuo mas não foi quase esta carapaça acabou por me proteger de tudo o que eu pudesse sentir e eu contei há pouco quando falávamos que uma das primeiras coisas que me fez confusão quando cheguei a Lisboa e para para a faculdade estava no supermercado e no corredor dos iogurtes e tava um polícia a seguir-me no supermercado mas o meu inconsciente questionou me eh a questão que eu faço foi porque raio é que o polícia está está a seguir-me o é a questão do preconceito não é a questão da ideia formada que o que o Rui fala no fala no livro de que aquele polícia por contacto ou por por por por Episódios com outros negros com outros pretos achou que eu por algum motivo pudesse roubar alguma coisa no supermercado então segui-me enquanto eu fazia as às minhas compras mas lá está a educação e os valores que me foram transmitidos em casa eu pensei aquilo durante um 2 minutos e pensei Ok o o Ignorante é ele vou continuar asas compras Falamos também de outra coisa e é um assunto enfim que pode ser abordado evidentemente todos os assuntos podem eh que é esta questão também do dos nomes e e Tu disseste sempre sempre me disseram desde pequena que me tratavam como o preto os amigos não é eh e era naturalíssimo e e eu perguntei-te eu disse bem mas muitas vezes Talvez isso aconteça e depois também vou pedir ao Rui para comentar porque a própria pessoa já se atribui o nome antes dos outros atribuírem a questão de chamar preto negro pessoa de cor afrodescendente tudo isto que que valor tem isto ou o que é que tu pensas Eu acho que eu acho que tem muito a ver com a ligação e com a proximidade lá está Eu gosto muito de dar exemplos que é o melhor O Rui e o professor Jorge trazem o conhecimento científico eu trago um pouco da da prática que fui que fui passando e de exemplos na no meu percurso eh lá está a minha mãe e a minha avó a minha mãe mais acaba por me chamar preto por uma questão de proximidade de de de afinidade não é de amores eh acontece também muito eh com com amigos com quem eu já tenho ligação há anos mais de 20 anos lá está a questão da proximidade e há uma história muito engraçada também dos primeiros anos em em Lisboa depois de ter vindo as Caldas da Rainha uma fila de uma discoteca um amigo meu tinha eu tinha alguma coisa de um amigo meu e ele diz eh Preto dá-me imagina dá-me dá-me o tabaco algo assim do género e para mim foi absolutamente normal porque lá está a questão da proximidade para mim aquilo era uma questão de afeto porque joguei joguei handball com ele Joguei rby com ele eh passei grande parte da minha adolescência com ele então essa questão de de de afinidade de proximidade Não tem qualquer tipo de questão mas ao meu lado estava Outro Preto que não achou piada nenhuma eh mas eu respeito e ele perguntou-me como é que eu admito que me chamem que que um branco me chame Preto eh lá está é aqui uma questão muito sensível eu sou uma questão apesar de ser uma questão transversal do preconceito e da discriminação eu sou apenas um uma questão particular eh e e é a questão da sensibilidade é a questão da proximidade e o meu exemplo é o meu exemplo mas não quer não não significa que represente eh o percurso de outras pessoas mas lá está a questão da proximidade aqui é acaba por ser essencial mas eu tenho que respeitar o o facto de de o preto que veio falar comigo não achar normal achar apreciativo alguém me ter chamado de preto mas em conversa com ele ele também tem que entender uma ponto de vista de que o meu processo de integração também passa por isso mesmo e é a questão aqui do do respeito mútuo que é fundamental Rui esta há uma questão aqui que eu acho que é interessante que é a possibilidade de se aceitar a diferença e aceitando a diferença aceitar a subjetividade de cada um Talvez isso seja é o mais difícil não eu acho que tem muito a ver com a subjetividade e daí a importância de nós eu não devo ser eu que me devo pronunciar dos termos que eu utilizo para classificar Estas pessoas não é Portanto o que interessa é o que é que é importante para elas O que é que o que é que são os termos que cons O que é que se identifica e o que é que consideram ou não ofensivo que é exatamente esta coisa o Cláudio pode não sentir a outra pessoa que estava ao lado dele claramente sente-se ofendido por isso e depois dizer que de facto estas coisas não acontecem num e eh quando a pessoa diz que usa o termo preto como usa um termo que pode ser mais facilmente ofensivo como por exemplo gordo ou não sei quê E dizer a pessoa dizer não estou só a ser objetivo e referir-me a uma característica física é preciso perceber que as coisas não acontecem no vazio que as palavras têm peso não é as pessoas podem se sentir ofendidas principalmente numa relação de proximidade que faz todo sentido em que já existe esse contexto em que as subjetividades estão definidas mas em termos Gerais e entre pessoas que não se conhecem nós temos que assumir é o peso que a sociedade dá aquelas palavras e portanto comunidade exatamente estos nos ai fica sem voz de repente nos Estados Unidos a palavra niger já se sabe que não se pode usar certo certo tem a ver com outro historial e mas de facto o peso das palavras nos Estados Unidos é de tal forma que eles nem se referem à palavra que não podem dizer não já ninguém diz a palavra publicamente é sempre AW mas existe is tem tem um historial e historial de escravatura que explica um peso enorme associado a palavras que nós não nos diz nada como por exemplo eu se eu tratasse o Cláudio a dizer aqui aquele rapaz que ali está Não significava nada se eu no inglês dissesse usasse o termo Boy para referir ao Cláudio eu estava a ser altamente ofensivo não vamos então à clarificação dos conceitos como o professor diz deixa-me só dizer um aspecto que é importante nesta nesta conversa que é eh separarmos o nível interpessoal e das relações pessoais do nível societal do nível global e de facto assim como há uma palavra que não se pode dizer nos Estados Unidos o niger assim para definir a situação dos angolanos ou mosaicos dos africanos em toda a legislação portuguesa até ao Adriano Moreira mas não sei até aos anos 60 não sei aí O que é que se passa mas estávamos agora aqui a dizer que provavelmente o termo passou a ser usado era indígena mas toda a a a linguagem de opressão usavam a palavra Preto pois Os Pretos devem portanto era a categoria que era e eh o rótulo da categoria que era utilizado e por isso de facto é o equivalente em termos históricos do niger e para os Estados Unidos pois curiosamente a própria os próprios e adotaram o preto uhum não é é como é que se sear nesta família e alguns pois creio que os jovens os mais jovens preferem esse nome ao ao negro nas relações interpessoais não na classificação temos que separar esses dois níveis muito Rui e Como dizia o professor um dos Pratos fortes digamos deste preconceito e discriminação em Portugal é clarificar conceitos podes explicar diferença entre preconceito e discriminação e racismo para ficarmos a separar as águas certo certo certo obrigado por essa oportunidade que eu acho que é muito importante e dediquei bastante tempo no livro A isso que para achar tão importante Tudo começa no preconceito em termos de de das palavras utilizadas porque o preconceito é o chapéu principal é um chapéu que engloba as outras coisas h eu no livro começo por pegar na definição do dicionário do preconceito que é que diz que é uma opinião formada adamente sem fundamento mas depois faço um conjunto de ajustamentos de afinamento que tem a ver com ajustar ao contexto que estamos a falar do preconceito como um problema social e daí focar na dimensão negativa de trocar o termo opinião passar para a atitude que é um termo da psicologia social que quer dizer uma uma predisposição que nós temos para avaliar um determinado objeto de uma forma favorável ou ou desfavorável e portanto depois de todos os afinamento eu defino no livro e o preconceito como uma predisposição para avaliar de forma negativa um determinado grupo no seu todo ou uma pessoa que eu identifico como pertencendo a esse grupo Rui Desc me interromper é muito curioso quando está a tentar a procura dessa definição que o Rui vai por tentativa erro e provavelmente tem a ver com o que estávamos a falar não é quando não há uma definição segura mais vale ir por tentativa erro pois e principalmente essa ideia do distinguir entre o discurso público e o que estava num dicionário e e o que está no na no científico e as definições não são minhas eu estou simplesmente a explicar como é que os outros académicos colegas cientistas chegaram a estes termos não é mas Portanto o preconceito eh é esse tal julgamento essa predisposição para avaliar só que esses julgamentos E aí um exemplo é exatamente se uma pessoa decer eu não gosto de negros é uma afirmação claramente preconceituosa uma pessoa julgar uma mulher de uma determinada maneira porque ela é mulher estou a ser preconceituoso mas esses julgamentos podem tomar diferentes formas e eh eu posso por exemplo eh posso julgar que as pessoas têm uma determinada característica porque pertencem a um grupo A eu poro Se eu disser eh se eu conheço uma pessoa e identifico com uma mulher se eu assumo que ela é má condutora por causa disso eu estou a usar um estereótipo uhum eh Isto é a dimensão cognitiva do preconceito mas portanto faz parte do preconceito finalmente as pessoas com que T preconceitos por vezes aem de forma eh eh diferenciada em relação às pessoas que pertencem grupos e portanto isso é a discriminação é o comportamento portanto discriminação é dimensão comportamental é efetivação eação num ato ou numa intenção para agir de forma prec conceituação a uma pessoa e portanto o preconceito é esse essa atitude geral claro que eu aqui as definições que eu estou a dar é uma questão numa interação individual do nível individual apesar de estar a representar um nível intergrupal Mas claro que isto Depois tem ramificações ramificações SAS institucionais estruturais e claro que apesar de estar a falar dessas pequenas interações do dia a dia isto Depois deixa lastro deixa desigualdades que nós olhamos e já não vemos diretamente o preconceito e discriminação ali mas que na realidade são fenómenos que foram causados também por eles outra clarificação que outra distinção que é importante é entre racismo e xenofobia certo antes de mais o o racismo é questão do os diferentes tipos de preconceito não é se um preconceito contra mulheres pode-se usar o termo sexismo e portanto poder-se i a pensar que o Ah claro e os outros muitos outros homofob h idadismo de um preconceito em relação aos mais novos ou aos mais velhos e e portanto podia-se pensar que o racismo é simplesmente um preconceito em que em em relação a grupos raciais entre aspas mas na realidade há uma uma escolha uma adoção uma abordagem na academia e não só para se escolher adotar o termo racib como muito mais do que esse preconceito racial o racismo é uma é um termo mais eh reservado para uma ideologia muito mais complexa do que isso uma ideologia que assenta na crença de que existem raças raças humanas de que existem raças diferentes existem raças inferiores e raças superiores e que pela existência destas diferentes raças e havendo umas superiores e umas inferiores por razão dessa superioridade há raças há grupos que podem exercer opressão e dominação sobre outros grum para para isso é que se costuma reservar o termo racismo o xenofobia é uma coisa muito mais específica que tem a ver semanticamente ou etimologicamente como um medo do do diferente do estrangeiro e que está muitas vezes reservado para os portugueses que estão vem com maus olhos a entrada de pessoas não portuguesas no seu contexto ex era para aí para aí para aí que eu ia dois Dados importantes no livro H Portugal é o terceiro melhor país do mundo a integrar Imigrantes ao mesmo tempo os dados mostram ou um estudo do Observatório das migrações coordenado por Sónia Dias revela que entre 60 a 70% dos Imigrantes brasileiros sentem-se Discriminados pelos Profissionais de Saúde portugueses a quem apontam insensibilidade e falta de competências sociais e culturais para lidarem com os imigrantes ou não se esforçarem por entendê-los Professor este este eh este ensaio eh fala em Portugal como um país de contrastes concorda com esta afirmação Acho que sim eh aquilo que nós chamamos uma no crave outra na ferradura eh sim de uma certa de uma certa maneira é evidente que eh quer a expressão do preconceito quer a expressão de racismo eh é menos grave e menos frequente do que eh ações comportamentos que visem provocar no outro e eh sofrimento ou seja agressões discriminações etc no entanto nós temos agora um estudo que não de que não dispúnhamos quando eh eh o Rui eh fez eh eh este trabalho que é um estudo do inné um estudo do iné com uma super amostra que é recentíssimo então que é recentíssimo com uma super amostra foi um estudo muito reivindicado pela comunidade científica e o que encontramos são valores por exemplo de experiência vivida de discriminação no caso e das pessoas de origem africana da ordem dos 45 a 47% que são valores que nunca tínhamos encontrado desta forma nomeadamente em estudos internacionais comparativos h e são valores muito elevados quer dizer são valores muito elevados para o caso das das mulheres nós temos valores das mulheres em geral das mulheres portuguesas e das pessoas que vivem no em Portugal 17% que aceitam dizer que foram a a discriminadas no caso dos a a Imigrantes como tal a no o estudo não permite fazer essa separação mas portanto nós temos neste momento eh dados que permitem dizer que os contrastes São menores do do provavelmente do que aqueles que e nós eh eh pensávamos mas diz-nos por exemplo que eh o lugar comum Portugal não é um país ista não é que ouvimos muitas vezes eh que não está assim tão certo não é essa afirmação quer dizer por si só é ela mesma é ela mesma totalmente errada não há país nenhum e racista não há eh Há contextos racistas há comportamentos racistas Há momentos em que as sociedades exprimem fortemente racismo e há crenças racistas e de facto Portugal é um doss países onde as crenças racistas tradicionais eh isso tem muito a ver também com o baixo nível escolaridade da população as crenças racistas tradicionais são expressas de uma forma eh eh acima dos 60 difundidas acima dos 60% no eurin de São sar conforme tipo da crença sim conforme o tipo de estão e estão muito enraizadas no decido social não é e e estão muito difundidas no no tecido social embora seja possível e dizer onde é que é mais fácil encontrarmos esse tipo Transform numa pergunta de de de de crenças e um bocadinho e tenho que fazer apelo à minha memória em primeiro lugar dizer que os homens não expressam mais racismo do que as mulheres que a variável idade também não é importante os os velhos disse que os homens não expressam mais racismo mais racismo do que as mulheres não é significativo portant a diferença não é significativ H há uma diferença que é significativa e que é a diferença eh eh em função do nível Educacional e há outra que é muito significativa mas que curiosamente não era há 20 anos atrás que é a diferença eh direita a esquerda portanto neste momento eh uma pessoa que se autodefine como pertencendo à direita partilha efetivamente mais crenças que nós denominamos como racistas por exemplo há raças em que uma portanto que as pessoas nascem mais inteligentes do que outras e há raças em que as pessoas nascem mais trabalhadoras do que noutras raças Isto é o racismo biológico do século XVI e ainda presente ou a ressurgir com outra força ressurgir e com outra com outra cara também neste caso a cara é neste caso é a mesmo neste caso é a mesmo Há Há outras caras de facto mas a cara é a mesma dto est esta clivagem seriam as duas que eu destacaria em função do nível Educacional e isto porquê por uma questão normativa eh as pessoas com quanto maior ao seu grau de educação melhor conhecem o fenómeno do racismo e mais sabem que publicamente não podem dizer determinado tipo de coisas O que não quer dizer que provavelmente Pens exatamente implicitamente não apenas acrescentar aqui falou da questão política da conjuntura ideológica também eh e há uma parte no livro que o Rui fala da questão do do do da discriminação do preconceito às claras ou seja esta questão de das ideologias políticas e dos partidos de extrema direita que que basicamente que banalizam cada vez mais o discurso esta questão da esquerda direita faz com que as pessoas que antigamente tinham o receio eh de preferir determinadas determinadas ofensas determinadas questões de preconceito agora se sintam cada vez mais Livres agora se sintam cada vez mais às claras porque quase que têm como defesa estes partidos políticos que estão que estão por trás mas ao mesmo tempo Cláudio nós vimos líderes políticos na televisão a preferir afirmações claramente antisemitas e não haver nenhuma reação ou outro tipo de outro tipo de declarações que são inclusivamente punidas por lei e falamos de liberdade exess reção nenhuma mas acho que era isso mesmo que o Cláudio estava a dizer o facto disso acontecer e de nós vermos eh hoje em dia atores políticos com relevância mediática a ter esse tipo de discursos sem serem verdadeiramente cancelados Como diz hoje em dia Muitas vezes a ter a ter sucesso eleitoral está a levar a uma normalização diferente no sentido de deixar de ser tão claro e tão claramente condenável eh os atos preconceituosos e assim ou seja nós muitas vezes olhamos para o que os outros e os outros relevantes numa sociedade relevantes entre aspas mediáticos eh fazem e o que é que lhes acontece e o que é que as outras pessoas à volta acham daquilo e guiamos dessa forma e portanto se nós olhamos e vemos vemos aquilo a fazer daquela maneira então Nós pensamos nós costumamos passamos a a a perceber Então se calhar Afinal há certas coisas que eu achava que J Não podia dizer e fazer e Afinal já já posso fazer portanto parece haver esta normalização do preconceito Exatamente é um termo muito nosso muito nosso quer dizer que utilizamos muito da da legitimação legitimação em termos de legislação professor e porque parece que se conseguiu H Se conseguiu conquistar formalmente uma certa proteção anti discriminação e e que também há outro fenómeno que é Ah já está garantido não é os homossexuais já podem casar e já podem fazer isto pronto e então agora já se pode dizer o que se quiser não é portanto queria que me falasse um bocadinho sobre esta questão aquilo que é formalizado digamos na legislação e a forma como psicologicamente e depois se lida em termos de comunidade com isso eu sou das pessoas que pensam que o primeiro passo em termos de mudança social pelo menos nestes domínios o primeiro passo a dar eh tem de facto a ver com a legislação e avançamos muito eh mudando a a legislação avançamos Nas questões do racismo do sexismo e eh da da forma como olhamos para as pessoas que pensam a sua sexualidade de uma forma diferente daquela que pensa a a a maioria mas de facto a legislação por si só pode ajudar a desencadear eh um certo número de comportamentos como por exemplo os casamentos que se referia entre homossexuais o que não quer dizer que a legislação por si só mude nós podemos ter uma relação com as normas que é uma relação de convenção de pura aceitação e é um bocadinho o que acontece hoje ou podemos ter uma relação com estas normas antirracistas [Música] legislação mas não é punitivo ou não é assumidamente mesmo que seja quer dizer mesmo que seja punitivo como é o caso do racismo nunca se encontra finalmente as condenações com o racismo São muito poucas porque o processo os processos são complicados etc onde o há um um grande momento na mudança que é de facto de ordem legal mas depois é necessário que haja uma interiorização da Norma e neste caso significa eh um uma adoção uma verdadeira identificação com os valores igualitários e Democráticos pós Segunda Guerra Mundial que são esses que não que estão neste momento a ser postos em causa hum Cláudio eh aqui falou-se nas pessoas racializadas eh h o que é interessante é que uma pessoa racializada digamos assim ou um imigrante eh na verdade é uma pessoa que em termos culturais tem mais do que uma referência portanto pode ser até muitíssimo mais rica em termos de de de de horizontes eh no teu caso como é que foi a tua ligação às tuas origens e porque eu creio que foi tardia passa passava muito por P festas do ano e também pela questão em casa ou seja a tradição era muito passada pelos meus avós pelas minhas tias e pela cultura pela tradição que era transmitida através de casa e depois também acabávamos por ir buscar muito eh nas viagens ou seja os meus pais vivem em Angola neste momento em Portugal só está só está a minha avó e eu tento sempre que vou a encontrar beber um bocadinho da da cultura da tradição e questionar sempre a minha mãe porque é também engraçado porque a minha mãe sempre teve umae foi muito sensível quando lhe fazia algumas questões do colonialismo porquê Porque a minha mãe viveu em Angola durante a guerra civil a minha mãe estudou no bié que foi uma das uma das províncias mais mais afetadas pela guerra e conta muitas histórias de ter que ficar fechada na escola quando ouvia tiros do lado de fora e tinham que guardar os corpos no edifício ou seja na mesma sala enquanto enquanto a guerra acontecia lá fora então se penso que tem muito poucos anos a questão mais da proximidade e o à vontade de eu questionar a minha mãe sobre sobre questões questões bélicas da da guerra da guerra civil porque aí está foi marcou muito e a minha mãe vivendo lá e eu estando cá com me avô H aproximação afetiva mas há uma distância há uma barreira e criada também também pela distância Como dizia tento ir sempre buscar beber um bocadinho da cultura quando vou quando vou a Angola Eh o meu pai vive em Benguela a minha mãe vive em Loanda eu a última vez ou penúltima vez que estive em que estive em em em Angola fiz a viagem Luanda Benguela de de camão é uma viagem que se faz de avião em cerca de meia hora mas aí está os angolanos dizem que conhece Angola quando se sai de Luanda e e é um bocado por aí porque a partir do momento em que se passa à Barra do quanza e vê-se animais vê-se vê-se vida vê-se Floresta vê-se vê-se natureza e era isso que eu ia à procura ou seja tentar encontrar as vivências as tradições a cultura eh porque não porque aqui tinha apenas através da música que os meus avós ouviam ao fim de semana através da comida através das histórias que que me eram que me eram contadas mas essa essa proximidade eh só consigo ir chegar quando quando lá estou e mais uma vez quando questione a minha mãe sobre essas questões da guerra civil e muito em leituras e de de de escritores de autores angolanos que falam um pouco naturalmente de uma forma um bocadinho mais romantizada da Guerra Colonial Mas ainda é tudo muito sensível tão sensível ao ponto de mais um mais uma vez buscando aqui as questões políticas a minha namorada é portuguesa é branca já foi comigo a Angola e e naturalmente também já viajamos pela Europa e eu nunca tinha sentido a nunca nunca pensei que fosse possível acontecer o que a minha namorada sentiu quando tivéssemos em Angola quando quando estávamos os dois em Angola perguntar como é que é o o reverso da medalha eh sim a questão de muitas vezes acontece aconteceu muito na Hungria quando nós fomos aqui na questão europeia e a questão e a questão dos dos países com com lideranças de extrema direita neste momento Itá e também a Hungria muito olhar de cima a baixo quando nos vem juntos da forma mais depreciativa para mim na Europa a do género eh O que é que esta Branca está a fazer com este negro e em Angola eh eh eu senti que a minha namorada sentiu isso de olharem para ela de uma forma depreciativa e do género primeiro o que o que é que esta Branca tá aqui a fazer porque há muito aquela questão e do pula do do do do do do branco que foi para para a Angola para tentar subir muito rapidamente na vida para conseguir uma hierarquia financeira muito rápida e e acaba lá está a questão do preconceito a questão da discriminação eh e foi a primeira vez que eu senti o outro lado e e só em conversas com ela é que depois Acabei por perceber sim ok isto também acontece no reverso da moeda quando nós estamos noutro sítio mas é muito engraçado como os países e e as questões de política eh do espetro político condicionam também muito a visão da das pessoas da sociedade porque lá está a questão do preconceito às claras e das pessoas sentirem cada vez mais apoiadas eh por esse tipo de de discurso político eh Rui falamos da língua agem falamos da política até que ponto é que H também a formação de comunidades e de uma linguagem própria e uma forma de agir em conjunto E é importante nesta para a luta contra o racismo a discriminação eh portanto estamos a falar de comunidades de que de pessoas racializadas ou pessoas que sofrem muito dece pessoas que são vítimas de preconceito É com certeza que essa a ideia de coesão das Comunidades permite Com certeza partilhar permite Com certeza consertar eh o ativismo e portanto pode facilitar nesse sentido mas o que nos diz e a literatura diz mais do mais do que importante de haver essas comunidades é exatamente dizer haver comunidades que não estão segregadas e em que existe muito contacto que permite exatamente eh desconfirmar estereótipos permite empatizar com as pessoas e passarmos a pensar no outro não como um branco como de um membro da maioria ou Como um negro ou uma pessoa racializada mas como aquela pessoa que é e que tem o seu nome e que tem a sua história e e dar a conhecer a pessoa portanto as duas coisas são importantes mas o caso do contacto é que é uma uma uma grande abordagem eh para para a redução do do conceito acentar porque é aqui a questão fundamental que que o que o Rui falava da segregação eu acho que a integração de qualquer migrante é fundamental Primeiro para que se s parte da sociedade e do local da comunidade Onde está inserida e a questão também da possibilidade de mostrar a sua cultura para essa comunidade para se sentir como como pertença Ou seja que está ali não como um corpo estranho mas que está lá e e que pertence e que pode contribuir para essa comunidade e a questão do e a questão da segregação a questão de empurrarmos estas esta estes migrantes para a periferias eh faz com que haja cada vez mais estas questões discriminação do preconceito porque são eles que estão lá os de lá não é Os Pretos que que foram para lá os os do banglades que lá que estão lá Os ucranianos que trabalham melhor ou Os turcos que são mais preguiçosos aqui questões eh lá está não sou não é a minha forma de pensar mas é o discurso que neste momento está a ser veiculado por para não só pela pelos líderes políticos mas também por franjas da sociedade porque não têm proximidade com essas franjas da população para terem o contacto e para terem o conhecimento de como como funcionam as culturas como funcionam as tradições porque passa muito pelo facto de conhecer pelo facto de sentir integrado e e pelo facto também de acolher e penso que aqui a integração é fundamental nesta questão do do preconceito e e da discriminação portanto acima de tudo informação informação empatia informação empatia o que acrescentaria Professor informação promoção dos valores igualitários que destruíram a Europa tal como a conhecemos hoje depois da segunda guerra mundial ou seja humanismo humanismo foi o debate sobre o ensaio preconceito e discriminação em Portugal de Rui Costa Lopes muito obrigada por terem assistido Muito obrigado e obrigada a [Aplausos] [Música] [Aplausos] todos n [Música]
2 comentários
Um tema bastante interessante com teóricos de primeira linha.
O maior contraste é 3 milhões trabalharem para sustentar os outros 7 milhões parasitas…..este é o maior contraste…e podem ter a certeza que Portugal nunca passará disto….é disto que esta máfia corrupta adora…foi assim quem 50 anos ficaram todos ricos e o País continua a deriva……metam isto na cabeça..