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antes da necessidade de realização pessoal de evolução profissional de felicidade nos relacionamentos ou de autoestima estão as necessidades que nos tornam iguais de tão intrínsecas e humanas que são o sono a habitação o vestuário e a alimentação milhares de soluções tecnológicas Depois ainda não foi inventada a cura para a fome enquanto problema estrutural mas vão aparecendo pessoas algumas delas mulheres que tentam encontrar formas de a resolver uma delas é a Isabel jonet que é dona de uma casa chamada Bang entar contra a fome que alberga demasiadas pessoas e que vai atingir o seu sucesso máximo quando deixar de estar ocupada ou seja quando deixar de ser necessária Isabel não é dona no sentido da propriedade mas é a presidente da Federação Portuguesa dos bancos alimentares e da entrajuda é a cara e AZ com todo o prestígio e responsabilidade que isso implica bem-vinda Isabel e obrigada por estar connosco e por ter aceitado este meu convite a Isabel acredita e estou a citar que somos responsáveis pela nossa própria vida pergunto-lhe se ser pobre é sempre uma questão de circunstância de contexto ou acredita que também há um papel ativo ligado à capacidade e no limite também ao mérito Olá eh muito obrigada pelo convite eh é é um gosto estar aqui eh e poder até refletir sobre alguns temas que vão para lá daquilo que é habitual no tipo de entrevistas até mais rápidas e que nos são feitas eh eu penso que cada um de nós é a responsável pela sua própria vida e cada um de nós eh e muitas vezes é condicionado até eh não só pela sua situação presente eh mas também pela sua evolução e pelas suas eh oportunidades mas também pelas escolhas eh ser pobre eh deve ser eh não deve ser aceito e infelizmente isso é hoje aceito por muito as pessoas como algo que é para toda a vida e nós em Portugal temos uma transmissão intergeracional da pobreza que condiciona muitas das escolhas que até são feitas a nível político os pobres as pessoas que nascem em situação de pobreza e logo este rótulo os pobres é tremendo porque é uma um rótulo na testa não é um estar é um ser não é permanente sim não é mas não deve seress questão da permanência não é dizer que não deve ser assim e portanto devemos conseguir até descolar de rótulos que são estigmatizantes há pessoas que estão numa situação que é eh temporária ou que é mais prolongada de falta de rendimentos que faz com que se encontre numa situação de pobreza e muitas vezes infelizmente estas pessoas e sobrevivem e acabam por não fazer as escolhas que poderiam fazer se tivessem outro tipo de oportunidades e por vezes as escolhas que fazem são até escolhas erradas porque colocam-nos uma situação ainda pior então quando diz que há uma certa até acomodação ao facto de ser pobre essa acomodação vem dos outros em relação às pessoas que estão pobres ou vem das próprias pessoas que estão pobres infelizmente cá em Portugal eu diria que vem de dos dois lados e a mas muitas vezes as próprias pessoas deixam de ter energia e capacidade mas também não têm oportunidades de poder e sair dessa situação de pobreza eh a educação é o um meio privilegiado para se poder alterar essa situação mas depois tem que haver oportunidades e o que nós temos hoje é que há muitos trabalhadores pobres e até há pessoas que têm qualificações que não conseguem ter o dinheiro que necessitariam ao fim do mês para poder ter uma vida mais ambiciosa mais esperançosa que permita pensar que vão dar aos seus filhos ou eles próprios ter porque não não não não temos que pensar sempre no no futuro nos nossos filhos muitas vezes as pessoas em situação de pobreza vivem o dia a dia e este dia a dia é tramado porque é chegar ao final do dia e não ter muitas vezes eh aquilo que necessitaram nesse dia e nem sequer nem sequer saber como é que vão eh viver no dia seguinte cerca de 30% das pessoas que estão pobres em Portugal têm trabalho Isto são estudos de 2021 e 2022 e por isso pergunto-lhe se esta é uma realidade nova tendo em conta que a Isabel Joni já está há 30 anos no banco alimentar se esta situação é de facto algo que caracteriza bastante as pessoas que também procuram o banco alimentar E porque é que isto acontece na sua perspectiva porque é que uma pessoa que tem um trabalho Estas pessoas que que estão pobres muitas del Elas têm um contrato estável um contrato fixo Mas porque é que o dinheiro depois não chega para conseguirem ter uma vida desafogada eh infelizmente e a situação alterou-se e penso que apesar de várias eh medidas eh sociais que foram tomadas pelo eh por por este governo e pelo governo anterior eh eh não temos sentido grande evolução Porque isto é quase que um paradoxo mas parece que há sempre mais pobreza e parece que apesar de tudo eh Há sempre umas necessidades diferentes que surgem H nós temos em Portugal uma pobreza estrutural que é Severa e temos muitas pessoas 19% da população portuguesa vive em situação de pobreza 1/5 da população portuguesa vive em situação de pobreza eh e depois temos a pobreza conjuntural esta é mais ligada à economia por exemplo na altura da pandemia tivemos de repente um número elevadíssimo de pessoas que eram até da classe média e tinha uma vida estabilizada mas que tinham e que eram profissionais liberais ou que tinham contratos de prestação de serviço ou que o que seja e que de repente de um dia para o outro ficaram sem rendimentos zero não levavam dinheiro para casa e portanto ficaram numa situação terrível aa por cima tinham créditos pediram ajuda ao banco alimentar muitos pediram ajuda ao banco alimentar só para poder comer até porque eram pessoas mais novas tinham filhos as escolas estavam fechadas não não tinham alimentação para os filhos e não tinham rendimento com dinheiro e noutras despesas não não tinh dinheiro CR habitação mas não tinham dinheiro OK deixaram de ter rendimentos num numa altura ainda conseguiram sobreviver com algumas reservas que tinham mas depois não tinham rendimentos Nós já nos esquecemos mas quando o governo fechou a economia foi de um dia para o outro e portanto fecharam ginásios fecharam consultórios fecharam eh Cabeleireiros coisas e portanto Estas pessoas ficaram sem rendimentos ponto porque não tinham contratos nem trabalhavam em empresas Ou ou na função pública que lhes podia garantir o seu salário bom mas nós temos hoje muitas pessoas que têm um contrato regular que trabalham seja como profissionais Independentes seja com empregos por conta de outrem e o salário que recebem meso Mesmo que não seja o salário mínimo mesmo que seja o salário mínimo não é suficiente primeiro porque a habitação ocupa uma parte enorme dos rendimentos familiares hoje em dia seja a habitação própria por com crédito à habitação ou seja casas arrendadas mas depois porque há muito mais necessidades de consumo do que havia anteriormente é tudo mais caro eh hoje felizmente algumas pessoas mais velhas com baixas pensões de reforma têm complementos sociais bons e portanto apesar de tudo esta não é a faixa da população que hoje mais me preocupa Apesar de nós Ainda temos eh em Portugal pensões inferiores a 250 € e portanto apesar de tudo ainda há idosos que têm muitos B baixas pensões e poucos rendimentos mas hoje há realmente uma uma uma percentagem de pessoas que têm trabalho e que o dinheiro que levam para casa não chega eh até ao final do mês porque as despesas são muitas uma grande precariedade esta situação agudizou se muito com a o afluxo enorme de migrantes que temos hoje em dia em Portugal Como assim nós hoje temos muitas pessoas que olham para Portugal como um país onde é fácil entrar e vê muitos migrantes nomeadamente da Índia do Paquistão do banglades que vê Porque mesmo que vivam cá mal vivem muito melhor do que nos seus países e estas pessoas têm empregos precários ganham ao dia seja a trabalhar e eh em transportes de eh ubers etc eh ou na agricultura ganham ao dia e muitas vezes TM uma precariedade laboral que não são admitidas por exemplo por ninguém em Portugal masis também há pessoas migrantes que já estão a pedir ajuda ao banco alimentar por exemplo Com certeza que sim porque estas pessoas destes países que lhe disse em especial os brasileiros temos muitos migrantes brasileiros eles organizam-se em comunidades e têm uma grande interajuda mas têm também outra capacidade que lhes é dada pela capacidade de comunicarem e portanto pedem muita ajuda ao banco alimentar mas sabem comunicar os Há muitos migrantes que vêm que vêm para Portugal à procura de uma vida melhor e justamente tem essa esse sonho de ter uma vida melhor Muitos são homens só inhos homens novos entram legais no país porque têm passaporte e depois não têm um emprego que estavam à espera e as pessoas que que são migrantes e que pedem ajuda ao banco alimentar são na sua maioria homens como é que fazem vão lá diretamente ao Edifício como é que ficam a conhecer a instituição a maioria das pessoas que pedem diretamente são mulheres Mas tu fala agora das das pessoas migrantes sim a maioria das pessoas que pedem diretamente ao banco alimentar seja pessoalmente telefone ou por mail são mulheres as que pedem e muitas vezes as pessoas os os Homens que pedem ajuda a estes migrantes pedem a instituições pedindo o banco alimentar E são essas instituições e que de acolhimento eh que eh eh que nos pedem apoio alimentar para Estas pessoas dicam conheceram M que alimentar como tem ideia partilham isso ou sim e eu diria que é mais boca a boca mas também porque há uma notoria do banco alimentar e e das ajudas que são prestadas e que faz com que toda a gente que precisa de ajuda sabe que aquilo é uma porta à qual pode bater e sabe que nós acompanhamos o processo até e essa pessoa poder ser ajudada em relação às pessoas que não são migrantes às pessoas portuguesas há aqui dois conceitos um é a pobreza absoluta e outra é a pobreza relativa e e a Isabel diz que aumentou a pobreza relativa que é aquela pobreza que tem mais a ver com a perceção da pessoa sobre ser pobre portanto hoje considerar-se e como pobre já não é igual àquilo que era há uns anos porque hoje há mais necessidades há mais vontades há mais exigências de consumo eh Há também mais expectativas O que é que se está a passar aqui como é que este este conceito é aplicado na prática eh Nunca podemos perder de vista e que a pobreza absoluta felizmente em EUR na Europa e em Portugal e nos países eh mais desenvolvidos eh é é um conceito que é há muito poucas pessoas em pobreza absoluta felizmente porque há respostas e há mecanismos públicos que fazem com que uma pessoa que esteja sem nada tenha encontre apoios apoio social Até porque temos uma rede de instituições de solidariedade social e em grande parte até financiada pelo Estado que é extraordinária e Portugal Tem uma rede Espetacular eu fui pres presidente da federação europeia dos bancos alimentares e di que em Portugal há uma rede de apoio social como há em poucos países da Europa de estrutura e de proximidade e de e de capacidade dar resposta como seiu Aliás na pandemia e noutras situações que já temos tido mas a a esse tema da pobreza relativa é eh muito muito interessante eh porque eh Infelizmente como nós em Portugal temos salários muito muito baixos mas temos acesso a tudo daquilo que é e bom as pessoas criam esta noção e esta necessidade de ter muito mais bens e do que aquilo que se calhar efetivamente necessitam por exemplo eh as pessoas têm um telemóvel e hoje em dia um telemóvel não é considerado um bem de luxo é quase um bem de primeira necessidade mas à medida que temos Este é um caso engraçado à medida que temos um telemóvel Queremos sempre o melhor e a minha mãe tem um telemóvel que não tem redes sociais nem tem sequer WhatsApp não é um smartphone e aquele é o telemóvel que ela necessita mas eu não idealizava a minha vida sem podia ter o WhatsApp no meu telemóvel portanto preciso de um telemóvel melhor e mais caro e esta noção até a relação que temos com os bens e a necessidade que temos de coisas mais eficientes mais eficaz mais adequadas até à nossa vida faz com que se não as temos temos esta de que estamos em falta mas é justo ter a expectativa de ser um telemóvel melhor ou não é justo ter expectativa de se ter uma vida melhor com tudo aquilo que isso significa e e é aliás essa ambição que faz com que as pessoas possam melhorar na sua vida porque esforçam-se mais aquilo que já é mais contestável é acharmos que temos direito a ter esses bens sem termos que trabalhar por eles e portanto que que podemos estar à que caiam do céu não não podem temos que e esforçar-nos e não podemos estar à espera que a assistência nos dê tudo e e não querer trabalhar mas querer ter o rendimento social de inserção ou não querer trabalhar e querer o telemóvel é justo ter a ambição de ter mas temos que lutar para ter esses bens e esforçar-nos desde a escola nos resultados escolares até depois aos trabalhos Aquilo é que nós vemos é que muitas vezes as contrapartidas Idas laborais e em termos salariais eh não são suficientes e hoje em dia nós temos uma grande precariedade de emprego e temos salários muito muito baixo a Isabel começou a fazer voluntariado com 12 anos nas suas férias de verão eh estudava no liceu Nacional em Oeiras e depois os os meses de Verão as férias de verão duravam 3 meses e portanto começou a estar no hospital a cuidar de bebés a entreter bebés e Porque as mães não podiam estar com os bebés naquela altura eh e eram os bebés que iam ser operados a doenças dos ossos e portanto a Bel e mais a sua irmã e mais uma amiga passavam o verão eh lá também para conseguir eh ocupar o tempo mas sobretudo porque os seus pais acreditavam que esta missão cívica deveria ser encorajada dentro de casa eh e que era importante para também se formarem enquanto pessoas pergunto-lhe sobre o perfil do voluntário hoje eh porque há uns anos não sei se ainda se mantém ou não esta figura do voluntário eraa muito ligada à questão religiosa ou até eh enfim a libertar-nos um bocadinho dos nossos eh pecados no sentido religioso ou não não é um bocadinho uma um descargo de consciência hoje eh Há muitos jovens e a maioria dos voluntários por exemplo que estão nos supermercados nas campanhas são pessoas jovens eh que fazem também porque fica bem no currículo ou porque hoje em dia fica bem ter uma missão social ter uma ação social partilhar essa ação social nas redes sociais por exemplo eh eu espero que não seja só porque fica bem Espero que seja por convicção e muitos dos voluntários que temos é por convicção realmente o voluntariado alterou-se completamente em Portugal voluntariado Dante em Portugal era percecionado como coisa de velha mulher velha eh eh E hoje é transversal a todas as idades e toda a sociedade o banco alimentar muito contribuiu para desenvolver o voluntariado jovem em Portugal eh e hoje temos milhares de voluntários que participam não só nas campanhas dos dos 21 bancos alimentares como eh também eh no dia a dia ainda agora quando saí do Armazém do banco alimentar de Lisboa para vir para aqui tinha em Alcântara tinha o armazém cheio de jovens que tão no começo das férias e que vem fazer uma semana de voluntariado eh no armazém do banco alimentário e estamos a falar de jovens que são desde os 12 anos até eh até à universidade temos muitos universitários estrangeiros que querem fazer voluntariado muitos estrangeiros que estão cá estudar em Portugal e que procuram voluntariado mas também temos muito voluntariado empresarial volun muitas empresas que lançam desafios aos seus colaboradores porque acreditam que um contacto com uma realidade diferente tem Impacto depois na produtividade das equipas e isso é incontestável esta realidade esta alteração da perceção do voluntariado fez até com que nós no âmbito da entrajuda que foi uma instituição que fundei há 20 anos com o objetivo de levar gestão e organização ao setor social lançámos a bolsa do voluntariado a bolsa do voluntariado que é em bolsa do volunt voluntariado PPT é o maior site português de voluntariado e tem oportunidades de voluntariado criadas por entidades não lucrativas se ligadas ao setor social à cultura ao desporto aos animais à proteção dos Direitos Humanos etc e e que permitem a pessoas que querem colaborar ou que querem ter um contacto com uma realidade diferente conhecer essa realidade e participar nós encaramos o voluntariado como participação cívica como querer construir no mundo Um Mundo Melhor uma comunidade mais justa mais solidária mas por isso também Eh estamos na origem do lançamento do cartão nacional de voluntário eh eh que eh lançamos esse desafio à Casa da Moeda imprensa nacional casa de moeda para nos fazer um cartão nacional de voluntário como há o cartão de cidadão e portanto temos esta preocupação de contar as horas de voluntariado Mas também de premiar As instituições que reforçam o exercício do voluntariado E qual é que parecia a diferença entre ajudar ser voluntária e a caridade eh é grande porque a caridade digo eu que é a solidariedade com amor é nós irmos ao encontro dos outros mas não sendo superior aos outros é levando o amor eu acredito nessa caridade é algo que não é eh que não se espera que seja a estado a fazer mas que se espera que seja cada uma das pessoas e a fazer o voluntariado é dar parte do seu tempo e partilhar aquilo que sabemos fazer com pessoas com entidades com organizações E participar de uma forma cívica cidadã mas a caridade também por vezes tem uma conotação negativa não é chamada caridade Zinha há pessoas que querem fazer essa conotação eu não vejo isso assim e eu acho que até Isso é desvirtuar uma palavra que significa amor e portanto é trazer para um plano a de para um plano ideológico algo que não deve ser posto qualquer amor é bom qualquer Amor qualquer atenção aos outros é boa e qualquer amor na no mesmo plano e portanto há aqui clivagens ideológicas que fazem com que se estraguem as palavras ora isto não são só palavras são sentimentos são atuações são posturas são intervenções mas eu não acha que por vezes a palavra caridade também é usada uma forma de quem tem o privilégio querer sentir-se bem a ajudar o não privilegiado não acho que não é isso a caridade e acho que isso é uma interpretação uma uma conotação que é dada a uma palavra que não é que eu dou Mas percebo que haja muitas pessoas que querem desvirtuar essa palavra a maior parte das pessoas que agridem eh nesse Campo não fazem voluntariado e nós sabemos bem quem são as pessoas que querem construir realmente uma sociedade mais justa pela à s e aquelas que querem destruir muitas vezes pela palavra e p pode ser privilegiado e ter todas as boas intenções do mundo é isso ou seja tal como uma pessoa não percebo não percebo se pessoa que porque muitas vezes há uma crítica às pessoas que só os ricos é que fazem voluntariado não que muitas vezes os ricos os privilegiados fazem-no enquanto luxo digamos assim porque têm tempo também para fazer eu sou sou eu sou voluntária é uma uma provocação para conversarmos e para discutirmos ISO sou voluntária há 32 anos por opção de vida e eu ao fazer esta opção de vida a minha família perdeu um salário sim aliás tiveram uma conversa antes de de optar por essa decisão não é perdemos um salário e portanto pode dizer que eu eu eu podia fazê-lo mas isto significa que todos os meses a minha casa há 32 anos entra menos um salário por opção de vida da nossa família e eh eu tenho a certeza que a minha família é muito mais realizada e muito mais feliz pelo contacto que é esta decisão de voluntariado no banco alimentar nos Bancos alimentares de Portugal da Europa de vários países do mundo onde já abri ajudei a abrir bancos alimentares nem entre ajuda nos deu mas aquilo que eu vejo no meu dia a dia é que os voluntários que são mais regulares e mais persistentes não são as pessoas com mais rendimentos nós temos voluntários no banco alimentar que trabalham 8 horas por dia temos um voluntário que tem 88 anos e é voluntário no banco alimentar há 25 anos e não não é uma pessoa privilegiada ao contrário é uma pessoa bastante remediada como se dizia Isto é um caso do do do Senhor Ernesto que é porque tem 88 anos é paradigmático mas a maior parte dos voluntários que e colaboram diariamente nos Bancos alimentares não são pessoas de posos São pessoas que sentiram na pele muitas vezes as dificuldades e que vem o banco alimentar como um sítio onde podem participar para que outros tenham uma vida mais fácil uhum pergunto-lhe Isto também porque na altura lá está umas declarações polémicas que foram feitas as pessoas associavam muito a aquilo que que disse a sua assertividade também alguma arrogância alguma sobrançaria que viria dessa situação de de Privilégio mas não se vê eh eh nesse nesse lugar não é vê-se num lugar de quem gosta de falar das coisas com eh de forma concreta e chamar a atenção sem peridos é isso não não sei eu não entro em polémicas sobretudo de pessoas que só falam e não fazem e nós no banco alimentar fazemos muito mais do que falamos eu tenho im ess a sorte porque apesar de tudo possa ir falando e conversando como nesta eh conversa mas também até Como é o tema eh da da da da desta da rúbrica eu tenho a sorte de poder eh ser eh eh um bocadinho e quem lidera e quem inspira muitas pessoas naquilo que é uma casa que é uma casa grande é uma casa de todos e os bancos alimentares são uma casa que muita gente reconhece como pessa e são já 21 em Portugal antes de irmos à igualdade de gênero porque eu quero muito falar sobre esse tema consigo Gostaria de lhe perguntar sobre ajudar Há sempre um dilema sentido por muitas pessoas no seu dia a dia que é quando Estamos parados no trânsito e vem um senhor pedir-nos para nós darmos uma moeda eh Há sempre aquela questão de devemos dar não devemos dar estamos de facto a ajudar ou estamos a alimentar comportamentos e que no limite farão mal àquela pessoa tal como também quando alguém nos p dinheiro na rua etc qual é que é a sua opinião devemos dar aquela moeda ou estamos a contribuir para eternizar um ciclo de pobreza eh eu não sei na dúvida acho que devemos fazer aquilo que o nosso coração manda na dúvida mas nunca devemos fechar a janela a esse senhor nem desviar o olhar não devemos sempre sorrir e dizer Olhe eu não lhe vou dar porque acho que estou a contribuir para para você consumir mais a moeda não é para comer é para consumir e portanto eu não lhe vou dar mas desejo-lhe um bom dia mas mas podemos assumir que não devemos ignorar e portanto na dúvida devemos fazer o que o nosso coração demanda devemos aquilo que faç é procurar sempre encaminhar essa pessoa e muitas vezes quando as pessoas têm crianças tem que dizer que não resisto e que dou uma ajuda porque penso que apesar de tudo aquela criança pode ir comer um um um copo de leite no no num num café seguir mas eh Há muitas pessoas que precisam de de ser orientadas e portanto hum aquilo que nós devemos fazer é logo muitas vezes desconfiamos por defesa e às vezes até por medo de abrir a janela a essas pessoas eu não gosto de criar dependências e acho que não é nada bom alguma Posso usar a palavra Há muitas pessoas que têm medo têm medo têm medo e até tem alguma tem alguma Não é desconfiança tem medo palavra repugnância até se é demasiado forte não é se calhar não sei cada um tem os sentimentos que lhe vem até de experiências passadas e de memórias que às vezes nem conhecemos mas muitas vezes as pessoas não olham porque têm medo e não olham porque têm têm vergonha de se confrontar a si próprias com uma situação de um terceiro que muitas vezes caiu numa degradação humana e do que dos que nos batem à janela são pessoas que já estão para lá da daquilo que é admissível enquanto vida e tem medo também de sentir responsabilizadas a fazer alguma coisa tem medo também de se sentir responsabilizadas talvez Tem cada um lá trá as suas explicações aquilo que eu pediria é que nunca deixem de olhar para quem pede ajuda porque às vezes só um sorriso já chega para para essas pessoas pelo menos não se sentirem completamente ignoradas e muitas das pessoas que pedem ajuda na rua já desceram tão abaixo de tudo aquilo que é referenciais humanos que ser ignorados ainda os Empurra mais para baixo portanto não é preciso dar mas pelo menos não ignorar uhum sobre igualdade de género então falemos sobre este tema porque também é um dos temas fortes aqui do nosso programa foi de facto há 31 anos que que a Isabel voltou de Bruxelas onde viveu durante 8 anos com o seu marido voltou já com três filhos três dos cinco eh que tem eh atualmente e na altura eh eles tinham estado no ensino francês e portanto queriam fazer uma uma entrada mais fácil no ensino português e portanto a Isabel hh decidiu dedicar-se ao voluntariado duas tardes por semana também continuava a fazer as suas traduções económicas licenciou-se em economia eh e depois entretanto eh refletiu que para conseguir fazer um trabalho a sério no banco alimentar teria que dedicar mais tempo chegou a casa e conversou em família na altura quais é que foram os fatores que pesaram porque de facto abicar de um de um ordenado eh era eh poderia ser duro não é pelo menos numa primeira fase eh e pergunto-lhe também se não teve receio de ficar de alguma forma dependente também do do marido ou se o marido está lá para isso não sei diga qual é que é a sua perspectiva eh eu tenho sorte de ter sido educada Numa família eh que eh onde não havia distinção entre os rapaz os filhos e as filhas e as tarefas e as expectativas e até os direitos e os deveres eram iguais nos rapazes e nas raparigas somos eh três raparigas e dois rapazes e quia os meus pais nunca fizeram qualquer distinção e eh e sou de um tempo em que eu já eu tenho 64 anos portanto sou de um tempo em que apesar de tudo ainda haveria algumas distinções as três fomos para a universidade e e até estranhamente só um dos meus irmãos é que se licenciou e portanto não havia essa distinção e eu até acho que eh e aquilo que se esperava até em termos profissionais Era exatamente a mesma coisa dos rapazes ras depois casei-me logo a seguir à universidade não foi com 22 anos casei-me e naceu o marido na faculdade sim na minha família que formei com o meu marido também não houve qualquer distinção entre aquilo que A Era dos homens e das mulheres uns fazem mas há uma partilha de tarefas e uma partilha de responsabilidades Eu não quero fazer as coisas que estão confiadas ao meu marido e ele não se mete nas coisas que sabe que são delegadas em mim ainda hoje em dia é assim mas acha que há tarefas de mulheres e há tarefas de homens eu acho que não há tarefas de mulheres e tarefas de homens há é uma definição daquilo que para um casal poder fazer equilibradamente pode ser dividido porque não se pode pensar que nós podemos ter vidas profissionais muito ativas e quando se tem muitos filhos eh como como tivemos eh sem que se dividam as tarefas e portanto combinamos e eh vais tu à reunião de pais ou vais tu ao médico não que isso seja uma tarefa masculina ou feminina mas a divisão das tarefas a repartição das tarefas faz com que haja uma que possa est bem definido e não não haja lugar depois até a tirar culpas porque não foi feito ou porque fizeste melhor que eu ou pior que eu por exemplo o meu marido Ai que eu R ele me ouve não sabe cozinhar nada nada nada eu não posso pedir ao meu marido que vá cozinhar ora o porque senão era eu também que comia pior e os meus filhos comiam pior mas há imensas coisas que eu não sei fazer como por exemplo sou absolutamente incapaz de fazer Legos ou de fazer eh construções e que impliquem mais destreza desse nível agora com os netos e eu não sou capaz de fazer isso não sou capaz H pessoas não tenho jeito e portanto isso sempre foi o meu marido que fez eu sou uma boa contador de histórias e adoro contar histórias e sempre contei aos meus filhos antes de dormir uma história e eu não sei cantar e o meu marido sempre cantou e portanto nós temos as tarefas divididas não por ser para homem ou para mulher mas porque há uma maior adequabilidade àquilo que são os feitios e àquilo que conseguimos fazer E nunca houve nenhuma acusação Tu fizeste ou tu não fizeste Porque isto estava bem definido e portanto há um respeito por aquilo que conseguimos fazer mas houve esta definição e daquilo que é a expectativa do que é que se faz mas e quando se previa que de facto se avançasse com essa decisão que ficaria com menos o ordenado em casa eh ficaria de certa forma dependente desse ordenado do seu marido eu deixei de ter o meu dinheiro deixei de ter de um um dia para o outro eu fazia tradições e e pouco e pouco durante um tempo ainda mantive e portanto tinha esse Rendimento o meu dinheiro queou digamos mas essa noção do meu dinheiro e do teu dinheiro na nossa família não existe há uma conta que é comum há um dinheiro há há os ordenados são depositados nessa conta e há uma gestão daquilo que é eh o o dinheiro comum da casa e portanto e isso o meu marido é foi extraordinário eh eh continuou a haver esse dinheiro que é que um era de nós todos e mas que e só de um lado só era de um lado mas era a mesma conta a mesma era depositada nessa conta e eu devo dizer-lhe que a minha casa sempre fui eu a ministra das Finanças e portanto aquilo que eu é que giro o dinheiro da casa e e eh esse dinheiro passou a ser em vez de ser mais passou a ser menos e portanto nunca se arrependeu dessa decisão nunca mas também nunca fui acusada de não contribuir e para aquilo que era o dinheiro da casa pelo contrário eu acho que foi havendo um respeito por aquilo que se fazia e pelos resultados e que foram sendo feitos que foi muito engraçado até para para os meus filhos Eles são muito melhores pessoas tenh a certeza porque viveram mergulhados no voluntariado a filha a minha filha mais pequena que tem aos 23 anos nasceu no ano 2000 com sete dias estava no banco alimentar porque tinha que mamar e porque de repente de um momento para o outro eh nós éramos cinco diretores dois morreram o Padre António Vasco Pinto foi para Braga e o comandante Vasco Pinto tava a fazer quimi Trip em Londres e portanto eu fiquei sozinha com um bebé acabado de nascer e ela com sete dias eh estava todos os dias no banco alimentado portanto a minha filha Isabelinha cresceu no banco alimentar em cima de um num numa alcofa em cima da minha secretária e toda a gente eh andou andou com aquela miúda a col e hoje em dia ela é é a casa dela é o banco alimentar e e porque cresceu lá e isso faz com que haja uma ligação a a uma realidade que é uma realidade que se calhar ela não teria eh de outra maneira que faz com que ela seja muito mais rica e muito mais diferente eu acho que mais desperta até um conjunto de coisas mas depois sabe a nossa vida vai se compondo e nós vamos apreciando coisas que e se calhar não apreciaríamos se não tivéssemos tempo elas Uhum é líder de uma organização que tem bastante projeção pública Como dizia enquanto mulher eh já sentiu algum tipo de desconfiança acha que também as críticas que já mencionei também foram mais pesadas por ser mulher eh houve algum tipo de tentativa também de enfim de maniza da sua voz do seu papel sentu isso em algum momento da sua vida se me disser que não ficarei muito Surpreendida mas vai vai-me dizer que não eu nunca senti qualquer tipo de discriminação cá em Portugal nunca nunca nunca nunca nunca eh e quando fui para Bruxelas eu trabalhava cá numa seguradora e fui trabalhar para a mesma seguradora na Bélgica em Bruxelas quando fui para Bruxelas em 1985 até antes da Adão e fui trabalhar para uma seguradora E aí foi a única vez que eu senti que as mulheres não eram intelectualmente e profissionalmente tão considerados como os homens não foi cá em Portugal foi na Bélgica isso foi há 35 anos por aí não é foi há 38 anos e ao fim de 6 meses nessa seguradora e eu disse ao meu marido eu não vou ficar ali onde desconsideram as mulheres e portanto eu vou sair e vou e fazer um concurso para o comité económico e social porque era não era tanto até a a forma como e se se essa adora se posicionava era a forma como olhavam para o trabalho das mulheres e valorizavam o resultado do trabalho das mulheres eu não gostei fui-me embora mas o que é que faziam que era diferente era diferente havia uma sensação não gostei mas aqui em Portugal nunca e mais lhe digo até este setor social onde eu estou a a colaborar há a trabalhar há 32 anos é um setor onde é dada muita relevância às mulheres e as mulheres cuidadoras muito aquela figura não até às gestoras e às técnicas a das das instituições de solidariedade social é um setor que não é maioritariamente feminino ao contrário do que se pensa mas onde há um respeito enorme por todas as mulheres e há uma Total igualdade de oportunidades neste setor se houver alguma desigualdade de oportunidades é para os homens porque e porque é muito mais feminino do que masculino e isso é é pena porque eh penso que o setor social é um setor onde há grandes oportunidades até de poder haver um exemplo desta igualdade de género Mas também da igualdade de oportunidades de pessoas que podem vir revolucionar o setor social se investirem os seus talentos eh neste setor o setor social é considerado sempre o parede de pobre no entanto contribui com 5% para o PIB e gera muito emprego e portanto aquilo que eu há 20 anos me tenho debatido na entrajuda é que se possa qualificar este setor criando empregos mais bem pagos porque o seto social trata das pessoas mais frágeis da nossa sociedade faz o papel do estado não é no fundo sim os mais desprotegidos os idosos mais vulneráveis as pessoas que estão numa situação muitas vezes e de com com grandes dificuldades na sua saúde e problemas de saúde e portanto devia ser ao contrário valorizado porque trabalhado de pessoas tem muito mais valor de certeza do que trabal do que tratar de notas de banco ou e de qualquer outro setor todos os setores são são importantes o setor social deveria ser muito mais considerado do que é e é um setor que pode ter um papel chave nos nos próximos tempos até pela evolução e da da da da da idade e da esperança de vida em termos do eh da fundamentação económica digamos assim do banco alimentar 20% cerca de 20% vem da campanhas portanto do apoio das pessoas que que vão aos Supermercados e que acabam por partilhar algo que compraram Mas 80% vem de parcerias com empresas com mercados com indústria eh agroalimentar pergunto-lhe se nessas reuniões de eh simulação de parcerias ou de tentativa de criação de parcerias com empresas por exemplo Muitas delas são grandes empresas se nesses momentos eh sentiu que tinha de se impor mais de alguma forma ou ou se foi sempre de igual para igual sempre de igual para igual é muito engraçado isso que pergunta porque o o grande eu acho que o grande crescimento e o grande sucesso do do banco alimentar foi quando editamos em 1994 um folheto que dizia parceiros de negócio na luta contra a fome e aquilo que nós propomos às empresas E que nos deem os seus excedentes é que seja encar o banco alimentar como um parceiro de negócio como aquilo que traz valor à sua atividade económica ou seja as empresas canalizam para o banco alimentar aquilo que já não vão vender porque tá preste próximo do prazo de validado porque mudou a marca porque é um excedente de produção e o banco alimentar dá-lhes benefícios eh fiscais e os benefícios fiscais que hoje existem tanto em sede de irc como RS como de do Iva foram fruto de trabalho do banco alimentar nos primeiros anos e portanto isso foi logo aquilo que fizemos foi tentado dar benefícios às empresas até para se poder equiparar aquilo que seria condenado a destruição com a doação e e isto com o apoio de um de um excelente fiscalista que voluntariamente nos tem ajudado desde o começo eh e eh sempre eh é muito engraçado porque esta noção de que as pessoas consideram o banco alimentar como um parceiro relevante na luta contra o desperdício eh fez foi um uma das a razões para que o banco alimentar seja considerado também a Isabel nessas reuniões também se coloca lá está numa posição de também de gestora e de alguém que está a tentar fechar um negócio e não de alguém que está a tentar pedir um apoio ou pedir uma ajuda eu eu não penso que se tenha que entrar uma pinchi não o que nós estamos a fazer é propor às empresas que canalizem para o banco alimentar ou para os bancos alimentares ou para para a entrajuda para o banco de equipamentos os seus excedentes e ainda ganhem com isso e portanto nós somos realmente parceiros e ainda damos benefícios fiscais às empresas e portanto eu eu nunca me senti a pedir o que quer que seja e que eh que as empresas possam considerar que não tenh até uma vantagem económica mas também preocup par-te desse lugar de aquilo que eu estou a tentar conversar é importante é relevante e também trago eu próprio uma vantagem para para esta empresa porque as empresas ao contrário daquilo que as as pessoas pensam não tem que ser boazinhas tem que gerar riqueza e gerar riqueza é gerar emprego e é conseguir ser tão eficientes quanto possível sem de serem desatentas às Comunidades e isto hoje em dia a a ideia dos da da sustentabilidade e da responsabilidade social e da até os relatórios de sustentabilidade que as empresas são obrigadas a emitir eh faz com que as empresas encarem e a intervenção Então seja no ambiente seja na área social como algo que é também da sua responsabilidade e portanto o banco alimentar tem que ser tão eficaz tão eficiente e tem que ser um parceiro confiável e é isso que nós temos construído ao longo dos anos é confiança e portanto as empresas gostam de um parceir banco alimentar mas porque se construiu esta confiança ao longo de tantos anos dizia que a maior parte das pessoas que pedem Ajuda quer sejam migrantes quer não são mulheres e Muitas delas também com filhos e que retrato é que faz estas mulheres que de facto estão a precisar desta ajuda eh muitas são famílias monoparentais não é portanto elas próprias são estão sozinhas com os filhos digamos assim eh e esse Este grupo de pessoas que precisa desta ajuda Tem vindo a aumentar também não conseguem trabalhar o que é que o que é que se não trabalham infelizmente trabalham muitas vezes trabalham Esse é que é o grande problema e trabalham não é só um emprego muitas vezes eh têm trabalhos muito precários andam a correr o dia inteiro eh de um lado para o outro eh e eh tem os filhos eh primeiro na creche não é depois no no no Jardim infantil e depois nas escolas eh muitas vezes têm que correr para levar os filhos com elas porque os empregos não são perto do sítio onde Residem porque as casas eh tão muito muito caras muitas vezes partilham casas com outras mulheres h e eh é incrível mas são verdadeiras heroínas e eu conheço muitas e e e se fal e temos contacto com pessoas que se não fosse o banco alimentar não conseguiam dar a volta à vida não que não é o banco alimentar é a ajuda alimentar que recebem através de uma instituição e para além do da Ajuda alimentar que recebem Estas pessoas também têm ali um lugar de esperança e esse é o o grande papel e queria deixar aqui uma palavra de grande apreço à rede de instituições sociais que tem um papel incrível de uma relevância extraordinária fazer com que muitas dessas pessoas não fiquem em desespero estão lá estão sempre lá H outas Há outras configurações novas de famílias que estão a chegar ao banco alimentar estou a pensar por exemplo famílias com duas mães ou famílias com dois pais já há novas famílias novas identidades a chegar há há Com certeza mas nós não temos muito contacto com essa realidade porque os bancos alimentares apoiam eh entreg os alimentos a instituições e são as instituições que os entregam eh às pessoas fazem relatos para já não há essa informação não h não há muita informação Nós também não queremos saber se a família é uma família de tradicional ou se é uma família eh com outra configuração não queremos saber isso por vezes nas campanhas eh porque até porque temos eh uma campanha para crianças chegam-nos e pais ou eh mães ou famílias e que têm essas configurações mas são iguais de que queiram participar e ser voluntários e levar essa Educação do voluntariado aos filhos não não não temos nada não não há esse esse julgamento ou sequer nós não temos nada a ver com isso eu não quero saber o que é que se passa com a vida das pessoas A Isabela é católica profundamente católica eh na sua visão do catolicismo cabem famílias com outras configurações além da configuração mãe e pai eu digo que na minha configuração do mundo cabem todas as pessoas a escolha que é dada à for forma como as pessoas relacionam cabe a cada pessoa mas a verdadeira caridade é amor e portanto eu não tenho que julgar os outros porque os meus olhos por vezes não podem podem não ser bons juízes e portanto cada um de nós sabe a forma como arruma a sua vida e sabe a forma como vive a sua vida e portanto não me cabe a mim julgar as opções dos outros que eu muitas vezes não conheço e que critico sem conhecer aquilo que está por trás das suas vivências a Isabel também tem feito um percurso Cívico além do banco alimentar também com sempre com parcerias e com novas ideias a surgir mas este seu lado político porque a ação social também é política já começou muito antes Começou quando estava no liceu Nacional da Oeiras precisamente em que teve alguma intervenção na J do CDs Isto é verdade ajudou a colar cartazes certo mas não não era até no CDs era era em todos os partidos eu tive a sorte de viver mas foi perguntado penso que foi no no podcast do Francisco Pedro eh balsemão se de facto issoa era a JC que era a juventude centrista mas que também era com o PDC mas depois nós éramos também amigos dos do mrpp o Liceu doiras eu tinha 14 anos quando foi o 25 de abril e eh não era não havia política hoje em dia é que a política faz parte integrante da nossa vida antes do 25 de Abril não se falava de política era muito raro e mesmoo as pessoas que dizem que se falava poderia haver em algumas famílias e e na minha falava-se mas à porta fechada as pessoas não tinham este debate não existia eu tinha 14 anos eh e andava no quto ano do Liceu que agora é o oitavo e quando foi o 25 de Abril foi assim uma loucura uma excitação coletiva porque de repente além de deixar de haver aulas os rapazes passaram a entrar nas nos horários das raparigas nós tínhamos aulas de manhã os rapazes tinham aulas à tarde só nos cruzávamos ali na entrada até ao até ao ao sexto ano que é agora ao 10º bom mas quando foi o 25 de Abril houve Esta possibilidade de irmos colar cartazes de irmos aos comícios eh de de termos aquilo que nós achávamos que era uma intervenção cívica ou política mas sobretudo Porque isto nos dava a hipótese de conhecer alguma coisa nova e de ir para as eh para as rgas do Liceu onde era tudo aos Gritos e onde eh havia esta vontade de participar e portanto o ci cartazes e eh os meus pais tiveram eh nas mesas de voto das primeiras eleições sem terem que ser remunerados por isso hoje em dia todas as pessoas que estão nas mesas de voto são remuneradas por isso têm o salário naquela altura do começo do 25 de Abril esta participação e intervenção era muito muito muito genuína nós queríamos ir também porque era alguma coisa de novo hoje nas juventudes partidárias se você quer colar cartazes tem que pagar já por isso e as Jotas não fazem esse tipo de serviço não fazem esse tipo de trabalho deixou de ser moda e eu diverti-me imenso imenso imenso imenso não imagina o que era o Liceu doiras quando foi o 25 de Abril uhum muita coisa muita coisa a acontecer Espetacular Espetacular era tudo novo era tudo novo era foi muito muito divertido aqueles primeiros anos a seguir ao 25 de Abril no liceu do Ares que era um Liceu público e e andávamos sempre a pé não havia carros não havia móveis foi muito divertido vínhamos para os comícios em Lisboa foi foi mesmo divertido antes não saia não era muito como virmos a Lisboa estávamos em Oeiras no liceu de Oeiras íamos à praia de Oeiras os nossos amigos estavam em Oeiras e portanto era tudo muito mais local de repente tínhamos que vir para Lisboa para os comícios para as manifestações foi muito divertido essa intensidade se depois levou lá está também a ligar-se a várias causas durante estes anos todos pergunto-lhe se a última ação vai ser a política no sentido real e prático da coisa porque de facto se o seu objetivo sempre é mudar a realidade e contribuir para que as pessoas vivam melhor Então temos que estar onde se consegue mudar as coisas certo eh eu tenho 64 anos e Portanto acho que já fiz muito e já contribuí muito eh com muitas ideias e até muitos projetos e até de empreendedorismo social e outros e em vários países e não e penso dedicar-me à política ativa mas tenho um grande uma grande admiração pelas pessoas que optam eh por uma política ativa verdadeira genuína já recebeu convite se recusou não é sim muitos eu não é isso Essa não é a forma para o meu pé Eu sou uma mulher de fazer de meter a mão na massa e eh gosto de ajudar a estruturar gosto de ajudar até a pensar algumas políticas mas não gostava nada de estar Nuna cargo e político Embora tenha muita muita admiração pelas pessoas que têm porque é que não gostava O que é que nesse trabalho não não é não é não é para o meu feitio Eu também não conseguiria ser uma cantora lírica ou e um cantor de ópera não tenho essa voz em termos de orientação política e há quem é considero mais de direita é onde está mais próxima é à direita eu não sei não sou capaz de lhe dizer isso eu não gosto de rótulos nem gosto de me situar eu sou tão tão tão livre sou tão autónoma sou tão independente isso que tá a dizer já muitas pessoas me têm dito tu és do bloco de esquerda já Há muitas pessoas me têm dito que aquilo que eu faço e que eu digo eh que tem eh que tem muito eh daquilo que se faz à esquerda eu não tenho essas conotações nem gosto nada disso nem gosto nada disso se tivesse que escolher um dos cargos havia assim algum que escolheria à partida ou não os cargos de quê De de políticos sim não eu não podia ter cargos desses não não eu não posso ter coisas que me cortem as asas e muitas vezes esse tipo de cargos que exigem muita muita responsabilidade impedem-nos de fazer outras coisas eu sei bem o que é que vou fazer no dia em que saí do banco alimentário eu tenho um sonho antes de de sair e de Bruxelas ainda já há muito tempo e antes de chegar ao banco alimentário fiz um curso eh para acompanhar pessoas na altura da Morte e eh acompanhar pessoas nos últimos dias da sua vida e tenho esta eh vontade de criar eh uma instituição ou de eu própria eh ajudar pessoas a reconciliarem com a vida e com as coisas que por vezes as atormentam na altura da morte libertando-os porque eu penso que há uma vida para além da vida e muitos de nós quando chegamos ao fim da vida e vamos atormentados com coisas que não fizemos preocupados e eu gostava muito de poder ajudar e fiz um curso aliás como enfermeira em na Bélgica para ajudar as pessoas a poderem morrer descansadas é contra a eutanásia Sim claro que sou eh sou contra tudo aquilo que e traga ao critério de homem decisões que não devem ser deixadas por vezes com alguma displicência é contra o aborto também por exemplo Claro que sim em qualquer circunstância em circunstâncias específicas em princípio em todas as circunstâncias obviamente que haverá interrupções da gravidez que são justificadas por razões médicas E aí a ciência impera sobre aquilo que pode ser até uma eh se houver risco para a saúde da mãe ou do bebé obviamente que são os médicos que e cabem que são os melhores juízes até porque os médicos quando se formam e a minha filha mais velha é médica eh fazem o juramento de Hipócrates e esse juramento faz com que eh eles sejam obrigados a saber aquilo que é eh opções de vida ou de morte e salvando aquilo que é a vida e portanto Mas porque é que é contra o aborto o que é que porque é que em não podemos nós não podemos Decidir sobre aquilo que é e uma vida de uma de um ser que nem sequer pediu para nascer sou muito pela prevenção e de gravidezes que não se querem e Portanto acho que se deve educar e e fazer com que não se não não se não se tenha que chegar a esse ponto de decidir as pessoas se depois não têm condições para ter aquele filho Há outras soluções com como adoção há montes de casais que gostavam de ter filhos e infelizmente não podem e portanto acha é que não podemos matar uma vida que não é Nossa os as mães muitas vezes têm esta ideia que é incorreta de que os filhos são delas quando nós temos filhos os filhos não são nossos são outro ser que nascem dentro de nós mas um embrião ainda não é um filho ou já é fho eu eu acho que um embrião é o filho eu acho que um embrião é o filho e a tive três gravidezes não bem sucedidas e tive sempre uma grande tristeza por ter perdido aqueles filhos que nunca vi e portanto eh acho que não nos não temos o direito e muitas vezes eh as pessoas acham que podem ter o direito porque não é mas cientificamente é outra vida e portanto temos que investir para que não seja necessário chegar a esse ponto que na é uma decisão que na maioria dos os casos é muito dolorosa até para quem a tem que tomar temos que criar as condições a cultura eh e tem que se investir sobretudo na prevenção planeamento familiar também sim na educação acha que das Jovens ainda agora eh estivemos ligados a uma campanha eh para para o teren de gambal sobre pobreza menstrual e em Portugal há muita pobreza menstrual as pessoas não falam nisso e eh fizemos várias ações de informação e e nós temos miúdas com 9 10 anos que estão sedentas por saber a mas saber objetivamente eh tudo sobre esta fase e muitas vezes não temos estas matérias dadas em casa muitas vezes as mães não têm tempo não têm não sabem como é que hão de transmitir isto e eh eh quando isto acaba por ser explicado na escola não é explicado uma de forma científica mas também as miúdas de 9 10 11 12 13 anos por vezes precisam de saber algo mais do que apenas só uma uma forma científica e portanto temos que só a parte da ciência explicar o teu corpo é assim Isto há um óvulo etc etc é mais do que isso é explicar até as consequências de relacionamentos que podem ter na sua própria vida que podem até cortar-lhe a liberdade mas em relação à M exemplo G is É sim por exemplo a igualdade de género constrói-se também com a educação de que as pessoas são Donas do corpo mas têm que saber e aquilo que pode acarretar pode vir pode as consequências de de relações até que muitas vezes não querem acho que essas consequências são sempre mais são sempre mais gravosas digamos assim para as raparigas e para as mulheres e que de certa forma os rapazes se admitem um bocadinho dessa responsabilidade estou a pensar por exemplo numa gravidez não desejada que depois no limite o a consequência e o efeito fica na mulher eu eu não não sou capaz de lhe sim tem razão e realmente se há uma gravidez não desejada o efeito e a consequência fica na mulher que é dona e responsabilidade depois com o bebé e tem que ter a gravidez mas eu eu parece-me que e hoje e apesar de tudo e os rapazes têm mais responsabilidades e e e e é lhes dada mais responsabilidade do que anteriormente mas tendo em conta que essa consequência fica com a mulher eh o papel da autodeterminação e da sua vontade para si é algo que não deve ser considerado não deve ser sempre considerado deve ser sempre considerado sempre sempre sempre sempre considerado mas devem ser as deve ser ministrada a informação e Dada informação sobre as consequências dos atos ou seja as pessoas devem ser responsabilizadas pelos próprios atos mas com informação e essa informação é que me parece que hoje em dia e que não é dada de uma maneira e que depois possa fazer com que as pessoas tenham a percepção e a certeza de que isso acontece e quando fizemos estas ações de Formação Vimos que muitas destas miúdas não têm a certeza de que podem Se tiverem relações sexuais podem ficar grávidas e portanto Tem que haver consultas até nos centros de saúde até de medicina geral e familiar que expliquem a estas miúdas quando e passam a ser menstruadas de que a gravidez é uma é uma realidade não é só a partir dos 16 anos que se fica e não não não é só à primeira vez não se fica e portanto há uma informação que tem que ser dada e pode ser dada deve ser dada e até a a nível de saúde até para fazer com que depois não fique essa responsabilidade Só para a mulher Como disse Uhum E é o aquilo que está a dizer agora está a fazer lembrar-me também de algumas declarações suas em que dizia que hoje em dia estou a citar as pessoas dão demasiado valor a si próprias acham que são únicas no mundo não sei se as duas considerações se relacionam ou não no caso esta afirmação que fez foi em relação às às redes sociais acha que há de facto uma hipervalorização do Eu a em termos até mediáticos eh das pessoas e que depois as faz desconsiderar certos valores por exemplo eh e sim Mas neste caso nem é isso muitas vezes eh as pessoas não medem as consequências dos seus atos e acham eh que vale tudo e depois não percebem que às vezes reflete na na própria vida estas escolhas que são feitas até prematuramente eh no caso das redes sociais isso é outra conversa e é outra conversa que nos levaria longe até porque muitas vezes as pessoas põem nas redes sociais vidas que não são sua própria vida mas a vida que gostariam de ter e não têm eh e acabam por se iludir a elas próprias eh porque não é a própria vida é aquela que gostariam de ter mas sobretudo mete-o mais impressão o tempo eh imenso que se dedica a ver a vida dos outros sem eh cuidarmos da nossa própria vida e da das pessoas que nos rodeiam mete muita impressão a quantidade de mães que não olham para os filhos e que estão olhar para o telemóvel a ver os filhos das outras muitas vezes das outras que nem conhecem que são assim umas pessoas que vivem noutros países e os filhos estão ali ao lado e não olham para os filhos e não cuidam com o amor que os filhos precisam e depois isto tudo se reflete até nas relações claro que eh o telemóvel nos invade a vida claro que este tipo de redes sociais e de comunicação hoje é presente não vamos dizer que não não vamos dizer que não seria uma inconsciência di dizer que não mas as pessoas têm que saber moderar se e têm que saber aquilo que realmente é importante e realmente aquilo que é importante é aquilo que nos rodeia por exemplo eu venho todos os dias para Lisboa para Alcântara pela marginal e todos os dias eu vejo um um algo que é diferente o rio tej é diferente ou vê-se a outra banda ou não se vê a outra banda ou há pássaros ou não há pássaros é não podemos perder esta capacidade de ver que nos enriquece se eu viesse agarrado ao telem não via nada disto e portanto todos os dias não via uma coisa diferente que faz com que a minha vida seja também diferente Isabel muito obrigada vou acabar vou aproveitar para promover também as redes sociais as minhas e também as da antena 3 onde vamos partilhar este episódio no YouTube na RTP Play nas plataformas de Podcast já sabem que trazemos sempre mulheres com diferentes percursos diferentes contextos e também diferentes opiniões é para isso Cá estamos eu sou a Catarina Marques Rodrigues e é um gosto estar convosco sempre neste dona da casa até o próximo episódio