🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
[Música] a semana arrancou com urgências de obstetras ginecologia encerradas em cinco hospitais a maioria na grande Lisboa vamos diretos ao assunto com o antigo diretor de serviço de obstetricia e ginecologia do Hospital de Santa Maria Carlos calhas jorges muito bem-vindo boa tarde muito obrigado pelo convite vamos socorros dos largos anos experiência que tem neste setor em menos de duas semanas tivemos o caso de um aborto espontâneo nas Caldas da Rainha há versões contraditórias sobre o atendimento o tratamento desta mulher um outro caso de uma mulher que deu à luz na ponte 25 de abril um parto numa rotunda em Benevento isto apenas em poucos dias pergunto-lhe se o surpreende ou se acaba por ser uma consequência natural das dificuldades que o serviço Nacional de saúde enfrenta hh Não me surpreende devo dizer que existiram sempre circunstâncias dessas não têm é o caráter sistémico atual não me surpreendem porque há mais de 20 anos que as projeções quanto ao número de especialistas existentes no país apontavam para uma progressiva carência como enfim Digamos que dá 10 anos esta parte primeiro com a abertura de hospitais em regime ppp e depois de hospitais privados o sangramento dos especialistas que existiam conduziriam inevitavelmente a situação uma situação como esta portanto surpresa é coisa que não existe infelizmente eh portanto e o poder político terá atuado por omissão ou não ter acautelado uma situação eh que já era esperada eu não não eu não poria as coisas assim porque todo o planeamento de um país é muito confuso e complicado mas neste setor especificamente da Obstetrícia e ginecologia H as contas estavam feitas h o colégio da especialidade da ordem dos médicos já no final dos anos 90 tinha tinha essas contas e era uma inevitabilidade tendo em conta os números clausus que a certa altura e se foram impostos e depois se mantiveram eh esquecidos durante demasiados anos portanto tudo isto é um problema de H Digamos que a pressão das resoluções a curto prazo não permitir H libertar para um planeamento de longo prazo O que são as evoluções sociológicas aqui como digo era esperado portanto a solução teria que passar Obrigatoriamente e se bem interprete as suas palavras pela abertura de Mais vagas dos cursos de medicina não não era não não não foi isso que eu disse o que isto é consequência de durante muitos anos terem eh estado fechadas as vagas elas depois abriram mas mas agora é difícil reter profissionais no SNS não abriram no número suficiente para repor os muitos profissionais que entretanto se apresentaram que é o natural da vida porque a partir de uma naidade e por sobrecarga excessiva é legítimo que deixem de prestar serviço de urgência e porque e isso é que não era previsível no final dos anos 90 início de 2000 a abertura de muitos e serviços privados eh absorveram uma boa parte do dos recursos humanos que infelizmente não existem no serviço público mas mas era importante nesta altura abrir mais vagas embora lá está os médicos demoram a formar-se mas para os próximos anos seria importante não não não não há não há falta de médicos em Portugal eles não estão é no serviço Nacional de saúde é o problema não é um problema de número não vale a pena abrir mais vagas porque o que vai acontecer é espalharem por outras áreas que não as áreas do serviço Nacional de saúde Hum mas sem recurso aos privados nesta fase as consequências a que temos assistido poder podiam sim ou não ser piores e e que avaliação é que faz desse recurso depois a mais longo prazo Isto é é um problema ideológico e eu estou aqui como a falar apenas como ex-diretor apresentado preocupado com a saúde dos doentes que é aquilo que durante muitos anos foi o meu foco como é evidente h eu diria que tem que haver tem que se recorrer a tudo que seja indispensável para eh Minimizar os as consequências desta situação mas isto é voltamos à história Isto são pensos uhum não são resoluções de fundo de uma situação que é hh sistémica endémica profunda isso vai durar vai demorar muitos anos e as pessoas não saem os médicos não saem do serviço Nacional de saúde Hã Porque gostam é evidente que saem porque ganham mais no setor privado mas porque tem muitíssimo melhores condições de trabalho tem equipamentos de última geração não tem que se confrontar com as dificuldades inerentes à substituição de equipamentos e h enfim eh e outros constrangimentos no serviço Nacional de saúde mas também porque todo este foco no serviço de urgência desestrutura completamente o serviço digamos standar de rotina nenhum jovem vai para a especialidade obstetricia em ginecologia para ter que estar dois dias por semana no serviço de urgência e No resto da semana ou está a descansar ou tem um uma ou duas atividades formativas atividades que o realizam intelectualmente que lhe preveem futuro na sua área de diferenciação portanto Isto é um ciclo vicioso cujo a remédio é extremamente complexo caso contrário já teria sido resolvido que tem que passar por os serviços e de urgência serem procurados Por muito menos pessoas toda a gente sabe que a esmagadora a maioria dos recursos da urgência não é porque sejam situações urgentes é porque não há alternativa a curto prazo em Sítio nenhum e portanto eh se não houvesse esse recurso sistemático ao serviço de urgência Pudo h não seriam precisos tantos médicos no serviço de urgência Isto é é um ciclo vicioso e portanto se bem perceb se Doutor e os centros de saúde deviam prestar hoje um serviço que está a ser prestado pelos serviços de urgência que ali tratam pessoas que acorrem às unidades e de saúde por casos que não são verdadeiramente urgentes exatamente de uma boa parte das situações que ocorrem nos serviços de urgência estou a falar da obstetricia e ginecologia como digo não me pronuncio sobre outras especialidades H uma boa parte não necessitam de facto de cuidados urgentes não necessitam apenas de consultas só que não há resposta nos cuidados primários começa a haver também mesmo nos centros mais complexos nos hospitais mais complexos pessoas que têm que ir à urgência porque não conseguem consulta dentro do hospital porque os médicos estão eminentemente vocacionados para a urgência e não não estão a fazer as suas consultas com o ritmo e com enfim a disponibilidade para o atendimento que e era desejável portanto pode haver pequenos nadas pode haver alterações na idade limite em que alguns colegas continua bancos a partir de determinada idade se bem que isso não seja a resolução do problema na obstetricia e ginecologia onde a esmagadora maioria dos colegas que prestam esses serviços já o fazem de forma voluntária apesar de terem ultrapassado o limite legal em que poderiam deixar de o fazer hh mas Sobretudo o que há é que criar condições sejam os centros intermédios de urgência que estão agora a ser enfim mais ou menos veiculados sejam nos centros de saúde h disponibilidades para atendimentos a queixas pouco importantes mas que precisam de ser Obviamente as pessoas não vão ao hospital porque gostam de ir para o hospital mas que se precisam de apoio e portanto precisam de um apoio de proximidade e que desentupa eh os serviços de urgência e nesse sentido eh perguntava-lhes mesmo espaço do direto ao assunto Diogo Aires de Campos ex-diretor do serviço de Obstetrícia do Santa Maria eh deu a ideia de a linha CNS funcionar tanto para os hospitais como para os centros de saúde parece-lhe uma boa medida parece-me uma medida eh lógica eh portanto as pessoas não andarem perdidas eh isso enfim é importante para h para esta situação em que não se sabe bem o que é que está aberto quando é que está aberto em serviço de urgência para o C de saúde a linha saúde 24 seria muito útil se os centros de saúde tiverem criado as condições para as Para poderem responder e e também por outro lado peço desculpa alguém está gostado de o ouvir e quero dar conta disso e desculpem mas o que sucede é que também é necessário dar um treino importante na área da obstetrcia e ginecologia a quem a quem aos profissionais que estão a atender as doentes no na saúde na linha saúde 24 para que tudo isto tenha coerência está a falar dos enfermeiros estou a falar de quem está a atender os telefones na na na linha saúde 24 necessário uma melhor orientação não só portanto também tem que ter formação também TM que saber a Quais são as regras do jogo e primeiro é possível estabelecer as regras do jogo eles não podem dizer vá por favor dirija-se ao Centro de Saúde à DC se não houver lá condições para receber as pessoas não é uhum uhum eh o presidente da república e defendeu hoje que para futuro pode ser útil haver um pacto para a saúde foi isso que sugeriu ontem Luís Marques mendos e o Presidente da República hoje confrontado com esta ideia diz que sim que é importante que haja uma política de continuidade das diferentes políticas no setor da saúde consider que essa é também uma necessidade e ao que falta um entendimento entre os maiores partidos no sentido de acordarem um caminho comum eu não tenho qualquer dúvida enfim eu diria que isso aplica-se a muitas áreas que não esta especificamente estamos a falar mas seguramente na saúde hh sem haver acordos e acordos que tenham sempre em conta que é preciso ouvir eh estruturas profissionais e não propriamente pensar em H emanar novas ou bonitos documentos legislativos não aplicáveis na prática portanto é evidente que tem que haver paz consenso e pensamento sobre a saúde tal como sobre outras áreas isso não tenho qualquer dúvida uhum olhando aqui para o o caso do Hospital de Santa Mari que conhece bem e abriu na semana passada a urgência de ginecologia Obstetrícia a meio do mês uma sala de bloco de partos e a 1 de setembro a maternidade quando estiver a funcionar em pleno pode ajudar a resolver parte do problema na grande de Lisboa e também quando há casos urgentes que têm de ser encaminhados por outros hospitais Ah mas com certeza foi sempre a função desse grande hospital onde ele tive privilégio de trabalhar durante 30 e tal anos ou 40 e tal anos melhor dizendo h foi sempre a função de um hospital que na prática no sul do país é o hospital de cúpula de para as complexidades portanto neste momento com riscos acrescidos de de sobrecarga tendo em conta o atual Panorama Nas urgências da da grande Lisboa e não só sempre sempre houve sobrecarga até começarem as obras e a ver enfim a a turbulência e implosão do do excelente serviço de Obstetrícia que existia eh sempre o Hospital de Santa Maria e a maternidade Alfredo da Costa foram o anteparo de todas as muitas maternidades que já fechavam H agora nota-se mais porque o Hospital de Santa Maria não tem a capacidade de ser a almofada que era que foi durante todos os anos passados se se me pergunta se vai agora responder como respondia Antigamente eu infelizmente tenho dúvidas porque o Staff da área da Obstetrícia os recursos humanos os profissionais nomeadamente os médicos que lá estavam e eram altamente diferenciados eh a esmagadora maioria abandonou a instituição no meio da turbulência criada há uns anos atrás eh quando foi o início das obras portanto tudo depende da capacidade de recrutar médicos diferenciados que possam repor progressivamente a situação como antes sendo que esse será uma tarefa difícil tendo em conta aquele diagnóstico que aqui há pouco atava das da da oferta salarial no serviço Nacional de saúde e também as condições que o SNS oferece comparativamente com instituições do setor privado Imagino que isso seja por isso uma dificuldade para para o SNS daí a minha eh o iniciar a frase por infelizmente temo que H é evidente que há Outro fator que não falamos que esse també é transversal não só aos é transversal aos serviço de urgência não só serviço de ginecologia que foi o que parecia uma boa ideia aqui há uns largos anos atrás que foi quando não se conseguiam colmatar As equipas completar As equipas de urgência eh recorria-se pontualmente aos serviços dos chamados T feir só que isso deixou de ser um recurso momentâneo áo como no início para passar a ser também sistemático e a maior parte das maternidades que agora encerram na periferia de Lisboa e algumas dentro de Lisboa é porque as suas equipas de urgência passaram a ser quase exclusivamente de médicos em regime de tarefa porque se ponto de vista financeiro aparentemente será mais atrativo do que estar alocado não O problema é que para os médicos pode ser mais atrativo para as instituições oficiais Há algum grau de engenharia Financeira no sentido em que não entra na rúbrica das despesas com pessoal e portanto Isto foi escorregando num plano inclinado que se adicionou ao que eu referi logo no princípio da falta de números de médicos previsivelmente portanto H agora costuma-se usar muito a expressão da Tempestade perfeita mas de facto facto aqui aplica-se o somatório de muitos fatores de qualquer forma o que interessa é o futuro e para o futuro h para o futuro eu só vejo duas formas de captar jovens para o serviço Nacional de saúde e eventualmente captar alguns que queiram regressar que é de facto o investimento nas eh nas instalações e nos equipamentos disponíveis isso Há muitas outras áreas da ginecologia em queo também se aplica este comentário e um incremento salarial que justifique que as pessoas não procurem outras outras formas de enfim aplicar a sua diferenciação técnica uhum muito obrigada eh Professor Carlos calhas Jorge por ter estado no direto ao assunto da da Rádio observador antigo diretor de serviço de Obstetrícia e ginecologia do hospital Maria com grande experiência já reformado mas com um olhar muito atento sobre aquilo que se passa no serviço Nacional de saúde [Música]