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bem-vindo ao clube dos 52 convidamos 52 personalidades das mais diversas áreas para falar da próxima década dos Desafios do futuro numa iniciativa que assinala os 10 anos do Observador e os 5 anos da Rádio observador e esta semana a nossa convidada é presidente executiva da parceria das Nações Unidas sanitation and water for All Catarina alquerque que é também a primeira relatora especial da ONU para a defesa do direito à água potável e ao saneamento Catarina alquer muito bem dia falar da água é a falar de uma das grandes questões da humanidade eh e que está na origem de muitos problemas e de muitos conflitos por cá e Catarina continuamos a lidar com a água como se ela fosse inesgotável ainda é assim que olhamos para a água eu acho que sim ainda eu acho que sim se calhar até mais do que há uns anos atrás a sério com tanta preocupação com a seca eu acho que sim eu lembro-me de ser pequenina eh e de ir para casa dos meus avós no alentejo e no verão haver sempre um período à tarde em que a água era cortada eh era em Moura no alentejo lembro perfeitamente as empregadas da minha avó quererem despachar o almoço etc etc para lavar a louça para as coisas porque depois não havia água portanto havia assim uma noção de que a água era um bem escasso até por este tipo de medidas no dia a dia penso eu e hoje em dia se Temos esta H temos temos tido Temos tiddo esta sensação da abundância não é de que é abrir a torneira e sai a água e não temos problemas não é é é quantas vezes nos dias das nossas vidas nos últimos 10 anos desde que existe O Observador é que por exemplo nós em Lisboa tivemos sem água eu cá não lembro portanto temos esta falsa sensação de abundância porque abrimos a a torneira e sai a água eh que agora está a ser confrontada com eh as notícias que aparecem de forma crescente que estão a invadir as conversas nos cafés nos restaurantes eh eu vejo os meus amigos falam do meu trabalho coisa eh que não os interessava minimamente agora de repente tem interesse pelo meu trabalho e pelo temas da água somos bombardeados com as notícias de que há seca de que não há água de que as barragens são vazias de que não chove portanto estamos aqui numa fase de transição eu acho em que vivíamos naquele no paradigma de água ilimitada que está a ser confrontado com estas limitações todas que também são impostas e t resultado eh bem em V fatores sobre os quais podemos discutir mas também o impacto das alterações climáticas mas portanto a água ou a falta dela continua a ser um problema dos outros o consumidor não sente tanto isso como e uma chave como uma solução também para este problema eu acho que eu acho que é mais um problema dos outros que tem tido tem agora sido um bocadinho polvilhado com alguma preocupação por causa das notícias e por exemplo este ano em fevereiro a falta de água no Algarve etc mas eu acho que depois se calhar pensamos sempre Deus nosso senhor ajuda-nos agora tem chovido e os os algarvios respiram fundo e acham Pronto agora já não precisamos dizer poupanças já tá tudo bem outra vez porque choveu e assim andamos nós de de seca em seca de de ano em ano quando os números nos dizem outras coisas e Portugal é um país onde há muita ineficiência do sistema de abastecimento como é que isso se explica num país que vive ciclicamente com problemas de seca hh como se explica não sei se sai eh sei que Como dizia e bem Carla cerca de 22% da água que é produzida e produzir água eu falei com muitos ativistas de direitos humanos por esse mundo de Fora Que me diziam a água deve ser gratuita porque vem de Deus pronto tudo bem a água vem de Deus ou de São Pedro verdade só que os tubos o tratamento e a distribuição não vêm de Deus custam dinheiro não é eh portanto e esses 22% há 22% da água que é tratada não é que é perdida é perdida por roturas avarias etc e essa quantidade quando Nós pensamos 22% não se não sei o que é que as pessoas pensam se é alta ou se é uma quantidade Alta ou baixa aquilo que eu posso dizer é que esses 22% serviam para fornecer água a 3 milhões de pessoas que é como nós dizíamos antes do início do programa 1/3 da população portanto Isto é inexplicável inaceitável é isto que acrescem outras perdas como a falta de faturação de água eh que acontece muito que acontece algumas câmaras que não cobram que não cobram determinado tipo de instituições etc e isto tudo leva-nos a uma situação se nós tornássemos Acabámos com as ineficiências e se tivéssemos um sistema mais eficiente quer dizer já as perspectivas eram completamente distintas podíamos respirar melhor a questão é que o preço da água é um tabu não é é difícil eh discutir a possibilidade da água mais cara do que é em Portugal H Carla e e e não é só cá em Portugal aquilo que eu lhe dizia eh de em vários países que eu Visitei como relatora das Nações Unidas havia este tema permanente do preço eh de das da das pessoas dizerem-se não mas a água é um direito não se podem vender Direitos Humanos ao que eu respondia mas a alimentação é um direito e tu vais ao supermercado e pagas a conta ou vais ao restaurante e pagas a conta portanto eu acho que é legítimo eh eh pela água e não é incompatível com o facto de ser um direito humano acho que o preço e tem que se conseguir um equilíbrio H tem que se conseguir um equilíbrio que eu acho que é pode ser difícil e por forma a cobrar uma quantidade suficiente um montante suficientemente significativo por exemplo agricultores por forma a incentivar poupanças a regga gota a gota para evitar desperdícios Claro tem que haver ali um ponto de equilíbrio porque nós também não queremos estrangular nem asfixiar os agricultores porque a agricultura também nos dá Bom retorno económico a indústria é a mesma coisa eu eh eh por exemplo em Las Vegas nos Estados Unidos uma zona que é desértica não é hh houve uma série de medidas tomadas pelo pelo pela cidade que impuseram aumentaram por exemplo o preço de água para o turismo teve cá ontem o Luís araúj e eu já estou hoje a atacar o o o turismo eh eh foram impostas certas medidas ao turismo eh de aumento do preço de água que fizeram com que eh valesse a pena a hotéis investirem em redutores do cald da água que investissem em sistema de reciclagem da água para lavar lençóis Portanto o o aumento do preço da água desde que razoável pode servir como incentivo à implementação de medidas de poupança da água pela indústria pela agricultura etc para as pessoas eh acho que também se à margem de manobra agora o que nós temos que garantir e aqui vem a minha a minha t-shirt de defensora de direitos humanos eh aquilo que é indispensável garantir é que quem não pode pagar pela água por razões fora do seu controle porque não tem emprego porque não tem recursos etc eh tem que poder não pode ficar privada do acesso a este direito pelo facto de não ter eh de não ter dinheiro para pagar portanto a tarifa social que existe em vários municípios do país devia ser obrigatória e devia ser Universal hum o o facto da água e do saneamento já serem reconhecidos como Direitos Humanos di há algum tempo 2010 eh tem dado algumas garantias tem permitido eh eh retirar esse esses excluídos H eh do sistema não é do acesso à água eu acho que tem Eu agora não estou a falar de Portugal estou a falar do mundo em geral eu acho que tem e permitido e permitido eh e que os os decisores políticos se questionem e comecem a pensar nas pessoas nas quais nunca pensavam nas pessoas que eram invisíveis que eram entre aspas irrelevantes e eu acho que os direitos humanos têm obrigado a esse exercício em muitos países estou a pensar no Kenia estou a pensar no banglades tive conversas com ministros eh indescritíveis inacreditáveis que foram foram mudando para melhor precisamente por o direito dizer somos todos pessoas o direito é universal tem que ser garantido a todos mesmo que eu morra mora more num bairro informal mesmo que eu tenha uma cor de pele diferente Ou falo outra língua ou moro numa zona rural eh perdida ou não tenha dinheiro e isso é essa essa essa discussão é uma é uma conquista que que fazer Conquista eu acho que é uma conquista e quando nós olharmos mesmo cá em Portugal na nova política eh para a água que foi publicada no início deste ano há várias medidas que pretendem que têm por objetivo olhar para os excluídos nós muitas vezes não pensamos não paramos para pensar Espera aí então onde é que os Sem Abrigo vão beber água e onde é que vão vão fazer as necessidades físicas eu lembro-me de visitar cá em Lisboa banhos públicos que fecham eu não quero ser injusta para os banhos públicos mas fecham pelas 6 da tarde então as pessoas depois das 6 da tarde não não têm vontade de ir à casa de banho onde é que vão ao ar livre já viram a a falta de dignidade que é para uma pessoa ter que estar a fazer as suas necessidades eh especialmente eu diria às mulheres porque nós temos que nos despir mais a a encontrar um lugar atrás de um carro ou atrás de um arbusto para podermos fazer as nossas necessidades eu acho que é inaceitável é inaceitável num país eh como o nosso eh estado membro da União Europeia e olhando para a nossa cidade Lisboa uma capital de um estado membro da União Europeia é inaceitável E se nós olharmos para Paris eh Há várias espalhadas pela cidade casas de banho públicas gratuitas que também T uma componente de acesso à água que dá para a pessoa encher a sua garrafinha que é pensada não só para turistas mas também para Sem Abrigo Portugal tem que tem que mudar muito nesse no no no acesso à água e na gestão da água agora vamos aqui olhar para para esses vários problemas ao mesmo tempo quando sabemos que vamos ter mais ciclos mais próximos de seca ó Carla eu não quero pintar um um cenário negro porque acho que seria injusto para o país eu pintar um cenário negro acho temos feito imensos Progressos Progressos fantásticos eh tem às vezes pessoas estrangeiras que vêm cá a Portugal e que dizem o que isto mudou o que isto mudou em termos do da da da água mesmo do tratamento das águas residuais do do acesso à água potável etc a qualidade da água a qualidade da água e eu regiji muito hoje aqui no observador a ver toda a gente be água da torneira e eu peço água e vem um copo de água portanto mostra a segurança que nós temos e é bem Temos esta segurança e é devida à qualidade de água portanto eu acho que eh temos feito Progressos fantásticos precisamos de fazer mais precisamos de adotar de adaptar por exemplo as nossas infraestruturas às alterações climáticas não é eh porque não estamos preparados Para isso precisamos de eh eh eh aumentar as eficiências de que já falamos eh portanto há assim uma série temos que assegurar que 100% é 100% todos são todos não é só alguns ou 95% portanto há uma série de arestas para limar arestas importantes sendo certo que a situação não vai melhorar a situação só tem tendência a piorar eu volto a bater a na na mesma tecla por causa dos efeitos das alterações climáticas e portanto temos que estar preparados para para o pior cenário Exatamente exatamente olhando para para a década não é que é o desafio e a proposta eh que lhe colocamos que grande medida é que gostava de de ver ser aplicada para que a água continue a ser um tema de que se fala hh ó Carla eh aquilo que eu tenho visto nos últimos anos é que eh muitas vezes eh pensamos ah falamos com os ministros do setor falamos com ministras Finanças não eu acho que o tema da água é suficientemente importante água é vida não é eh eh o tema da água é suficientemente importante para no cenário que vive emos agora ser elevada a ao nível político mais alto eh e e nos diferentes países o que é que eu quero dizer com isso na minha organização temos estado a trabalhar com vários países por forma a conseguir que o tema da água se torna uma prioridade ou do ou da presidente ou da primeira ministra ponho tudo no feminino eh ou da presidente ou da primeira-ministra por forma a mostrar Este é um tema chave para o presente e para o futuro nós não podemos continuar a pensar que a água é ilimitada temos que tratar a água de forma a garantir este direito para as gerações presentes sem hipotecar os direitos das Gerações futuras portanto eu acho que se vier um sinal quando vem um sinal ou do mais alto nível político de uma primeira-ministra de uma presidente tem uma tem um impacto positivo em toda a sociedade e as coisas mudam aquilo que eu gostava se me pergunta cá para Portugal para os próximos eu não diria para os próximos 10 anos para este ano era ou para o próximo ano era o governo agarrar neste tema E elevá-lo como a sua prioridade política e isso H é é é Contrariar as preocupações que temos com as alterações climáticas ou estes dois temas andam inevitavelmente de m dada olh para a sua expressão and andam inevitavelmente mandada andam inevitavelmente mandada aliás pensar em alterações clim sem olhar para a água não faz não faz sentido porque maior parte das alterações climáticas tem um impacto sobre a água ou temos água a mais Olhe como vemos agora no Brasil ou temos água a menos portanto a maior parte do impacto é sobre a disponibilidade de água está otimista em relação ao ao futuro da água como como direito humano temos aqui também vários várias situações e muitos contrastes no planeta temos muitos sim tem toda a razão temos Muitos contratos no planeta eh eu mantenho-me otimista porque se não me mantivesse otimista não saí de manhã da cama eh mantenho-me otimista eh mas acho que eh é preciso eh aumentar o número de pessoas temos não podemos baixar os braços é o que eu quero dizer temos que continuar a lutar sem baixar os braços para que estes direitos se tornem uma realidade na vida de todas as pessoas que moram eh que moram no planeta e eu tenho visto um aumento de vontade política um aumento de visibilidade tivemos já não tínhamos há 47 anos uma conferência das Nações Unidas sobre água tivemos uma no ano passado vamos ter a próximo em 2026 o presidente macron está a organizar uma simeira de água em setembro nas Nações Unidas em em Nova iork desculpem portanto eu o que vejo quando olho para a esquerda e para a direita é um interesse crescente aos níveis mais altos de poder pelo tema da da água para a semana que vem eu vou estar em Bali numa reunião com chefes de estado e do governo antigos e e atuais precisamente sobre o tema da água quer dizer eu acho que por causa eh da escassez e eu acho que se calhar vou ser um bocado cínica porque estes problemas agora estão a afetar não só os países do sul e os países pobres mas andam a bater à porta de países ricos de repente o tema da água tá-se a tornar uma preocupação crescente ainda mal mas ainda bem ainda mal ainda bem com as gerações mais novas consciente disso e a e a vestir esta a usar esta Bandeira esta esta camisola vamos ver como corre Catarina alquer muito obrigada por se ter juntado aqui ao clube dos 52 do Observador falar do futuro é falar da água e creio que foi isso que que estivemos a fazer aqui esta manhã todas as semanas O Observador lança uma conversa sobre o país na próxima década