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os retornados chegaram a um país extraordinariamente polarizado politicamente muito muito polarizado e portanto eh e mudaram não apenas sociologicamente o país também mudaram de alguma forma politicamente o país por exemplo e eu lembro-me de ouvir um comentário no dia na noite eleitoral sobre isto portanto eu estava ainda em casa dos meus pais e este comentário foi lá feito que foi o CDs tinha tido há volta de 88% 7% nas primeiras eleições em 75 portanto antes dos retornados e em 76 o CDs teve o seu melhor resultado sempre cerca de 16% e o comentário era isto foram os retornados portanto eu não sei até quanto é que foram porque não havia estudos quer dizer não sei não conheço nenhum estudo que comprova ou não isso há há aqui uma posso dizer uma coisa é o seguinte eh é é é pouco provável que eles tenham conseguido recenciador não tenham conseguido tenham votado no CDs e porquê Porque as únicas pessoas que se mobilizaram para estar à espera deles não estou a falar dos familiares ou assim ou do yarne no aeroporto aqui em Lisboa foram de facto um eram sobretudo mulheres eram conhecidas como as senhoras do CDs e que estavam no aeroporto da Portela a dar algum apoio portanto da sociedade civil por assim dizer fo o CDs foi quem teve uma presença mais expressiva no aeroporto no acolhimento quer dizer podiam fazer muito pouco mas na verdade estavam lá portanto havendo essa identificação não porque o CDs tivesse um discurso sobre o que estava a ser a descolonização que não tinha até porque era muito complicado mas esse lado visível do compreender o que era uma tragédia não é sim pois portanto esse era isso eram coisas que que num país muito polarizado eram sentidas muito à flor da pele depois havia eh digamos uma relação que nem sempre era fácil havia quando as famílias quando os os que regressavam eram acolhidos pela pelas famílias era uma coisa quando ficavam em hotéis era outra e havia às vezes pronto aquilo que é um dos sentimentos humanos e português mais antigos que é inveja e a perceção de que as coisas estavam que eles tinham uma espécie de Privilégio porque o iarn dava-lhes dinheiro porque eles e depois iam para o rcio passavam o dia no rcio não faziam nada não tinh nada para fazer não tinham nada para fazer queriam falar uns com os outros queriam perceber o que se passava portanto e tudo isto alimentava o preconceito isto eu acho que com o tempo ao mesmo tempo que nós dizemos isso é preciso dizer que houve um milagre a integração foi rapidíssima sem dúvida e depois isto passou-se muito depressa em pouco ao fim de poucos anos já não havia já não era tema já não estavam lado nenhum já tinham já tinham aberto negócios Já começamos a ver os cafés os e com nomes estranhos cobata exatamente restaurante a pé da minha casa e e eles trabalhavam que se paravam trabalhavam ao pé da minha casa havia um pequeno café onde eu morei na na na no final da década de 70 havia um pequeno café que era de um de um retornado como nós dizíamos e esse café Estava sempre aberto portanto era o único que estava sempre aberto era o único onde nós podíamos ir tomar café depois de jantar portanto e bairro de Santos em Lisboa portanto não é um sítio remoto no meio da cidade de Lisboa e e e e e isso rapidamente mudou agora há uma co cois Que olhando para trás é muito estranho como eu acho que mudou muito pouco que é nós passamos primeiro pela guerra colonial e depois por este fenómeno todo e a produção A reflexão e a produção cultural designadamente e Roman as obras de ficção que temos sobre este período e é muito pobre ainda é muito pouco ainda começa a ha ver na literatura sobretudo talvez Concord com isto não claro começa a mas primeiro chegou tarde chegou muito depois eh e Eh vamos lá ver eu tive a tentar fazer um levantamento enfim minimamente estou falar porventura das coisas que são mais são mais relevantes nós até ao final dos anos 80 praticamente S temos duas obras que de alguma forma abordam este tema que são os curos de Judas do António Lob anunes e e o e um livro de João de mel que é autópsia de humar em rubinas mas que não é bem bem sobre isto é um bocadinho mais sobre sobre outros temas e já E só mais ou menos há 10 15 anos atrás é que começam a aparecer outras obras umas num sentido mais nostálgico em que há muito aquela ideia de o regresso à África quer dizer Manuel loua deixi o meu coração em África os colonos do António tabulo os retornados aqui do nosso Júlio Magalhães foi um livro foi uma um um um sucesso de vendas o tim and em Loanda Tiago Rebel mas o Tiago Rebel escreve um pouco sobre tudo não é uma não é uma um uma algo vivido e depois começam a aparecer alguns livros que têm mais Impacto eu devo dizer que aquele que eu conhecia e que teve mais impacto foi um livro chamado o retorno e ou melhor retorno só da Dulce Maria Cardoso que sai em 2012 salvo o erro ela é uma retornada veio miúda e conta muito ela penso que percebe-se pelo protagonista que ela deve ter estado no talvez no estril sol não sei um hotel ali da linha não sei se foi esse foi um dos outros que estavam que estavam ocupados e é um livro escrito como na minha perspectiva com muita delicadeza portanto depois há outros que são mais brutais não é há um outro que é muito referido que é muito brutal e e que só foi escrito a autora diz que só o escreveu depois do pai morrer e percebe-se porquê Porque o o livro trata o pai de uma forma uma forma brutal tamb estou a falar de caderno de memórias coloniais da Isabela figueired Isabela figira é muitoo é muito dur mas com muito amor pelo pai também não é no cas muito amor mas enfim quer dizer é impossível escrever aquilo que o pai vivo pronto para quem não conhece o livro e portanto E isto é pouco Isto é pouco quer dizer é é começa a ver mas se nós pensarmos bem e se pensarmos no que aquilo representou Não não é nada de especial e fomos fossemos para outros terrenos mesmo por exemplo a produção ficcional eh de no cinema ou em séries também é pouquíssima se nós pensarmos que em vez de ser Portugal éramos os Estados Unidos ou éramos o Reino Unido isto estaria inundado dado de de de de de de de tudo não é de tudo eu acho que isto também tem a ver com aquilo que é o facto de ainda hoje quer dizer como a Marta acabou de dizer haver pessoas que não tê ideia do que é que do que que do que é que se passou e de repente descobrirem que houve ali uma uma realidade completamente diferente aliás e e e quando H algumas entrevistas com com estas autoras designadamente com a Dulce Maria Cardoso ela conta exatamente o mesmo conta exatamente o mesmo quer dizer e a mesma ideia e e a mesma ideia de que ainda hoje o termo retornado é um termo eh pesado eu devo dizer que na altura e e Zé diz lá diz lá Desculpa só interromper sendo isso verdade eu acho que também se tem de perceber o seguinte em 75 74 75 Portugal tem um movimento militar para para tornar Portugal um país democrático não é 25 de Abril 974 e depois nós vamos ter aqui uma conflitualidade enorme de daquilo que designamos prec que chega ao 25 de novembro de 1975 as forças armadas de alguma forma têm de sair vitoriosas depois têm toda toda aquela conflitualidade entre uns mais próximos do Partido Comunista outros menos e não é e quando se chega aos territórios africanos o papel e a forma como as forças armadas se comportam nesses territórios no pós 25 de Abril exprime de uma forma muito muito muito muito mais lata essa divisão que nós vimos aqui e esse é um lado profundamente Mas não era só ó Helena não era só não era só as forças armadas porque por exemplo eu recordo-me de ver a conversa que era não se queixem foram para lá explorar Os Pretos uhum isto era muito comum isto era muito comum além de haver e isso durou até durou muitos anos eu diria que durou pelo menos até a década de 90 além de haver em alguns setores da da da sociedade eu me lembro Por exemplo quando foram as eh crise em Angola a crise de pós Independência entre o Nita e o mpla as discussões eram Benfica Sporting ou PS PSD em Portugal as pessoas escolhiam um dos lados e viviam muito intensamente e e na altura a isto chegou ao ponto tá ó Carla tu andá l de Cascais penso eu eh andei andai na escola secundária de Cascais na escola secundária de Cascais na altura chamava-se liceu de Cascais eu conheço uma pessoa que se orgulhava de no dia da independência de Angola ter isado na bandeira do no master do Liceu bandeira do mpla portanto era assim que as coisas estavam não é hoje hoje é impensável isto mas isto aconteceu quer dizer eu sei que el é pessoa e dá-me contar isso que tiveram que encerraram em Lisboa o dia da independência de Angola é um dos dias que é vivido com níveis de segurança maiores em Lisboa houve vários liceus que foram preventivamente 15 dias do 25 de novembro não é portanto Exatamente estamos aqui estamos mes mes M meso nas nas vésperas do fim do preca portanto Isto é um período de facto é difícil quem não viveu isto tem muita dificuldade em perceber o que se passou e desse ponto de vista conseguir reconstituir as histórias é muito relevante porque também há outra questão que é nós não não não não é há uma há há mais uma vez hoje assistimos a uma tensão que é a tensão entre os que escrevem E isso tem sido publicado nas últimas semanas em alguns trabalhos que é os colonos portugueses em África eram todosos racistas tratavam todos os os os locais com o chicote e os que recordam apenas eh o lado idílico o lado e e havia de tudo seguramente que havia pessoas que eram racistas há sempre em todo lado seguramente que houve muita gente maltratada durante muitos anos os Estatuto dos indígenas aliás havia mesmo o estatuto indígen era muito mau horrível mas ao mesmo tempo que isto acontecia havia também outras realidades e as coisas têm que ser eh ponderadas quer dizer não ser sempre imediatamente levadas a uma politização extrema porque entre os que regressaram havia de facto quem tivesse tido sucesso ou algum n alguns casos beneficiado de situações de Privilégio mas havia havia pessoas que vieram literalmente como se costuma dizer comr outro à frente literalmente assim até porque antes não tinham quase nada lá não foi só apenas os que deixaram o que tinham hav alg Grand os grandes colonos que os grandes colos houve alguns que vieram literalmente sem nada e depois há outra coisa que para muitas destas pessoas é doloroso recordar o que aconteceu naquele quem viveu ali e depois percebeu as guerras civis que se seguiram também tem dor por causa disso