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O que é diferente em V Alagoa é que ela não se coaduna com aquilo que se esperava dela ou seja em geral aquilo que se espera da das mulheres e hoje também boa parte dos homens é uma grande contenção eh um um grande eh uma grande diluição das das convicções às vezes de algumas pessoas eu por acaso eh estive de férias mas ainda fui aqui ouvindo às vezes um bocadinho aqui da rádio e aqui num programa num contracorrentes a Manel falava de uma coisa por exemplo em relação ao Marcelo Rebelo de Sousa é que não sabe bem o que é que ele pensa não é não era nada disso que a a Vera Lagoa é a antítese de tudo isso e portanto ela é uma mulher de convicções muito fortes sabe-se perfeitamente o que ela pensa e não apenas o que pensa sobre factos E aí há que reconhecer-lhe uma grande intuição no caso dos Factos eh ela por exemplo e percebe eh é claro que antes 25 de Abril percebe as questões do regime da ditadura tudo isso e depois após a revolução isso vai quem ouvir aqui o podcast observador vai perceber isso como ela muito rapidamente percebe como aqueles que eram os os revolucionários de ontem e que tinham sido os seus amigos as suas relações as suas amizades o seu amor eh vão de alguma forma transformar-se nos nos ditadores eh daquele momento que parecia de quer dizer que era que era de liberdade Mas que estava a caminhar muito rapidamente para uma ditadura ela percebe isso muito cedo intuí muito cedo e sobretudo intuí em relação e começa por intuir por exemplo muito em relação aos militares eh e e portanto há ali uma intuição grande mas Depois vemos isso também em relaçãoas outras outra coisa ela desde o início que tem uma uma um um que tem dúvidas sobre as circunstâncias da Morte s carneiro a a e e Portanto a morte à carneira é preciso lembrá-lo foi comunicado ao país e essa tese que o estado português vai manter manter durante vários anos de que tinha sido um acidente e de alguma forma questionar isso punha quem o fizesse no campo do dos conspiranoicos dos quase doido doidos varridos e ela não não tem qualquer receio a esse nível não é e e portanto o jornal que Ela dirige vai logo dar passo seja H textos seja e algumas caricaturas muito mordazes porque o do do do do Sid não ele faz investigação Ele lê cartonista mas faz Cido é o mais importante nessa quer dizer é o mais importante é muito é Central Nessa altura não é e o Sid Era o cartonista do diabo é um grande cartonista português Uhum mas enfim muito porque era ao contrário da maior parte dos cartunistas não era de esquerda muito ostracizado e tem um trabalho eh de investiga sce incrível eu eu devo dizer que H só deixa-me fazer este pequeno interval houve uma altura em que eu dava aulas de jornalismo de na Universidade Católica jornalismo de investigação e uma vez com um do um um dos grupos fez uma um trabalho portanto havia pois a apresentação de trabalhos do grupo fez um trabalho precisamente sobre as investigações da morte do s carneiro e conseguiram levaram uma aula o o o Cid e foi impressionante deve fo impressionante impressionante impressionante o que ele contou sobretudo das pressões que recebeu das ameaças que recebeu porque era há muita gente que é ameaçada processo enfim um processo que muita gente tem é é banalidade agora coisas físicas ameaçar a família os filhos é uma coisa muito diferente disso e e porque temos de entender nós temos quase que uma ideia de que uma vez acontecido o 25 de Abril o país entrou numa normalidade democrática o país não entrou em normalidade democrática não apenas por causa das das questões revolucionárias mas também porque não era mesmo uma democracia não era e portanto não havia esse pensamento e e e havia situações de encobrimento como é o caso das circunstâncias da morte de s carneiro e todas as outras pessoas que estavam dentro daquele avião e ela não tem qualquer receio porque em geral o que acontece em Portugal ou que acontece muito frequentemente é que quem Diverge daquela narrativa comum acaba por ser tratado como lunático conspiranoico doido ou no caso depois da da se se é mulher as coisas depois também têm uma um pendor hormonal muito forte e portanto e as críticas e a forma de denegrir as pessoas é muito eu conhecia Vera logoa mal muito mal numa fase em que ela já já está doente e e e envelhecida e ela tinha um olhar ela já tratava toda a gente por tu depois tinha e depois falava com as pessoas com um ar de que eu eu quer dizer eu era muito novita e e com um olhar de quem eh eu percebo te melhor do que tu a ti mesma não é e e depois era era claro que uma figura pela maneira como falava pela maneira como olhava ela tinha um olhar muito muito penetrante e era quase era uma figura Central era era impossível estar num sítio sem que sem sem que ela quando começava a falar acabava quase por se tornar no centro das coisas pela maneira como falava tinha que se chama gravitas é e e e e e e por corrência e um olhar muito percutante a pessoa sentia-se examinada eh quando ela falava e não era e e e era uma mulher isso também é uma coisa que não é indiferente e que se percebe ao longo destes eh cinco Episódios deste podcast que está muito bem feito até porque tem uma coisa não consegue articular muito bem o lado público dela não é com um lado privado e aquilo são vidas que não t nada a ver com este certinho dos dias de hoje não é dos dias de hoje e dos dias da altura é uma vida completamente fora do comum não há vida não havia não havia vidas assim não vi em Portugal vidas assim ela é uma menher lindíssima lindíssima que vai ter relações com portanto casamento estou a falar de casamento com homens substancialmente mais novos não é eh estou a pens o caso do do do marido o tengarrinha não é que estava ligado ao partido comunista português é bastante mais novo do que ela e tudo o que isso impli o bastante mais novo é no caso do tengarrinha 16 anosos portanto não é assim um bocadinho mais novo é 16 anos sim e e portanto e há alguém mas ela Nessa altura estava muito num numa área política de oposição ao governo é claro ela nunca foi comunista mas e e o Manuel tem garrinha era mas era esse o seu universo e sabe-se como ela ajudava as pessoas até porque ela vem de de uma família o pai dela é militar tinha estado Olha o pai dela aparecer mais templo Estava sempre no contra não é portanto esteve na República contra e aliás ligado a setores muito muito muito radicais de república eh depois esteve no contra eh durante o estado novo e ela é como se tivesse e tem uma grande preocupação em relação à memória do pai e uma espécie de procura de recuperação da memória do pai mas e tem depois uma forma de escrever que é completamente aquela crónica no Diário Popular que as pessoas tanto falam as bisbilhotice eram muito vastas e podia e era também funcionava também como uma espécie de crónica da vida cultural porque ela dava conta do das peças de teatro que que estreavam dos filmes das Exposições só que não tinha nada aquela linguagem eh de institucional e dizer sempre um bocadinho bem mesmo quando se detestava não ela chegava lá e muitas vezes se achava que os quadros não valiam nada ela dizia mesmo que os quadros não valiam nada ou que o que o livro não prestava para nada ou que a peça de teatro e isso aí era sempre mais complicado porque o mundo do teatro é muito corporativo não é pronto e ó Elena não é o mundo do teatro não é o mundo do teatro é o mundo da cultura Uhum eu eu eu eu enfim nos meus muitos anos de responsabilidades editoriais em jornais confrontei muitas vezes com situações em que pedindo a pessoas para escreverem sobre um livro que não gostavam um filme que não gostavam uma peça de que não gostavam elas diziam não pode ser porque nós não podemos prejudicar os nossos atores os nossos escritores não pode ser E então faço faço uma entrevista uhum Portanto o livro não presta mas eu faço uma entrevista pronto porque e quer dizer os filmes portugueses tinham todos cinco estrelas mesmo quando eram absolutamente impossíveis de ver pois portanto e porquê bem por uma parte porque o mundo é Pequenino não é o mundo cultural português era pequenino mas depois porque havia esta ideia de que quem tem o poder de escrever e er é um poder muito importante de escrever ou de dar a sua opinião publicamente eh não pode projudicar os seus e os seus são este mundo e e nisso e quem sai quem quem alguma vez saiu disso e houve pessoas que saíram não é foi ela a única quem alguma vez saiu disso muitas vezes foi completamente por escrito uhum e e ela tinha tinha isso ela dizia efetivamente o que pensava nota estamos a falar de alguém isso também é importante acrescentá-lo que é e que é uma autodidata não é porque ela em termos aliás começa a escrever muito tarde nos jornais não é aos 50 anos tarde por quê Porque ela ela tem de começar a trabalhar muito cedo porque o o o porque era muito habitual na época a mãe pronto era dona de casa o pai teve uma carreira militar muitíssimo atribulada e portanto eles ficam praticamente sem rendimentos e ela tem de começar a trabalhar ali pelos seus 16 anos ela tem a quarta classe portanto ela é sem dúvida uma autodidata nesse sentido coisa que não era inedita muito no no na altura e portanto ela tem esse lado ela é uma mulher muito voluntariosa ela começa a trabalhar ela tem de trabalhar para sustentar a família não é e portanto nesse sentido é é são vidas em Manuel referia são vidas que são são vidas diferentes daquelas dos padrões que temos hoje e a vida dela foi sempre muito diferente Depois temos Claro a sua estreia naquilo que são as emissões e experimentais da RTP na feira Popular que ficava então não no sítio que alguns de nós ainda recordam da Feira popular em entre Campos mas estamos a falar da Feira popular em palhavã e ela e eu não vou fazer um spoiler desculpa lá Helena Mas a forma como Como ele como ela é admitida na RTP para esse programa é absolutamente Fabulosa não vou tem que tem que ouvir já não sei em qual dos episódios é é para no terceiro episódio só demitida ou se demitida não a seed demitida já falamos dela aqui de manhã admitida tamb já falaste ela lá aqui também é muito interessantíssima mas a forma como el e o descaramento da resposta que ela dá no momento da admissão é Fabuloso V vão vão ouvir não é não faço só só digo porque era absolutamente verdade Evidente só que ninguém tinha coragem para o dizer não é e ela teve porque ela de facto era era era a capacidade de dar esse essa resposta eu depois confesso deixa-me só fazer um pr e aplicar-se iia bem o adjetivo era uma desbocada aquilo que nós popularmente dizemos desbocada não é é mais um sentido de mesmo provoc desbocada diz coisas sem eh que podem ser verdade ou não ser verdade e ela procurava sempre podia ser exagerada uhum exagerada mas tudo aquilo tinha sempre base em coisas que ela sabia ou conhecia ou tinha visto e e tem uma grande eh ela quer perceber o que está a acontecer eu por exemplo e como já se percebeu fiz alguma investigação sobre a questão da chegada dos retornados a Portugal e não havia portanto eles começam a chegar ali em agosto de 74 sempre ainda não se não são não corresponde exatamente à figura do retornado porque eh ainda diziam que queriam voltar e depois começam a chegar a chegar a chegar a chegar já estamos janeiro de 75 fevereiro de 75 e não há nos jornais quem os entreviste vão saindo umas notícias a dar conta de que estão a chegar e há um dia em que portanto já estão a chegar alguns de Angola são sobretudo mulheres e crianças numa situação deplorável e por aquilo que tinham passado e as vías tinham sido objeto nomeadamente as mulheres e ela vai com o salgado desenha até porque é preciso que se que se explique ela foi militante do partido socialista após o 25 de abril e ela vai com o salgado desenha ver aquilo que então se que que é o hoje o Inatel na Costa da Caparica para onde essas pessoas tinham sido levadas e quer ir lá ver Quer ver Quer perguntar-lhes o que é que aconteceu quer olhar para os olhos daquelas mulheres para os olhos daquelas crianças e mostrar quem é que eles são e vai com o salgado Zenha que também era uma figura muito em contracorrente dentro do partido socialista e vão porque ela quer ver ela quer quer dar voz e expressão aquelas pessoas portanto isto implica o o não estar porque na altura quem falasse dos retornados naquele naquele momento era alguém que estava feito com eles os jornais falavam de e fazendeiros de chicote na mão e nós olhamos para as fotografias o que vemos são mulheres com uma cara não há homens praticamente e mulheres com uma cara de quem passou pelo pior e portanto a este lado nela que é também depois aquilo que encontramos por exemplo em relação ao à morte do SAC Carneiro tal como tínhamos encontrado em relação à morte do Delgado portanto ela é uma mulher que ela que ela não desiste de querer saber e depois tem uma qualidade que é muito rara em Portugal estava tinha que não não não estava preocupada com às vezes estava preocupada com o que diziam dela assim por exemplo perceberão isso quem ouvir o podcast e o que é que nicol briner teve a ver com isso mas ela não vai deixar de fazer e dizer o que acha por causa do que do do daqu da imagem que pode ter que podem ter dela eu acho que as que a crónica as bisbo ties eh ela não gostaria do nome saia no Diário Popular tinha realmente imensa leitura eh lendo aquilo e conhecendo o que era o mundo h de de de de Muito obrigado senhor doutor como está a vossa excelência do respei temho e escrever daquela maneira dizer que acontecia não sei quantas e e pessimamente vestida por exemplo por uma peça de teatro ou que a ópera tinha sido terrível ou que o não sei quanto estava vestido de uma maneira horrorosa e quer diz há neste lado um um era de facto muito rompedor Porque isto ainda hoje não é não é habitual se nós virmos O que é hoje a crónica social e essas coisas são todos maravilhosos São todos sempre a gente gira estão todos sempre cheios Das M é muito Instagram não é mas olha era era porque e a Vera aloa eh pensava Exatamente isso ou porque também fazia parte da construção da Persona não eu acho que ela nunca prou de construir nada porque ela era mesmo assim não é ela era mesmo assim e depois há algo que também está muito bem visto neste podcast e que foi algo que eu que eu que essa fase em que eu eu que eu a conheci mal como é óbvio e mas que é eh a fase ela tem uma vida privada muito atribulada ela ela e foi pública eh o portanto ela casa com o seu grande amor não é que eu tem garrinha e depois ele deixa e isso é é algo que ela vive com dor com imensa dor não é e depois há uma fase que já cor Responde ao seu outro casamento posterior e em que é em que é em que ela coloca a questão da Solidão O que é ela Pergunta a ao filho e a anora se eles sabem o que é a solidão e nesse aspecto H ali uma mulher que também vive com muita intensidade eh por exemplo as datas dos aniversários as questões familiares ela ela é uma mulher não é ela não é indiferente a nada e portanto nesse sentido eu acho que isso o podcast trata com muita delicadeza mas também com a a informação eh necessária depois em relação a ela a ela mesma enquanto jornalista eu acho que este podcast também é muito importante no sentido em que nós imaginamos que acabada a pronto chegou 25 de Abril não é acabou a censura e não houve mais censura ora isso não é isso não é assim porque no pós-25 de abril nós vamos ter eh o não temos censura prévia mas temos uma forma de censura muito difícil que é a censura dos dos processos a censura eh e nota que ela chegou a ser levada a a justiça militar depois passa para justiça civil e e portanto e ou e e ainda ali num determinado período Podia mesmo ser suspensa à publicação ou por isso aconteceu-lhe e depois também não temos não temos muitas vezes a noção do que foi a violência de determinados períodos uma violência enorme uma violência em que se usam as bombas para conseguir calar as as pessoas nós imaginamos pois que as bombas são algo que há ali em 75 e depois aquilo acaba e não não é assim e as bombas continuam a ser usadas ela aliás podcast dá muito bem conta disso ela é a alvo de várias eh quer dizer diretamente duas e depois outras duas em ações onde ela está manifestações porque é isso também é importante e isso às vezes eu tenho-me interrogado como é que seria agora e tava ouvir o podcast e a pensar a questão ela vai vai tornar ela sempre foi uma mulher profundamente patriota ela sempre gostou e fez questão em relação a Portugal e à sua história e portanto há há um documento da RTP de 1992 que é feito de si e o depoimento da Vera Lagoa sublinha muito o amor pela Liberdade o gosto por Portugal e a luta permanente pela independência do país notei isso eh são três trasos que ficam enfim muito plasmados em todas as conversas que a Vera Lagoa Tinha comú sim até porque ela está convencida que H uma série de pessoas T um comportamento ao nível da traição e ela vai depois estar muito associada à celebração de uma data que é a data do primeiro de dezembro isto agora depois já no final e no no numa fase posterior e portanto ela vai ela vai achar que Portugal deve assinalar essa data e vai mesmo estar em algumas manifestações manifestações que chegaram a reunir muitas pessoas e que é e que é curioso às quais a a imprensa e a comunicação social não davam destaque isso também nos deve eu acho que este podcast também estes episódios nos conduzem uma questão e que é o o jornalismo tem em muitos país e em Portugal evidentemente uma noção do que é do não do que é a realidade mas do que devia ser a realidade e portanto as notícias são muito frequentemente não sobre aquilo que está a acontecer mas sobre aquilo que os jornalistas acham que devia estar a acontecer apagando ou não dando praticamente relevância a alguns acontecimentos e de sobredimensionado outros não é por fim eu acho que agora que também falamos tanto das questões da cultura w e do discurso de ódio eh eu acho que valeria a pena ver os livros eh que dois tipos de livros são diferentes uns que ela escreve que eu acho que espantoso que é revolu que eu conheci Porque ela tinha os conhecido todos todos não é e portanto ela chama a atenção para uma coisa que particularmente Evidente em muito em muitas situações de mudança de regime e que é quem mais esteve com o regime anterior quem mais viveu do jeito Zinho do favorzinho da cazinha do empenho Zinho no dia seguinte À Revolução vão tornar-se os mais ferozes Defensores da nova situação e os maiores Perseguidores daqueles mesmos a quem eles lambiam literalmente as botas na véspera e portanto este revolucionários que eu conheci alguns vezes que ela gostava mesmo deles não é há ali várias coisas a contar e e depois o livro que o Vilena o da gaiola aberta vai fazer sobre ela que é ela meteopata na possa não é e uma pessoa ali Pensa bem e quer dizer quando quer quando hoje se dizem que não se respeita que não não se Então vão ver aquilo que se escreveu e portanto eu acho que se aprende muito