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Quando pensamos na luta pela igualdade de género Qual é a imagem que nos vem à cabeça Talvez seja a mulher que quer ser CEO que quer chegar aos mais altos cargos políticos a mulher que quer decidir livremente sobre o seu corpo que quer escolher se quando e de que forma Quer ser mãe e que quer ser totalmente independente nesta luta cabem estas mulheres mas cabem também as mulheres que não têm acesso a contraceptivos as raparigas que são obrigadas a casar aos 12 13 anos as meninas que vê o seu corpo ser mutilado em nome de que as magoam entram as mulheres que nunca foram à escola as que sempre trabalharam mas nunca mandaram Nelson Mandela dizia não existe Revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como trata as suas crianças e eu acrescento também como trata as suas mulheres e sei que a minha convidada de hoje concorda comigo é Mónica ferro diretora do fundo das Nações Unidas para a população em Londres antes foi diretora Regional deste organismo da ONU em Genebra durante 6 anos e alguns meses e antes disso foi professora Universitária deputada pelo PSD e vice-presidente da bancada do partido coordenadora do grupo parlamentar sobre população e desenvolvimento e foi também secretária de estado da Defesa Mónica bem-vinda é um gosto ter-la aqui connosco hoje comigo e com quem nos está a ouvir começava por lhe perguntar precisamente sobre isto sobre esta dualidade que eu apresentei no início sendo que já há de facto uma consciência maior para estas questões das mulheres do feminismo digamos de classe média alta H quem lhe chamo o feminismo branco e ainda não há tanta sensibilidade para os outros temas Será que por exemplo partindo do contexto de Portugal sendo uma realidade ainda distante eh ainda não há tanta consciência para os problemas das outras mulheres ha olá Catarina muito obrigada pelo convite nunca lhe consigo dizer que não e este formato acho que está a Gerar umas conversas tão interessantes que eu sinto muito honrada por fazer parte deste eh deste leque de pessoas que têm trazido para a conversa e eh E obrigada por fazer uma conversa sobre autonomia corporal sobre eh feminismo h de última linha e nós sabemos que H há um pouco perceção de que as lutas das Mulheres foram todas sendo realizadas não eu eu eu digo isso muitas vezes eu nasci em 72 e assisti nos últimos anos a uma espécie de compilação de direitos Ou seja eu assisti a ao direito ao voto ao direito à educação ou direito à autonomia financeira vão sendo acrescentados vão sendo acrescentados e portanto isso deu-nos uma sensação eh de progresso um progresso cumulativo de direitos realizados e h e talvez nos tenha eh deixado com esta ideia de que o caminho era esse era um caminho de consolidação de direitos e nós agora temos esta noção que que a Catarina acabou de traduzir que na realidade há direitos ou que estão em causa que estão a que estão a retroceder há direitos que estão a retroceder nós temos dados o fundo das Nações Unidas para a população que é uma agência baseada em dados nós gostamos muito que as nossas opiniões sejam baseadas em factos eh Porque dizemos muitas vezes cada um tem direito à sua opinião não aos seus próprios factos Esses são baseados em dados e portanto nós temos chamado a atenção para uma série de eh de lutas que permanecem muito distantes de estarem realizadas e e todas as questões eh a Catarina falou do a eh da utilização ou não de contracetivos hh nós perguntamos há 3S anos às mulheres hh três questões para identificar o que é que era autonomia corporal e as perguntas eram muito simples foi um questionário que fizeram não foi para conseguir ter dados eh acrescentamos perguntas nossas a questionários sobre saúde e demografia que eram feitas H porque porque nós medimos um dos indicadores dos objetivos deo sustentável portanto não é uma agenda do nfpa é uma agenda acordada pelo mundo e há uma gend que quer medir autonomia sobre o nosso corpo e então as perguntas eram muito simples e eram só três pode dizer que não a ter sexo pode escolher o método de contraceção que quer e pode procurar o médico sempre que quer e apenas 94% nos responderam que sim o que significa que metade das mulheres nos respondeu que não a pelo menos uma destas perguntas e e isto significa que a luta pela verdadeira emancipação a luta pela autonomia total da mulher tem nesta matéria que é um tema que a Catarina tem tratado muito não não é que é a questão do h o meu corpo é meu h eu controlo O que acontece no meu corpo ainda em frente de muitas barreiras e em muitos eh muitas partes do mundo os números são de facto assustadores e o último relatório do do nfpa que é de Abril deste ano diz que um quarto das mulheres não consegue dizer que não há o sexo com o marido ou com o companheiro e quase uma em cada 10 mulheres não têm escolha sobre a utilização de contracetivos mas deixa-me reforçar a pergunta Inicial que é de facto estes dados eh podem ser até surpreendentes para para muitas pessoas e é quase como se o feminismo e a igualdade de género fossem um bolo gigante ou um comboio gigante com várias carruagens que andam a diferentes velocidades porque ao mesmo tempo que estamos nesta luta da as mulheres se eu por exemplo aquilo que várias autoras chamam por exemplo feminismo branco que eu referia Depois temos o feminismo que pode podemos chamar de feminismo negro também que outras autoras também referem e que tá com lutas ainda muito mais eh atrás digamos assim sento que por vezes H ou melhor sendo que aquilo que faz com que não se tenha tanta consciência para esses temas que referia da Autonomia corporal da menção gental feminina que também já lá vamos é porque nós no caso eh mulheres brancas por exemplo homens brancos temos dificuldade em nos relacionar com algo que não conseguimos ver com algo que parece que é lá daqueles países africanos distantes que têm uma cultura muito diferente que ainda não entre aspas evoluíram estou a citar os os estereótipos que existem não é sim estou estou a perceber estou a perceber eu eu confesso que não consigo ter essa visão porque o meu campo de atuação não é Portugal nem é Europa é o mundo e portanto eu estou muito habituada a pensar eh na emancipação da mulher e nas lutas feministas levando essa agenda toda mas percebo que h o que está aqui muito em causa é é uma certa H eh visão centrada na nossa realidade não é e desse ponto de vista encontro isso muitas vezes aqui e noutros e noutras partes não é eh eu eu eu eu eu estive em Genebra 6 anos e meio e agora estou em Londres e portanto o as conversas que se têm nestes ambientes muitas vezes parecem H trazer trazer para estes contextos outras realidades é como se nós abríssemos uma janela sobre H as disparidades eh que outras mulheres noutras latitudes enfrentam eh nós neste relatório como como a como A Catarina diz muito bem tentamos mostrar que H as grandes desigualdades acontecem dentro dos países e acontecem de uma forma eh Global as médias mascaram sempre a realidade de cada um mas tentamos trazer exatamente outras lutas dizendo eh o progresso é real nós nos últimos 30 anos fizemos Progressos assinaláveis em quase todas as esferas da da luta feminista e e da Luta pelos Direitos Humanos num num sentido eh muito amplo mas a verdade é que houve uma série de pessoas como nós n não conseguimos desmantelar as estruturas do racismo do patriarcado da discriminação económica uma série de discriminações relativas às identidades como não conseguimos fazer nós não conseguimos chegar a uma série de pessoas mais se quiser eh ser mais dura ainda com a nossa incapacidade de o fazer nós nós fizemos com que essas pessoas ainda tenham ficado mais para trás porque o progresso que nós temos para mostrar em muitos contextos é um progresso nos sítios onde nós Já conseguimos chegar às pessoas Já conseguimos H fazer esta realidade a invisibilidade é a maior discriminação de todas isso isso isso que referi de nem sequer termos noção das outras mulheres ou nem sequer termos noção dos outros grupos é a maior discriminação de todas aquilo que não é contado não é tido em conta e portanto não pode não é resolvido exatamente E e esse é um dos Grand grandes mantras H do fundo e para o qual trabalho porque a nossa o nosso ponto de partida é sempre esse toda a gente tem que ser contada para que toda a gente possa ter ser tida em conta e e o que não é medido não é resolvido e portanto esta ideia de haver outros feminismos eu gosto desta ideia de nos imaginarmos eh nós o fundo como abrindo janelas para a realidade nós temos 150 escritórios 13 em países com os quais executamos projetos portanto Essa realidade global é muito presente na no nosso quotidiano mas eu mas eu noto muito que às vezes estou a falar de coisas que a reação das pessoas é mas isso ainda acontece H ou então outra ainda mais eh eu diria H frequente nos tempos que correm que é porque é que eu me devo interessar pela realidade de mulheres tão distintas em em em localizações tão distintas da minha ou tão longínquas E porque é que me deve interessar porque a humanidade é uma só não é para mim essa é a resposta imediata eu acho Catarina que empatia é o valor estrutural da humanidade e e tento educar as minhas filhas lhes dizendo Exatamente isso a capacidade de nos pmos no lugar do outro é o valor mais humano de todos e devemos nos preocupar também porque além de tudo faz sentido do ponto de vista do equilíbrio Global faz sentido do ponto de vista económico Global porque a desigualdade de género tem um custo efetivo económico certo tem um custo efetivo países para os países nós neste nós neste relatório ousamos medir o custo da desigualdade de género ousamos medir o custo da violência com base no género eh porque nós as nós sentimos que embora eh para quem já me ouviu falar disto sabe que não é algo do qual eu seja particularmente eh fã eu gosto de falar de direitos humanos por direitos humanos as pessoas têm direitos porque são pessoas mas nós de vez em quando sentimos a necessidade de trazer o argumento económico sobretudo quando há país e quando há líderes que acham que a igualdade de género é uma questão que não é relevante porque não traz benefícios económicos mas a lógica do unfpa que que é comprovado com factos é que investir lá está em diminuir a a mortalidade materna em conseguir controlar eh o enfim as gravidezes digamos assim em que as raparigas consigam ter autonomia sobre o seu corpo traz benefícios económicos e a ausência destes direitos traz prejuízos hh mas em que sentido mesmo em que como é que em termos práticos conseguimos eh explicar isso a nós tentamos trazer sempre H os dados do investimento eh é uma das ehh é uma das narrativas que eu acho que nas políticas públicas eh devia de ser definitivamente usada que é o que nós investimos na igualdade de género o que nós investimos na garantia do acesso à saúde sexual e reprodutiva e aos direitos sexuais e reprodutivos é um investimento com retorno não é um custo é um investimento e eh e o que nós e o que nós tentamos dizer é que por exemplo hh o se nós conseguíssemos eh hh se nós conseguíssemos diminuir eh eh as gravidezes eh não desejadas por exemplo de acordo com com um dos nossos últimos cálculos gastar cerca de 80.000 Milhões de Dólares em país de baixo rendimento e Médio até 2030 conseguimos evitar cerca de 400 milhões de gravidezes não planeadas sendo que isso também nos iria permitir prevenir eh 1 milhão de mortes maternas e cerca de 600.000 Milhões de Dólares em benefícios económicos Ou seja é um valor muito difícil para nós nos relacionarmos com eu sei qu nós falamos de de milhares de milhões mas eh a verdade é que nós sabemos que eh a prevenção é mais barata do que a reação e nós depois há cuidados de saúde que têm que ser alocados há eh enfim outros meios que têm que ser alocados também nós temos as estimativas para isso tudo e é esse eh o parte do nosso trabalho com os estados é ex é exatamente fazer com que percebam que as políticas públicas que investem nestas áreas têm um retorno económico por exemplo a questão do a do POD planeamento familiar nós sabemos que por cada dólar investido em planeamento familiar e já agora Portugal é de Celebrar porque é um dos países que tem plenamento familiar na Constituição é um direito que nos é garantido pela constituição mas sabemos que por cada dólar investido em plenamento familiar pode gerar um retorno de cerca de ó ao longo do tempo porque vai permitir às mulheres terem autonomia sobre o seu corpo vai lhes permitir por exemplo H continuar a estudar e adiar a gravidez Dep depois trabalhar também traz o retorno para o estado não éal traz um rorno para estado e e nós também sabemos que eh a próprio controle da fertilidade no sentido de poder planear as gravidezes é fundamental para que as mulheres possam ter uma carreira Nós temos muitos países do mundo onde as mulheres enfrentam o dilema de ter que escolher entre ter uma carreira ou ser mães porque não há creches porque há aquilo que nós já falamos mais do que uma vez noutros contextos da da penalização da Maternidade nós sabemos que uma mulher é muitas vezes preterida na escolha para determinados cargos porque há uma expectativa de Que ela possa querer ficar grávida e portanto com isso vem dizemos os inquéritos a ocupação do tempo mais uma vez não é a nossa opinião de que as mulheres desempenham mais tarefas em casa do que os homens e portanto os empregadores sabem que uma mulher provavelmente vai faltar mais vezes do que um homem ao trabalho e portanto é menos apetecível do ponto de vista da promoção da produtividade da produtividade sabem também a partida não é essa a Assunção que fazem partida é a Assunção que fazem mas é uma Assunção totalmente errada porque eu acho que não há trabalhadores e trabalhadoras mais produtivos do que aqueles que são felizes e eu não tenho dúvidas nenhumas que o facto da fertilidade realizada em Portugal e noutros países ser tão eh abaixo daquela que é fertilidade desejada não é as pessoas têm menos filhos do queal querem isto não faz as pessoas felizes as pessoas ou têm e eh Há uma frase sua que que é muito relevante que é as mulheres ou têm mais filhos do que aqueles que gostariam de ter ou têm menos filhos do que aqueles que gostariam ter dependendo dos contextos parece que nunca conseguem aquele valor ideal lá está derivad também às às condições que têm não é sim a são são todas as barreiras que começam exatamente pelo pela pelo ponto onde a Catarina começou tem a ver com o ter ou não acesso a contracetivos o o poder ou não planear porque pá o planeamento da gravidez não significa só o adar da gravidez significa poder ter gravidezes saudáveis até se até Se quisermos pensar de um ponto de vista de um uma mulher que queira ter mais filhos do que um ou dois ela tem que estar saudável po conseguir ter e para conseguir ter com saúde e dar à luz de uma forma eh que não lhe cause danos nem a ela nem ao bebé para Que ela possa ser uma mãe saudável portanto até aí também há investimento para o estado porque eh a ausência de saúde também há o custo depois que que o estado vai teral totalmente E daí daí o nosso enfoque há do anos nas gravidezes não intencionais e que houve uma grande baralha porque houve muita gente que achou que nós dizíamos que as gravidezes não intencionais eram sempre indesejadas não as gravidezes não intencionais são gravidezes não planeadas Muitas delas são recebidas com muita alegria e com uma grande celebração mas a verdade é que a gravidez não planeada mostra que a mulher não tem acesso a uma série de direitos e de serviços e informação que lhe permite decidir quanto é que quer ficar grávida não é uma questão da criança ser ou não desejada é é o facto de aquilo que acontece não poder ter sido planeado e portanto é às vezes é é muito complexo porque as pessoas têm opiniões muito fortes hum de temas que são muito complexos de explicar com uma linguagem que seja entendível por todos ha isso não faz com que o trabalho seja mais fácil estamos a falar sobre as causas que que trata no seu trabalho mas vamos também perceber Qual é que é o seu trabalho efetivamente para quem nos está a ouvir representa então o FAP em londes o fundo das Nações Unidas para a população e cobre a relação deste fundo com cinco países Reino Unido Irlanda Portugal Espanha Itália são países ditos desenvolvidos E aparentemente estão bem posicionados em indicadores de saúde sexual e reprodutiva de casamentos infantis e igualdade de género mas eh estamos a assumir algo que pode não ser bem assim também estes países também têm alguns problemas eh em relação a a estas estas áreas diria que eh muitas vezes a perceção é uma mas depois a prática é outra por isso por exemplo em Portugal o acesso à saúde é universal e mas depois as várias características e contextos das pessoas e também nestes país ditos desenvolvidos eh tem depois influência no acesso e aos direitos Sim sim eu eu diria que H nestes cinco países h a igualdade e o acesso à saúde sexual e reprodutivo e aos direitos sexuais e reprodutivos estão plenamente consagrados na lei não há não há dúvida absolutamente nenhuma estamos a falar de países que nos eh os e Atlas que medem o desempenho nestas matérias nos Atlas complexos em que nós tentamos misturar H muitos destas componentes desde o acesso à saúde até o acesso aos contracetivos até o acesso a ao aborto H portanto nestes países o desempenho do dos países do ponto de vista legislativo é altíssimo eh depois o que nós notamos é que a transposição desses compromissos para a prática falha ou porque os serviços não são prestados ou porque as políticas públicas não garantem igualdade de acesso para todos ou porque há fenómenos Catarina eu vou só aqui referir dois eh para as pessoas perceberem como é que eh pôr estas lentes estas lentes feministas não é por uns óculos feministas de género eh na realidade nos faz com que nós vejamos cada vez mais obstáculos ou ou ou vou vou reformular identifiquemos novos obstáculos que é preciso ultrapassar porque os obstáculos estiveram lá por exemplo eh todos estes países têm ótimas legislações h no que diz respeito à garantia do dos direitos e à garantia de tudo o que é preciso para as raparigas poderem ir à escola quantos destes países é que só agora começaram a trabalhar por exemplo a questão da Saúde menstrual garantir o acesso garantir primeiro reconhecerem que há pobreza menstrual nestes países eh e depois garantir que todas as mulheres as raparigas e outras pessoas que menstruam têm acesso a estes produtos para que possam viver a sua menstruação com dignidade e com saúde aí está uma das áreas que só recentemente foi tocada em alguns destes países exclusivamente em Portugal o tema já era tratado mas só agora é que foi aprovado até por este governo o acesso a produtos menstruais nas escolas S porque se tenta Porque isto volta à sua questão do início eh porque nós achamos que a questão da da pobreza menstrual é uma questão que afeta os países em desenvolvimento quando na realidade afeta os países desenvolvidos também as primeiras respostas partiram de países desenvolvidos Porque fizeram um diagnóstico e perceberam que as pessoas estavam a a ser afastadas dos seus direitos e a ter complicações de saúde imagina o que é ter que gerir um um fluxo menstrual com com trapos com com panos com que ainda acontece nestes países e portanto com meias usadas as infecções H são H são frequentes nestes contextos e portanto é é que está um bom exemplo de uma causa que os nossos feminismos identificaram mais recentemente eu sei que há pessoas que nos estão a ouvir e que estão a pensar eu já trabalho nisso há muito tempo pois é mas nem toda a gente e trazer para o discurso público é é uma fase muito importante ou por por exemplo no Reino Unido neste último relatório nós publicamos dados sobre a morte materna a das mulheres H africanas e de ascendência africana hh e que gerou H gerou alguma alguma Surpresa porque verificamos que quer nos Estados Unidos quer no Reino Unido as mortes maternas de mulheres negras e de mulheres de ascendência africana são muito superiores aos ao seu grupo equivalente eh branco e e porquê H is Isso é que é interessante não é interessante saber que é mais é interessante ter o dado porque nós vamos procurar a razão e vamos e vamos perceber que tem a ver com acesso aos cuidad de saúde mas tem a ver com algo ainda mais eh interessante do ponto de vista da ação política tem a ver também com o erros nos currículos médicos perceções generalizadas sobre a saúde das mulheres eh com preconceitos Como por exemplo o patamar de dor eh que seria diferente e portanto há aqui uma série de de de erros e de erros de abordagem que que fazem com que no Reino Unido um dos países que eu cubro a taxa de mortalidade materna nas mulheres negras Seja superior do que nas mulheres eh brancas quando aparentemente é igual para todas quando aparentemente é igual para todas as médias mascaram as realidades nacionais e há países onde as realidades nacionais são bastante díspares mas está a ver duas áreas em que nós achávamos que nos países desenvolvidos estavam relativamente tranquilas eu acho e já o disse vezes em conta para mim o melhor indicador de desenvolvimento é saúde materna é saúde materna um país que tem uma alta taxa de mortalidade materna não é um país desenvolvido não pode ser um país desenvolvido porque significa que falha tanta coisa antes e depois desse momento que é o parto não é eh mas a verdade é que nós continuamos a ter 800 mulheres a morrer todos os dias por causas ligadas à gravidez ao parto e ao pós-parto 500 nos contextos humanitários que nos abrem as notícias eh todos os dias e portanto se isto não impela a ação eh e é uma certa solidariedade para lá de nós h não sei então o que é que podemos dizer mencionou dois temas que eu quero muito falar consigo um deles é os dados porque já referiu que é preciso ter dados estatísticas saber o que é que está a acontecer para poder depois recomendar políticas aos Estados fazer resoluções etc em Portugal por exemplo não é eh possível discriminar os dados por etnia por exemplo nos censos eh isso não é permitido diria que essa é uma falha grave já foi levantada por várias associações por exemplo que consideram que não não não sendo possível digamos discriminar a informação por etnias também não é possível medir eh a desigualdade e a discriminação acha que de facto isto deveria ser alterado é é é uma questão eu eu acompanhei o o debate em Portugal que se fez sobre a questão da da não discriminação e da proteção de dados H A verdade é que há uma recomendação internacional para que se recolha dados o mais desagregados possíveis ou seja mais detalhados possíveis mais detalhados possíveis e eu sei que nós somos a agência que apoia muitos países em em desenvolvimento a realizar os censos não é o contar uma população e contá-la de uma forma detalhada desagregada com os dados de compostos é uma tarefa muito complexa eu eu digo sempre Isto é talvez a tarefa mais complexa que um país leva a cabo em tempo de paz contar a sua população e contá-la a sua população residente e contá-la de uma forma detalhada quanto maior for detalhe mais bem informadas são as políticas públicas eh a verdade é que nós sabemos que os estados Têm alguma sensibilidade que é histórica em recolher estatísticas desagregadas à etnia ou desagregadas à religião e isso tem razões históricas se pensar no contexto europeu Por Exemplo foi exatamente o facto de termos a comunidade e judia e a comunidade e do Povo Roma mapeada e identificada que permitiu o holocausto e que permitiu a tentativa de extermínio destas comunidades se pensar no Ruanda é exatamente a desagregação dos dados à etnia que permitiu e com que se tenha feito eh com que o genocídio tenha tido aquele aquele caminho Eh Ou aquela progressão tão tão rápida e e e tão eh marcante portanto nós compreendemos que os estados têm eh essas sensibilidades o que nós fazemos é garantimos na redação da pergunta a pergunta Tem que ser sempre de autoidentificação não é nós quando preenchemos um sensos nós temos perguntas que respondemos se quisermos não é e portanto a pergunta Tem sempre que ser de autoidentificação ah perguntar com que com qual destas etnias se identifica qual qual destas religiões aqui aqui a questão mais importante é primeiro que a pergunta seja redigida de forma a que seja de autoidentificação que Garanta a privacidade que Garanta que está alinhada com as boas práticas de direitos humanos e que responsabilize A Entidade que recolhe esses dados pela utilização criteriosa destes dados por exemplo voltamos à questão do Reino Unido eu se não soubesse que o perfil de morte na tinha esta característica nunca podia desenhar primeiro ir investigar as causas e depois desenhar uma política de resposta mais uma vez nós não conseguimos combater problemas e obstáculos que não os temos identificados dito isto H embora haja recomendações internacionais para que se faça uma recolha muito desagregada é prerrogativa dos Estados decidir que dados é que recolhem e portanto nós estamos depois ou seja com o objetivo de tentar não descriminar acaba-se por se acaba-se por por se discriminar depois à partida não à chegada mas à parti ou melhor H chegada e não H partida porque depois não se consegue lá estar também atuar sobre a realidade porque não a conhecendo não se consegue atuar sobre ela não há programas de saúde que possam ser desenhados para abarcar uma população total eh do estilo de tamanho único não há e portanto eles até nisso eles têm que ser desenhados se quer desenhar e com com desagregado ou por exemplo um dos exemplos mais bem sucedidos que nós temos de desenhar um programa de saúde adaptado às características da Comunidade LGBT desenhamos com a participação das Comunidades ou seja e fizemos para um país em colaboração com com o governo como é evidente mas esse governo pede-nos um programa para lidar com as necessidades específicas dessa comunidade e nós a primeira coisa que fizemos foi Ok vamos conhecer a comunidade e chamamos as associações representativas que nos vieram dizer nós queremos que os exames sejam feitos Desta forma a nossa privacidade tem e portanto o o o tamanho único a política de tamanho único não resulta E na saúde não resulta de certe absoluta o segundo tema que também queria falar consigo tem a ver precisamente eh com o facto de hoje nenhum país eh está 100% constituído por pessoas que nasceram naquele país temos eh um mundo global onde a imigração existe e portanto também tem que ser tido em conta existir imigração também pressupõe que exista o transporte de tradições de práticas de uns paraísos para os outros eh em no mundo todo há mais de 230 milhões de meninas e mulheres que vivem todos os dias com as consequências da mutilação genital feminina que é uma prática que consiste no corte Total ou parcial dos lábios vaginais e ou do clitoris é um tema que eu também tenho acompanhado muito enquanto jornalista em Portugal e também na na Guiné Bissau onde estive no ano passado também a fazer reportagens é uma prática ancestral que assenta muito na tradição e na ideia de que as meninas e as mulheres serão mais protegidas e mais aceites pela comunidade e pelo e futuro marido se estiverem xadas a pergunta que eu lhe faço é como é que conseguimos entrar nestes países como é guin Bissau o senegal a serra lioa ou contactar com as comunidades que vêm destes países e que estão por exemplo em Portugal eh tentando acabar com a prática sensibilizar para as suas consequências sem que se caia numa lógica do chamado White savior o Salvador Branco que vem dizer o que é que é crime que vem dizer o que é que é violência que vem tentar eh combater uma prática como é que se consegue fazer a mudança sem que a população adote uma postura defensiva perante o branco estou a fazer aspas que vem ditar as regras daquilo que é correto ou não Mica a resposta a resposta tá toda na sua pergunta H tem aí os elementos todos os elementos todos de resposta H nós gerimos o fundo das Nações Unidas para a população Gere com a Unicef em parceria gerimos dois grandes programas mundiais que têm muito a ver com com isto Catarina nós gerimos o programa Mundial para a eliminação da mutilação gital feminina e gerimos também com a Unicef o programa Mundial para a eliminação dos casamentos infantis forçados e precoces ou seja embora sejam realidades distintas ambos carregam Essa realidade de serem percebidos por muita gente como práticas culturais H nós nós tentamos afastar a linguagem da cultura daqui porque isto não tem a ver com cultura est é uma violação de direitos humanos mas a verdade é cultura é a música é a dança é comida não é o que não faça mal Não provoque dano não cause dor não é eh mas mas sim agora eu compreendo e e esta Esta é uma falou isso aí na na na sua questão e e é absolutamente fundamental as pessoas têm que perceber que nós estamos a falar de normas sociais estamos a falar de práticas que por exemplo o caso da mutilação gital feminina uma menina que não seja sujeit à prática é vista muitas vezes como sendo impura não pode estar em determinados lugares em determinados dias não pode cozinhar não pode casar não é limpa H isto é uma prática que vem é uma Pátria ancestral uma criança ancestral a única coisa boa é que esta ideia foi construída nós podemos desconstruí-lo e podemos desconstruí-lo ainda às raízes e podemos desconstruí-lo usando o o que nos tem mostrado funcionar nesta desconstrução e e e a Catarina falava disso é trazer as vozes das Sobreviventes para não ser um uma determinação de alguém que vem de fora e que diz como é que se Dev fazer for isso isso e portanto a voz das Sobreviventes é quem tem que nos liderar nesta conversa tem que nos dizer como é que pode ser feito o que é que deve ser feito temos também feito hh e esta é uma questão que também é muito eh importante temos também trazido para a conversa os líderes religiosos porque há uma há uma crença também e a palavra crença Talvez seja ind indicada aqui de que esta prática pode ter algum contexto religioso que não tem islâmico sobretudo mas que não tem eh não há provas de que Maomé o tenha mandado fazer a qualquer uma das suas filhas e não está no Corão isso isso também isso também sabemos dito isto é muito importante ter estes líderes comunitários e religiosos ou ao lado das ativistas e das Sobreviventes a dizer não e e e talvez a última linha da atuação que nós trouxemos para a conversa foi trazer os homens e os rapazes dizend porque se a prática é para lhes agradar a eles então eles é que têm que dizer nós não cremos Nós não vemos nisso nenhum benefício eu vi eu estive com um rapaz no Kenia eh que era um campeão contra a mutilação genital feminina e que nos contava que o que fez foi chegar a casa e dizer à mãe eu não me caso com uma mulher eh quem tenha sido feita a prática e a mãe discutiu com ele dizendo mas isso é absolutamente impossível tem que ser eh porque senão ela não é limpa não é pura a linha repita-se que uma mulher que não seja szada depois vai ter muita vontade sexual e pode eventualmente ter relações com outros homens que não o marido tudo crenças que são Dead sim sim sim mas mas mas que tem a ver exatamente com o controle dos do corpo das mulheres e e este rapaz respondeu à mãe assim sendo eu não me caso e a mãe fez um rápido cálculo de prestígio social e percebeu que era mais preocupante ter um filho que não se quer casar do que ter um filho que se quer casar com uma mulher inteira e portanto esta mudança de mentalidades também se faz recorrendo aos protagonistas ó Catarina ambos gostávamos que isto se pudesse eh fechar por decreto não é nós determinável H que é uma das alturas mais eh em 2011 em 2011 nos momentos mais importantes da minha vida não tenho a não tenho dúvidas nenhumas ficar a conhecer o país ficar a seus processos eh foi das coisas primeiro que mais morrou não é term sido o voto de representar asos Portugueses e as portuguesas é é profundamente [Música] h o simbolismo é muito real né simm Eu não me lembro da palavra em português que horror mas tornos Humildes não é é é uma coisa que nos traz que nos faz Humildes pensarmos que nós estamos ali apenas enquanto voz de um grupo de pessoas que voltou numa determinada agenda política mas quando trabalhei o tema no Parlamento também uma das coisas que nos preocupado é como é que a comunidade residente em Portugal vai perceber esta iniciativa e e e explicamos muitas vezes que não era com o objetivo de Os singularizar pelo contrário nós achávamos que as meninas e as raparigas eram todas tão importantes que queríamos protegê-las todas h e portanto eu acho que essa ideia conseguiu passar eh mas é muito é muito é muito complexo sobre papel dos homens há uma inovação feita pelo fap que é escola de maridos escola para maridos que há em alguns países africanos certo em que país é que há alguns deles e em que é que consiste Esta escola é uma é uma é uma experiência que fizemos em alguns países ali do sael e que tem que tem uma ideia H muito H tem tem uma ideia muito interessante de base ou muito simples de base que é nós precisamos que haja conversas sobre saúde sexual e reprodutiva sobre eliminação da violência eh Com base no gên sobre estas práticas todas e essas conversas não podem acontecer sem os homens mas nós sabemos que em muitos destes países homens e mulheres não falam sobre isto e então decidimos experimentar outra coisa que foi pôr os homens a falar sobre isto muitas vezes Catarina entre eles um efeito colateral mas muito desejado foi o facto de os homens começarem por exemplo a tomar melhor conta da sua própria saúde nestes países eles muitas vezes dizem-nos Ah eu não vou ao médico e vão ao médico quando colapsam enquanto que as mulheres como vão tendo crianças vão ao médico fazer algumas consultas eles não eles vão ao médico Quando caem redondos no chão um homem não fica doente Claro e portanto o pôr os homens a falar sobre a saúde das suas mulheres a educação dos seus filhos foi muito engraçado também para eles porque a saúde deles melhorou que eles começaram a pensar espera eu se calhar também devia ir ao médico e portanto eles conversam sobre estes assuntos em aula com mediadores treinados e depois saem do da aula conversam entre si e levam estas conversas para casa eh é um é um pequeno investimento é é transformador mas é daquelas transformações que demora muito tempo a acontecer e é uma e é um dos apelos que eu fazia mais a quem nos está a ouvir percebam que estes estas estes investimentos de que nós estamos a falar a transformação de normas sociais são investimentos de longuíssimo prazo portanto não fiquem ansiosos quando o resultado não aparece no ano seguinte aos nossos decisores políticos que nos possam estar a ouvir por favor percebam que isto não é o espaço de uma legislatura que faz com que a transformação aconteça são estas áreas que têm realmente que ser alvo dos Tais pactos de regime eu sempre ouvi falar de pactos de regime para a justiça para a defesa a área da saúde das mulheres precisa de um pacto de regime precisa de investimentos que sejam assumidos como para durar décadas não é não são o sabor do mês não podem ser o sabor do mês são aquelas áreas Catarina em que a falta de investimento provoca retrocessos quase imediatos e portanto H desculpa aqui a parte da da da campanha política mas eu acho que é muito importante que se perceba que transformar mentalidades demora tempo o papel e diário é garantir que estes cinco países Nos quais que representa agora eh em Londres a garantir que conseguem apoiar politicamente e também financeiramente o unfpa porque eh para quem não sabe é uma organização que é totalmente financiada por contribuições voluntárias certo totalmente H Portanto o seu trabalho diário é eh pode nos guiar um bocadinho para nós conseguirmos imaginar são reuniões são tentativas de colocação de certas expressões em compromissos políticos sim é é é um trabalho eh se eu se eu tivesse que resumir em três palavras ou três expressões é um trabalho de advoca não é em que eu estou constantemente a tentar mostrar aos governos a a vantagem de investirem E na saúde sexual e reprodutiva sociedade civil academia setor privado eh porque nós somos totalmente financiados eh por contribuições voluntárias recebemos algum financiamento das Nações Unidas para executar determinados projetos posso lhe dar um exemplo por exemplo estes apelos humanitários que nós vimos a parte da Saúde materna é executada por nós e portanto quando os estados contribuem para estes apelos Há sempre algo que vem para nós mas somos financiados por estados e e mas também recebemos dinheiro de Fundações dinheiro de privados e e temos notado nos últimos anos um grande interesse quer dos privados individuais quer dos privados empresas em se associarem ao nosso trabalho porque até as empresas já perceberam que tendo Justiça reprodutiva tendo licenças de maternidade tendo o planeamento familiar nos seguros de saúde que isso também ajuda a que as suas funcionárias e os os funcionários estejam mais felizes e mais produtivos mas dizer que há três palavras a advocaci é a primeira advocacia é a primeira a outra seria mobilização de recursos eu de facto estou sempre a a tentar perceber onde é que há possibilidade de mobilizar recursos para o nfpa e a terceira eu diria que são as parcerias nem tudo se tem que traduzir em dinheiro hh o o o o o a a visibilidade que se dá à à discussão um programa como este permite-me chegar a pessoas a que eu normalmente não chegaria Catarina e portanto muito obrigada porque é verdade não é eu eu eu acho que as pessoas são capazes de solidarizar com a com esta luta e com a com o trabalho que nós fazemos por todo o mundo se tiverem oportunidade de conhecer o trabalho eh o o o nfpa não está presente em Portugal tivemos cá uma atuação eh na déc no fim da década de 70 quando viemos com a Organização Mundial de Saúde ajudar a treinar parteiras a reformar as maternidades trou trouxemos durante muito tempo a o planeamento familiar as pílulas para Portugal mas há uma altura em que Portugal atinge um bem-estar e um e umas taxas de de saúde materna e de redução da mortalidade materna que faz com que fomos embora essas três categorias implica como eu dizia muitas reuniões muitos momentos de conversa e muita capacidade de negociação de gestão de diferentes emoções de diferentes interesses porque também os países estão em diferentes estados têm diferentes vontades H por isso queria que nos guiasse Mónica eh pelas características barra competências que são precisas para conseguir persuadir eh que a conseguir aquilo que quer que o que o un unfpa quer como é que faz nesses momentos que que estratégias é que usa para conseguir chegar àquilo que que é o vosso objetivo ora a a pergunta do Milhão de Dólares não é Ou melhor a pergunta que quando eu sou bem sucedida me traz o milis equação que chegou lá exato exato me traz o milhão de dólares eu acho que a a primeira eh a primeira etapa tem que ser sempre estudar ehh não se pode vir para uma reunião destas estudar o país e estudar estudar o país estudar ambas as realidades estudar não só o país onde eu estou a tentar mobilizar recursos e perceber quais é que são as áreas eh aos quais aquele país é mais sensível hh até pela história do país eh as lideranças são muito importantes eu sei que hh ministros diferentes eh têm sensibilidade a questões diferentes eh e portanto Nós também tentamos que para podermos expor as nossas questões haja alguma empatia com o nosso trabalho e portanto isso também é feito e depois estudar muito bem o caso que se vem apresentar Eh Ou seja eu se vier pedir dinheiro para um projeto que estou a desenvolver em Timor Leste eu tenho que conhecer muito bem o projeto que quero desenvolver e tenho que sobretudo mostrar e e se quiser posso falar de Portugal eh Portugal é muito muito sensível às questões da Saúde materna é é um país que investe com alguma generosidade em matérias que tenham a ver com saúde materna talvez pela experiência do país de em 20 e Poucos Anos ter Tornado num país com uma taxa de moralidade materna muito alta para se tornar no país do mundo onde é mais seguro está gravida e dar à luz e Portanto acho que Portugal sente essa responsabilidade de quem conseguiu fazer de ajudar os outros por exemplo a questão da mutilação genital feminina é um país no qual o país é uma questão na qual o país é também muito sensível e portanto eu tento apresentar os factos das nossas intervenções e mostrar como um investimento nesta área é verdadeiramente transformador novamente os dados novamente os dados estatísticas e os factos a seriedade da proposta uhum foi em 2017 que decidiu mudar-se para Genebra tinha uma carreira bastante consolidada como eu dizia no início era professora Universitária foi deputada do PSD e também coordenadora do grupo parlamentar sobre população em desenvolvimento era comentadora aqui e na RTP foi secretária de estado eh da defesa e mas nós conversamos uns meses a seguir à sua ida para Genebra e na altura sobre o novo desafio sobre o novo desafio dizia-me há uma espécie de vazio que a partir de certa idade vem que sabemos como domar Mas também sabemos como o preencher estava lá essa vontade de arriscar perguntei muitas vezes se não devia ter respondido a esse apelo interno que eu tinha mais cedo e gostava que me relembrasse que apelo era esse que apelo é que tinha que sentia que apesar de toda uma carreira muito considerada eh havia ali qualquer coisa que faltava ocupar ha lembrava-se desta frase ou não não mas mas estava a fazer emocionar agora com isso hh não é uma decisão assim das mais frequentes não é com 44 anos Muda de Vida literalmente não é e quando toda a gente me diz olha que pode correr mal a minha questão era sempre então isso corre bem Mas Era exatamente isso era a sensação de que eu poderia dar mais dar mais eu poderia fazer outras coisas noutros sítios torna suficiente fazer acontecer sim sim sim sim daí daí eu dizer que gostei tanto de estar no Parlamento porque eu senti que dentro do do do do limite do que me era possível eu fiz o melhor que pude eu tentei de facto fazer com que os meus dias tivessem significado e e e e e e quando decidi-me candidatar a às às Nações Unidas esta organização na qual eu trabalho para começar era aquela com que eu me identificava mas foi também a sensação de Hã eu eu posso continuar a fazer mais não é eu poss estar um bocadinho mais de mim lemb daquele lembra-se daquele dia em que decidiu candidatar-se lembro-me e como é que foi leva-nos a esse dia lembro-me Recebi uma mensagem eh a avisar-me de que o lugar tinha aberto eh e a minha primeira reação era um lugar que tinha estado sempre aberto H eh para funcionários do do fundo não é nós rodamos e quando rodamos rodamos para sítios onde temos escritórios e portanto esse era era o historial deste lugar e alguém e e recebeu uma mensagem a dizer olha que não o lugar Este ano tá aberto a candidat externos eu conhecia muito bem a a a a minha antecessora a Lana de quem era de quem era muito amiga e de repente pensei porque também trabalhava com ela também com aquilo que fazia no Parlamento exon coordenava também tinha já várias ligações ao unfp exatamente Aliás a paixão vem-me exatamente daí vai-me do trabalho que eu fiz com a Alice Frade da pd Factor do trabalho que fui fazendo com com a Alana do escritório de Genebra aliás fizemos coisas nessa altura também e e eu sempre achei que havia qualquer coisa dentro de mim que me fazia pensar eu posso ir ajudar ainda a fazer mais não é eu posso ir eh eu posso ir ajudar a transformar algumas destas eh ideias na realidade eu posso ajudar a pensar como é que eu hei de conseguir portanto não tive aquele síndrome do investor de se calhar não é para mim tive quando lá cheguei tive quando lá cheguei quando lá cheguei a primeira coisa que eu pensei foi é agora que vão perceber que eu não percebo nada disso mas foram longos meses de processo de entrevista não foi foram este estes estes processos são sempre altamente competitivos Há muitos candidatos M inte no mundo inteiro e são e e TM várias fases não é como era um lugar de direção H já pressupunha que fizéssemos simulações entrevistas de competências etc eu fui passando cada uma das fases H alimentando a esperança não é nós nós começamos a achar porque não isso correu bem não é e depois aquilo cada etapa vai nos alimentando até que chega a uma altura que Nós pensamos eu agora quero mesmo isto e isso foi já na fase final eu comecei a pensar eu eu gostava mesmo disto porque entretanto durante as entrevistas Catarina a gente vai pensando porque Vão noos fazendo perguntas não é então se tiver que fazer isto ou se tiver nesta situação começa a ver naquele lugar e começa a achar que as respostas que tenho fazem sentido não é e depois pronto depois é gestão toda da família não é e avisou as suas filhas durante o processo de candidatura ou só quando ganhou Só quando só quando ganhei o lugar só quando ganhei lugar e tivemos duas reações eh totalmente emocionais a Carlota que tem 19 anos agora e que tinha 11 sim na altura tinha 11 e que não vai gostar do que eu vou contar agora mas a Carlota eh opôs-se à decisão dizendo que eu tinha violado a convenção dos direitos das crianças que dizem que a opinião da criança tem que ser ouvida eh em situações que a afetam mas de informação também faz mal às vezes tá vez pronto pronto essa foi exatamente a resposta do pai a culpa é tua Tu é que lhe ensinaste isto mas a Carlota foi pronto e uma vez eh confrontada com a decisão a pergunta seguinte foi posso levar os meus livros pronto aitana que também é sempre a pessoa de Inteligência Emocional que percebe como é que aquela situação pode ser tenta perceber como é que aquela situação pode ser virada a seu favor perguntou se podíamos ter um cão e mas também não não foi um um desejo aceite não foi um desejo Aceito mas o entusiasmo delas também foi crescendo porque foram percebendo porque foram começaram a conviver com o meu trabalho e e começaram a perceber H os investimentos que nós fazíamos né Eu acho que elas passaram por uma fase Catarina em que primeiro ficaram muito chocadas com a realidade que eu trazia todos os dias para casa para depois começarem a perceber algo que elas fazem na vida delas elas são duas ativistas e fazem sempre a mesma coisa quando acham que há uma grande injustiça informam sobre a injustiça procuram outros que pensem como elas e depois partem para ação e fizeram isto em várias coisas hh ao longo da vida delas inclusive quando querem eh negociar qualquer coisa com a mãe Eh e ou com o pai mas mas a verdade é que isto dá muito mais confiança porque eu vi que é possível hh educar crianças para este valor para a empatia não é e depois em contextos como Genebra havia muitas crianças que também tinham ido com com os pais com as mães calhar mais com os pais do que com as mães que tinham encontrado trabalho eh fora não é sim a Carlota conta aqui uma vez na na sala dela a professora perguntou quantos de vós Se mudaram para Genebra porque o Vosso Pai arranjou aqui trabalho todos menos ela a Carlota era a única que tinha sido por causa da mãe Eh mas mas elas estão é uma grande inquietação eu sei para quem pensa a mudar de vida e a e mudar de destino e de país e e levar a família consigo as crianças têm uma capacidade de adaptação muito maior porque tar migrante aos 44 anos também tem custos que não foram que não vinham no no contrato os curos sociais os curos sociais são muito grandes os curos emocionais é perder alguns momentos como aniversários por exemplo ficar ficar longe da família mais próxima longe dos am é mas mas a verdade é que a minha vida não era aqui não é e portanto eu tinha que vir sempre de viagem mas mantive-me sempre muito muito próxima do país até porque continuei sempre a trabalhar com com Portugal eh e porque hh dentro da organização não havendo assim tanta gente que fale português eu continuo a ser um recurso importante para a nossa ligação com Portugal e com outros países de de língua portuguesa eh mas mas sim eu eu eu diria a toda a gente que vale sempre a pena arriscar e e por isso me gera algum hh algum desgosto a H ver h a facilidade com que hoje se fala contra a migração com que com que se coisifica a imigração não é precisamos de imigrantes Porque precisamos de mão d’obra não não é por isso porque precisamos ter mais crianças e por isso eles chegam aqui e têm mais filhos e por isso também não é essa coisificação é muito desumana não é porque nos estamos a esquecer primeiro que por todo o mundo há muita gente migrante não é todos nós que trabalhamos no sítio onde nó nascemos somos migrantes os portugueses sempre foram Imigrantes sempre sempre Todos nós temos a nossa família histórias e se isso nos dá não nos dá tal empatia e a nossa capacidade relacional Deve nos permitir perceber eh que 8000 milhões de pessoas no planeta a maior família humana de sempre há espaço para todos há espaço para todos que há países que estão a lidar com fenómenos populacionais diversos não é nós na Europa há mais de 30 anos que temos menos filhos do que aquela aquele slog bonito da taxa de substituição que não existe é os 2.1 2.1 é é uma mitificação daquela que será a taxa ideal as pessoas devem ter o número de filhos que querem Essa é a taxa eh ideal mas e portanto o mundo todo em equilíbrio resulta não podemos é continuar a achar que há espaços que são reservados a um e espaços que são reservados a outros mas até o facto de haver poucas crianças é um argumento usado para mais uma vez coisificar também a a mulher não é até porque há muitos movimentos de direito conservadora e mesmo de extrema direita e que temem uma eventual teoria da substituição com os imigrantes que nos países chegam e depois têm mais filhos e que portanto eh denunciam ou dizem que a solução passa pelas mulheres nacionais eh se voltarem a a pôr num lugar mais eh do Lar mais recatado para conseguirem então ter mais filhos e e recuperar no fundo a falta de de crianças que existe é é mulher é mulher dona de casa não é aliás nós temos temos dito muitas vezes que a forma como nós estamos a tratar a questão a pergunta é errada a gente não deve perguntar às pessoas quantos filhos é que elas têm devemos perguntar quantos filhos é que elas querem ter ou se têm o número de filhos que querem ter porque como a Catarina está está a dizer se nós nos focarmos nos números o problema e a resposta têm sempre a forma do corpo de uma mulher somos muitos impedimos as mulheres ter filhos somos poucos forçamos a mulher as mulheres a ter filhos e nós temos exemplos por todo o planeta durante a história recente da humanidade de como é que isso se faz isso faz-se violando direitos não se faz CONSEG grand grand direitos se nós dermos às mulheres a capacidade decidir e se dermos às mulheres as condições para que elas possam eh realizar a fertilidade desejada eh vai haver um equilíbrio muito e muito melhor a nível Global porque as pessoas querem todas mais ou menos o mesmo as pessoas querem todas eh poder realizar os seus sonhos às vezes há pessoas que querem ter cinco filhos outras querem ter um outras querem três e isso a mim já não me interessa a mim interessa-me que elas me digam eu tenho o número de filhos que eu quero e numa organização como a ONU eh que promove os direitos humanos e que que tem os direitos humanos na sua base também há espaço para o machismo eh para uma mulher que é diretora hh Digamos que as mentalidades também demoram também demoram a mudar no início era H aquele fenómeno do do man sping não é de de me explicarem ou de explicarem o que eu queria dizer e eu reunião por exemplo numa reunião por exemplo eu notei que que havia algum cuidado eh porque também era a primeira vez que eu trabalhava para as Nações Unidas e portanto eu Eu muitas vezes não usava o jargão ou não usava o a expressão que se tinha convencionado usar e portanto fui ouvindo algumas tentativas de explicação do que eu estava a dizer ajustadas a à linguagem da ONU pronto eu essas fui tolerando as outras há uma altura em que se tem que dizer acabou não há mais não não precisam de me fazer e é por isso que há várias estratégias de nós nos empoderar mutuamente nós temos dentro do fundo das Nações Unidas para a população paridade total e não é paridade só nos lugares inferiores ou paridade só nos lugares superiores porque há muitas organizações que conseguiram a paridade nos lugares h mais baixos da organização e há outros que têm paridade só nos níveis superiores Ambos são tentativas de mascarar nós temos paridade toal parid não acaba com os estereótipos não não acaba-se comos estereótipos mas ajuda quer diz nós temos paridade de género temos uma representação racial quase iG quase e equitativa também temos uma grande representação eh deliberada também eh de pessoas com identidade de géneros não binárias e e portanto nós nós fomos fazendo o nosso caminho agora a a a pergunta a resposta é sempre a mesma tem que ser intencional estas coisas não acontecem por acaso e portanto com a presença alguma normalização mas não acabam estereótipos isso claro que não gostava também ainda de lhe perguntar se enquanto esteve deputada enquanto esteve secretária de estado também aí eh havia um olhar diferente sobre si sim eh sobretudo por ser mulher sobretudo duas dois aspectos eu falo muito com as mãos e falo muito com o corpo e portanto toda a gente achava que eu era muito emocional que eu era muito eh apaixonada pelo que fazia eu digo sempre a mesma coisa se fosse um homem era assertivo eh e intransigente não é afirmativo mas como era uma mulher era a paixão e a emoção e depois também alguns comentários não solicitados sobre a forma como eu me vestia eu tive um deputado referir-se a um relatório que eu apresentei como um relatório fio dental eu acho que não lhe teria ocorrido usar esse comentário se fosse um relatório apresentado por um homem e portanto estamos a falar do Parlamento em 2015 é claro que recebeu uma uma pateada uma vaia do Parlamento em geral mas a verdade é que houve um processo mental nele que o autorizou que o legitimou me fazer o comentário uhum e portanto este há de ser dos momentos menos menos glorificante da minha passagem pelo Parlamento como é que se lida com isso depois É continuando e tentando perceber que não é sobre si que é sobre um uma ideia uma dinâmica continu continua instalada sim isso ajuda isso ajuda quando nós percebemos que infelizmente não é pessoal porque se fosse pessoal era só comigo não era com as mulheres todas não é mas sim há há um há um caminho que se tem que fazer eu sou muito impaciente Eu acho que já lá Devíamos ter chegado acho que já lá Devíamos estar acho que as nossas jovens eh não nos vão perdoar se nós continuarmos a dizer é um projeto de futuro não é é igualdade é uma realidade que está ao nosso alcance tem é que ser construída e tem que ser intencional não é algo que vai acontecer com processos naturais a ideia do processo natural confesso que me causa alguma eh Formigueiro na pele uhum Mónica para uma mulher independente como a Mónica é dona da sua vida que trabalha estes temas do do empoderamento feminino e do feminismo e que aqui o vive na prática pergunto-lhe para si o que é que lhe falta enquanto mulher para se sentir verdadeiramente empoderada tempo falta-me poder gerir o meu tempo eh de forma a que eu possa eh mas aí a culpa é muito minha não é Uma das uma das pessoas com caem eu trabalho diz-me que eu sou uma work hóa em recuperação H A verdade é que eu gosto muito do meu trabalho identifico-me muito com o meu trabalho mas eu mas Catarina eu sinto sempre que ao longo da minha carreira tive que trabalhar mais do que os homens para mostrar o mesmo valor e portanto neste momento falta-me eh tempo eh e falta-me a capacidade de me imaginar não trabalhando eh falta-me isso uhum muito obrigada Mónica por esta conversa já sabem que trazemos sempre diferentes protagonistas para nos fazer pensar para aprendermos algo novo também para concordarmos ou discord armos Este é um espaço de liberdade para todas as pessoas eu sou a Catarina Marques Rodrigues a dona desta casa que é vossa Claro a cada duas semanas à terça na RTP Play no Spotify Apple podcasts e em vídeo no YouTube da antena 3 e também nas redes sociais nas minhas e também nas da antena 3 obrigada por estarem desse lado e até ao próximo episódio