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eu choro quando vejo a dimensão do teu sacrifício o Ofício de ser perfeita que não passa de um suplício se não fosses tão forte estarias acamada num hospício as palavras são de din de Santiago na canção Badia as mulheres caboverdianas são inspiração preocupação e admiração na sua arte e na sua vida é um caminho feito pelas mãos e pela magia de mulheres a mãe Andresa a avó Teresa a irmã Lígia a diva Cesária Évora o icon Amália Rodrigues a estrela Madona a sobrinha Eva a designer Alexandra Moura tantas que o incentivaram no palco que o vestiram de emoções que lhe deram matéria para brilhar para ele e para elas para mudar a vida de metade da população é preciso apoio da outra metade é preciso Um olhar cuidado atento porque as mulheres têm também várias camadas várias discriminações acumuladas diferentes contextos muitos em que as oportunidades são definidas por todos menos por elas hoje temos um Apaixonado p Liberdade pela diversidade e sobretudo um apaixonado pela licencia feminina de Santiago bem-vindo que introdução incrível Catarina olha senti-me mesmo bem-vindo sentiste aqui nestas palavras porque senti-me senti-me a Maravilha é que a introdução a Badia foi ou seja foi uma reinterpretação de uma canção que o valet tinha escrito num num tema e com um grupo brasileiro h e eu disse não isto isto é tão poderoso que isto pode dar uma canção real Hã e ele foi incrível e deixou-me deixou-me reinterpretar a canção e trazer para o lado eh que eu certo que eu acho e por isso é que ouvir essa essas letras e depois as mulheres tu mencionaste não é fazem aqui todas partes do teu percurso da tua vida do teu percurso que não é só música é também desenho pintura eh arte nos seus vários eh nas suas várias possibilidades e começava mesmo esta questão das mulheres cab verdianas e daquilo que são os papéis de género tu nasceste no Algarve és Dino de Santiago por causa das tuas raízes familiares Mas tanto no Algarve como nas tuas idas a Cabo Verde sempre observaste a forma como as mulheres caboverdianas estão sempre à frente naquilo que é o trabalho duro mas depois naquilo que é as decisões até sobre si próprias ficam sempre atrás quando eu menciono todas estas mulheres e todas estas durezas O que é que te vem à cabeça de exemplos práticos eh desta desta discriminação no fundo vem sem dúvidas a minha mãe vem logo assim à cabeça H por tudo o que eu vi por tudo o que assenti eh vi ver os dedos os dedos cheios de pus de tanto lavar e desfogar nos no no nos restaurantes a loiça de de de estar a trabalhar primeiramente num num hotel neste caso era o Hotel Altis onde ela era empregada de limpeza e de repente ter um um um patrão que se insinua a ela e diz que vocês em África faziam mais do que isto E ela perceber claramente que aquilo já era o assédio sexual claramente mais do que isto foi mesmo ela ela sentiu e despediu-se automaticamente e a minha mãe sempre teve esse esse esse brio e essa e essa nunca levou desaforo para casa e e no primeiro momento em que deixa o filho na escola no segundo ano tem uma professora professora logo na segunda classe e no momento em que eu tou distraído diz lá cala-te preto e nós éramos alguns eh alunos negros na turma e olhamos todos para a frente porque afinal estávamos quase todos virados e de costas e ela estava a olhar para mim fixamente eu chego a casa fiquei em silêncio cheguei a casa contei a minha mãe ela foi à escola e automaticamente a professora foi foi despedida felizmente na Francisco de Aragão H mas a minha mãe sempre foi essa essa essa mulher Hum que ao contrário de de do que referi a minha mãe sempre tomou as as rédias mesmo em casa o meu pai a minha mãe é a rainha tudo é para ela teu pai te dizia não façam mal à minha esposa porque ela é a minha prioridade certo mesmo se cois vocês é que saem e Então e nós M estou nor os filhos acima de tudo claramente e mas ali ele Deso estava a rainha dele para ele era a rainha dele e se calhar se fosse ao contrário a minha mãe não diria o mesmo é seriam os filhos dela ai de quem tocasse nos filhos então na na na minha vida Eu sempre tive assim mulheres muito fortte a minha irmã sempre é mais nova mas sempre reivindicou muito o seu espaço foi foi foi a única a formar-se h nós trabalhávamos e em Vila Moura durante os o período de férias da escola e a minha irmã ficava em casa mas cobrava noos Ou seja eu limpo as vossas coisas o quarto e tudo e etc mas vocês têm que me dar um um valor e nós lá pagávamos a lija a minha mãe sempre fez questão que todos nós levássemos a loiça por ordem ou seja de quem nasceu primeiro eu fui o primeiro a lavar depois o ilija depois a lija e nós sempre o xixi sentado para não H molhar a a tampa da sanita para que ela depois nem ela nem a minha irmã fossem afetadas com isso então H sempre foi sempre foi uma família muito matriarcal e a minha avó é o Pilar desse matriarcado tua avó TR aliá até teve direito a uma canção e tudo que se todas elas tiveram todas elas tiveram brava a minha mãe teve a mamã em 2008 e a e a Eva teve direito a um álbum mesum o primeiro álbum a solo que agora 10 anos depois reinvent ase com com outras canções e essas mulheres que limpam os escritórios que limpam os hotéis Eu costumo chamar de mulheres invisíveis porque fazem um trabalho que é super necessário para a nossa vida diária eh e para nós estarmos confortáveis naquilo que fazemos mas que cujo papel não se vê de forma ativa eh Essas mulheres são muitas vezes imigrantes mas são também as mulheres que estão aqui próximas de nós em bairros como por exemplo a cova da amoura eh tu tens muito também essa experiência de ver a mulher que em plena Lisboa de 2024 ainda continua a ser muito subjugada e com funções Eh que que T pouco reconhecimento por parte da sociedade mas que são super importantes por exemplo as mães da cova da amoura que são amas de todas as crianças do bairro É verdade as amas da cova da da cova da Mora que finalmente no ano passado viram graças a uma reportagem muito bonita da mensagem viram o seu estatuto de ama a ser finalmente reconhecido e legal eh Porque até então foi sempre de forma clandestina e agora aí a importância a vossa importância de existirem e jornalistas claramente tinham que ser mulher jornalistas mulheres a trazerem isto à tona e a conseguirem esta reivindicação e daí a importância do do do vosso trabalho e eu não precisava de sair da minha história para ter vários casos como este por exemplo eh duas senhoras eh a ginha e Ananda que estavam no momento em que eu recebi eh três prémios da música portuguesa Play elas eram as senhoras que limpavam o o Coliseu eu já as tinha visto várias vezes por muitos espetáculos que lá tinha estado mas foi primo primeira vez que tive a oportunidade realmente nesse dia em que elas achavam que os prémios ou seja aquilo era só sobre mim porque de repente vai din uma vez vai duas vai três então elas depois como viam pessoas a passar diferentes com o prémio na mão estranhavam e tudo e eu e eu no final eu disse-lhes olha vocês vão vão comigo para para a passadeira porque elas estavam sempre a limpar a passadeira para a próxima pessoa e elas não não nós não podemos eu não podem sim quando acabar isto tiram as vossas batas e vêm comigo para a passadeira cada uma comentou fiquei com um prémio elas ficaram com como eram três cada uma ficou com o seu uma de Cabo Verde uma da da Guiné e o orgulho delas naquele momento porque eram um filho hh eh como se fosse um filho delas a receber e a proporcionar-lhes aquele momento e eu só na nostalgia porque consegui ver a minha mãe claramente numa daquelas mulheres que no silêncio vão limpando tudo para que todas as pessoas que são consideradas gente possam eh desfilar pela vida enquanto elas estão ali na sombra e esse esse ato tem muito também de simbólico porque é feito por uma pessoa que já tem essa experiência e portanto pensa nisso automaticamente se calhar quem não tem tanto essa experiência não o Faria dessa forma mas também esse trabalho das mulheres negras hoje em dia é também a base da emancipação de muitas outras mulheres ou seja as filhas exatamente as filhas e também ao contrário que são também as mulheres negras que limpam hoje em dia por exemplo as casas de outras mulheres negras que são empresárias que come começam a ter uma vida enfim corporativa etc eh e por exemplo em Cabo Verde há muito uma questão agora um debate que se tem feito que é e a forma como as mulheres negras que limpam as casas das outras mulheres negras dedicam-se tanto que estão também a tirar tempo por exemplo à família e e aos filhos que depois são obrigados a estarem Vidas Mais ligadas à violência porque a sua mãe está ocupada a cuidar dos filhos e da vida de outras mulheres que estão a alcançar o sucesso on parece que é sempre o sucesso de uma mulheres à conta de outras mulheres também no final da pirâmide vai est sempre uma mulher negra e é impressionante a repetição histórica que que se vai reproduzindo por exemplo eu conheço uma grande artista no Brasil que é preta Rara e ela foi empregada doméstica editou um livro precisamente sobre vários relatos de empregadas domésticas que lhe foram fazendo no Facebook e ela editou um livro que foi muito importante no Brasil porque o que é que acontecia a mãe dela também foi empregada doméstica e quando morreu os filhos da senhora que que era a sua patroa choraram mais no funeral do que ela própria que era filha biológica porque ela cuidou mais daqueles meninos dedicou mais tempo da vida dela aquelas crianças e os filhos dela ela quase não não não via então isso mostra a realidade eh Cruel que acontece também por cá em Portugal ou seja são muitas hã eh destas mulheres com continuam a ser as cuidadoras são muitas as Marias Hum parece que é o nome mais comum nelas e e em Cabo Verde não não não poderia não poderia ser diferente em Cabo Verde em Angola em Moçambique os vários amigos e amigas que eu tenho H empresários e bem sucedidos têm sempre uma uma uma Maria em casa que cuida dos seus filhos dá o banho passa mais tempo com eles dá o afeto que muitas vezes os próprios pais não conseguem dar e mas os filhos estão órfãos de mã de pais e mães vivas né Sim tu sobre a tua mãe sobre o facto dela ser cuidadora disseste uma frase que eu achei super interessante e acho que as pessoas que nos estão a ouvir vão se relacionar com esta frase que é sempre que vou a minha casa a minha mãe continua a ser a última a comer eu acho que isto é muita figura da mãe a minha mãe também é assim nós às vezes dizemos mãe senta-te e come aproveita aquilo que tu próprio cozinhasse Mas tu dizes oá sobre a tua própria frase porque é mesmo uma frase muito às vezes nós estamos aqui tentar a descrever imenso aquilo que é uma mãe e é isto é uma mãe Isto é a tua mãe isto é uma mãe é a minha mãe continua a ser hum e a mesa tá cada vez mais cheia não é Ou seja eu já tenho dois filhos o meu irmão outros outras duas e a lija mais mais dois filhos também e de repente todos nós Naquela Mesa a preparação daquela comida toda e e ela a sorrir e é sempre realmente a última eh a sentar e mesmo sendo a última a sentar consegue ser a primeira a levantar-se para ainda levar tudo para a cozinha para que para nos proporcionar o momento de nós como irmãos e netos e filhos podermos estar juntos e a rir e tu estás tão distraído eh no privilégio de já teres aquela pessoa que sempre o fez que quando reparas não Consegues reparar na própria injustiça que que está a acontecer ali com aquela pessoa doa-se eh não pede mais do que aquilo mas custa-lhe nós às vezes insistimos mãe senta-te só para nós para nós e para nós é melhor senão ninguém começa e às vezes ela lá lá se senta mas num abrir e fechar de olhos ela já tá de pé outra vez parece que aquilo é mais forte do que ela é um papel que que ela que ela herdou É verdade Dino vamos falar sobre racismo e que é um tema que eu acredito que já estejas às vezes um pouco cansado de falar porque parece que é um fardo colocam sempre em cima de ti mas eu acho que isto é um um momento oportuno para isto também H em 25 de abril de 2022 tu participaste nas celebrações eh desta data cantaste no Palácio de São Bento a residência oficial do primeiro-ministro e na tua atuação usaste uma camisola que dizia Preto estás na tua terra a audiência era maioritariamente branca como é representação H enfim exatamente e e política e gostava te perguntar ainda te dizem isto para ir para a tua terra ainda te dizem vai para a tua terra não infelizmente ainda infelizmente Ou seja já é diferente Ou seja em miúdo ouvi muito isso jogando futebol agressivamente não é não era só prit vai para do Terra era muito mais agressivo do que só Claro claro começa aí e vai até mas nós felizmente quando tu és adolescente aquilo parece só um insulto hum do do desporto ou seja normaliz algo tão e que merece ser condenado porque não tens não não não não conheces melhor eu não conhecia melhor eu sempre ouvi isso na escola nas brincadeiras sempre do outros Miúdos Ou seja a pessoa tentava sempre pegar se fosse da etnia cigana tipo cigano de merda se fosse havia sempre esse não rar óculos ou porque era baixinho ou porque era gordinho isso mesmo tavas o aqui a única gravidade é mais porque quando quando é uma pessoa negra tu só pegas pela ou seja pavas numa característica não é tipo boca grande nariz grande ou olhos não sei quê ou cabelo Isto ou Aquilo mas não é é cor porque H sabe–se realmente que aquilo é ofensivo na forma como a própria pessoa vai ver e olhar para a sua pele Porque nós não crescemos h a amar a pele que vestimos e sempre crescemos a tentar camufla de alguma forma para que ela não fosse tão explícita e precisamente por isso pelas pelas pelas várias microagressões que não é com uma forma de estar eu tinha pessoas da minha família a dizer e pá não vais mais à praia tipo já tá bom Claro tipo agora daqui a nada ninguém te vê não então tu cresces com estas coisas e aquilo traumatiza Tu ficas a se calhar É melhor então eu cresci durante muito tempo eu não gostava de ir à praia e felizmente foram as minhas namoradas a puxarem por mim tipo não vai um BO não anda bora à praia porque quanto mais branco ou menos negro e melhor ainda menos isso menos sero isso menos menos insultos imagina até até as raparigas sendo elas e caucasianas ou negras gostavam do molato ou seja do do mestiço que na altura chamava-se mulato vou falar na linguagem hoje em dia é mesmo é crime também já quas sim sim sim mas pronto mas para nós percebermos O que é que mas percebermos do que é que estou ou seja traduzindo-se e transportando-o para aquele tempo era mesmo latom mulato mulata não havia mestiço não havia e está-te a falar o Dino adolescente hoje em dia não com esta com com o que eu sei e com o que a vida já me já me mostrou mas deixavam graça era aquela mistura não era uma coisa assim exótica e tal h e e porque todos os que se aproximavam da minha TZ garantidamente eram pedreiros jardineiros H estavam sempre em trabalhos de muito esforço pá e e infelizmente são eram as pessoas que e para a sociedade e para quem se queria sentir atraída por um por um por um rapaz com a minha TZ hum a garantia de que pá se calhar não vai ter carro se calhar não vai ter isto se calhar ou seja e a ascenção social não deve ser assim tão boa então já Perdia o interesse e eu via isso acontecer na minha escola P com qu vai dar para ter grandes conversas não S já nem entro na na na questão da Inteligência porque essa até era menos era mais a questão física Porque isto é fio de se dizer mas é verdade muitas vezes havia esta esta preconcepção sobre capacidade mental no sentido de profissional de conseguir cer tu mais ouvias eraa preto burro ou seja a expressão era preto burro vai para a tua terra ou não se e e mas infelizmente No que diz respeito a relações conjugais Não era essa a questão não vinha a questão da da ISO era era mesmo hã associar o tom da pele a pensares logo ou seja economicamente isto não vai funcionar e a dificuldade que eu vou ter para apresentar aos meus pais porque depois haviam Imagina eu cheguei a ouvir isto em Angola e cheguei a ouvir isto em Cabo Verde Então nem preciso de chegar a Portugal filha sou para te relacionar é com homem branco não é com homem negro senão nunca mais vais aender na na na na Ou seja a tua cxa nunca mais vai vai vai ou seja começa a purificar olha as expressões com as mulheres negras não é Ou seja arranja um namorado que seja branco isoo e depois pior do que isso em Cabo Verde ainda h de forma muito Sutil h a questão de tu seres bem mais Negro aproximava-se do continente quando as pessoas de do continente africano quando as pessoas do arquipélago queriam sentir mais próximas do ocidente então há muita muita muita muita eh infelizmente felizmente começa a haver menos mas ainda há muito essa essa quase que prepotência uma herança também de que o ser português ser mais próximo do Branco português é é ser mais bem visto ter mais sucesso ter mais hipóteses de historicamente h h h a gravidade de os o povo cá verdiano ter sido utilizado como capatas em Angola em santomé em na Guiné ou seja porque eram os que tinham mais e cruzamento com os portugueses então o facto de já haverem muitos cavard deanos misis Nados fez com que esses eram eram as pessoas que realmente eram os contratados para depois e estar do lado de Portugal no na na nas ex colónias uhum olha vamos falar também sobre uma dimensão que eu queria muito falar contigo que é eh sobre um conceito que não existe que é o conceito de racismo inverso vou explicar porque é que não existe porque a escravatura o tráfico de pessoas negras foram definidos com base num sistema de de poder de opressão racista em que as raças eram hierarquizadas digamos assim os negros como sendo uma raça menor e também estou a usar novamente palavras que se usava na altura como como a palavra raça portanto os negros como sendo uma raça menor e os brancos como sendo superiores e é daqui que vem o racismo por isso é que não há racismo inverso porque não há um sistema de poder que coloque que tenha colocado historicamente os negros como superiores eh Aos aos brancos não há essa estrutura Histórica de relações de poder agora apesar de não existir racismo inverso e isso já clarificar há movimentos para o black há ativistas pelas pessoas negras em Portugal que TM uma uma agenda que chega a definir que até eh o grupo de amizades por exemplo que as pessoas negras devem ter deve ser o mais negro possível portanto um negro que que de facto está consciente da sua realidade do seu passado histórico deve também tentar que o seu círculo e siga a sua origem isto e isto é verdade agora dizias que não quera mentira não não eu vou te explicar Imagina eu fui vítima desse desse desse Lobby dessa agenda sim e dessa agenda e que infelizmente como como é uma agenda muito hã dominada por pessoas da academia São pessoas que muitas vezes nem sequer sabem o que é que é vida num bairro social nem sequer sabem o que é que é realmente ser aquela mãe que está ali todos os dias a a fazer um do 3S quatro arranjar seis trabalhos para conseguir e e garantir hum a sustentabilidade daquela família porque muitas vezes são famílias monoparentais onde quem fica é só somente a mãe e e eu entristeço-me quando eu percebo que as pessoas para terem razão e para que a agenda eh que estão ali a defender aquela tese eh vá adiante esquecem-se que realmente há ali uma questão financeira e uma e uma questão social H que que coabitam naquelas famílias que essas famílias não têm tempo para pensar em racismo Ou seja a minha mãe o meu pai nunca nos falaram sobre racismo porque a labuta era tanta e a vontade de de nos deixar com um prato na mesa de não nos faltasse nada eram tantas as as várias batalhas que iam tendo que não há tempo para falar de racismo ou seja quem tem tempo para falar de racismo é realmente quem sofre mesmo de racismo nem fala começa logo por aí felizmente os brasileiros vieram e com a vinda dos brasileiros em massa e com muita noção que que o Brasil tem do do lá está do exercício de ser um cidadão e dos direitos que um cidadão tem aumentaram e muito as queixas de racismo mas vindo do spop foi rara a queixa que foi apresentada por racismo Ou seja a pessoa já já normalizou aquilo infelizmente e agora com o Brasil acho que finalmente vamos equilibrar a balança mas tu olhando para para essas agendas ou seja se for com eu sofri com o o muitos amigos brancos ou então agora só fala sobre pretos dos dois lados da trincheira um É porque fala demais do da da cultura Negra e do outro lado é porque só tem ele tem bué amigos brancos por isso é que abrem as portas abrem eu sou uma pessoa pessoas conhecidas não é também atrizes nem precisa ser nem precisa ser estás a ver é é o meu grupo de amigos ou seja não é eu venho da minha infância e e na minha infância realmente em quarteira se tínhamos mais mais de 40 nacionalidades na minha na minha escola imagina não é Ou seja não não haviam estas questões do racismo assim de forma gritante Não havia não havia essa agenda havia o racismo a acontecer sistémico mas que nenhum de nós interpretava como racismo porque não tínhamos conhecimento não tínhamos essas bases para nós era simplesmente miséria somos Miseráveis pobres ou seja há pessoas muito ricas que vêm de Vila Moura etc mas nós tínhamos amigos muito ricos tínhamos amigos pobres depois no desporto sabes que começam e tá tudo junto e misturado é uma cachupa pois e eu quando olho para a minha infância e os amigos que me ajudaram o Anderson do Brasil a Joana pessoas caucasianas o Miguel e de repente eu agora fazer a minha agenda de só ter os meus amigos negros porque sim eu não gosto de todas as pessoas negras que existem e nem tenho que gostar como não gosto de todas as pessoas brancas que existem porque não tem que gostar eu gosto de quem eu gosto não é E tu perdes o direito à tua subjetiv idade porque tens que servir uma ag a não não podes namorar com uma pessoa branca ui não pois is Será que ISO eu agora ia aí porque tu tens dois filhos com duas mães brancas O segundo é com a com a tua esposa h e também ia te perguntar sobre isso que é se também ouviste isso que é namorar com uma branca e depois o ter o filho com uma branca e depois de que cor é que o filho vai ser Felizmente eu não tive as pessoas não têm coragem de dizer as únicas pessoas que me disseram foi no Brasil e e eu depois tive que entender a a visão delas ou seja cada vez que um negro h no Brasil conseguia algum sucesso na sua área a primeira coisa que acontecia era ter uma mulher branca loira mas depois ia para a favela e tinha filhos com mulheres negras mas na hora de aparecer na fotografia H então elas deram vários exemplos eu tipo eu achei aquilo surreal e disse olha a realidade em Portugal posso dizer que é Complet completamente diferente estou aqui com uma pessoa que viu-me com ranho no nariz a contar questões ela não conheceu o Dino artista ela conheceu o Claudino ali e a ver quem é que pedia à mãe quem é que pedia ao pai então pronto Essa não é a minha realidade mas eu tenho que ouvir o que acontece deste lado do do Oceano para reinterpretar o que acontece do meu lado para eu ver se alguma vez na minha cabeça pensei Ai não tem que ser com uma pessoa e jamais não é então interesse porque te interesse é isso love eu interessei-me porque me interessei e lá está e tive os meus traumas quando me apaixonei ah por primas enfim e e e depois não então pronto olha todas as pessoas negras são minhas são pronto são família não vale a pena Até ter ido para Cabo Verde e ter mudado a minha Ok pronto não é toda a gente de prima Afinal eu posso me apaixonar por pessoas da da minha da minha etnia mas eu nunca me apaixonei de forma étnica ou seja nunca me Nunca me nunca selecionei é tipo Ei nada a ver em mim mas eu tenho que respeitar a dor de quem eh viu de forma sistémica isso acontecer mas se não é o meu caso eu não posso e felizmente aqui em Portugal nunca ninguém teve a coragem de o dizer mas também se tivesse a minha pergunta é o que é que tu tens a ver com isso não é Ou seja se a questão é amor não tens sequer o direito de opinar sobre a minha história começa logo aí porque eu não te pedia a tua opinião e depois tu quando amas alguém quando te apaixonas alguém por alguém não é pela cor Ou seja que ninguém me venha a dizer que eu apaixonei-me pela tua cor ou apaixonei-me pelo não tu apaixonas pela pela pessoa há qualquer coisa química que te faz olhar para aquela pessoa interessar-te por aquela pessoa e depois há toda a história que ninguém sabe mas toda a gente quer meter uma uma colher ninguém sabe o que a odisseia que às vezes um casal vivo quer racial quer racial mesmo ou seja a minha primeira namorada a avó não não queria não queria não não me queria conhecer e depois eu entro na na operação Triunfo e ela ai ele é tão querido trá trá-lo cá a casa eu disse não Ou seja S foram coisas que aconteceram na minha vida mas felizmente tive uma namorada que teve a coragem de partilhar comigo e uma e era uma pessoa muito justa muito eh e que sempre foi frontal e dizia isso isso não é isso não é fixe isso É racismo isso é então a seguir que te abriu os olhos para isso não a minha primeira namorada abriu-me logo os olhos para ou seja sofri logo essa questão logo na com a minha primeira namorada e depois fui vendo coisas também muito cruéis do outro lado ou seja não não não era somente depois haviam eh raparigas negras que tinham muito Ei não não namorar com com os com homem negro não é fixe os homens negros não são fiéis não coisa aquelas máximas e quando tu pensas que historicamente o próprio homem negro era utilizado ã pelo pelo escrav pela estrutura escravocrata para procriar ou seja para que aquele filho que saísse daquela mulher escravizada se tornasse propriedade daquele dono então durante séculos no Brasil principalmente era eram homens utilizados para procriar proc criar procriar como se fosse um outro um um não ser vi um um não humano e isso depois tu mas muito o desapego do do do do homem negro perante a sua família tu vê historicamente Tu vês muito esse esse desapego e isso faz-te pensar que o homem negro é Isto ou Aquilo mas nós temos nós temos que recuar na história e entender muitas vezes estees des de e o porquê de haver tantas mães negras sozinhas com com com os filhos não é não é algo que nós possamos somente dizer Ai pronto olha Elas têm Olha também t mais filhos que é o que Eu muitas vezes hoje Olha tem mais filhos também porque querem Olha que se cuidassem que não se e tu não não Entendes a cultura não vais nunca perceber o porquê desse fenómenos mas deixa-me pegar nesse nesse pormenor que dizias porque há aqui um conceito que nós temos de trazer que é a interseccionalidade que é ser negro pobre em quarteira como tu foste na tua infância é uma coisa ser negro músico artista premiado nacional e internacionalmente é outra também notas que eh no facto por exemplo de de teres tido relações e agora estares casado com uma mulher branca e enquanto homem negro é visto de forma diferente ou seja tu agora és um negro mas és um negro de qualidade aliás até há uma frase que se usa muito e que tu também já deverás ter ouvido que é tu és um dos bons estou a fazer aspas e eu faço muito isto aqui neste podcast faço muitas aspas tu és tão fixe que nem pareces preto muito esta coisa mas agora não é o Dino de agora que é um Dino já ouvi mais polido ouvi isso na minha infância tipo não é um negro como os outros e achava que aquilo era um elogio ouvi depois posteriormente quando fui viver para o porto também não ele é diferente então havia uma conceção do que era ser negro hum e a partir do momento que começaram a ver mais negros no desporto etc etc começaram a ver eh outros olhos e outra forma de interpretar o que é que pode ser ou não o o homem negro mas Hum porque receberam tens toda tens tens toda a razão receber um namorado Negro em casa que tenha um trabalho qualificado com Um bom salário é uma coisa receber um homem negro que que não tem esse trabalho qualificado é outra mas se tu fores a ver não precisa até de ser um homem negro ou seja se receberes um um um claramente tipo se for uma pessoa branca a probabilidade tu não não ou seja se calhar vais olhar para a roupa ou vais Vais olhar para coisas mais superficiais não tanto para a questão da pele claro que se for um um homem negro a chegar numa casa mesmo que seja de uma mãe negra ou ou de um ou de uma mãe Eh Branca vai sempre haver aquela questão do do do do estado social ou seja o que é que ele faz E aí começam a ver as barreiras e claramente que de repente é fácil de ser judin de Santiago hoje e e toda a gente te abrir as portas e receber-te h é o jro perfeito hoje em dia estás a ver mas mas eu fico muito atento a essas dinâmicas também ou seja e e por isso é que estou sempre vejo sempre os outros casos e tento sempre eh fazer com que os meus filhos visitem todo o tipo de pessoas Hum que entendam que há várias realidades ou seja não vais sempre comer numa mesa como esta farta não vais sempre conhecer pessoas que têm o mesmo que tu outras famílias outras famas tentar conviver de todas as formas e entender muito a realidade do de onde eu vim de um bairro social que é um mundo à parte do que o nós vivemos no resto da da da cidade é um universo mesmo parte e é um universo que deve ser muito cuidadosamente analisado sentido para perceber como é que estas pessoas conseguem abrir as suas portas e darem o que não t e de repente tu que tens tudo não não tens a coragem nem de abrir a porta para qualquer pessoa que te chega a bater à porta já te parece uma praga quando um casal de um homem negro e uma mulher branca tem um filho há sempre esta curiosidade um bocado perversa por parte de algumas pessoas que já foi relatada também por vários ativistas de há quase um xnio perverso sublinho em relação à cor não é como é que vai sair Será que vai sair mais branquinho ou mais escurinho por exemplo já fiz uma reportagem em que uma mãe dizia que mesmo no próprio hospital uma mãe negra com um namorado branco que depois de ter o bebé eh o bebé quando nasce mesmo sendo fruto do de um casal interracial normalmente bem mais branquinho e que a enfermeira perguntava ten a certeza que é mesmo seu filho porque ela era uma mulher negra e o bebé era mais branquinho tenha certeza Isto é violência não é eh também hou visto este tipo de comentários que as pessoas acham que é quase uma brincadeira mas que no fundo é uma micro agressão não é eu ouvi muitas coisas que lá está mas h o perdão e e a empatia por perceber que muitas vezes as pessoas realmente não estão a fazer por mal já está já já a normalização é é tu esperas ver uma criança branca para achares que a criança é mais bonita Então eh mesmo uma pessoa negra ou uma pessoa branca vão muitas vezes reagir quase das mesmas formas não é porque é pensares tipo se a criança sai com o cabelo mais crespo h a própria mãe se for uma mãe negra H ou o próprio pai vão Sempre querer que não saia tão cres porque foram vítimas de muita agressão e de muita é um instinto de proteção não é é um instinto de proteção que felizmente a nossa geração já está a mudar isso Nossa geração já Olha já faz com que os nossos filhos olham para o seu cabelo com orgulho como uma coroa Se for menina uma coroa de rainha eu vejo na Eva minha sobrinha a questão da afro dela a importância de ter existido eh atrizes e e e cantoras que realmente vão para a televisão e e e aparecem belas a exibir o sua afro Eu já vi isso as tranças Então as minhas sobrinhas já já cresceram com um orgulho de serem eh meninas eh mulheres com orgulho da da das suas raízes que nós não não não não tivemos não e tudo isto tem raízes históricas como dizias não é porque o está entre o branco e o negro que é aquele que oprimiu aquele que foi Oprimido não é o que escravizou e aquele que foi escravizado portanto há toda uma história que nos leva até aqui são dois filhos o Lucas e a Cleo ele tem 3 anos tem e ela tem um ano e Pou um ano e TR meses na altura em que estamos a gravar é um an é Hum porque é que achas que és um bom pai hã boa essa pergunta é difícil eh Ou seja eu ainda estou a construir esse lugar de me achar um bom pai Hum mas primeiro querias muito ser pai isso é Prim queria muito muito muito ser pai e felizmente sou porque hã de forma egoísta estou a crescer muito mais enquanto ser humano Graças aos meus filhos e a e a vontade de aqui permanecer mais tempo Porque durante muito durante algum tempo eu senti sempre disse aos meus amigos etc mano eu acho que não não não vou durar muito tenho aqui o tempo então sempre gostei de sim na vida sempre que quis gravar tudo muito rápido ah dizer tudo o que tinha para dizer muito rápido porque eu sentia dentro de mim que eu não ia durar ah o tempo normal H mas ao mesmo tempo depois quando olhava para as coisas que fazia e dizia assim pronto se eu ficasse por aqui sinto que já deixei a minha o meu contributo para a humanidade mas quando Nascem os meus filhos foi uma inversão foi o que é que eu posso fazer para manter eh mais eh tempo Vivo e o que é que eu posso fazer para não interferir tanto com os meus com os problemas que eu tive no na na minha infância e que ainda moldam o homem que sou hoje e que muitas vezes dão dá respostas ou omite coisas com base nessa criança assim muito ferida e não curada para que eu não passasse isso para os meus filhos então foi com nascimento do Lucas que tu começaste a fazer terapia foi foi com o nascimento do Lucas precisamente porque eu tinha prometido à mãe do Lucas que quando quando nosso filho nascer vou ficar mais tempo em casa vou e e aconteceu precisamente o oposto eu comecei a ficar apavorado e eu não Tipo isso falta a guita isso não sei quê então comecei a trabalhar e a procurar mais desculpas e atrás desculpas para trabalhar mais e mais e mais e mais para não para que não faltasse quando houve momento que eu dei por mim a olhar e ou seja o meu filho já tem mais dinheiro no banco do que eu ou seja E e essa aflição de morrer e de e a escassez lá está como houve escasses eu não queria que lhe faltasse nada H então trabalhei para ele e ao mesmo tempo tu Olhas e não tás em casa não não vês as coisas mais bonitas que Poderias ter visto Hum e infeliz mes Pequenino ele vai absorvente de tudo pode não se lembrar da memória de forma Clara mas a experiência fica lá tudo eu tenho dizem não é que as crianças até aos 3 anos não se lembram de nada eu tenho registado tudo vários vídeos várias coisas L uma memória prática mas mas a sensação e a emoção fica lá fica lá mas eu mesmo para memória prática eu guardei muita coisa que é para depois oferecer-lhe quando ele fizer 4 anos que é tudo o que tu viveste até aos teus 4 anos e que provavelmente não te lembrariam daqui a 10 15 20 anos o que é que a terapia te fez descobrir sobre ti além desta parte da escacez e podemos dizer algumas coisas sobre a pobreza que tu passaste enfim o chão das casas era de terra não tinham Luz elétrica Já contaste que as roupas tinham marcas de xixi ou das fedes dos Ratos portanto pobreza a sério pobreza que como a maior parte das pessoas que estão a ouvir nunca experienciou e felizmente esperemos nunca irá experienciar eh Mas além desta questão da escassez o o que é que tu sentiste que estava preso aí e que te fez tomar algumas decisões na vida uhum eh porque não tinhas descoberto certas partes de ti ou certas vontades tuas ou sabias que elas estavam lá mas estavam encobertas já estou a fazer muitas perguntas ao mesmo São perguntas todas muito boas Ou seja a a primeira a primeira resposta que eu te posso dar é eu eu passei a saber realmente quem sou neste momento quem te diz que está que que sabe quem é eu neste momento sei até aos meus 38 anos eu não sabia eu eu eu tentei projetar a minha vida toda aquilo que eu achava que o meu pai ia gostar que eu fosse que a minha mãe que os meus irmãos as minhas namoradas os meus amigos foi sempre uma uma tentativa de agradar o mundo Hum porque me era fácil ou seja eu sentia que o meu coração era gigante e que poderia receber tudo mas ao mesmo tempo também aceitei muita injustiça para comigo e e por ter crescido desta forma tão religiosa em que dás A Outra Face em que em que tens que aguentar as provações como no Livro de Jó e e é e é sobre esse sacrifício o meu pai sempre é no fogo é que se a prova ouro eu levei muito essa martirização para a minha vida e isso impediu-o de simplesmente ter o direito de dizer que olha não me apetece fazer isto olha hoje não apetece carregar a minha cruz olha hoje não me apetece se quero não não quero que a minha vida seja traduzida tipo numa pessoa negra que tem que levar todos os outros negros atrás tipo e e ali na terapia ela puxou-me à terra e não foi só a minha a minha terapeuta psicoterapeuta foi um sessões mais holística Ou seja a minha psicoterapeuta as pessoas têm nomes né yvon o cavi fez um trabalho também holístico incrível comigo a a ema que também é a minha prima e e fui tendo várias pessoas que me foram ajudando a mãe da Naomi que me foram ajudando Naomi é esposa para quem não sabe e foi e foram-me ajudando ah ok tipo eu não sou pecador Ou seja a minha origem como ser humano não é uma origem pecadora que tem que tentar ser Impecável mas esses Sims que tu dizias sem querer dizer sim era a nível profissional mas também a nível pessoal a pessoal a todos os níveis ou seja tudo que eu deixei de desenhar durante mais de 10 anos porque eu dizia que que toda a gente vinha Dino faz-me só esta foto din faz-me só esta foto e eu acumulei fotos que eu ainda tenho em casa de passe de várias pessoas da minha escola porque eu não conseguia dizer que não e achava que tinha que dizer que sim a tudo e quando eh em terapia me percebi que realmente um não era um sim a mim próprio a minha vida mudou radicalmente ou seja porque senão o que que acontecer ISO começaste a fazer e até a tomar muitas decisões que não tinhas tomado antes muitas muitas na minha carreira o facto de eu achar que e não se se estão a dizer é o que é pronto não vou não vou questionar eu nunca questionei muito e então muitas vezes eu para não ter que confrontar eh com as pessoas eu fazia o que queria mas a dar voltas gigantescas até que um dia me irritava e tipo ó pá Olha e e ali com ela que identificou o ponto e aqui falo da da D ivando porque acho que ela foi crucial neste momento que foi quando ela percebe apercebeu-se que eu eu fugia pela janela porque ficava trancado em casa com os meus irmãos e eu não aguentava aquilo e eu era o único que fugia os meus irmãos ficavam pela janela e E vivia a vida ou seja o momento de alegria era Ou seja eu arriscava tudo só para poder ser livre e o que acontecia é é que realmente depois eu eu trouxe tudo o que era realmente quero ser livre eu ia pela janela ou seja não podia não estar feliz na relação Então em vez de terminar eu não tinha a coragem de terminar e traía traía a pessoa lá ia eu pela janela e depois terminava a relação a pessoa sabia e eu sentia-me horrível ou seja tipo és um monstro acabaste de fazer então foram tantas lágrimas que eu acumulei de outras pessoas e guardei as minhas simplesmente porque não tinha a coragem de dizer eu não estou feliz é traí agora ou pronto acabou paciência masim depois comecei a acumular as várias tou infeliz pá mas é o é é o que é para ti tipo já falhaste tipo F já falhaste tanto na vida que isto é é o que te sobra não tens o direito a mais e e na terapia eu aprendi que tu tens sempre o direito ao teu lugar ao sol Hum e que cada pessoa é responsável pela sua vida ou seja pelas suas escolhas pelo pelas pelo que aceita ou não hum e e comecei a fazer as pazes comigo apesar de de ter agora aumentado o número de de de ses faço duas semanais e ainda continu duas por semana e ainda faço H uma um mais uma sessão holística que assim de eh de em seis meses e agora a senti pela primeira vez a a introdução da do rebirthing e e adorei então vou adicionar também mas é um vício Não é tá sempre experimentar coisas novas e o que vai surgir porque ou seja e é um é um bom vício estás a ver porque o meu antigo vício era autodestruição eraa não era eraa não merecimento e agora o meu novo vício é é bom gostares de ti estás a ver é bom a March em todas as Fes e o exercício que agora tá a ser treinada é imagina se eu fico um bocado mais gordo se eu fico etc já começo logo a já começo com o julgamento porque ele está sempre lá sim mas já sabes como doá-lo não é e agora já começa doá-lo pá mano pronto estás mais fofinho tipo aceita daqui a nada passa estás eu diria Vou adivinhar que a terapia também te fez se calhar assumir um daqueles que um daqueles que foi que é um dos maiores amores de toda a tua vida que é Naomi que é hoje a tua a tua esposa sem querer entrar muitos pormenores porque é tua vida pessoal mas entretanto em pouco tempo vocês e ficaram juntos de novo casaram e tiveram um filho pergunto consideras tu um bom marido não não me considera um bom marido Porquê vou te explicar o o motivo eu sinto que no que diz respeito à construção do que é um homem numa relação conjugal Eu sinto que ainda eu herdei muito coisa do patriarcado estás a ver sinto mesmo isso H tenho dificuldade em reparar que a casa tá suja tenho para mim é tá tudo bem Tipo desde que eu possa ficar aqui um bocadinho no sofá então eu eu estou a trabalhar muito e para para esse para encontrar esse espaço de realmente a casa eu nunca me senti bem em casa em nenhuma casa ou seja sempre senti que é um eu prefiro est no hotel Onde ok aqui posso só ser e tá tudo bem sem preocupações sempr preocupações sem e e vi que precisava de crescer ou seja para ser um homem de verdade e um homem que que olha para para pra sua companheira e para e e e não é paraa sua cúmplice como um ser igual e um ser que também merece o o direito ao descanso não precisa de ativar o ok tem que se preocupar com tudo e agora e como tua M sempre Alerta eu vi que lá está escrevi uma canção como seria a dizer e se desses e se desses mais de ti como seria pedes muito mais de mim e apercebi-me que realmente a pessoa pedia muito mais de mim porque eu não conseguia sequer perceber que estava a dar o pouco de mim porque para mim eu tava a dar muito porque eu então mas fogo todos os dias sou eu que digo que te amo tipo Procuro sempre comprarte coisas para tu estás feliz leva-nos sempre para viagens e e esquecia-se que a parte doméstica a parte da casa organização hã era uma parte essencial para o equilíbrio da da pessoa então eu sinto que em todas as minhas relações conjugais eu eu falhei por isso então ainda não me sinto um bom marido porque sinto que estou a trabalhar para ser um melhor lá está um melhor o melhor o melhor ser humano porque não TVE melhor parceiro porque mesmo com a minha irmã eu tive dificuldades quando vivíamos juntos ela não sei quê E eu eu insultei uma vez e até hoje eu peço perdão porque aquilo ficou-me e gravado H então eu sinto que vocês têm mulheres têm uma capacidade eh de de de de de ser multifunções porque nós somos muito incapazes estás a ver e digo nós porque depois eu vejo tenho muitos exemplos eh maus mas depois tenho um exemplo maravilhoso que é o meu irmão que é o oposto e e o meu cunhado que são duas pessoas que que cuidam da casa com muita harmonia e eu o meu pai H agora e faz muito mais lava a loiça H procura meter a mesa fazer coisas que ele nunca fez ah porque trabalhava mas a minha mãe também trabalhava e o meu pai também trabalhava E porque é que ela tinha que fazer tudo e o meu pai sentava-se então eu vejo o quanto ele também tá a fazer de tudo para ser um melhor marido e vou tendo esse esses pequenos exemplos e só Espero melhorar mas ainda eu sinto que ainda estou bué longe Mas além da parte prática a Com certeza que há coisas que tu vês que tu fazes e que a tua esposa a tua companheira te diz que fazem ti um bom marido para os maridos ou potenciais maridos namorados que estão ou para as raparigas que nos estão a ouvir e que têm que escolher um marido Se quiserem um dia se quiserem casar Ah o que é que tu achas que que fazes bem Ah uau Olha eu eu acho que o que eu faço bem pelo menos elogia por isso é eu não desisto de procurar ser melhor pessoa não desisto e quando digo pessoa eu eu assumo os meus erros assumo os meus erros quando entendo que estou a errar ou seja quando eu não percebo que estou a Errar como eu não eu não lido bem com o julgamento e com o faz isto faz aquilo ou seja então eu agora faço de tudo para que a pessoa não precise de entrar nesse estado de ter dizer para fazer algo e eu porque eu não lido bem com esse mandar esse impor parece que a casa também não é minha então acho que a responsabilização tem que ser dos dois e eu acho que em mim eu preciso de responsabilizar mais pelo estar em casa e realmente estar de corpo e alma e eu poucas vezes tive de corpo e alma em casa eu o corpo estava mas a cabeça estava noutro sítio e e aliás então estás-me a pedir para eu encontrar porque é que ou seja o que é que eu faria imagina se eu tivesse que casar comigo sim muito honestamente eu não casaria ainda eu eu passaria um tempo dizeres isso se na homem está a ouvir vai-se rir agora não mas não mas não mas ela sabe ela sabe que eu faço e por isso que eu a admiro porque ela sabe que eu estou mesmo a dar o meu melhor como se fosse um puto da primária a procurar de tudo para perceber como é que deve ser uma um homem eh atento a tudo não é atento às dinâmicas atento a ao período fértil da pessoa a entender que quando eh tá a passar pela pela sua fase menstrual Aquilo não é uma mania agora Ei agora Tás cumprindo não não ser não ser básico não ser básico e eu também nunca fui muito básico nessa questão também sou eu sou sensível nesse nessa nessa questão e sempre Tentei ser o máximo possível mas agora cada vez mais principalmente porque temos a céu eu tou muito mais atento hã a ela as dinâmicas para não deixar que a pessoa também sofra muito com e tem muito mais a ver com aquilo que se faz no tempo que se tem porque tu viajas muito em concertos em trabalho mas eh tem muito mais a ver com isso com aquilo que tu fazes do tempo que tens tal como tu referi em relação ao teu primeiro filho ao Lucas não é uma questão de tempo quantidade é uma questão temo qualidade também tanto com o filho com os filhos como com com a tua companheira não é e é nós Devíamos eh ser eh educados Ou pelo menos mais introduzidos durante o nosso o nosso período escolar na na na na infância H essa formação do do a preparação de de uma criança que de repente um dia eh vai escolher alguém para partilhar a vida e porque sinto que como seres humanos Temos uma dificuldade no no no convívio diário e entender Onde é que estão as fronteiras para para realmente percebermos os nossos limites e e até saber que tu estás num casamento Mas a pessoa tem o direito à sua individualidade ou seja se tu sentires vontade onde é que eu acho que eu sou um um bom marido tens vontade de estar sozinha ir passear sozinha ires ter com as tuas amigas ou ficao aqui com os filhos não te preocupes vai só vai curtir vai vai brincar vai rir eu tento sempre que ela sinta bem com El se sinta bem mais do que tirares um tempo comigo tira um tempo para ti eu eu insisto demais e E se eu fosse a ver a minha relação e e e se tivesse que avaliar porque é que a Naomi quer estar comigo porque eu faço de tudo todos os dias para que ela seja o melhor possível enquanto ser enquanto mulher eu tento sempre que ela não veja limites para a sua existência ou seja tu podes tudo nesta vida tu podes tudo estamos sempre a falar sobre isso e ela já me revelou isso ela olha deixo estou contigo semti de verdade que eu realmente posso tudo e para mim só por isso já valeu a pena ter existido na vida dela este momentos que tu plantas uma última pergunta porque tu tens essa lá está esse objetivo de expandir as pessoas criaste uma associação que se chama mto novo e que apoia jovens entre os 14 e os 18 anos pelo menos não agora esta é a baliza mas poderá aumentar que vivem em bairros sociais de Lisboa o objetivo aqui é dar-lhes acesso a música A desporto a ciência para expandir o seu potencial mas sobretudo eh para que eles saibam que têm potencial que às vezes começa aqui não sabem sequer que que TM um mundo um mundo inteiro de possibilidades à sua frente mesmo e é a Mundo Novo nasce mesmo com o o a intenção de não deixar que nenhum sonho morra e antes de nascer sequer antes de nascer sequer ou seja seja e muitas vezes o que acontece é que estes adolescentes não acreditam sequer que há um que há um espaço eh e Digno e mais ambicioso para para para que eles possam crescer e porque não tem uma base não tem uma rede e a intenção da mundo novo foi precisamente criar uma rede e nós e já e vai para muito além do desporto vai capacitação ah financeira literacia acesso à universidade mesmo num período em que ainda eh estás no secundário mas temos protocolo com a Universidade de Lisboa para que eles possam eh lá ir visitar experienciar algumas empresas também vão ter protocolo verem como é que funciona verem como é que se sentem lá o que que o que é que podem fazer não é em que lugares é que podem estar no já estão Já conseguimos estágios para alguns ainda nem sequer abrimos a porta oficial da da da mundo noa Onde vamos ter as nossas instalações e Já conseguimos coisas maravilhosas já temos testemunhos de Mães sempre as mães incrível mães a dizerem como é que o meu filho nunca vi o meu filho chegar tão feliz a casa nunca vi o meu filho a sentir-se tão importante nunca e depois isso O que é que faz faz com que o sentido de responsabilidade aumente e e estas crianças são nossos filhos e tinha que ser mais uma vez uma mulher por isso é que não foi à toa que começaste e esta nossa conversa com aquelas mulheres todas que passaram pela minha vida eu tenho agora mais uma que é a Liliana valp faz contigo a associação que faz comigo a associação e que vai vai comigo para os Estados Unidos H marca entrevistas com várias ONGs para que nós pudéssemos entender como é que num país como os Estados Unidos trabalham estas questões da da diversidade Equidade e inclusão e foi uma experiência inacreditável Hum e é e é uma mulher que por exemplo adoraria que ela estivesse aqui só para tu também poderes e privar e eu tenho aprendido tanto com com as mulheres que eu rodeio muito mais de mulheres do que de homens porque sinto que posso levar mais ferramentas para os homens por esse simples facto de estar sentado a ouvir eu eu fico sentado muitas vezes só ouvir as mulheres na forma como discutem como sentem como como ficam sensibilizadas com as coisas e e estou rodeado de pessoas maravilhosas uma delas que te inspirou foi a Amália e para terminar com esta frase dela que tu usas muito e até colocaste eh no teu álbum Eva que é Deus deu-me tudo e mesmo assim eu não soube ser feliz que é algo que tu não queres que aconteça portanto eu tou em terapia por isso porque eu sinto que tenho tudo de verdade eu sinto mesmo que tenho tudo o que nem sequer pedi eu tenho mais do que o que eu algum dia eh pedi e poderia imaginar que me pudesse acontecer na vida tendo eh vindo de onde vim não é e e quando e lembro-me quando ouvi essa frase foi em 2012 eu disse puxa eu não eu não quero eu não quero nunca ter essa sensação de que realmente tive tudo e mesmo assim não sou por ser feliz e aconteceu-me de ter tudo e mesmo assim não estar feliz então o meu exercício diário é precisamente essa gratidão a respiração e tipo se que ser mesmo grato porque tu inspiras muita gente há muita gente que me envia mensagens pá que não eu ficava aqui dois dias só a falar das mensagens que já recebi muita grande maioria muitas mulheres mas tenho-me sensibilizado muito com muitos homens que baixa a guarda depois de de de testemunharem a minha caminhada isso também faz com que eu me sinta bem ou seja não tá a ser só com o procurar e levar as mulheres como fizemos com o seu quarteira que fizemos um precisamente um festival ela por ela onde eram somente mulheres a produzir a tocar precisamente para combater e as taxas e a falta de representatividade eram somente 23% em 2022 em todos os países da Europa e no nos Estados Unidos a fazerem parte dos grandes cartazes dos festivais e nós nós fizemos esse H festival precisamente para combater ess combater esse lugar e acho que tem que acontecer mais vezes eu fui andando a Tour toda este ano e atento a isso deixa-me ver quantas mulheres vão estar nos cartazes e havia cartazes 100% momento em que começas a ver já não Consegues não ver olhar fica treinado e acetas tudo M mesmo Dino muito obrigada obrigado eu mesmo por esta conversa que dona de da casa é lindo porque tu porque é que optas por dona da da casa e não dona de casa mesmo para assumir porque o Dona o dona de casa é um nome que leva para a submissão não é ficas ali só alocada àquele lugar e o dona da casa é a propriedade é um nome de poder é mesmo eu sou dona Mas é da casa não é de casa e a casa é a vida a nossa história as nossas escolhas e as nossas ambições os nossos pensamentos essa aqui é a nossa casa muitos mais anos mesmo Obrigada Din com estaa Obrigado sou o primeiro homem que convidas É verdade sim por causa de teres este pensamento senão não te convid e isso quero me convidar para mim é um orgulho fazer parte e sentar-me nesta nesta cadeira porque eh entendo mesmo que poderia estar aqui uma mulher maravilhosa que pudesse levar mais informação mas espero ter deixado deix pelo menos um pouco de daquilo que eu sinto Sim espero que sim foi muito inspirador penso eu e é com esta conversa que terminamos mais um episódio deste dona da casa com o primeiro homem do nosso programa eu sou a Catarina Marques Rodrigues e é um prazer partilhar convosco estas conversas todas as ter As feiras até ao próximo episódio