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um espectável passo num reconhecido currículo um grande passo para a sociedade portuguesa podia ser assim definido o que aconteceu a 26 de novembro de 2015 dia da tomada de posse da primeira ministra negra em Portugal a sua identidade foi uma das manchetes naquele dia houve quem anunciasse o fim do racismo uma conclusão claramente precipitada e ingénua Francisca van dunam foi a primeira ministra Negra e a última é juíza jubilada magistrada do Ministério Público desde 1979 foi diretora do DIAP o departamento de investigação e ação penal de Lisboa e procuradora geral Distrital de Lisboa é também angolana de origem determinada de personalidade observadora do mundo e por isso atenta à injustiça e à desigualdade muitos que vem nela a mesma identidade étnico-racial vem também os mesmos sonhos e quem sabe o mesmo sucesso nunca nos separamos das nossas características sobretudo se historicamente elas foram objeto de terror de resistência e hoje também de inspiração Dra Francisca Vanda Obrigada por ter aceitado eu que agradeço muito obrigada um dos seus escritores favoritos é o afro-americano James baldwin que dizia a liberdade não é uma coisa que pode ser dada a qualquer pessoa a liberdade é algo que as pessoas agarram e as pessoas são tão Livres quanto querem ser concorda com esta frase absolutamente Acho que todos nós temos devemos aspirar à liberdade e todos nós devemos fazer tudo para preservar a nossa liberdade Porque no momento em que nós desistimos disso ISS desistimos da ideia de sermos de sermos livres e obviamente há sempre as forças do retrocesso as forças do autoritarismo do totalitarismo que que nos prendem não é e portanto nessa perspectiva Acho que sim Acho que nós temos que fazer todos os dias alguma coisa pela Liberdade e temos sobretudo que a partir do momento em que somos livres que garantir que essa liberdade se mantém mas este as pessoas são tão Livres quando querem ser quais é que são as falhas que esta parte especificamente tem quais é que são as limitações para o querer ser pois o o drama diso de facto é quando as pessoas se deixam condicionar não é Ou seja se eu me deixar condicionar por estereótipos por e por preconceitos obviamente a minha liberdade fica mais fica condicionada não é se eu me deixar amordaçar pela ideia de inferioridade se eu me deixar e Influenciar pelas perceções que as nade das pessoas têm sobre raça género e outras e outras e outras dimensões é óbvio que eu sou menos livre sou mais condicionada mas como é que é essa barreira ela é feita de quê essa barreira é feita de de vontade e de esclarecimento basicamente portanto há são as duas dimensões que é preciso que é preciso conjugar por um lado a dimensão do conhecer do saber do saber que o preconceito se baseia em em em ideias que não se não temuma nenhuma validação científica saber que o preconceito se baseia numa lógica histórica de dominação que continua a manter-se não é e sobretudo termos a perceção de que somos iguais não é de que há um a única condição que temos é a humana e que todos os seres humanos são iguais mos diria também que elas condicionantes que fazem com que uma pessoa esteja mais apetrechada de mecanismos para conseguir resistir esse preconceito do que outras certo não tenho dúvida não tenho dúvida que o conhecimento a informação a educação desempenha aí um papel fundamental mas eu devo dizer privilégio também porque mesmo dentro do ser-se negro por exemplo há várias outras características contextos que também influenciam Eh esses mecanismos que que permitem sobreviver melhor sabe eu acho que estamos a falar de duas dimensões diferentes eu acho que há pessoas negras que têm condições de vida diferenciadas do ponto de vista económico mas que nunca são capazes de se libertar do seu do preconceito que elas têm em relação a elas próprias elas assimilaram o preconceito é um bocadinho aquilo que nos fala o fanum no peles negras Máscaras Brancas portanto são pessoas que eh por razões obviamente porque é cultura dominante aponta para isso assumiram a sua inferioridade e vivem com isso a vida toda mesmo uma indiscutivelmente indiscutivelmente indiscutivelmente no PES negras máscaras brancas O fanon dá um exemplo de uma senhora que é uma escritora que se chama maior de Capé e e que de facto vive completamente pronto uma pessoa diferenciada ela escreve é uma escritora mas ela vive manifestamente profundamente influenciada pela ideia da sua inferioridade e mais eu diria até mais ela vive profundamente influenciada pela ideia de superioridade de outra raça da qual ela se quer aproximar Não é com a qual ela quer conviver afastando-se daquilo que é o seu meio natural Porque ela acha que meio seu meio natural é o meio da barbárie de uma condição humana degradada e ela quer sair dessa degradação ela quer ir para outro meio portanto são pessoas que de facto é um bocadinho como um escravo que é liberto mas que no seu íntimo permanece sempre escravo permanece escravo de quê permanece escravo da ideia da inferioridade permanece escravo do preconceito que lhe foi enc portanto diria que aí o fator principal não é propriamente a condição da pessoa mas sim eh o seu íntimo a forma como a sua personalidade a sua capacidade de resiliência e repar e e e tem paralelamente pessoas que são pessoas que têm menos condições económicas mas que percebem isso percebem que tem uma dimensão de humanidade que é igual de qualquer outra pronto e que se assumem e que assumem essa sua dimensão de humanidade portanto aí a condição económica eu diria que não não é fundamental quer dizer do ponto de vista social pode ter algum efeito mas do ponto de vista individual Não é isso não e a condição Económica em si não é suficiente para libertar as pessoas do espetro da do racismo da discriminação e nessa tal escala de resiliência onde é que a Dra Francisca sincera Olhe sabe eu tive um privilégio eu nasci Como costumo dizer de uma família orgulhosamente negra e africana pronto e portanto para nós era um orgulho mas o apelido vand dunam também é um apelido de Uma Família influente em Angola indiscutivelmente mas mas não se esqueça que está a falar de influência agora está a falar de influência no pós-independência Claro que havia uma diferenciação da minha família mesmo antes da independência mas mas antes da independência Angola era era uma potência Angola Era um país colonizado não é e portanto eh diria que apesar de tudo mesmo Apesar dessa diferenciação havia uma hierarquia social que se estabelecia não é e se é verdade que a minha família podia estar no topo da hierarquia social da sociedade Negra não estava no to arquia social da sociedade Branca Colonial Uhum mas dizia então a sua resiliência diria que que sempre esteve em bom estado é do meu ambiente familiar é tamb meu ambiente familiar percebe de nós de nós de nós h lermos e as questões do racismo da basicamente do racismo não é falava sobre racismo em sua casa não tenha dúvida era impossível não falar não é por quê Porque o racismo é no dado do cotidiano o racismo uma questão racial era uma questão de cotidiano em África nesse tempo na África Colonial não é eh de facto as relações entre brancos e negros se é verdade que havia algums algumas áreas em que eram em que eram amistosas se assim se pode dizer no dia a dia as coisas não eram de facto todo fáceis não é e refere-se a quê por exemplo refiro-me por exemplo a a discussões de rua em que havia uma discussão entre uma pessoas de duas raças diferentes um negro e um branco e portanto as os carros paravam todos havia uma uma havia logo uma uma altercação que terminava num conflito num conflito físico e os carros os carros de motoristas brancos paravam todos e havia uma a chacina daquele indivíduo negro sem aquilo acabava assimos indivíd negros que fugiam desapareciam do espaço e aquilo acabava normalmente assim é que tinha na altura eu vivi nesse ambiente até aos meus 17 anos anesi para Portugal no princípio dos anos 70 quando ve estudar direito essa é uma grande questão que eu tenho para si que é quando chega a Portugal angolana de pele negra para estudar dire na universidade de Lisboa teve ainda mais um confronto direto com o racismo aqui acredito que na sua turma fosse uma das únicas mulheres pessoas negras eu eu acho que era a única po não dizer a única para me salvaguardar mas assumi que sim eu acho que sim eu acho que era a única Sim acho que era a única e aí foi um outro confronto ou não voul dizer que inteira franques eu nunca estive a minha vida é um pouco feita a partir dessa altura a partir em que eu sai de casa e em queio para aqui a minha vida é um pouco feita num ambiente que é eminentemente branco não é eh e portanto isso não me perturba esse esse facto em sin não protura mas antes disso não Ou até aí também antes disso não Ant diso não nesse momento em que chega cá tem um confronto com questões olhares perguntas Surpresa por parte também dos teus Colegas por ver uma mulher negra e estudar direito também sim par surpresa com o mérito era basicamente isso pronto eu diria que de qualquer maneira é preciso é era uma nota que eu queria deixar que é eu entre em 73 na faculdade em 74 a 75 de Abril Portanto o que significa que eu faço de Setembro a Abril basicamente em termos normais e depois a partir daí o ensino é e há uma uma uma grande convulsão no ensino não é pronto e portanto nesse período no período que em que eu frequento a faculdade eu estou isolada de facto havia depois havia umas pessoas de cab verdes numa turma ao lado com as quais eu me passei a relacionar mas mas de facto as Tur era Branca mas eu eu já vinha de Luanda habituada a isso embora no meu Liceu embora fosse um Liceu obviamente em que havia pessoas de várias raças Como Eu normalmente tava nas primeiras turmas e as minhas turmas eram brancas as minhas turmas eram brancas e portanto eu eu quando venho para quando venho para a faculdade no fundo é a extensão da minha Tur a extensão da minha turma do Liceu a turma da a turma da faculdade pronto A única diferença é que depois na faculdade Não Há outras turmas onde haja estudantes onde haja muitos estudantes negros como acontecia no no no caso do meu Liceu não é passaram vários anos e teve uma carreira muito longa no Ministério Público ocupou os principais cargos dirigentes no ministério público e entretanto em 2015 quando tinha 60 anos certo eh foi eh distinguida nomeada como ministra da Justiça onde esteve durante 6 anos nos últimos meses também acumulou o cargo com a administração interna com a saída de Eduardo cabrita eh supostamente foram vários anos aqui de enfim de uma estrutura em que foi estando presente foi sendo reconhecido o seu mérito mas mesmo assim quando chegou a a governo eh sei que também eh por parte talvez de cidadãos cidadãs recebeu algumas mensagens de ódio É verdade Ah isso era frequente dur não des Valorize Porque isto é é muito grave durante o tempo vamos lá ver durante o tempo em que eu estive em que eu desempenhei funções governativas e era frequente Se receber o gabinete recebia mensagens de ódio eu nunca as li não li uma única mensagem de ódio que cabinete tivesse Recebido meu chefe de cabinete encarregava vocês receber e acho que lhes dava um destino eh que er fatal que era o lixo Mas saava o conteúdo O que é que diziam ah genericamente em termos genéricos portanto era sempre uma ideia de de usurpação de um lugar de não estar na minha terra não estar num não estar no meu lugar era basicamente são sempre essas ideias um pouco primárias básicas que norteiam esse tipo desse tipo de das pessoas que enviam esse tipo de mensagens né Uhum E como é que isso fazia sentir tinha já Um percurso Como eu disse até a nível pessoal referiu nunca me incomodou nunca me sabe como é que eu sabia disso Não não é uma redis criminação uma re eh revitimização imposta não posso dizer isso não posso dizer isso porque não foi isso que senti cok não senti isso pronto agora posso admitir que eh uma atitudes desse tipo são idóneas para gerar esse fenómeno nã eu não agora como é que eu sou como é que eu sabia disso eu não ia sabend no cotidiano eh curiosamente eu acabava por saber porque havia alturas em que o meu chefe de gabinete insistia muito em que eu não desviasse da das dos agentes da seguranç da PSP que garantiam a segurança portanto eu tinha do corpo social da PSP segurança tin sei que houvesse algum tipo de e o meu chefe de gabinete incomodava-o comigo porque eu saía sem est Senhores da segurança e portanto e achava e e eu dizia mas RIC Mas qual é o problema não não vejo problema nenhum nisso ele dizia ah senhora não sabe o que vem aqui eu recebo todos os dias mensagens não não não facilito não facilito Mas de qualquer forma qualquer dia eu saio do saio do governo não é saio do governo e nessa altura não ando com segurança portanto não me faz não faz diferença nenhuma que seja agora que seja que seja mais tarde nãoé sim mas aquele momento é um alvo muito mais fácil um alvo muito mais mediático sim indiscutivelmente indiscutivelmente pronto era e era de facto Essa era de facto essa preocupação dele A grande preocupação era que houvesse alguma coisa na rua mas não nunca nunca me conou nada de desse tipo quer dizer houve uma situação uma vez de uma uma pessoa que era uma pessoa manifestamente com perturbações mentais que ia pela à frente do ministério e que gritava desalmadamente durante várias horas relção a sua origem étnico racial basicamente isso basicamente isso eu penso que era alguém que teria vindo de uma antiga colónia pronto e que achava que se tinha sido espoliada e achava que eu tinha responsabilidade pela pela pelo que tinha acontecido e portanto e dizia Francisca vai vai para a tua terra os insultos do costume vai para a tua terra roubaste não sei quantos milhões enfim coisa assim mas pronto era manifestamente alguém que tinha tinha que estava uma pessoa que estava perturbada não é e por isso por isso é que também ia para lá todos aqueles dias e foi para lá indo dias e dias AF fio até que desistiu o racismo tem várias fases uma delas é os insultos eh Com referência de facto à não pertença ao sítio onde se está depois tem outras fases menos visíveis mais subliminares mas que também se sentem uma delas por exemplo é o se considerar ou se H partirda assumir que uma pessoa negra não tem certas qualificações e eu sei que do lado de dentro não necessariamente do governo já me vai dizer de que lado é que foi mas que e Houve alguma estranheza por parte de algumas pessoas do facto de ter as qualificações que tem a competência que tem e ser uma mulher negra Ah não H dizer o que basicamente o que acontece o que me acontece por vezes é eu percebo que as na altura agora se calhar já não né mas na altura Eu percebo que as pessoas têm uma expectativa negativa pronto e Admito que muita gente achasse que eu iria preencher uma cota pronto basicamente seria isso e se fosse não não vejo não vi hoje não viia nenhum problema nisso achavam que eu ia preencher uma cota e portanto depois acho que algumas pessoas que ficavam espantadas ou que revelavam surpresa eh pelo facto de eu conhecer os dossiês pelo facto de eu falar corretamente português provavelmente Até quem sabe não é de conseguir articular duas palavras em português porque era suposto era suposto que eu falasse em línguas nacionais provavelmente ex dialetos próprios dialetos exato dialetos próprios da próprios lá da África e que não tivesse e pronto e que não fosse capaz de de articular duas palavras em português ou que não fosse não fosse capaz de de exprimir uma ideia mas pronto mas isso é é um BO aquele elogio e mascarado de discriminação não é a pessoa eh acha que está a fazer um elogio acha que está a ser simpática uau até consegue ou até é é é é é sim já me aconteceu sim aconteceu-me sim aconteceu-me sim ah e tal aconteceu-me de facto as pessoas revelar um espanto inusitado pronto porque era normal eu estava falando de questões de Justiça de uma área que que era sup dominar não é e portanto não havia espanto nenhum em que eu conhecesse aquelas questões aquelas matérias e que pudesse abordá-las com alguma proficiência não é mas isso não é cansativo ter que estar sempre a provar o seu valor ou seja quando chegou a ministra já tinha uma carreira de mais de 30 anos no Ministério Público V dizer-lhe uma coisa eu nunca tive que provar nada nunca achei a questão é essa o problema é as pessas acharem que tenho eu não não tenho que provar nada desse lugar não é quer dizer porque não estou quer dizer porque não estou não não eu não posso pôr-me no espaço em que a discriminação me quer colocar perceo eu não estou nesse espaço não tem nada a ver com isso a descrever eu não sou eu que tenho preconceito e a partir do momento em que não sou eu que tenho preconceito por carga de água é que me hei de comportar de acordo com aquilo que é o padrão do preconceituoso não não ten que me comportar assim não tem que não temho que mostrar nada quer dizer tenho que fazer o meu trabalho normalmente fazer ali como fazia no outro lado qualquer não é mencionou uma palavra muito relevante também queria falar consigo sobre este tema As cotas Eh agora a sua posição nem sempre foi esta mas agora a sua posição é defender cotas para as minorias racializadas nomeadamente no ensino superior nas Forças de segurança e na função pública uma espécie de discriminação positiva étnico-racial que já foi feita com a lei da paridade para as questões do género Por Exemplo foi aprovado em 2006 e depois foi revista em 2019 e e que apesar de já estar ativa digamos há tantos anos ainda continua a ser objeto de comentários e de críticas e de pessoas que se questionam porque é que defende estas cotas também para minorias racializadas nestas três áreas porque me cansei de ver que não era possível em circunstâncias normais as pessoas que têm que se racializadas que vivem em ambientes que são ambientes Discriminados e terem de facto acesso àquilo que são as os as as H as possibilidades normais que qualquer outra pessoa tem a nível da educação ao nível do emprego e e para to os mais diversos níveis né uma questão territorial também daqueles bairros especificamente os bairros municipais sociais problemáticos como eu falo sim eu falo desses bairros e falo de outros bairros porque a grande verdade é esta se durante muito tempo Portugal foi um país monolítico na na nessa perspectiva na Perspectiva étnico-racial há muito tempo que deixou de o ser e tendo deixado de o ser há muito tempo era normal que as outras comunidades tivessem também expressão no espaço de diferenciação quer de política quer económica quer social e não tenhem o que é que falhou aqui entretanto eu acho as pessoas existem e há CZ mais eu acho que aquilo que falhou foi e não ter havido há muito tempo um olhar sobre essa realidade e um olhar H que não fosse um olhar um olhar não indiferente um olhar aberto porque muitas vezes olha-se e temse e as e as pessoas quer dizer acabam por olhar sempre na Perspectiva dos dos os próprios arquétipos dizer aquilo é uma questão meramente social e aquelas pessoas pronto com a aquia com a evolução social acabaram porce daquelas condições e ter outras condições mas aquilo não é só social o tal mérito é aquilo não é só social não é só mérito quer dizer no fundo é é como é como é como se como não sei se há um um uma obra que tem aí uns 10 anos talvez que é meritocracia de um falando de um sóo americano em que Basicamente aquilo que se diz é a história da da da mar decia é num certo sentido é uma fraudde porquê Porque as condições de base influenciam o percurso das pessoas e portanto é completamente diferente eu estar num ambiente escolarizado e que há esse estímulo não é acanhar um ambiente escolarizado em que as pessoas têm refeições regulares em que as famílias São estr Claro as famílias São estruturadas orientam apoi Claro e eu viver num ambiente em que os meus pais não são escolarizados em que não têm de facto em que trabalham fora o dia todo e não têm nem sequer tempo nem eles próprios da força anímica para estimular o que quer que seja em que as minhas condições de Saas também nunca tiveram se calhar educação que lhes permite também estimular isso nos seus filhos Claro claro e portanto há há de facto diferenças de base não é que acabam por influenciar o percurso das pessoas é para si como é que estas cotas deveriam funcionar ou seja se há de facto essa dificuldade de base como é que vamos conseguir ter cotas para minorias racializadas no ensino superior nas Forças de segurança e na função públ olha mas repar que h não sei se viu Mas o o Plano Nacional contra o racismo eh já prevê isso portanto já prevê Eles não falam propriamente em cotas a expressão que se utiliza na Não não é cotas mas no fundo eh prevê-se a possibilidade de haver um conjunto de lugares que sejam destinados sejam preferencialmente destinados a pessoas com determinadas origens mas é prevê-se E preferencialmente quando é que isto passa a lei mesmo acha que vai passar a lei eh eu acho que algum dia tem que passar a lei algum dia terá que passar a lei quer dizer de momento aquilo que haveria era uma recomendação pronto e e que que funcionaria para a administração pública mas eu acho que com o progresso que as coisas quer dizer com a evolução que as coisas estão a ter e com a falta de respostas provavelmente qualquer dia vai vai há de chegar a um ponto tão crítico tão crítico Vai ser necessário passar isso A Lei e quando estava a ministra também envia essa falta de representação fazia-lhe confusão eh eu constatava a falta de representação pronto pronto eu constatava issoa fal a todos os níveis não é a todos os níveis que é verdade que durante o tempo em que eu exercia funções do minich da Justiça em que tive no governo havia no Parlamento duas pelo menos duas deputadas e uma de origem guineense as duas creio eu não é H sim o PS também teve e e ralda Fernandes e e depois havia jina catar Moreira e havia a Beatriz a Beatriz Gomes pronto sim mas é engraçado porque e no sentido de ser curioso porque na altura como eu referi na introdução quando a doutora foi nomeada ministra fez de facto um grande alarido mediático e foi a primeira e a última sim sim normalmente Quira a primeira vem a segunda mas desta vez tá complicado segund a segunda algum dia virá a segunda algum dia virá pronto eu não vamos lá ver eu não não não mas precisamente também porque não há esses quadros e que tem que estar lá de ensino superior e de é óbvio como é óbvio quer dizer eu não não não duvido que haja pessoas que haja seguramente haverá outras pessoas racializadas que terão condições para exercer cargos de governação pronto não tenho dúvida que existem agora há preocupação em procurá-las não não parece que haja e não há também aqui Outro fator porque eu já entrevistei aqui várias pessoas ligadas à política e além das qualificações a nível académico há depois também os círculos de poder e que são feitos nos eventos de networking nas pessoas que se vão conhecendo etc não há também uma pouca penetração de pessoas negras nesses círculos mais elitistas de poder de pessoas que se numem umas às outras estou a simplificar naturalmente Pois vamos lá ver eu não fazia parte de nenhum desses círculos não é mas houve um primeiro-ministro que achou que eu poderia ocupar aquele lugar não é certo mas mas quanto mais tiverem mais probabilidades há no seu caso não foi ver indiscutivelmente eu estou convencida de que pronto quando as pessoas frequentam certos círculos que são normalmente os círculos onde se vai captar eh quadros para a governação para para para po de cargos políticos admito quando frequentem estes círculos que não sei muito bem quais são mas que quando os frequentem que estão são mais mais facilmente notados e portanto é mais fácil buscá-los e mais fácil convocá-los para o exercício destes cargos mas também diria que se houver a intenção de fazer isso é possível pesquisar não é só alguém tiver a intenção de fazer isso é pode pesquisar pode perceber quem quem são as pessoas que nesta comunidade por exemplo teriam condições para aproximar e fazer aproximação quer dizer se houver vontade política de criar de fazer com que haja representação haja representatividade dos vários grupos étnico raciais então aquilo que qualquer político tem a fazer é é desde logo procurar é pesquisar não é também há uma falta de vontade eu diria que há indiferença eu diria que não é indiferença é indiferença as pessoas acham que isso é totalmente irrelevante eu diria não é eu tenho a pena mas de facto não é é porque há um grupo muito grande que é cada vez maior de pessoas que são cada vez mais jovens que sentem ignorados que sentem invisibilizados injustiçados e isso só pode gerar atrito revolta revolta revolta Como é o Óbvio revolta social Claro Claro pode foi ISO também levou a que tivesse havido tantos tumultos depois da morte de Odair Muniz Sim vamos lá ver eu e percebo que naquele momento que houve houve manifestamente uma situação em que as pessoas se sentiram profundamente injustiçadas e deve ter havido também obviamente não não não não não excluo que possa ter havido aproveitamentos aqui e ali da situação para para atos de atos de vandalismo agora devo dizer que não se pode não se pode perante uma situação daquelas deixar de considerar que há ali de facto uma revolta e é uma revolta que que tem uma um momento de explosão não é naquela altura com aquele com aquele com aquele acontecimento O que é que teria feito se fosse ministra da Justiça naquele dia naquela altura é como Ministro da Justiça não podia fazer rigorosamente nada declaração eh depois não sei se como ministra da Justiça teria subscrito como subscreva o O Manifesto pronto mas em qualquer caso O Manifesto não tem tanto a ver com aquela situação tem bastante mais a ver com aquilo que se passou posteriormente que foi o ultrapassar de Barreiras deix explicar para quem não está a ouvir o que é que aconteceu portanto eh às 5:40 da madrugada do dia 21 de outubro ocorreu uma morte que veria depois a dominar o espaço mediático nos dias seguintes a morte de Odair Munis cidadão cabo verdiano que foi baleado pela polícia e acabou por morrer nos dias seguintes houve então vários tumultos em Lisboa e depois Houve várias reações de partidos num programa eh da RTP o líder parlamentar do chega Pedro Pinto disse se a polícia entrasse mais a matar o país estava mais na ordem depois disso foi elaborada uma queixa crime contra André Ventura e Pedro Pinto o tal Líder parlamentar do cha e a Dra Francisca vandon foi uma das pessoas que subscreveu esta queixa crime porquê eu não eu subscrevi o Man Sim há O Manifesto que apoi a queixa crime porque achei que se tinha ultrapassado doos limites do dos limites do aceitável eu acho que nós precisamos de fixar linhas vermelhas Eu percebo que haja um Possa possa ha ver em determinados momentos um discurso político mais agressivo mais incisivo o que quer que seja Mas uma coisa é o discurso político e o discurso político tem limites e outra coisa é incitação ao ódio o incitamento ao ódio incitamento à violência e o que eu entendi foi que naquele momento havia o que estava a passar era incitamento ao ódio e à violência e também me pareceu que a linguagem que estava a ser utilizada queer motivar uma linguagem tão agressiva tão crua decamento estava de parar nós não podemos continuar com essa linguagem liberdade de expressão é outra coisa não é um problema de liberdade de expressão não é um problema aqu liberdade de expressão S são de facto obviamente livr de exprimir mas a expressão tem pode ter consequências não é a expressão pode ter consequências nomeadamente consequências criminais porque não é só a expressão são os efeitos da expressão a intencionalidade da expressão não é se a expressão Visa incitar ao ódio Então essa expressão pode efetivamente cair so alçada da da do um crime e o que a preocupa aqui é de facto o impacto mediático social que estas declarações têm que alim ainda mais a tal revolta A que se referia meu Óbvio meu Óbvio Vamos lá ver nós estamos a falar de de do momento em que houve reação reações que eu penso que foram muito protagonizadas para pessoas das faixas mais jovens não é que perante uma perante por um lado perante perante H declarações daquele tipo aquilo no fundo é apagar o fogo com com com gasolina não é é é deitar é deitar gasolina no fogo não é e é óbvio que as pessoas ficam sagadas ficam ainda mais mais mais revoltadas depois também quando se diz que que que se provavelmente se se as polícias disparassem mais a matar haveria menos bandidos O que é que se está a fazer o que é que se está a dizer que mensagem é que se está a passar percebe Estas pessoas políticos e deputados etc a maioria deles e delas não conhece sequer a realidade dos bairros sociais e municipais concorda não faça mais pequena ideia mas estou convencida de que não não faço ideia se conhecem se não pensa não não faço ideia Qual é o background individual de cada uma dessas pessoas não é pronto agora aqui o que penso é que mas os comentários que vão fazendo eh e que transformam isto Num caso puramente de polícia digamos assim é é de quem não conhece o tal a tal revolta A tal desigualdade a tal exclusão social que mencionava não discutivelmente é de quem o o o de quem é completamente está completamente alheio a isso pronto eh para quem de facto aquilo não são pessoas são fardo não é a ideia do fardo social há ali umas zonas que são um fardo social não é que geram uma pressão social e sobre sobre quer sobre a Segurança Social quer sobre a saúde quer sobre todos os outros sistemas não são pessoas não são um fardo estas declarações do gega A somar muitas outras que têm vindo a ser feitas nos últimos anos não são já motivo suficiente para ilegalizar o partido não sei quem tem que fazer essa avaliação é Procurador Geral da República mas estes comentários racistas e xenófobos já atentam contra a constituição eh os comentários em si não vamos lá ver aquilo que basicamente se incitam ao Crime institução tem uma Norma que prevê a a a possibilidade de extinção de organizações que perfilam a ideologia fascista pronto e E foi com base nisso que nos anos 80 penso eu o procur Geral da República recriou a tribunal Constitucional a extinção do movimento de ação Nacional panto eh e obviamente aquilo que fez penso eu foi juntar a informação quer não só de declaração Mas também de ações ações concretas não é que do dito movimento e pediu ao tribunal constitucional essa intervenção essa Norma que continua a existir na Constituição e continua a existir pode permitir ao Ministério Público não faz será o competente fazer uma análise da situação e fazer o enquadramento portanto eu não não não pronuncio sobre se aquilo que fizeram já se chegaria para fazer esse enquadramento acho que o ministério público pode e deve fazê-lo porquê Porque nós certa altura falou-se muito da disse-se muito que ah estava-se a judicializar um problema político não eh nós não podemos mas ver a justiça tem também um papel nisso eh repare provavelmente algumas coisas que aconteceram na Alemanha não teriam acontecido se os tribunais alemães tivessem tido se os juízes alemães tivessem agido os tribunais alemães tivessem agido há uma dimensão que é uma dimensão judiciária há uma dimensão é que é a dimensão do crime tem que ha uma intervenção na sua opinião eu diria que sim que é preciso não não não os tribunais não se podem abstrair deste problema portanto os tribunais estão também tribunais devem participar desta deste momento devem porque aquilo que está a acontecer neste momento tem uma dimensão política mas em alguns aspectos trata também uma dimensão judiciária e os tribunais não podem admitir-se da dimensão judiciária que aquilo que está a acontecer tem portanto na sua opinião há de facto aqui matéria para ser analisada Pelo menos eu diria que sim eu diria que que que há um conjunto de há um conjunto há um conjunto de apreciações que vão sendo feitas e tomadas exposição que que vão s tomadas que podem eventualmente ser conhecidas pela pelo Ministério Público e avaliadas por ele não é uhum hum quando o o partido e entrou no Parlamento esperava que tudo isto acontecesse que houvesse este tipo de de documentários de abordagem e tão tão incisiva em Portugal especificamente eu sabe as pessoas sempre tiveram uma ideia de que Portugal era diferente não é de que as coisas em Portugal teriam sempre um caminho diferente diam da Paz e da serenidade o que acontece é que as coisas chegam tarde mas chegam chegam tarde mas chegam pronto e aquil que dico é que há formas de fazer política que do meu ponto de vista não são aceitáveis são formas de fazer política através do do do Insulto através da através da mentira através da manipulação pronto isso infelizmente é uma uma são técnicas que estão a fazer carreira mas que são absolutamente são absolutamente detestáveis uhum um outro tema também que queria muito ouvir a sua opinião é o tema das Reparações históricas que um tema que entrou para o debate público eh no final de Abril foi aliás um tema eh muito usado no sentido de falado por Marcel Rebelo de Sousa que disse que Portugal tem a obrigação de eh fazer este processo de Reparações históricas aos países que foram colonizados sobre pena de estou a citar perder capacidade de diálogo com os mesmos considerou que Portugal tem de assumir Total responsabilidade pelos crimes coloniais eh cometidos e de pagar os custos destes crimes coloniais qual é que é a sua visão sobre isto há quem defenda inclusivamente eh políticos figuras políticas até algumas por exemplo do PS que não faz sentido estar agora a a avançar com Reparações históricas de algo que que aconteceu há outras pessoas que dizem que Portugal tem a obrigação de fazer a reparação daquilo que dos crimes que cometeu ao longo dos anos enquanto enquanto juíza enquanto cidadã enquanto mulher de origem angolana de um país que foi colonizado por Portugal enquanto portuguesa também aqui é eu acho que provavelmente vou pronunciar enquanto mulher com origem num país das num país que foi comunizado por Portugal e h o que penso disso é o seguinte não acho que nós temos aí aspectos diferentes alguns países fizeram já até a devolução de peças de arte que foram esbulhador pronto que foram retiradas em contexto debulho pelas respectivas colónias de riqueza que foi feita à conta das colónias em vários países pronto europeus também H agora e depois a questão das Reparações que no fundo se é preciso perceber exatamente em que termos é que se pretende que haja que haja Reparações são Reparações financeiras que tipo de Reparações são do meu ponto de vista a reparação a grande reparação que há a fazer a histórica h não tem tanto obviamente tem origem nesse passado mas não deve materializar sem Reparações do ponto de vista financeiras e imediatas anás queas Reparações que tem devem ser feitas são Reparações que se prendem justamente com o tratamento Digno das pessoas das antigas colónias que são Afinal as herdeiras desse passado de exploração não é isso sim ou seja uma política antirracista e políticas antirracistas efetivas políticas de integração de imigrantes isso sim isso acho que é grande reparação que efetivamente Portugal deve Portugal pode e Portugal deve fazer no mais eu diria que não não sei se adianta não façil quer dizer do a percepção que tenho é que não adiantará muito começar se a fazer levantamento de valores e para para haver compensações financeiras e servirão o quê essas compensações servem para para para aumentar o horário público desses estados e e para quê mais é uma uma compensação puramente financeira só não é de pois e fica tudo com um saldo que se fica cumprido não é fica tudo como está e fica tudo como está e fica tudo como está pronto eu acho que há coisas que não se pagam só com dinheiro assim e que está uma verba que está um cheque não não é assim estou com a sensação que tem receio que de facto a revolta das pessoas e dos jovens aumente E é verdade eu tenho receio sente que há uma tensão lat nós viamos acontecer isto na França se Recordar não é há muitos anos viamos acontecer isso em vários sítios h e sempre de uma certa maneira sempre se desvalorizou o que se podia passar aqui em Portugal não se não se deu não se deu valor suficiente à situação das Comunidades não se acompanhou suficientemente essas comunidades e não se percebeu o estado de diz em tudo ou seja na educação no emprego em tudo no em tudo mas começar pela educação na proteção social na educação no emprego na habitação há uma ideia feita de subsídios que não é real e de de de uso do estado que não é real ver assim eu não se nem sequer sei se S uma ideia é feita Se as pessoas de facto acreditam nisso ou se não porque eh se nós tivermos olhos para ver percebemos o quê percebemos que a segurança privada neste momento basicamente nos Espaços nos espaços públicos é feita por por por por afrodescendentes não é eh se se olharmos para as para para para a limpeza dos escritórios também percebemos quem a faz eh se olharmos paraas para para para a lida doméstica das pessoas que saem de casa todos os dias também sabemos quem é que a faz se olharmos para as obras para a construção civil para quem constrói este país também sabemos quem é que o constrói portanto as pessoas Se tiverem de facto a preocupação de olhar com olhos de ver e não com os olhos do preconceito percebem que há segmentos da sociedade Portuguesa que só funcionam porque efetivamente há eh uns ordas eu diria há um exército de de de pessoas racializadas basicamente afrodescendentes que cumprem um um conjunto de tarefas que um conjunto tarefas que se não forem Se não forem Se não forem realizadas por elas não serão realizadas por mais ninguém por quê Porque Portugal porque o país envelheceu porque os jovens portugueses são hoje tê outro nível de qualificações muitos deles não ficam sequer em Portugal porque não têm em Portugal não tem salários que correspondem às classificações que tenhem e portanto há há zonas há um espaço imenso do mercado de trabalho madamente de repar também a questão da Restauração por exemplo que ou são essas pessoas ou não é ninguém e portanto são mas as pessoas que de facto fazem São esses os os os os olh H um filme extraordinário que se chama Os Estranhos de passagem hã são esses estranhos de passagem que fazem de facto funcionar a economia Portuguesa em em certas em certas em certas áreas O que é que se neste momento tivesse poder e estivesse no governo em que é que investia já em que tipo de programa ou em que tipo de medidas é que investia já para eh para atacar este problema educação educação educação educação e a proteção social ou seja a as as pessoas os os muitos destes meninos que ficam nos bairros os pais vêm trabalhar e eles não têm são um pouco entregues a si próprios não é a natureza das coisas e portanto era preciso é preciso intervir do ponto de vista social pronto com medidas ao nível dos bairros eh no sentido de pôr estes meninos na escola de de de os desfazer no fundo valorizarem a sua própria a sua própria formação para lhes permitir adquirir competências que os lhes permitam mais tarde eh integrarem-se no mercado de trabalho em condições já de alguma diferenciação uhum sobre as Reparações ainda só para dar aqui uma nota em julho o presidente angolan João loureno Foi questionado sobre as Reparações históricas e e o presidente negou essa intenção de abrir esse processo de Reparações e disse Aliás não colocamos a questão em 40 anos não a não a colocaremos nunca e depois ainda disse Além de que os países colonizadores nunca teriam a capacidade real de fazer a reparação no justo valor é impossível porque não se trata só de de objetos de peças mas trata-se também de um e de uma de feridas que foram abertas e que são impossíveis de CL CL CL Não repar mesmo que se tivesse a falar de uma dimensão financeira não é do trabalho dos escravos da escravatura do produto da escravatura ou até daquilo que se foi retirado do ponto de vista das das riquezas das riquezas eh eh das riquezas da da das dos desses países mas quer dizer se tivesse que fazer as contas a isso era uma loucura não é uhum enquanto esteve ministra uma das coisas que fez e das quais se orgulha foi ter criada a primeira estratégia Nacional de combate à corrupção foi certo eh em Portugal a percepção que as pessoas têm da Justiça de forma geral não é a melhor muita desta percepção que é negativa é alimentada pelo tempo que os Mega processos demoram a resolver o processo bech por exemplo eh que começou a ser julgado agora este mês de outubro começou a sê-lo 10 anos depois do colapso do grupo Espírito Santo a operação Marquês o tribunal da relação de Lisboa decidiu que José Sócrates seria julgado por 22 crimes eh 9 anos depois da Detenção do primeiro-ministro no aeroporto que foi uma Detenção muito mediática eh estes eh anos todos e aliás vou ainda aqui somar um outro dado fui ver e há um estudo feito eh este ano em fevereiro que foi conduzido pelo gabinete de Apoio aos magistrados judiciais que diz que os Mega processos duram em média mais de 8 anos até terem uma decisão definitiva eh é justo é aceitável que e as pessoas lesadas o público lesado demor 8 anos 9 anos 10 anos até ver uma sentença mas ver não era não é desejável o que posso dizer é que não é desejável não é agora estes alguns destes processos são de facto processos de uma grande complexidade e que implicam o recurso a meios a meios não só internos como meios externos que não são de fácil de fácil operacionalização e portanto percebe que em alguns casos estes processos demorem Mas devo também dizer que sou completamente contrária à ideia que alguns magistrados têm de que que é preciso para para a compreensão de um determinado fenómeno é preciso quase ir à pré-história pronto que é preciso investigar tudo tudo que estiver à volta daquele daquele mesmo sujeito processual e portanto é preciso investigar a vida del toda para que se compreenda a final aquele at em particular eu admito que haja situações em que é preciso saber mais do que aquilo do que aquele conhecer mais do que aquele facto para se poder ter a dimensão do fenómeno mas em muitos outros casos eu penso que esse esse exercício que faz de de investigação é um exercício que consome meios eh ilimitados eh meios que engraçado nunca ninguém fez nunca ninguém fez o o o o cálculo nunca ninguém fez a dos meios que são utilizados relativamente a esses processos e depois O resultado é sempre um resultado H tardio e e muito incerto e muito incerto porquê por quanto mais tempo eh passa sobre a data dos Factos mais difícil se torna depois a sua reconstituição no julgamento as testemunhas muitas vezes não se lembram já e é normal que se lembrem que não se lembrem não não não não quer dizer que quer dizer não não passa pela cabeça que estejam a que estejam a mentir não não se lembram também não há matéria para conseguir tomar uma decisão rigorosa pois pois quer dizer exato as pessoas não se lembram depois mesmo relativamente aos próprios acusados e que ficaram durante um tempo quase infinito eh sob sobre a pressão da da da da acusação pública se é assim se acho que é de facto essa expressão a utilizar não é quando chega à altura da decisão final que pode ser condenatória num certo sentido estão quase a ter uma dupla penalização não é e Portanto acho que sim que percebo que Percebo o malestar relativamente a isso eh percebo que é preciso alterar os métodos do meu ponto de vista do Ministério Público deve alterar os métodos ao nível da investigação depois também é que Outro fator do privilégio que causa a sensação pública de Que processos com primeiros ministros banqueiros ah empresários chegam ao fim nunca chegam ao fim nunca chegam ao fim e também de que e ninguém é incorruptível há essa perceção muitas vezes por parte do público eu sou a voz do Público aqui não é sim de que ninguém é incorruptível em que sentido ou seja que o também os juízes t em conta est est teia de influência por parte de eh banqueiros empresários etc que poderá haver outros meandros de ah não não isso não possa não isso isso não eu não quero dizer vamos eu não quero vamos lá a corrupção é é um é um fenómeno histórico e que acontece em todas as sociedades e em todas as sociedades em todos os segmentos da sociedade portanto não quero não significa isto que Eu queiro com isto dizer que os mastrad estão são imunes a pronto mas eh daí a a permitir sequer h a indicação de que estas coisas possam acontecer por essas razões não acho que não acho que nada que que aconteça de longa nestes processos não tem nada a ver com razões desse tipo tem de facto a ver com os mtos que são métodos de investigação que são utilizados e que do meu ponto de vista muitas vezes não serão os mais adequados Uhum E o que é que faria diferente então nesses métodos para si e eu acho que estes métodos que é preciso ser muito seletivo que é preciso selecionar É verdade que o ministério público tá obrigado tem o princípio da legalidade que o obriga a investigar tudo aquilo que conhece mas não precisa do investigar no mesmo processo é possível por exemplo separar os processos separar os factos se se conhece se no meio no âmbito de um processo se venha a ter conhecimento de outros crimes praticados pela mesma pessoa é perfeitamente possível separar o processo autonomizar pronto e fazer a investigação daquilo que limitamos a investigação daqueles factos e os outros que se foram conhecidos são investigados autonomamente noutros processos panto isso impede a formação de mega processos e impede também uma enorme delonga digamos na investigação e depois no julgamento Uhum é justo dizer que em Portugal é mais a ganância que cria a corrupção do que a necessidade não vamos lá ver eu acho que a necessidade e a ganância está tudo ligado sabe que havia um uma certa altura havia um político português que dizia que achava que só deviam ir para o governo de pessoas que tivessem meios de Fortuna suficientes porque pessoas com meis de Fortuna suficientes já não se deixavam corromper depois mais tarde ratificou e foi dizer Afinal eu percebi que tem meis de Fortuna os níveis de corrupção já são outros ou seja aquilo aquilo que chegaria para quem não tem me de Fortuna Já não chega parais tem me de Fortuna e portanto quer sempre mais não é quer sempre mais agora diz-me que que utilizou que é mais é mais é mais é mais a ganância do que a necessidade mais a ganância do que a necessidade não sei as duas coisas juntam-se não é as duas coisas juntam-se porque repar nós todos temos necessidades não é Todos nós temos necessidades se o facto de ter necessidad ou seja pois se o facto de termos necessidade nos leva a praticar crimes é outra coisa não é quer dizer porque cada um cada um cada um Vamos lá ver cada um de nós vive de acordo com as suas possibilidades não é vive com os seus rendimentos e seguramente muitos de nós queriam ter mais menos qualquer pessoa quer é legítimo que as pessoas que as pessoas queiram mas daí mas isso não significa que vão assaltar um banco certo eh e portanto a pessoa tem um certo nível de necessidades É verdade mas isso não significa que no exercício de uma função uma função pública Traia o seu dever não é de de respeito pela sua pelo seu próprio estatuto pela sua própria condição não é e que se torne uma pessoa Ema mas acha que é justa a percepção que muitas vezes existe da Cunha que que é sendo Portugal é um país pequeno também que é muitas vezes o meio para se conseguir chegar a certos a certos lugares eu não sei se sabe eu acho que a percepção que tenho atualmente é que as coisas se fazem por Regra geral por concurso Pronto agora percebo que em ambientes de em que haja liberdade liberdade de nomeação que haverá tendência para as pessoas nomearem quer dizer quem conhecem quem conhecem quem está no seu próprio círculo queem é da sua da sua confiança pronto é um pouco isso e depois se a questão das cunhas de facto as cunhas são uma são uma doença quase uma as cunhas são endêmicas Não é viu isso enquanto prendem-se as não não tanto por serem por ter por receber cunhas não consigo mas mas Observe esse fenómeno feno o que eu percebo o que eu percebo é isto o que eu percebo é que os muitas vezes as cunhas têm a ver com o déficit de funcionamento da administração ação funciona mal as pessoas ou não mal porque não só as não é percetível como também porque as pessoas têm dificuldade muitas vezes no acesso e portanto vão ao lado vão ver a quem é que eu conheço que possa conhecer alguém que me possa introduzir para para facilitar a o meu para facilitar a relação do meu dossiê Pronto tem a ver com o tempo com o tempo de resposta com todos esses fatores e pant é o ma funcionamento da administração que de alguma maneira também por isso é que a prevenção da corrupção é muito importante foi uma das suas Bandeiras mas que depois acabou por sortir grande efeito prevenção da corrupção não o a estratégia não não a estratégia tem uma dimensão de prevenção muito grande a estratégia é mais prevenção do que repressão mas gente que está a ser feita essa prevenção neste momento e essa prevenção Seria onde nas escolas a todos os níveis essa prevenção seria nas escolas a prevenção seria ao nível da administração da administração pública como é que se previne a corrupção o que que tipo de de conteúdos ou Que tipo de de iniciativas é que se podem fazer para prevenir a corrupção transparência transparência é basicamente O que é que se pode fazer para prevenir a corrupção fazer prevenir a corrupção a nível por exemplo da da administração pública é formar os funcionários públicos formar quem quem lida com as questões da administração no sentido de eles perceberem que eh a lei é igual para todos que o tratamento dos cidadãos deve ser rigorosamente igual independentemente da condição de cada um pronto e dar-lhes as maior dá-lhes a maior capacidade possível para resolverem as coisas o mais expressa possível tem conhecer a lei é é no fundo ser a lei é é ser incapazes de ser incapazes de de de a aplicar e é também resolverem as questões atempadamente e nas escolas como é que se como é que se previne a corrupção Que tipo de como como é que se ensina alguém a não corromper há programas muito engraçados vamos lá ver porque isto começa de facto nas escolas porque as pessoas muitas vezes as pessoas não vêm mal nenhum em certo tipo de Atos em eu vou pedir um favor e vou levar qualquer coisinha certo e começa tudo aí vou levar como vou levar uma prendinha vou levar uma qualquer coisinha para vou pedir umv Claro claro fazer além vou levar vou pedir favor levo qualquer coisinha is já já é uma corrupção não é um gesto simpático que é corrupção é as duas coisas é é um é um recebimento muitas vezes é um recebimento de uma vantagem que é indevida portanto é corrupção Sim essa prendinha muitas vezes é uma prenda gigante exato não é e há pessoas que até acham que acham normalíssimo fazer isso percebe terem uma no fundo é vão lá pedir um favor e tem uma e dão uma contrapartida uma contrapartida estavam previstas no seu mandato mas depois acabaram ainda estão para ser realizadas e não foram realizadas isoo is tem Vamos lá ver nós agora temos nós nesse na estratégia e foi criada uma uma entidade que é no fundo a responsável pelos programas anticorrupção não é portanto e essa entidade e assim como antes repar de antes havia no Tribunal de Contas justamente uma uma estrutura que se encarregava disso e que fazia trabalhava imenso com escolas eu fui várias vezes vários anos no mes anticorrupção eh reuniões com alunos de escolas que ganhavam portanto havia prémios haviam prémio Portanto o prémio do que era atribuído ao grupo de alunos que fizesse um trabalho mais mais interessante sobre sobre o combate à corrupção pronto práticas corruptivo evitar práticas corruptivo e havia fact coisas muito interessantes o Tribunal de Contas fazia isso e normalmente até no a cerimónia corria na polícia judiciária e era um an fiado completamente cheio de estudantes Miúdos pronto Miúdos e miúdas que cada um apresentava a sua proposta isso era curioso porque elas não só percebiam o que era tinham já quer dizer tinham apreendido a noção que aquilo que podia-se do que era a corrupção como eles próprios respostas isso é muito engraçado isso é interessante porque desde logo dá às pessoas a ideia de que não nós somos todos iguais pronto somos todos iguais devemos ter todos extramente igual e devemos tratar todos por igual se o estado funcionar bem ninguém precisa de cometer corrupção nãoé pode deixar corromper ainda sobre as Reparações históricas também queria fazer aqui uma pergunta sobre o padrão dos descobrimentos que foi vandalizado em 2021 e em 2023 numa das últimas vezes foi escrito a nação que matou África referindo-se a Portugal o akanda forever o wakanda é um país Imaginário criado pela Marvel na África subsariana pergunto-lhe O que é que tem mais peso preservar um monumento de forma Imaculada ou ter empatia pela revolta das pessoas pela frustração das pessoas o que é que tem mais peso preservar o monumento fora imaculado ou ter empatia ver eu eu francamente sou contra h a ideia de depredação de monumentos Pronto acho que as mon tem um tem um contexto um contexto histórico e que é preciso a cada momento sermos capazes de construir outros monumentos que revelem outra parte da história não apagar a história mas não apagar a história contextualizá-la não apagar a história porque a história tem que ser contextualizada Ou seja a leitura que por vezes se faz dos monumentos tem que ser refeita pronto e é preciso seguramente criar outros monumentos que deam deam do fundo deam H deam visibilidade um corpo não que não que dê um corpo à visão que hoje tem da história portanto à avaliação que hoje se faz da história quer dizer na na altura em que aquilo foi construído a a visão havia uma perspetiva da do sentido daquele monumento que hoje à luz dos daquilo que conhecemos hoje e à luz esta distância toda obviamente a leitura que fazemos é uma leitura diferente sendo uma leitura diferente não vejo razão para nós de destruímos os monumentos ou para para para os vandalizar armos Acho sim que devemos pôrnos a e não é não diria exigir mas que devemos trabalhar no sentido da construção de outros monumentos que permitam contextualizar a história pronto e de alguma maneira fazer luz sobre o contexto Em que em que em que o primeiro monumento foi construído n é uhum Doutora em 2022 responde a um questionário do público em que lhe perguntaram o que considera ter sido a sua maior realização e a sua resposta foi sobreviver sem rancor nem ódio não me deixando envenenar pelas memórias que memórias é que a podiam ter envenenado As Memórias da minha vida da do meu passado meu passado angolano sobretudo da a história de como a minha família A minha família quando fala da minha família falta doos meus pais e meus irmãos foi foi destruída uhum a sua mãe tá em 10 e do fez doz anos o seu irmão faleceu e a sua cunhada faleceram no tal golpe de 77 certo não foi Golpe Sim foi um massacre foi massacre e é isso que que se refere essas memas que ref Esso que me Firo ess é e reparo não tem só a ver com a meu irmã e com a minha cunhada tem a ver com praticamente a minha a minha geração ou seja as pessoas em que eu as pessoas que eu conhecia com as quais fiz a minha basicamente a minha infância a minha juventude foram todas mortas Nessa altura e portanto há uma parte da minha vida que que desapareceu e e obviamente aqu o que eu digo é que a minha maior a minha maior conquista a minha melhor foi ter sido capaz de sobreviver a isso e sem me deixar tomar sem me deixar dominar pelo Ódio pelo rancor e pelo ressentimento entretanto criou sua família com Eduardo P Ferreira que é o seu marido tem dois filhos e um que foi adotado precisamente o filho do do seu irmão que que faleceu gostava também só para finalizarmos eh numa outra entrevista foi-lhe perguntado para ser para se definir numa palavra e respondeu Talvez determinação continua a ser determinada Creio que sim e pelo quê em relação a quê eh em relação a causas relação a causas é eu eu o que lhe posso dizer é que há contextos e há situações em que eu não sou capaz de ficar parada pronto não sou capaz não não não não consigo por muito ainda que por muito que queira por muitos cálculos que faça que deixo de fazer não sou capaz pronto eh e e eu acho que é de facto é isso que me caracteriza e eu tenho acho que tenho de alguma maneira um provavelmente pela pela revelação da Injustiça muito cedo que fiquei tenho em mim um sentido de de não é tanto um sentido de Justiça sinto muito a injustiça e quando sinto a injustiça reajo não sou não sou capaz de me controlar não faça Justiça à sua causa de vida Muito obrigada doutora francisc abandona gostei muito de falar consigo Obrigada obri foi mais um episódio deste dona da casa sempre às terças A cada 15 dias com uma nova protagonista diferentes temas e reflexões eu sou a Catarina Marques Rodrigues e cá estarei para vos trazer mais conversas espero eu estimulantes frutíferas e que vos façam boa companhia muito obrigada por estarem desse lado e até ao próximo episódio obrigada
3 comentários
👏👏😍
Gostei bastante quer da entrevistada como da entrevistadora pois que pela sua juventude e capacidade inovadora de colocar as perguntas conseguiu tornar a entrevista belíssima e historicamente esclarecedora 😅
óptima entrevistada, péssima entrevistadora que atropela constantemente o discurso da Ex-Ministra.