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[Música] bem-vindos aos 10 anos de observador nascemos há uma década e a rádio há 5 anos assinalamos esta década com uma série de entrevistas especiais em que procuramos os bastidores dos momentos mais marcantes de cada ano eu sou o João perfiro diretor de fotografia e eu sou a Patrícia Reis curadora da exposição 10 anos observador e para este Episódio convidar Patrícia Gaspar que teve um papel importante em 2017 o ano do incêndio de pedrogão grande a cada conversa associamos uma fotografia Patrícia O que é que vê nesta fotografia pode descrever em poucos segundos Olá a ambos Ora bem o que é que eu vejo nesta fotografia vejo uma casa literalmente tomada pelas Chamas vejo alguém que deverá ser o proprietário ou enfim imagino que sim a tentar num esforço que me parece um bocadinho inglório com a mangueira a apagar aquelas Chamas que já estão a sair do telhado vejo uma casa bem arranjada com tentativas de decoração no exterior que não ajudam Nada à propagação dos incêndios e vejo desespero basicamente que eu acho que é a palavra que mais que mais transmite e que mais descreve o que aconteceu naquele mês de junho e naquele dia em concreto do incêndio de pedog Esta é uma das 80 fotografias que estarão expostas na sociedade de Belas Artes em Lisboa entre 7 de novembro e 7 de dezembro o João entretanto viveu este incêndio especificamente queres Recordar os dados referentes a pedrogão grande sim os números ajudam-nos a recordar esta tragédia esta a dimensão desta tragédia morreram 66 pessoas 253 pessoas ficaram feridas algumas delas com muita gravidade e mais de 50 casas foram destruídas na totalidade a Patrícia gar era a segunda Comandante operacional da autoridade Nacional de Proteção Civil foi depois secretário de estado da Proteção Civil no último governo de António Costa atualmente é ajunta do presidente da autoridade Nacional de Proteção Civil Eh vamos recuar até 17 de junho de 2017 H ainda sente que os incêndios de pedrogam grande foram ontem e cito e e uma expressão que usou em 2021 numa entrevista à Rádio Renascença sim eh eu acho que este tipo de eventos pela pelas marcas que nos deixam e pelo peso que TM na nossa história quer na história Global quer na nossa história de vida de pessoal que acaba por se misturar muito e neste com estas questões é um bocadinho a sensação que foi ontem e custa-me muito e às vezes até me custa a acreditar que já passaram 7 anos 7 anos ah foram foram momentos muito marcantes eu eu sempre soube que ia haver e um momento muito mau na Proteção Civil em que todo o sistema ia ser posto em stresse confesso durante muitos anos nunca achei que fosse um incêndio Florestal imagina aa sempre um grande cismo em Lisboa porque há sempre essa perspectiva não é do que é que pode acontecer vocês estão sempre a ensaiar cenários S sim e e nós trabalhamos com base em cenários trabalhamos com base em análise de risco em probabilidades sabemos que há coisas que são mais prováveis de acontecer outras menos prováveis eh há 8 anos não se falava das alterações climáticas nem dos fenómenos extremos como se fala hoje em dia felizmente as coisas hoje em dia estão de facto na ordem do dia na altura não tanto eu comecei a trabalhar na Proteção Civil em 2000 portanto já há muito tempo eh e quando passei para as operações em 2007 e fui crescendo na área operacional e fui trabalhando na área operacional e fui-me apercebendo do que era isto efetivamente eu confesso que o meu grande pesadelo enquanto operacional era um cismo foi sempre um cismo um cismo em Lisboa era aquilo que mais me assustava pois ainda é já agora continua a ser porque quem trabalha nesta área sabe que isto pode não sabe que vai acontecer não é uma questão de se é uma questão de quando eh e e temos consciência do impacto que um grande cismo em Lisboa vai ter em todos nós na sociedade na na economia e sobretudo naquilo que serão as ações de socorre e portanto eu tenho muita consciência do desafio que uma situação dessas Será no dia em que aconteça tivemos aqui uma amostra muito pequenina no outro dia que não não enfim deu deu é é é importante não não entendo mal falar do assunto deu para pôr o assunto novamente na ordem do dia e deu sobretudo para as pessoas perceberem que estas coisas acontecem e que Lisboa tem risco sísmico há risco sísmico nesta nesta nesta área os incêndios florestais por serem uma realidade permanente sobretudo no verão não é o período mais mais difícil com com a qual nós vivemos todos os anos acabam por entrar um bocadinho na nossa rotina e portanto eu eu quando pensava o que é que um dia nos vai de facto fazer vacilar sempre apontei para um sismo por exemplo ou para um outra um outro tipo de cenário mas conforme pedrogão grande foi avançando e fomos tendo as notícias de mortes de enfim daquela distribuição de património tão grande daquele desespero todo que acabou de de de verificar na exposição na fotografia que vamos ter na exposição O que é que como é que se Gere o lado pragmático e frio e operacional com o lado emotivo estão a morrer pessoas bom eh tem que se gerir com um grande equilíbrio este tipo de trabalho não é para todos obviamente e uma pessoa que tenha mais dificuldade em gerir a sua componente emotiva terá muita dificuldade em fazer este trabalho e portanto eh eu acho que consegui sempre fazer esse equilíbrio obviamente que ninguém recebe uma notícia que alguém chegou a uma estrada e que encontrou 20 e muitos cadáveres e faz um umal 236 sim e faz um cheque na Box não é OK não Claro que não porque Cada notícia que chega de uma morte àquela sala de operações há simultaneamente um momento de consternação que ninguém quer viver que ninguém quer viver não é eh mas há obviamente a consciência que o trabalho tem que continuar e aquele não é o momento de parar e portanto nós temos que continuar a fazer o nosso trabalho mas esta tragédia foi estamos Eh vamos tem uma dimensão gigantesca não foi uma morte não foram duas mortes sabendo que as pessoas não são números foram 60 eh 66 pessoas que morreram na sequência destes ccos como foi um morro no estômago foi um morro no estômago eh objetivamente e depois em outubro mais 44 quer dizer certo foi uma das maiores tragédias então que nós tivemos que que correu efeito foi mal b bom o incêndio de pedrogão sobretudo e depois mais tarde o de o de outubro com características diferentes o incêndio de Peró é hoje caracterizado e foi logo nos momentos a seguir caracterizado por quem efetivamente estuda isto do ponto de vista do comportamento dos incêndios das alterações climáticas e tudo isto não é o meu caso eu não sou cientista dessa dessa área não sou cientista de todo o incêndio de pedog é classificado como um dos primeiros grandes incêndios de última geração e portanto a nós tivemos naquele dia uma mistura de fatores explosivos a o sítio onde o incêndio surge do ponto de vista Florestal e do ponto de vista Florestal na zona onde aquilo acontece as condições meteorológicas que estavam e em curso na naquele dia e nós tivemos objetivamente um fenómeno extremo foi dos primeiros incêndios em Portugal onde eu ouvi dizer Este incêndio não é combatível hoje em dia já se fala nisto com outra eh calma com outra tranquilidade com outro com outra propriedade mas objetivamente o incêndio de pedrogão apartir de um determinado momento deixou de ser combatível a carga energética que aquele que aquelas frentes de fogo eh lançaram ou lançou h não é compatível nem com a vida humana e portanto Há momentos em que os bombeiros não conseguem chegar a este tipo de incêndio e neste caso em concreto nem sequer é compatível com a utilização de determinado tipo de meis aéreos como aliás este ano se voltou a verificar eh em alguns daqueles incêndios eh o mês passado eh no norte do do país e portanto o que correu mal foi como é que se Ger um incêndio como é que se consegue fazer uma uma uma Prevenção ou ou ou ou tentar proteger casas e pessoas num incêndio eitua um incêndio incompatível como é que qual qual é a primeira preocupação de quem está eh no no num gabinete a tentar gerir tudo aquilo que se está a passar lá fora o que é que é a prioridade máxima da vida humana Claro a nossa em tudo que nós fazemos a nossa primeira prioridade é salvar vidas salvar vidas Esse é o que está no no top da pirâmide de qualquer gestor de emergência esteja numa sala de operações em que nascid esteja num posto de comando no terreno esteja como chefe de viatura de um de um de um veículo que está a combater este incêndio Esta é a primeira prioridade Depois temos obviamente o esforço de salvar o património de salvaguardar o património que muitas das vezes é é tudo aquilo que as pessoas têm não é mas eu pessoalmente entre salvar uma casa e salvar uma vida se tiver no teatro de operações e se tiver que dar uma ordem nunca hesitarei nunca hesitarei e aliás o em mon chic em 2018 Vivi essa situação na primeira linha e não hesitei e depois temos obviamente aquilo que é a salvaguarda do património ambiental neste caso da floresta que está a arder não é floresta e portanto numa situação em que nós estamos perante um incêndio em que em cuja avaliação nos diz neste momento não é possível combater este incêndio não há muitas coisas que se possam fazer o que há a fazer é garantir que na linha de progressão do incêndio não há pessoas que as pessoas são atempadamente retiradas que se cortam os acessos à à zona para onde sabemos que o incêndio vai progredir e hoje em dia felizmente temos já instrumentos do ponto de vista da decisão do apoio à decisão operacional que nos permitem modelar a progressão do incêndio com alguma margem de erro mas com também já com alguma fiabilidade e portanto eh conseguimos à medida que se vai fazendo este trabalho perceber para onde é que o incêndio vai progredindo e portanto vamos ter que encontrar oportunidades para o combater uma estrada maior uma autoestrada um sítio onde se consigue fazer um contrafogo para terminar com o alimento do incêndio o fogo alimenta-se do combustível da da das Árvores dos Matos da Enfim tudo o que é verde não é e portanto retirar esta carga para que o incêndio vá morrendo vá perdendo força vá esmorecendo e e criar condições para que as forças possam entrar aquela imagem que não sai da cabeça dos portugueses certamente que é a estrada da morte como como assim foi foi caracterizada eh falhou isto falhou não houve as pessoas foram encaminhadas para aquela Estrada o que o que que pode AC aind hoje eu ainda hoje tenho muita dificuldade com toda a sinceridade e genuinidade genuinidade em achar que aquilo que ou a palavra falhou para mim tem uma carga muito muito e séria o que aconteceu naquele incêndio eh foi de facto a incapacidade ele foi tão rápido a progressão foi tão rápida tão forte eh e inesperado inesperado que não não havia objetivamente capacidade de saber no no intervalo de tempo que nos permitisse avisar as pessoas avisar as pessoas a tempo para onde é que este incêndio efetivamente se estava a dirigir e portanto Aquilo não é um incêndio que vai num cono de progressão perfeito em que nós sabemos que ele vai naquela linha ele abre por todos os lados e portanto não houve tempo era humanamente impossível e era imprevisível ou sim era completamente e eh ter a consciência de quais eram as vias de quais de qual era a zona e global de onde nós teríamos que que evacuar e portanto eh as pessoas reagiram com muito Pânico as pessoas reagiram com com medo as pessoas com com medo fazem coisas que em circunstâncias normais Aliás foi aquilo que disse em relação à fotografia eu eu eu lembro-me sempre de ouvir falar algumas das pessoas que faleceram eh tinham estavam naquela piscina e artificial naquela aquele complexo de piscinas das Rocas piscina das praia das rocasim chama exatamente que saíram dali para fugir para fugir e era o sítio mais seguro completamente quem conhece aquele espaço e eu conheço aqu o incêndio as pessoas ali já maisis teriam algum problema podiam ter problemas ao nível do fumo eventualmente mas era uma coisa que seria mais facilmente solucionável com a água ainda imensa água Alias certamente se recordará daquela história inacreditável em em noeirinha uma aldeia muito perto muito perto de figueiro dos vinos onde muita gente se salvou porque foi para dentro de um tanque claro claro claro e portanto é o tipo de reação que mas também a reação das pessoas é imprevisível normal sim repare e uma das coisas que nós temos vamos tentado fazer no processo de transformação que se iniciou a seguir a 2017 que é um processo a longo prazo é um processo que tem uma janela temporal de 10 anos uma das das dos vetores principais desse processo tem a ver com a resiliência Comunitária tem a ver com a sensibilização das pessoas tem a ver com o ensinar as pessoas o que é que se deve o fazer perante uma situação deste género que muitas das vezes é mais fácil e é melhor e mais seguro confinar dentro de casa do que propriamente sair para a Rua nós impl comentamos um projeto que que é quase Pioneiro na Europa e e e e que é conhecido de todos o Aldeia segura pessoa segura que implica ações de sensibilização implica explicar às pessoas implica um contacto de proximidade com as juntas de Freguesia com os serviços municipais de acha que há uma elitera accia na na população relativamente à forma como um incêndio pode acho que estamos muito melhor hoje e não há dúvida que a droga foi um como se costuma dizer agora um game changer Não há dúvida que sim as pessoas as pessoas perceberam que se morre disto Infelizmente foi preciso uma situação destas para que houvesse uma maior consciência uma maior consciência e sobretudo uma maior disponibilidade para as pessoas nos ouvirem e aceitar as ordens da genier para sair de casa e às vezes esta informação é poder não é quer dizer poder salvar eu eu ao longo das funções que fui fui tendo na nas sobretudo na área operacional e enquanto Comandante distrital em Setúbal sobretudo fui falar muitas vezes com escolas fui falar muitas vezes às juntas de Freguesia tive muito contacto direto com a população e muitas das vezes uma das coisas que eu sentia é que as pessoas estavam sempre muito relutantes não tinham paciência para aquilo olha agora ouvir e mas que é isto isto estamos aqui tranquilos e às vezes eh pronto este Episódio de certa forma eh eu acho que abriu um bocadinho a a disponibilidade das pessoas para receberem este tipo de informação por isso é que eu dizia há pouco que este sismo que aconteceu tem um lado bom é que as pessoas ficam mais receptivas a perceber espera lá se calhar aqueles conselhos que eu oço às vezes eh ter uma mochila pronta em casa muita gente gozou e até brincou com com essas medidas de autoproteção não é ex com a iniciativa que nós fazemos todos os anos da terra treme de ir às escolas obrigar os Miúdos a fazer os gestos de segurança durante um minuto em que simulamos que está um cisma a acontecer estas questões salvam vidas salvam vidas porque em grandes emergências sobretudo em emergências que são repentinas que são de desenvolvimento muito rápido como é um caso do sismo ou pode ser o caso de um incêndio Florestal nós não conseguimos nenhum país do mundo com consegue ter um bombeiro à frente de cada casa ou atrás de cada pessoa é impossível e portanto a nossa autoproteção a nossa capacidade de autoprotecção eu uso a expressão disponibilidade para que eu acho que foi isto que se conseguiu a seguir a 2017 e as comunidades hoje quando vai quando está no terreno e fala com as pessoas tem uma perceção completamente diferente também da vossa atuação Sem dúvida Sem dúvida isso também foi um game changer foi foi não tenho não tenho dúvida nenhuma eh nós a partir daí conseguimos ter uma uma uma capacidade de entrar ou de chegar às pessoas que até ali se calhar não existia tanto e portanto eh é um caminho que se está a fazer eh eu não sei se me vai se me vão perguntar isto se calhar vou-me antecipar não queria estragar aqui o alinhamento mas e m as pergunta a pergunta que eu mais ouvi sobretudo enquanto agora no no no âmbito das funções governativas foi o que é que afinal mudou depois de drogam oh mas isso é a segunda parte Então temos que ir para para intervalo vamos primeiro para intervalo Vamos só Recordar que a Patrícia Gaspar era a segunda Comandante operacional da autoridade Nacional da Proteção Civil em 2017 foi depois secretária de estado da Proteção Civil no último governo de António Costa e é atualmente adjunta do presidente da autoridade Nacional da Proteção Civil nós estamos a fazer um podcast para comemorar os 10 anos do Observador os 5 anos da Rádio observador e eh olhemos para 2017 como evento significativo pedrogam até porque o João teve lá e tem umas fotografias incríveis que nós vamos mostrar na exposição que inaugura no dia 7 de novembro na sociedade de Belas Artes em Lisboa João tu que estiveste em pedrogão deixaste uma pergunta antes do intervalo estaremos nós preparados para algo assim que é que é Patrícia acha de forma muito clara estamos hoje melhor preparados do que estávamos em 2017 eu disso não tenho dúvida absolutamente nenhuma eh crescemos muito do ponto de vista da antecipação do ponto de vista da análise dos incêndios do comportamento do dos incêndios eh do ponto de vista até da resiliência Comunitária é um trabalho grande feito agora eh este tipo de situações podem voltar a acontecer aliás eu diria vão voltar a acontecer nós tivemos o mês passado um cenário do ponto de vista meteorológico semel an algumas das condições que verificamos em 2017 sobretudo no mês de outubro não tanto em pedrogão mas sobretudo no mês de outubro h e o resultado embora haja vítimas a lamentar uma coisa que não acontecia desde 2017 vítimas civis sobretudo h e deixa aqui no lamento público também por esta por esta situação H Mas não tivemos os mesmos resultados nem o mesmo Impacto que tivemos em 2017 o sistema está hoje melhor preparado o sistema está mais capacitado o país em si os portugueses estão mais preparados agora estes eventos vão voltar a acontecer vão voltar a acontecer aqui eh em todos os países com clima Mediterrâneo certo eh E isto é uma realidade à qual nós temos que nos habituar enquanto tivermos Floresta eh desordenada em algumas partes desordenada H Isto vai acontecer mas repar quando se juntam determinado tipo de de de de condições mesmo a floresta mais ordenada vai arder certo eu lembro-me eu ouvi agora eu neste momento as nas funções que desempenho não tenho qualquer ligação direta às operações e portanto não não acompanhei do ponto de vista operacional Mas acompanhei do ponto de vista da comunicação social e estive obviamente muito atenta como imaginam e ouvi muitas pessoas a dizer diziam para limpar limpei Limpei tudo à volta da casa e isto não impediu E apesar disso que era desse não é e portanto há esta sensação de frustração eu estou a fazer tudo aqui direitinho e mesmo assim Isto arde incêndios da dimensão que nós tivemos agora e que tivemos em outubro e que tivemos noutros anos são incêndios que têm uma progressão fortíssima que TM eles passam eu vi incêndios passar autoestradas eu vi incêndios passar o Rio Tejo e portanto obviamente que eles passam faixas de contenção as faixas de contenção permitem minimizar o impacto muitas das vezes são sítios não não resolvem a 100% infelizmente e portanto Isto é um trabalho de longo prazo é um trabalho de longo prazo nós temos casas onde se calhar nunca deviam ter sido construídas eu acabei de sair agora de um evento sobre a implementação em Portugal de um Impact Center para as para as alterações climáticas de uma de uma empresa privada eh e ouvi ainda agora peritos das Nações Unidas estarem dizer Exatamente isto quer dizer eh nós estamos hoje a sofrer as consequências de um ordenamento territorial de escolhas que foram feitas há 30 40 anos e que não são compatíveis com a realidade que nós temos hoje em dia e portanto aquilo que que estamos a fazer é adaptarnos eh esperar que não se volte a fazer as asneiras do passado eu acredito que hoje em dia provavelmente casas que foram construídas em determinadas zonas hoje não seriam construídas não não seria permitido que isso acontecesse H porque quando eu vivo à sombra de um Pinhal com man onde desemboca uma mancha Florestal com 3 4 5 km se houver ali um incêndio não há faixa de contenção que o par provavelmente e portanto é este equilíbrio que vai levar muito tempo agora a nós conseguirmos corrigir ou que nós conseguirmos eh minimizar o impacto eh destas escolhas que foram feitas no passado e provavelmente H zonas ou onde ou tem Floresta ou tem Casas CTO porque as duas coisas provavelmente não serão compatíveis mas mas já falamos por exemplo da falta de de ordenamento do território provavelmente a falta de literacia das pessoas que as pessoas tinham muito antes dos incendios de drogo mas também eh muito o o o o a tragédia que aconteceu em pedrogão grande muito e também se se e corrija-me se tiver errado H se deveu à à falta de comunicações entre as as as entidades que de de Proteção Civil essas esses erros essas falhas de comunicação entre as entidades eh estão colmatadas estão resolvidas portanto podemos assumir que uma tragédia desta dimensão não não não voltará a acontecer se depender das autoridades de Proteção Civil uma uma tragédia uma uma operação desta dimensão é sempre um desafio enorme para a estrutura de comando operacional para as estruturas de coordenação que estão no terreno é sempre um grande desafio porque há muitas coisas para fazer em simultâneo há muito para para para comunicar são muitas decisões para para tomar decisões muitas das vezes implicam ouvir muitas entidades eh que operam neste neste sistema eh quando fala em comunicações normalmente as pessoas às vezes pode haver Aqui Esta confusão uma coisa são as comunicações rádio a questão do Cesp que se falou durante muito tempo que é eh eu eu querer comunicar com um carro que está no teatro de operações com um veículo e não consigo porque o rádio não funciona outra coisa é coordenação institucional que tem a ver com os o termos no à à volta da mesma mesa num determinado posto de comando ou num centro de coordenação todas as entidades que de alguma forma estão a contribuir para a gestão daquela emergência e aqui também se melhorou imenso o o o sistema CESPE Foi bastante melhorado como saberão não não vou estar agora aqui em lencar tivemos temos redundância de satélite eh temos redundância da energia e portanto há hoje em dia apar nos incêndios de Setembro como referi há pouco ainda haver corporações de Bombeiros que denunciavam a falha dessas comunicações ainda hoje h in agora não acompanhei Quanto isso não poss pronunciar Vamos lá ver nenhum sistema é 100% fiável vamos lá ver pode independentemente de todo o investimento que foi feito poderá haver uma situação pontual aqui ou ali em que haja alguma falha em que haja um bocadinho mais de minutos de espera ou de alguns segundos de espera eh não não acho que se deve considerar isso mas é inegável o que o sistema foi robustecido em todas as suas dimensões nos últimos anos da mesma maneira que se Trabalhou muito aquilo que é a coordenação institucional o trabalho de parceria com todas as outras entidades que estão na naturalmente à mesa de um posto de comando um posto de comando no fundo é o sítio onde se coordena todas as diferentes entidades que tem uma participação ativa naquela operação e que depois são apoiados pelos centros de operações que estão eh ou encarnas CDO ou nos sub regionais ou nos regionais dependendo da da zona onde o incêndio se os incêndios prog foi um teste eu não sei se foi um teste eu acho que os incêndios de pedrogão foram foi um grande Alerta sim sem dúvida foi o tal game changer para que todos inclusive é o o inclusive o poder político era uma das perguntas que eu tinha aqui naala que é coordenar diferentes eh equipas que são especializadas para São operacionais e são especializadas no combate a um incêndio é uma coisa coordenar com o poder político é outra completamente diferente sim é fácil eh para para mim na minha experiência pessoal não foi difícil porque eu vinha da área não é quer dizer portanto estes 4 anos eu estava tutular uma área que conhecia mas na altura em 2017 quando a Patrícia era a segunda Comandante operacional da autoridade Nacional eh da Proteção Civil foi fácil coordenar com o poder político que era necessário em termos operacionais e em termos técnicos Nessa altura não era eu que estava a fazer isso era o presidente da autoridade na altura eh e o comandante Nacional eh que estavam responsáveis digamos pelo sistema nessa primeira linha mas obviamente eu estava encarnas um sítio onde normalmente em períodos de maior eh atividade operacional muitas das vezes temos a presença de políticos até do Presidente da República do primeiro-ministro dos ministros do da tutela e portanto isso É frequente acontecer em car nascid temos o secretário de estado ou o ministro da administração interna e na altura estiveram obviamente sempre muito presentes também no teatro de operações uma lição aprendida que se retirou de 2017 é que se devia evitar a ida dos políticos a aos teatros de operações para para não perturbar e o o decurso da daquela da as operações e e portanto hh a Proteção Civil o sistema de Proteção Civil é um sistema muito político tem uma tem uma dimensão política importantíssima naquilo que é eh a adoção de mecanismos de coordenação e de de excecionalidade do ponto de vista político como voltou a acontecer este ano com a declaração da situação de alerta e com a declaração da situação de calamidade da articulação com as autarquias com os autarcas eh da validação de determinado tipo de decisões como seja por exemplo o pedido de assistência internacional tudo isto Exige uma grande articulação com o poder político eh e portanto é objetivamente um sistema onde a dimensão política é política não é partidária é política e portanto é absolutamente fundamental Eu costumo dizer os políticos não apagam fogos não é não não não são os políticos que apagam fogos mas dão aqui um lastro muitíssimo importante ao ao sistema eh naquilo que é nesta função de coordenação e na e e até na tomada de decisões que podem ter ter influência depois também na forma como as coisas se passam no terreno quando nós acionamos ou quando quando o o primeiro ministro decide ativar o o acionar a situação de calamidade com isto vem uma série de decisões que passam a ser possíveis acesso a determinado tipo de recursos podemos tomar determinado tipo de decisões Como impedir a passagem impedir a presença de pessoas em determinadas zonas do do espaços territoriais e portanto os políticos têm aqui uma importância grande no sistema mas não são eles que apagam os incêndios diretamente cerza uma das sequência sequência uma das consequências do do incêndio de 2017 os grandes incêndios de 2017 é a estrutura Nacional da Proteção Civil e ter sido alterada com a aprovação de uma nova lei orgânica que é uma lei de bases de Proteção Civil e o modelo foi sempre muito contestado pelos bombeiros 5 anos não 7 anos depois na verdade 5 anos depois de 2019 Ok a lei h o que como é que entende as críticas a esta lei porque este modelo devia ser repensado não deveria ser repensado podíamos ajustar atualizar Ora bem eh a opção que foi tomada em 2019 foi ainda antes de eu ter ido para assumir as funções de secretária de estado portanto foi no governo anterior àquele em que eu entrei e a opção foi de descentralizar ainda mais a ação de Proteção Civil e portanto empoderar de alguma forma as subregiões porque naqueles governos nesse governo e nos do nos dois governos seguintes era essa a política estratégica eh que estava em vigor e portanto a opção foi deixar cair os comandos distritais eh criar cinco grandes comandos regionais portanto que estão equiparados estão no mesmo nível das comissões de coordenação e desenvolvimento Regional as ccdr eh e depois eh abaixo disso os comandos subregion portanto 24 comandos subregion ais equiparando do ponto de vista administrativo ao mesmo nível que estão as comunidades intermunicipais esta era a política que era perseguida na altura diramos que centralizar e levar a Proteção Civil mais próxima do cidadão do terreno das autarquias que é onde de facto muitas destas decisões acabam por se por se jogar eh nós Isto foi aprovado em 2019 2020 estávamos a começar a iniciar o processo de implementação deste novo modelo territorial da da autoridade Nacional de emergência e Proteção Civil quando aparece o cados pelo covid não é e de facto não era possível fazer a minha primeira me Prim foi vamos parar isto porque não é momento para estar a fazer estamos o sistema está num num num num num stresse Brutal em termos daquilo que é o seu out uma coisa nova nunca ninguém aqui tinha gerido uma pandemia panto eu não vou mudar um sistema nesta Proteção Civil mudou completamente o chip não é sim não aqu foi uma coisa que ninguém estava à espera era daqueles cenários Que nós tínhamos lá nos slides como podia um dia acontecer mas que nunca ninguém acreditou que de facto acontecesse certo pronto são os tais fenómenos de baixa probabilidade mas de alto impacto e que hoje em dia já já estão já estão a ser trabalhados de outra forma e o covid veio dar também aqui uma alavancagem diferente a isto mas portanto eh esse modelo acabou por só ser implementado no início de 2023 porque os dois primeiros anos não não tinha não foi de facto possível conseguir fazer essa essa mudança quem critica muito esta eu não queria entrar aqui em grandes cías mas eh durante o período em que eu estive e eh no governo as grandes críticas que nós recebemos deste modelo não são dos Bombeiros a crítica é da liga dos bombeiros portugueses eu estive no terreno muitas vezes que representa acaba por representar Mas esta é esta é uma posição da liga dos Bombeiros portugueses eu estive eh eu eu e o ministro o anterior ministro da administração interna Dr José Luís Carneiro fizemos um périplo eh de Norte a Sul ao nível das Comunidades intermunicipais e reunimos com todos os comandantes de Bombeiros e todos os presidentes de direção eu não ouvi uma única as queixas que eu ouv em relação a Isto são perfeitamente residuais eh os bombeiros esta nova organização não altera rigoros ente em nada a forma de trabalhar dos bombeiros em nada a única diferença é que em vez de reportarem ao rádio quando estão numa ocorrência para um comando distrital reportam para um comando subregional os bombeiros em Portugal têm uma implementação que é local é municipal a sua área de jurisdição está circunscrita à área de um município ou menos de um município quando temos mais do que dois ou três corpos de bombeiros no mesmo município e portanto eh o seu o seu o seu modo de trabalho a sua forma de trabalhar mantém-se completamente inalterada portanto isto não tem qualquer afetação direta naquilo que é a Vida do dia a dia dos corpos de Bombeiros e tanto não tem que a vida continua Desculpem a expressão Business e portanto não não não há aqui rigorosamente nada a dizer agora se me disserem assim a a política muda e a visão é diferente Pois então e se calhar terá alguns modelos terão que ser repensados este modelo fazia sentido numa lógica de toda a administração iria dentro do possível ser mudada para esta nova para este novo modelo nós fomos Pioneiros aí fomos dos primeiros a conseguir fazer esta esta alteração que não foi fácil como devem imaginar agora tinha uma lógica deixa-me perguntar-lhe uma coisa Patrícia Gaspar volta a recordar que é neste momento a adjunta do presidente da autoridade Nacional da Proteção Civil há muita gente que diz isto e eu de facto tendo a concordar nós lembram-nos dos Bombeiros numa aflição tratamos nós bem os nossos bombeiros bom eu posso falar por mim até Abril deste ano que foi o que tive onde o momento em que tive a possibilidade de fazer alguma coisa se me perguntar assim gostava de ter feito mais gostava gostava de ter conseguido imprimir a mudança que o sistema precisa ah tentamos fazer muitas coisas tentamos e fizemos não fiz tudo o que que gostaria de ter feito mas nós conseguimos ainda assim ao longo destes 4 anos em que eu estive no governo e são os únicos que tinha a tutela política desta área conseguiu-se eh melhorar em alguns aspectos a a vida dos bombeiros voluntários aumentando o financiamento permanente todos os anos foi aumentado eh o valor que anualmente é transferido para as associações eh reforçamos brutalmente aquilo que é a rede de equipas de intervenção permanente de norte a sul do país nós tínhamos eh Há 6 anos cerca de 200 equipas no país eu quando saí em abril tínhamos 700 a funcionar e portanto foi isto implica esta esta estas equipas implicam eh cinco bombeiros que ganham de alguma forma um vínculo profissional às suas e associações e portanto que têm uma estabilidade diferente aquilo que neste momento importa fazer na área dos bombeiros voluntários é uma mudança grande de paradigma é perceber que modelo é que nós queremos para os bombeiros voluntários eh Que tipo de sistema é que queremos ter quanto é que ele custa e como é que nós vamos implementar e este é um trabalho de fundo os bombeiros não precisam de paliativos eh precisam agora na fase em que nós estamos e com o cenário Global em que sabemos que os bombeiros vão ser cada vez mais precisos na nossa sociedade porque os fenómenos não estão mais fáceis estão cada vez mais difíceis e além daquilo que é função de rotina do dia a dia dos Bombeiros eh da emergência pré-hospitalar do transporte doentes não urgente até do apoio social que muitas vezes dão sobretudo nas comunidades mais isoladas e tem um papel insubstituível na nossa sociedade eh eles também são aqueles que estão depois na primeira linha não que estão na Linha da Frente nestes fenómenos de maior intensidade e de facto nós precisamos de mais profissionalização precisamos ainda de mais formação precisamos de um vínculo estável e de uma de uma de uma carreira previsível para que eles possam manter-se nesta função o voluntariado é a génese h dos bombeiros Hoje em dia a maior parte do do das corporações de Bombeiros não vivem com base em voluntários os voluntários são quase que uma linha de apoio que entra que entram eh eles são voluntários na sua origem digamos assim mas hoje em dia grande parte dos corpos bombeiros aquilo que assegura o socorro 24 sobre 24 horas por dia nas suas badora maioria são bombeiros que têm um vínculo laboral com as entidades detentoras destes corpos bombeiros seja através das equipas de intervenção permanente seja através de contacto de contratos de trabalho normais digamos Sem intervenção nestas equipas e depois há obviamente uma série de voluntários que apoiam e que entram na segunda linha e que fazem exatamente a mesma coisa portanto não há aqui nenhuma distinção quer na qualidade a formação é a mesma quer no no no trabalho que efetivamente desenvolvem tem um vínculo diferente mas o sistema todo ele precisa de ser repensado mas não é de agora já de há muitos anos é de há muitos anos por algum motivo ainda ninguém o fez é porque isto não é fácil não é não é fácil não é fácil mas pra patrí mesmo para terminar uma resposta muito rápida eh recorda-se certamente do dia 17 de junho de 2017 Qual foi o momento mais difícil para si eh em toda a coordenação do incêndio de pedrogão que sabemos que teve ativo eh cerca de seis dias portanto começou Def fagar no dia 17 e e vitimou tantas pessoas e destruiu tantas casas Qual foi o momento mais difícil o momento mais difícil foi aquele em que eu percebi a dimensão do que ali tínhamos quando é que foi foi quando eu recebi um telefonema de um colega meu Ah que estava lá no terreno que me ligou ele foi talvez a primeira pessoa a chegar à Estrada da Morte eh e ele telefonou-me e disse-me Patrícia não há noção do que aqui está à minha frente eu já encontrei mais do que 10 cadáveres e ainda não cheguei nem a meio da estrada e portanto foi quando nós percebemos eu foi quando eu percebi que provavelmente íamos ter aqui de facto uma situação muitíssimo complicada e tivemos vou Recordar que Patrícia Gaspar era a segunda Comandante operacional da autoridade Nacional de Proteção Civil foi depois secretária de estado da Proteção Civil no último governo de António Costa e é atualmente adjunta do presidente da autoridade Nacional da Proteção Civil é alguém que sabe de Proteção Civil muito obrigada nem que seja pelo tempo pela longevidade Obrigada por ter aceitado o nosso convite no próximo episódio falaremos sobre um aconte que marcou o país mas desta vez em 2018 eu sou J Porfírio que é fotojornalista editor de fotografia do Observador e eu sou a Patrícia Reis e este é o 10 anos de observador obrigado [Música]
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A das Golas