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[Música] bem-vindos aos 10 anos de observador nascemos a 10 e a rádio A5 assinalamos esta década com uma série de entrevistas especiais que procuramos os bastidores dos momentos mais marcantes de cada ano eu sou o João Porfírio fotojornalista E editor de fotografia e eu sou a Patrícia Reis escritora e curadora da exposição 10 anos do Observador para este Episódio convidamos Maria João Faustino doutorada em psicologia e investigadora na área da violência sexual dinâmicas gender zadas e representações mediáticas ainda investigadora do projeto uncover violência sexual nas paisagens mediáticas portuguesas bem-vinda Maria João obrigada obrigada pelo convite a cada conversa associamos uma fotografia H que pediríamos à Maria João para descrever e a fotografia é esta Maria João é uma fotografia em que não não não são perceptíveis as as caras e das pessoas envolvidas por razões de de preservação de identidade Claro é uma fotografia com bastante sombra vê-se um corredor isto no contexto de uma de uma casa abrigo H portanto a fotografia está inserida num contexto eh de reportagem é é e sabemos que é no contexto de uma casa a abrigo num contexto de violência hum vemos aquilo que Assumimos ser uma mãe com uma criança que parece um rapaz eh Pequenino de onada eh bastante com bastante Sombra e a parte luz é precisamente a parte onde estão Estas pessoas Hum acho que não é não se tiram muito mais elementos gráficos este este é um retrato daquilo que se passa em Portugal e nas casas de abrigo em Portugal é um retrato de Mães com filhos sim é é o retrato nós sabemos que a violência doméstica e e por consequência é a realidade das casas abrigo tem uma marca profundamente gizada eh São indissociáveis é não é possível pensar e perceber e abordar a violência doméstica sem este recorte de género sabemos que a violência doméstica está ligada é uma das expressões da violência contra as mulheres portanto Sim aquilo que vamos encontrar que claro que existem homens vítimas de violência mas aquilo que vamos encontrar são a esmagadora maioria são Mulheres vítimas h e muitas vezes com filhos portanto Esta é a realidade das casas abrigo Sim esta imagem que mostramos a Maria João Faustino a nossa convidada é uma das 80 fotografias que estará na exposição na sociedade de Belas Artes em Lisboa entre 7 de novembro e 7 de dezembro uma exposição que assinala os 10 anos do jornal 2014 ficou marcado pelo lançamento do Observador e entre outras reportagens esta sobre violência doméstica em Portugal eh fez algum algum furor eh Porque alguns dos dados eram realmente muito preocupantes entretanto passaram-se jornalista snia Simões snia Simões É verdade entretanto passaram-se 10 anos mas os números continuam a ser igualmente preocupantes só para dar uma Dimensão em 2014 foram registradas pelas forças de segurança eh 27.317 participações de violência domésticas 11.726 na GNR e a 15.591 na PSP as vítimas eram do sexo feminino 84% e a violência física assume maior expressão nas situações de violência doméstica entre namorados 88% e contrad descendentes 77% mudou muito em 10 anos mudou qualquer coisa H E eu acho que devemos sempre reconhecer ser o caminho que também foi feito e nós falamos muito mais disto Há Um Caminho feito em torno da visibilidade do debate público da consciencialização em torno da violência doméstica alguma coisa foi feita nestes 10 anos Claro a mal seria não é com tanto esforço e das associações das pessoas envolvidas e houve efetivamente eh algum reconhecimento do problema Por parte das políticas públicas mas houve um momento também de que trouxe retrocessos e que impossível e não abordar a questão da pandemia todos os desafios que foram colocados às organizações h e as marcas que a pandemia ainda nos deixou não é eh portanto foi feito algum caminho eu acho que há sinais de retrocesso e há sinais de perigo há sinais de backlash nós vemos os novos os discursos eh misóginos e sexistas que nunca saíram efetivamente do do deito social mas a ganharem nova força h e nova projeção muitas vezes entre pessoas jovens nós sabemos que a realidade da violência e no namoro existe também se fala mais sobre ela mas há muito ainda a fazer muito sobre o caminho que foi feito e o caminho que falta percorrer eu acho que nós falamos muito mais de violência violência doméstica começamos a falar mais sobre violência sexual nos últimos anos também acho que eh houve conquistas a assinalar mas nós Ainda temos muita dificuldade em falar sobre a articulação das duas coisas por exemplo duas coisas porque há uma distinção entre violência doméstica e violência sexual queres falar sobre isso sim com com todo gosto a violência sexual e da maneira como como está tipificada envolve eh na legislação portuguesa envolve outras formas de violência que não sexual pode envolver violência sexual mas nós associamos muito a violência doméstica à violência física aos mal tratos físicos reconhecemos mas reconhecemos eraa o que ia dizer reconhecemos menos a violência psicológica reconhecemos ainda menos a violência financeira eh ehh e temos ainda muita dificuldade em falar sobre a violência sexual no contexto da intimidade esta casamento de casamento ou na ou nas relações de namoro na românticas e e de intimidade aqui ainda há um grande caminho a fazer a ideia de que é um estranho que a violência sexual é é é cometida por estranhos por pessoas que nós conhecemos muito mal e que identificamos como perigosas Este é um mito que ainda é muito persistente reconhecer que a violência sexual no contexto do namoro do casamento é muito persistente isto ainda é o desafio é um desafio para o debate público e aqui ainda há muito a fazer e queria só deixar que tem espaço onde por exemplo nós temos depois do mitu eh construído caminhos e há bons sinais há trabalhos jornalísticos excelentes que têm contribuído para h para a visibilidade do problema pel menos para uma maior consciencialização Sim Sim tem mas eu sei que também são pessoas às vezes são ilhas não é São pessoas que estão particularmente investidas nestes temas e parece que eh não há ainda um grande compromisso generalizado há bons exemplos há muito bons exemplos a mas não há assim tantos exemplos tão bons não é nós Ainda temos Ainda temos algum caminho a fazer mas na questão da violência doméstica O que é que mudou em 10 anos eu acho que nós temos de e agora que Neste contexto do orçamento de estado não é temos de e de reconhecer que as as associações que dão respostas efetivas todos os dias H que é uma responsabilidade coletiva e é uma responsabilidade do estado que é assumida pelas organizações estas organizações estão a ar pela supervivência porque não têm financiamentos porque não tê financiamentos muitas vezes e porque tem financiamentos a prazo portanto a resposta passa por aqui nós não podemos só falar do problema sem depois ter meios e de resposta efetivas as casas abrigo tudo isso eu ouço muitas vezes relatos de pessoas que estão no terreno no trabalho com vítimas diárias como é que se pode fazer um bom trabalho e um trabalho de continuidade se nós estamos sempre na eminência de ficar em financiamento e como é que podemos fazer um bom trabalho quando perante uma vítima não temos grande capacidade de propor alternativas porque não temos como a apoiar financeiramente isso também é uma realidade examente exatamente que a resposta passa necessariamente por aí as pessoas poderem ter projetos alternativos de vida e autonomia financeira portanto havendo dependência financeira é muito difícil que haja um projeto de reconstrução e de emancipação e de autonomia Claro a questão de classe e questão de panto acaba por ser uma pescadinha de rabo na boca completamente completamente este este este é um debate que tem mesmo ser feito e mais do que um debate eu acho que é uma exigência que nós temos de fazer que as associações tenham meios eh sejam dotadas de meios e de estruturas para dar resposta efetiva todos os dias é um problema que todos os dias acontece que todos os dias se põe mas esse debate por exemplo as associações fazem muito esse trabalho e t eh eh fazem conferências colóquios conversas mesas redondas tudo o que possamos imaginar para alertar as pessoas que essas todas essas descrições que fez do tipo de violência que muita gente não sabe desde a financeira à sexual à doméstica H onde é que esses eh essas conversas esses fóruns deveriam ter lugar e ainda não têm nas escolas nas universidades na própria Assembleia da República eh dentro do governo onde nas Forças de segurança as forças de segurança deviam ter uma um um um umas conferências um umas conversas um tipo de Formação especializado sei que que a a naturalmente a GNR a PSP e mesmo a a PJ têm Mas é uma percentagem muito pequena de inspetores uma percentagem muito pequena de Agentes e de militares é uma grande literacia não é é uma grande literacia não só na população em geral mas naturalmente também nos nossos deputados nossos políticos nas nossas forças de segurança onde é que esses fóruns deveriam ter mais lugar digamos Obrigada pela pergunta porque é uma pergunta muito importante hh nós temos mesmo de exigir formação adequada para as forças policiais para magistradas e magistrados que reproduzem tantas vezes tantos mitos sobre a violência doméstica sobre a violência sexual há trabalhos excelentes na academia eu acho que esse esse contributo H acontece e é e é muito importante mas às vezes o diálogo com a sociedade civil e sobretudo com agentes todo o tipo de Agentes que lida com vítimas H às vezes falha um boc não é esta Esta produção académica às vezes não dialoga a suficiente com quem efetivamente está no terreno e tem Impacto e as forças policiais são absolutamente essenciais formação adequada formação adequada e continuada eh não pode não pode ser apenas uma percentagem que tem acesso a esta informação e este tipo de Formação contínua mas tem de ser uma coisa alargada e tem de ser uma coisa continuada no tempo tem de ser formação adequada eh e este este trabalho em rede nós sabemos que só trabalhando em rede Nas questões da violência que vamos chicar a algum lado Ainda há uma grande desarticulação magistradas e magistrados eu aqui deixo a referência ao trabalho da Isabel Ventura a medusa no palácio da Justiça que é um trabalho de investigação de grande profundidade onde ela analisou eh muitas das decisões judiciais teve entrevistas com magistradas e magistrados e analisou acórdãos h fez um trabalho também de investigação sobre a Lei e concluiu e esse é um trabalho de excelente que tem de ser aproveitado concluiu que existem muitos mitos ainda sobre o que é uma vítima sobre o que é uma violação portanto nem estamos Claros ao nível do dos conceitos dos diferentes conceitos não estamos não estamos a reprodução de mitos da violação os chamados mitos da violação por quem aplica a lei são ela encontrou coisas nós temos muito exemplo do do neto Moura que foi muito discutido muitas vezes as decisões da mulher adúltera precisamente e a referência ao contexto bíblico para justificar este esta esta censura histórica que ele dizia que são as ele dizia inclusivamente que são as mulheres honestas as primeiras a julgar as mulheres adultas não é esta esta decisão Em particular causou um Grande Debate público felizmente e causou reações muito viscerais mas o trabalho da Isabel com outros juntamente com outros trabalhos o que mostram é que muitas destas decisões e são mais subtis eh na argumentação mas existe não é uma exceção como nós gostaríamos de pensar o neto Moura não é uma exceção ao sistema não é uma exceção ao quadro mental eh portanto temos o preconceito e o moralismo instalado e temos referências e judaic cristãs um lagado judaico aou Cristão forte muito forte esse lagado e portanto eh eh ideias feitas preconceitos muitos preconceitos Muito muitos preconceitos sexistas h e há um legado Como Tu disseste Patrícia muito bem J CR ão e também existem características sociais de um país muito pequeno muito conservador com o legado de uma ditadura eh do qual ainda não nos livramos não é portanto eh nós gostamos de pensar que as pessoas o os jornalistas são neutros que os magistrados são neutros são são pessoas assim não nós partilhamos todos da mesma cultura vivemos todos na mesma cultura portanto reproduzimos seja nas relações seja nas decisões judiciais não há imparcialidade não há imparcialidade imaginemos um cenário deste gênero uma mulher é vítima de violência doméstica e eh o julgamento inicia-se a Juiz é uma mulher eh perdão existe duas possibilidades um juiz homem e um juiz mulher a decisão será certamente diferente se for uma mulher a julgar aquele homem que está a a que exerceu violência doméstica contra aquela mulher do que se for uma mulher não é necessariamente diferente necessariamente Di não sabemos isso não é necessariamente diferente aliás nós temos nós temos exemplos concretos H mulheres que juízas e lembram-se certamente do caso do psiquiatra H que violou uma paciente grávida de 8 meses Penso que em 2012 havia uma mulher juiza e portanto não é necessário e não é necessariamente diferente e também existem trabalhos bons feitos sobre isso porque é também eu acho seria ingénuo pensar que as mulheres h não reproduzem sexismo não reproduzem eh quadros mentais machistas se eles são eh o comum as mulheres são socializadas na mesma cultura portanto nós eh reproduzimos também machismo reproduzimos prova disso é aquilo que falou no início dos movimentos que cada vez se vê mais na na na na negação da da violência doméstica da negação de que a mulher é igual ao homem portanto isso eh Existem muitos desses a ganhar expressão entre pessoas jovens que o que é bastante preocupante existem discursos às vezes mais subtis que parecem mais sofisticados H por exemplo na contestação da da marca de género da violência ah violência não também existem homens vítimas isso não tem nada que ver com mulheres isso não tem nada que ver com o género violência doméstica não tem nada que ver com géo tem nós sabemos nós sabemos prova disso prova disso João deixa-me só só interromper para dizer uma coisa antes que nós também estamos próximos do intervalo eh sobre estas questões está neste momento uma peça eh eh no teatro h no Teatro Maria Matos uma peça ensinada pelo Tiago Guedes eh com uma versão Portuguesa de um texto da Susie Miller chama-se à primeira vista tem Margarida Vila Nova a fazer um monólogo inacreditável extraordinário e é exatamente sobre isto como é que uma mulher advogada de defesa eh advogada de defesa de agressores sexuais de repente é agum sexualmente eh processa o agressor e como é que de repente vê o sistema no qual ela acreditou uma vida inteira que se vira contra ela e é incrível custa 20 € dura 1 hora e meia e é uma Peça maravilhosa portanto por favor tambm ao teatro ela fenom uma interpretação fenomenal e uma peça extraordin fazos pensar M Desculpa ter interrompido João não é uma super referência porque é mesmo muito boa vale a pena e prova disso a que Maria João gostava que estava a dizer do do que a violência de facto tem a ver com o género em 2023 a morreram 22 pessoas no no contexto de violência doméstica 17 mulheres duas crianças e três homens em 2022 28 homicídios 24 mulheres e quatro crianças portanto em 2 anos morreram apenas e qualquer uma que fosse seria muita Claro mas Três Homens em comparação para 17 mulheres claro que a violência doméstica tem Claro a ver com o e não só H aí nós temos H estamos a falar e aos números extremos não é homicídios de crianças homens e e e e mulheres Claro felizmente eh muitas das eh violências que são exercidas contra pessoas não não não não tê como consequência homicídio E aqui estamos só a falar dos números gordos da ponta dober Claro Claro que tem a ver com o género sa Claro que tem Claro que é uma expressão tem uma expressão gizada tem é uma expressão da violência contra as mulheres e é uma é uma expressão da violência machista é a expressão última da violência machista e Mas isso é só uma parte isso é só uma dimensão do problema falta saber quem são os perpetradores Quem são os Quem são os assassinos dessas dessas mulheres crianças e e desses homens Claro Muito provavelmente seriam todos homens eu não não não tenho os de cor mas muito provavelmente seriam não é possível perceber a violência doméstica e a violência sexual sem perceber a violência mais as dinâmicas de gnero não é só uma questão estatística é perceber Qual é a raiz de fundo e a raiz de fundo é uma sociedade patriarcal que trata as mulheres e os homens de forma muito diferente que dá mulheres e homens poderes muito diferentes e nós temos uma uma cultura e pensamos que gostamos de pensar que já estamos muito longe disso que ah as leis foram mas pensamos o o o estado novo e a distinção entre mulheres e homens e toda a amorização das mulheres é um legado muito recente há muito caminho há muito trabalho a fazer fazer haverá solução para a violência doméstica tem de a ver nós sabemos nós não podemos aceitar que isto seja uma inevitabilidade não é nós sabemos que tem de haver temos de acreditar e acreditamos e sabemos que há solução Muito provavelmente não vai ser nosso se calhar no nosso tempo de vida não vai ser num futuro tão próximo porque erradicar a violência doméstica implica erradicar algumas das estruturas basilares da sociedade ainda hoje isso vai levar muito tempo há bocadinho João referis a questão da educação e falamos só das Polícias e da magistratura mas a educação tem de começar a educação para esta para estes temas educação para a Sexualidade a educação para a cidadania a educação para a liberdade educação para para para a liberdade para a liberdade no fundo não começa em casa e tem de começar nas escolas de forma muito mas muito continuada e t de começar muito mais cedo nós não podemos ser inguas e ingénu e pensar que começamos a falar destes tópicos aos 15 anos e que vamos a tempo porque todos estes discursos que ainda são dominantes estão em todo lado estão nos média estão nas famílias estão nas escolas ainda portanto se nós não começarmos muito cedo e fizermos um investimento longo prazo nós não vamos conseguir não vamos conseguir Isto é um trabalho de longo curso que implica formação nos média na magistratura na educação T de estar nas escolas as escolas também estão há bocadinho falávamos das das associações a lutar pela sobrevivência as escolas lutam também muitas vezes quase pela sobrevivência não é pelo por terem condições mínimas de funcionamento tudo isto faz parte deste grande bolo não é deste deste caldo Cultural de nós temos de exigir meios temos de exigir recursos e temos de Eu acho que esta questão da educação é fund mental e e tem também sofrido um grande backlash tem sido uma a ideia de que a violência para a Sexualidade é qualquer coisa que ameaça que sexualiza às crianças que ameaça que é uma função das famílias nós sabemos que muitas das famílias não têm meios para falar dessas coisas Muitas das famílias reproduzem violência e têm literacia sobre o tema precisamente portanto é um direito eu acho que é importante dizer a educação é um direito é um direito das pessoas e a educação abrange inclui educação para a Sexualidade eu não tive conversas Aposto que vocês também não tiveram nas escolas sobre sexualidade da forma que eu gostaria de ter tido H que me tivessem dito que me Tivessem falado explicitamente para sobre violência sexual eh houve muitas coisas que Eu reconheci muito mais tarde que se calhar teria sido muito útil eu ter tido pistas e ferramentas para reconhecer para responder nós não podemos demitir noos desse papel não podemos enquanto sociedade civil nós não podemos demitir noos desse papel isso isso começa nas escolas também e como é que as escolas que fazem esse papel as associações fazem esse papel a Maria João como investigadora faz também certamente esse papel como é que olha para movimentos extremistas radicais extrema direita que estão exatamente a tentar Remar contra essa Maré vemos por exemplo o o o grupo avias corpos que é contra nega a igualdade de género nega a a moça sexualidade nega a todo o tipo de de liberdade que a Maria João falava Logo no início como é que estes movimentos sabemos nós que são muito eh minoritários em relação à toda to minoritários mas bem financiados sim exato e e mas mas em comparação a todo o país são muito pequenos mas que têm como vemos e França Itália Alemanha Há uma grande probabilidade e há um grande espaço para este tipo de grupo crescerem como é que associações a própria Maria João e os seus colegas enquanto investigadores olham para estes grupos que tentam Remar contra esta Maré toda de de Portugal está a mudar para melhor e eu vejo e e sei que não estou sozinha com muita preocupação com muita preocupação também seria estranho se nós não tivéssemos não acompanhá a tendência não é de crescimento e da Extrema direita no contexto europeu eu a durante muito tempo Acho que pensá que éramos uma exceção feliz H vejo com muita preocupação Eles são de facto um grupo pequeno mas como diz a Patrícia nós temos de pensar Há muitos outros são bem organizados conseguem muito espaço mediático H é muito bem organizados nas redes sociais utilizam muito bem as redes sociais chegam a a chegam sobretudo a muitos jovens muitos jovens Claro e e mais do que um grupo específico ao outro nós eu eu acho que temos de pensar como os grupos e o backlash não é que assistimos os grupos nós falamos pensamos que os incel são ali uma coisa uma franja muito minoritária muito extrema assim uns tipos que vivem no sótão às vezes é caricatura que se faz não é que vivem assim num sótão não saem de casa a cultura dos incel da manosfera da misogenia online organizada é tremenda é enorme pensar que em Portugal estamos imunes a isso à misogenia online e a expressão de organizada muitas vezes não é teve imenso peso imensa imensa influência eh na na cultura política dos Estados Unidos recente portanto pensar que aqui estaríamos fora dessa dessas influências e dessa maré de misogenia organizada não é só tapar os olhos e qu ver olos é só tapar os olhos mas eu acho que temos que ter uma conversa muito sério porque querem ameaçar direitos que nós tomamos como garantidos eh nós ouvimos temos agora de forma aparentemente mais despudorada coisas que eu não me lembro de ouvir H num registro público tão abertamente com tanto orgulho não é elas sempre estiveram lá mas dizer à boca cheia e assim meio de represálias coisas tão sexistas sobre o papel das mulheres e o volta para a cozinha isto no contexto digital ganhou ali novo folgo não é e a ideia de a perceção de impunidade que o online também gera muitas destas coisas tem ser ldas também no contexto da cultura digital como nós não lhes respondemos ainda não é tu tens tu tens um trabalho feito na área mediática tu tens essa preocupação de acompanhar e a como é que nós divulgamos informação eh no passado dia 8 há uma notícia que reza assim polícia judiciária deteve 97 mulheres por crimes sexuais nos últimos 10 anos mais de metade abusaram de crianças eh Isto é o o título da Notícia destas 97 mulheres é preciso dizer que há 3000 300 homens A cometerem exatamente o mesmo tipo de crime neste mesmo período Ah e e a minha pergunta é este enfoque nas mulheres para dar um título a esta notícia é o quê é clickbait eh não tem outro nome isso é claramente o choque eh choque mediático e portanto se fossem 3300 homens foram presos pela polícia judiciária por agressões sexuais era mais eh acomodava Vel ISO e a questão é que isso não traria atenção não não seria choque não é não seria choque nós estamos tão já já é tão rotina ver eh ver números sobre violência cometida por homens não é que pegar nesse gancho até podia ser interessante mas esse título induz desvirtua completamente logo a abordagem nós sabemos que muitas pessoas ficam pelos títulos e pelas não leem depois as notícias eo circula se cumpre uma função Não é ha também há mulheres as Como se isto fosse uma novidade não é mas pegar nesse número dar-lhe a expressão o protagonismo na notícia não é quando isso é uma uma fatia pequena do da realidade e da realidade que a própria notícia eh espalha eu acho que temos de questionar Exatamente porque é que essa informação foi selecionada para título não é que função é que isso compre como é que é aproveitada H porque é que porque é que o destaque é d a uma H exceção e não H regra não é e sabemos como é que esses títulos São aproveitados não é sabemos como é que são como é que são lidos e sabemos o efeito estamos a falar sobre violência doméstica e estamos nos a focar no ano 2014 uma fotografia que vai estar na exposição do Observador 10 anos observador que vai estar patente de 7 de novembro a 7 de dezembro na sociedade de Belas Artes em Lisboa e por estarmos a falar de violência doméstica eu acho que que também nos cabe a nós enquanto jornalistas e assim investigadora Maria João enquanto investigador deste tema deixar um apelo quem nos está a ouvir se alguém é vítima ou sabe de alguém que é vítima de violência doméstica precisa de ajuda há uma linha de apoio anónima e basta enviar um SMS para o 3060 ou ligar durante 24 horas por dia 7 dias por semana para 800 202 148 esta linha é gratuita Como disse s dias por semana 24 horas por dia e é nacional e relembro que violência doméstica é um crime público não é necessário que a vítima seja ela própria a fazer queixa do agressor ou da agressora naturalmente é eh nós enquanto vizinhos enquanto amigos enquanto conhecidos familiares temos a obrigação legal de denunciar estes ou estras agressoras é verdade Maria João Faustina é a nossa investigadora a nossa convidada para este podcast eh nós começamos por ver uma fotografia de uma reportagem eh que saiu no observador no ano do lançamento do Observador em 2014 e é uma fotografia de uma casa Refúgio existem muitas falamos já sobre financiamento a minha pergunta é outra que é uma mulher que passe por uma casa porque a maioria são mulheres uma mulher que passe por uma casa de refúgio que futuro é que tem as associações trabalham para que seja reconstruo seo para que esse futuro exista Primeiro para que esse futuro exista e que seja um futuro feliz e seja um futuro livre de violência Isto é sempre feito com as mulheres com as mulheres que foram vítimas não não não cabe a ninguém de Fora vir criar um projeto de vida e empolo portanto Este trabalho é sempre feito com as vítimas no empoderamento das vítimas no empoderamento das subviventes para que elas encontrem eh e façam construam o seu próprio projeto hã livres de violência isto muitas vezes é difícil não é muitas muitas vezes cortar o CC o cículo da violência hum nós temos muito ainda a ideia mas porque é que ela não sai Porque é que ela levou tanto tempo a sair H muita culpa H vergonha à ideia de de não merecimento Claro a a destruição muitas vezes do Círculo social da confiança da pessoa subjugação violência psicológica são formas muito H uma destrução total destrução autonomia da autestima portanto são processos que às vezes levam muito tempo e e são processos muito demorados e difíceis muitas vezes muitas vezes acompanhados de uma vítima eh pode ser indireta ou direta que é uma criança raramente queremos muito falar sobre estas crianças não é é absolutamente verdade e o que Tu disseste é muito importante Patrícia porque nós e o o reconhecimento de que não existem vítimas indiretas as crianças em situação em contexto de violência doméstica e familiar não são vítimas indiretas nunca nunca as eh nós costumamos olhar para as crianças ali como el ouvem tudo vem tudo e e e são vítimas sentem tudo e não é possível crescer este este direito a ter uma infância em liberdade e em segurança não é não é possível num numa estrutura familiar H onde imprime onde a violência é é é rei não claro portanto não há vítimas indiretas não há esta coisa que são testemunhas nós tentemos olhar para as crianças de uma forma como se elas fossem ali um acessório que estava dentro de casa e que até serve mas também é uma maneira de desvalorizar essa responsabilidade que deveríamos ter parentelas nãoé precisamente precisamente cada vez eh se fala mais em determinados círculos sobre a proteção das Crianças eh mas e nós no no debate público mais amplo muito muito raramente falamos deste desta questão que é é é é questão essencial é uma questão essencial que como é que asseguramos a liberdade das Crianças a dignidade das crianças não as tratando como ali quase um acrescento não é um dano colateral um apêndice como é que construímos estes projetos também com as crianças envolvidas mas sobretudo esta esta sublinhar que não são nunca vítimas indiretas não não são testemunhas não são pessoas que mãe até sofreram por arrasto não em situação de violência as crianças são sempre vítimas aliás e por isso também que é tão importante na escola desde muito cedo como a Maria João dizia Logo no início que as crianças na escola percebam se têm em casa eh aquele cenário a acontecer em território sur é importante que as crianças percebam o que é que estão a viver em que situação é que estão a viver e no limite de serem elas a denunciar eu eu acho sempre difícil e e sensível colocar a questão assim Só Por uma questão nós já responsabilizamos as vítimas por tudo não é elas devem denunciar e devem denunciar na altura certa tou dizer as crias denunciar à autoridades dizer uma tia ou uma prima eu entendo eu entendo eu entendo isso mas pôr a pensar ou seja as crianças não normalizarem o pai bateu na mãe ontem ou a mãe bateu no pai ontem ou seja e a dizerem Isso é uma professora até uma professora eh que vem em casa não é o modelo não é modo fazer este trabalho até porque estas vítimas que são vítimas diretas como Maria João disse H são a vida inteira como as vítimas de violência doméstica ou sexual são a vida inteira isto não se apaga não se resolve não é uma pastilha que se dá a uma pessoa e diz ok prescreveu este assunto prescreveu na vida de uma pessoa isto tem um impacto psicológico para o resto da vida embora a Maria já não seja psicóloga e eu compreendo que estejamos aqui a entrar num outro domínio eh mas eu acho que isto é mais ou menos Evidente não é isto é o que os estudos mostram esse essa questão do tempo Patrícia é fundamental e muito obrigada por por falares disso porque nós Esse é um dos pontos do caminho que está por cumprir nós temos um desfasamento muito grande entre o tempo das vítimas e aqui estou a pensar especificamente na violência sexual O tempo das vítimas e o tempo da justiça e as coisas têm de caminhar mais par a par nós eh recentemente foi el AD para um ano durante muito tempo depois da minha violação tínhamos se meses para apresentar queixa um ano continua a não ser nada estamos ainda aqui a pedir que as molas numa questão fundamental de direitos e direitos das pessoas um ano e então se meses é quase um um um insulto H esperar que as pessoas façam o seu processo eh que muitas vezes passa por a ultrapassar culpa a inação da culpa a culpabilização das vítimas ainda hoje apesar de todo todo este debate que tem acontecido é ainda hoje muito muito muito viv e muito flagrante pensar que as pessoas vão fazer um processo muitas vezes de reconhecer os que foram vítimas não é de reconhecer de identificar e de estarem fortalecidas para partilhar sabendo ou antecipando que muitas vezes vão ser julgadas por isso que e com todos os sinais de descredibilização das vítimas até pelo próprio sistema J judicial que em se meses ou num ano Isto é tempo suficiente não é nós sabemos que não é portanto aqui acho que há muito trabalho a fazer e que e que tem de ser exigido não é razoável e não é um sinal e um testemunho de respeito pelas vítimas ter um ano para fazer uma denúncia não é estes processos são muito mais lentos muitas vezes claro que há pessoas claro que há vítimas que reportam logo que fazem denúncias mas esse é este é um comportamento que nós esperamos aquele parece que há um manual da boa vítima não é que tem de ser cumprido uma pessoa tem de ser vítima por uma pessoa que não conhece uma mulher tem de ser vítima por um homem que não conheceu na rua depois vai imediatamente à polícia Este é o cenário que nós imaginamos como o cenário da violação credível vai logo à polícia faz logo queixo e há marcas físicas e ela deve ter resistido muitas a maioria das situações não é assim não é assim e então vergonha vergonha culpa estigma a culpabilização nós falávamos há bocadinho da violência na intimidade que é foi durante muito tempo um tabu não é e continua a ser a ideia de que na no contexto de intimidade entre parceiros entre namorados no casal no casamento não há como é que pode haver uma violação no casamento não é esta resistência muito antiga e durante muito tempo havia a chamada exceção marital não é que eh não é era sequer legalmente em muitos contextos reconhecido e continua a ser em outros contextos não era reconhecido não é reconhecido muitas vezes que no contexto do casamento haja situações de violação de coação sexual de é muito normalizada portanto muitas vezes reconhecer estes padrões de violência no contexto da intimidade leva muito tempo leva muito tempo existe muito esforço portanto pensar que num ano todas as pessoas vão fazer as denúncias é completamente irist completamente irrealista o nosso tempo foi-se voou Maria João Faustina é doutorada em psicologia investigadora na área da violência sexual dinâmicas gender zadas e representações mediáticas é ainda investigadora do projeto uncover violência sexual nas paisagens mediáticas portuguesas e coautora de um segredo muito público me to assédio sexual em Portugal juntamente com Silvia Roque Rita Santos e Júlia garrao um livro que acabou de sair eu sou Patrícia Reis e aqui ao meu lado eu sou J fotojornalista E editor do Observador e a Patrícia é curadora da exposição do Observador que vai estar na sociedade de Belas Artes de 7 de novembro a 7 de dezembro estão todos convidados para a semana teremos um outro episódio do podcast e falaremos do ano de 2015 muito obrigada Maria Jo obrigada [Música]