🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
[Música] ela era uma menina que tinha uma maturidade brutal ela teve que crescer à força e a forma como ela descrevia as coisas era tão pormenorizada que era muito fácil de passar e formular imagens e a revolta é muito grande surge logo a pergunta como é que isto é possível como é que alguém posso fazer isto meu nome é Gabriela cazar Sou psicóloga Clínica e da saúde e exerço há 20 anos durante a licenciatura foi muito claro para mim que a área dos maus tratos abuso violação e não estariam de todo eh ao meu alcance porque não não me identificava colidia demasiado com os meus valores h e achava que H nem era uma questão de competência era mesmo uma questão de gestão emocional considerava que iria ser demasiado desafiador para mim e ainda durante o estágio primeiro caso que eu recebo é de uma menina que estava institucionalizada tinha 11 anos na altura Entretanto a menina eh chega senta-se eu apresento-me peço-lhe para ela me dizer o nome dela começo por fazer perguntas simples o nome a idade em Queen é que ela está e entretanto disse-lhe Olha eu sei que foi a instituição que pediu a esta consulta eh Há quanto tempo estás institucionalizada e ela disse-me que era recente 6 se meses e o motivo para ela estar institucionalizada e ela responde-me que eh que o pai a violava assim estas foram as palavras dela o meu pai viol o meu pai violava desde os 5 anos hh a minha mãe sabia mas fazia de conta que não sabia um dia aqui na escola eu falei com a minha diretora de turma e a minha diretora de turma disse-me que não era normal e que eu não devia continuar eh Neste contexto ela alertou as autoridades foi desencadeado todo o processo judici e eu fui retirada mas eu gostava de perceber porque é que sou eu a culpada e quando ela me faz esta pergunta eu cistin clupada porque ela porque tive que sair de minha casa perdi contacto com os meus amigos perdi contacto com aquilo que eu conhecia e estou agora numa casa onde não conheço ninguém e acho que mais valia ter estado calada e quando ela diz isto isto foi um confronto brutal não é e aqui deparo-me com duas questões primeiro a inexperiência não é eh eu eu eu nesta altura já estou toda a tremer eh quando estou a falar com a menina eu já estou toda a tremer e já estou a sentir aqui um uma desorganização mental e emocional brutal portanto eu conseguir manter o foco foi muito difícil naquele momento e depois a ausência de resposta devolveu uma sensação de incapacidade brutal Porque eu só pensava o que que eu posso fazer eu não tenho ferramentas para isto eu não sei o que é que é de fazer [Música] aqui no final da consulta ao fazer os registros Estava a fazer a fazê-los de um modo muito robótico e automático Ah eu senti necessidade de me desconectar das emoções naquele momento como forma de me proteger dirigi-me para o meu carro entrei no carro liguei o carro avancei para ir embora e assim que eu percebi que estava fora do raio da escola eu parei o carro e tive uma descarga brutal eu só chorava chorei imenso chorei chorei chorei muito enraivecida muito revoltada muito zangada eu lembro-me de pensar eu tenho eu eu eu tenho que estudar isto eu tenho que perceber isto não é esquecer mas tem que existir uma forma de ajudar a integrar isto na vida da das pessoas que passam por isto tem que existir este caso foi sem dúvida um ponto de viragem tanto em termos profissionais como em termos pessoais em termos profissionais porque efetivamente foi o que me levou em verdade por esta por esta área do trauma do trauma psicológico e que me fez procurar e unir de ferramentas para ir de encontro a todas as pessoas que tenham vivenciada estas situações ou situações análogas o facto de eh eu me ter confrontado com isto de ter tido esta reflexão esta ter feito esta autoanálise confrontada com este caso e de Ter iniciado todo um processo psicoterapêutico e eu enquanto cliente foi essencial para o papel de psicóloga que eu exerço neste momento uma outra coisa eh que foi muito importante eu trabalhar em contexto terapêutico no meu processo de desenvolvimento pessoal foi a criação de limites hh e não achar que eu eu consigo aguentar eu consigo engolir eu consigo aguentar com tudo e eu acompanhei durante aproximadamente 5 meses porque entretanto estava no final do estágio e nós não poderíamos continuar o acompanhamento após o término do estágio o trabalho com ela eh na altura e também com a à ajuda da minha orientadora naturalmente tinha muito a ver com o trabalho que eu fazia em termos da atribuição da culpa foi muito isto que eu trabalhei com a menina uns anos mais tarde fui trabalhar para num hospital que pertencia à área da instituição onde a mina estava e decidi procurar por informação porque tinha curiosidade pela informação que me foi veiculada a menina estaria bem bem integrada nunca mais soube dela já levam 20 anos portanto Espero que seja uma adulta feliz funcional e que efetivamente não viva refém daquilo que outros lhe fizeram eu acho que é essencial nós separarmos efetivamente aquilo que nos acontece daquilo que nós [Música] somos n