Título: Austeridade em Portugal: Uma Década de Impactos Devastadores
Subtítulo: Entre medidas rigorosas e as suas consequências sociais, analisamos como a austeridade moldou o futuro do país e as suas gentes.
Nos últimos dez anos, Portugal tem vindo a ser palco de uma profunda reflexão sobre as suas políticas económicas e sociais, sobretudo em um contexto pós-crise financeira de 2008. A adoção de medidas de austeridade, obrigatórias para a recuperação financeira e para o respeito das imposições impostas pela Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), trouxe profundas transformações. No entanto, o que se pretende analisar neste artigo são os efeitos colaterais desta abordagem, frequentemente negligenciados ou minimizados.
Em 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal apresenta uma taxa de pobreza superior a 20%. Este número não é apenas um dado estatístico: ele significa que um em cada cinco portugueses vive em condições de precariedade económica. Este fenómeno não surge de forma isolada. A austeridade implementada entre 2010 e 2014 resultou num corte nos salários da função pública, no aumento de impostos e na redução dos investimentos em serviços sociais essenciais, como saúde e educação.
Os impactos sociais são visíveis: o acesso a cuidados de saúde tornou-se um verdadeiro desafio. Em 2022, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 35% da população portuguesa considera que a qualidade dos cuidados de saúde é insuficiente. As filas nas unidades de saúde aumentaram exponencialmente, com tempos de espera que vão desde meses para consultas a um ano para intervenções cirúrgicas. Neste contexto, a saúde mental também se tornou uma preocupação crescente, com o aumento de doenças como a depressão e a ansiedade.
No plano económico, Portugal tem apresentado um crescimento do PIB que, à primeira vista, pode parecer saudável. Contudo, este crescimento revela-se desigual e, em muitos casos, superficial. A desigualdade de rendimentos tem vindo a aumentar, sendo que, em 2023, o índice de Gini, que mede a desigualdade, alcançou os 33,5, sinalizando uma disparidade maior do que antes da crise. Assim, enquanto os grandes grupos económicos se beneficiam das políticas camaradas do governo, as camadas mais vulneráveis da população continuam a ser deixadas à sua sorte.
E o problema não termina aqui. A austeridade também teve um impacto drástico na educação. As vagas nas universidades públicas foram reduzidas e a qualificação profissional das novas gerações tem sido posta à prova, já que muitos jovens abandonaram os estudos devido à falta de apoio financeiro e bolsas. Um estudo da União Europeia, de 2023, concluiu que 24% dos jovens portugueses entre os 18 e os 24 anos estão em situação de NEET (Nem emprego, nem educação, nem formação). Este dado é não só alarmante, como revela uma geração perdida que, em vez de estar a contribuir para o futuro do país, está a ser obrigada a lutar por sobrevivência.
Entretanto, o retorno à austeridade parece ser uma sombra que continua a pairar sobre o país. Em tempos de crise, como o recente aumento da inflação crónica e o preço das energias, os especialistas temem que vejamos recrudescer uma agenda de austeridade disfarçada sob o manto de “ajustes necessários”. As movimentações políticas em torno desta temática têm sido constantes e controversas, gerando lutas entre partidos e movimentos sociais que clamam por justiça económica.
A questionar-se: até onde Portugal está disposto a ir para alcançar a estabilidade económica? O que estamos a sacrificar no altar da austeridade? A resposta poderá ter um custo que se estende muito além das contas públicas. Considerando que os efeitos a longo prazo da austeridade não são apenas números em tabelas, mas sim vidas transformadas, o passado recente deve servir de lição para que o futuro não repita os mesmos erros.
Em síntese, a austeridade em Portugal não é apenas um conceito económico, mas uma realidade carregada de consequências sociais e humanas. A questão que se coloca agora a cada um de nós é: estamos dispostos a continuar esta luta por justiça social, ou aceitaremos que, por medo do futuro, sacrifiquemos o nosso presente? O debate está aberto, e os ecos da austeridade ainda ressoam nas vozes dos que lutam por uma mudança.
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