Desafios e Perspectivas da Justiça em Portugal: Um Olhar sobre a Efetividade e Acesso à Justiça
Nos últimos anos, a justiça em Portugal tem sido alvo de intensos debates e uma análise crítica sobre a sua efetividade e a equidade no acesso. Com um sistema judicial que, segundo dados do Eurobarómetro, é considerado um dos menos acessíveis da União Europeia, a questão não se restringe apenas à morosidade dos processos, mas envolve igualmente desigualdades sociais que afetam a qualidade da justiça.
A Morosidade como um Flagelo Social
De acordo com o relatório da Comissão Europeia de 2021, o tempo médio que os tribunais portugueses levam para decidir um processo é de cerca de 450 dias, colocando o país entre os últimos do bloco europeu. Esta lentidão não só provoca frustração entre os cidadãos, mas também tem consequências diretas sobre a confiança nas instituições. Em uma sociedade onde a rapidez da decisão judicial é muitas vezes vista como sinónimo de justiça, a demora pode transformar-se em uma verdadeira pena para aqueles que buscam reconhecimento de direitos.
A Desigualdade no Acesso à Justiça
Outro ponto controverso reside na disparidade no acesso à justiça. Um estudo da Ordem dos Advogados revela que apenas 4% da população em situações de pobreza extrema recorre a serviços jurídicos, devido ao encargo financeiro que isso representa. Assim, as vozes mais vulneráveis tendem a ser as mais silenciadas. Existe, portanto, um círculo vicioso: quanto menos acesso à justiça, maior a perpetuação das desigualdades sociais.
Em paralelo, as críticas à falta de recursos financeiros e humanos nos tribunais aumentam. Com uma média de 1,5 juízes por cada 100.000 habitantes em Portugal, comparados a 2,6 na média europeia, o sistema encontra-se sobrecarregado, dificultando ainda mais a eficácia nas suas funções.
A Modernização da Justiça: Um Caminho Necessário
Apesar dos desafios, apontam-se caminhos de modernização e inovação. A implementação de métodos alternativos de resolução de conflitos (MARC) tem vindo a ganhar destaque, oferecendo soluções mais rápidas e menos custosas. Estima-se que a mediação e conciliação possam reduzir o número de processos judiciais em até 30%.
Além disso, a digitalização dos processos judiciais representa um avanço promissor. Com o início da fase piloto do "Processo Judicial Electrónico" em 2020, as partes envolvidas podem agora aceder a seus processos online. No entanto, a transição para um sistema totalmente digital ainda enfrenta resistência, especialmente entre os cidadãos mais idosos e menos familiarizados com tecnologias.
O Papel da Sociedade Civil e das ONG’s
A sociedade civil tem um papel crucial na luta por uma justiça mais acessível e eficaz. Organizações não governamentais têm promovido iniciativas que visam a defesa dos direitos e a promoção da igualdade, além de oferecer apoio jurídico gratuito. O Movimento pela Justiça e a Plataforma de Acesso à Justiça são exemplos de como a sociedade se mobiliza para preencher lacunas deixadas pelo Estado.
Conclusão: Em Direção a uma Justiça mais Eficaz
A justiça em Portugal encontra-se numa encruzilhada. Com a crescente pressão social por reformas e a necessidade de um sistema mais ágil e equitativo, a questão do acesso à justiça deve estar no centro do debate político. Se Portugal deseja ser um farol de inclusão e igualdade na Europa, é imperativo que se aborde a questão da efetividade da justiça não apenas como um conceito abstrato, mas como um direito fundamental de todos os cidadãos.
O que está em jogo é mais do que um simples sistema judiciário; trata-se da própria essência da democracia portuguesa. Ao tomarmos consciência dos desafios enfrentados, temos a responsabilidade de exigir mudanças que garantam a justiça para todos, não apenas para alguns. Está nas nossas mãos promover um futuro onde a justiça não seja um privilégio, mas um direito universal.
A questão que se coloca agora é: até quando podemos tolerar esse estado de coisas? Faça parte da conversa. A sua voz é a voz da mudança.