A saúde em Portugal atravessa, atualmente, um dos períodos mais desafiadores da sua história recente. Após mais de três anos de pandemia de COVID-19, o sistema de saúde do país enfrenta um novo conjunto de questões que colocam em cheque a sustentabilidade dos serviços prestados à população. Com uma combinação de factores como o envelhecimento da população, a escassez de profissionais de saúde e o aumento das despesas com medicamentos, Portugal precisa urgentemente de encontrar respostas eficazes para estes desafios.
Uma Crise Profunda no SNS
O Serviço Nacional de Saúde (SNS), um dos pilares do sistema de saúde português desde 1979, está agora sob uma pressão sem precedentes. De acordo com um relatório do Grupo de Trabalho sobre o SNS de 2023, cerca de 30% dos cidadãos têm dificuldades em aceder a consultas médicas, e o número de pessoas em lista de espera para cirurgias aumentou 50% desde o pico da pandemia. A combinação de um aumento na procura e uma oferta que não tem conseguido corresponder, levanta questões sobre a capacidade de resposta do SNS.
Estudos recentes da Ordem dos Médicos indicam que até 2025, 30% dos médicos poderão estar prestes a reformar-se, agravando ainda mais a escassez de profissionais. O que torna a situação ainda mais alarmante é a fuga de muitos médicos para o estrangeiro, em busca de melhores condições de trabalho e salários. Estima-se que, entre 2019 e 2023, mais de 5.000 profissionais de saúde tenham deixado Portugal.
O Impacto das Medicamentosas e das Doenças Crónicas
As doenças crónicas, que afectam cerca de 37% da população portuguesa, têm vindo a aumentar significativamente, resultando num pressionar adicional sobre o SNS. Com o envelhecimento da população, condições como diabetes, hipertensão e doenças auto-imunes tornam-se cada vez mais comuns. Em 2022, Portugal registou um aumento de 15% nas compras de medicamentos, uma realidade que não se coaduna com a capacidade do governo de subvencionar essas despesas.
Além disso, o preço dos medicamentos tem vindo a disparar, forçando muitos cidadãos a optar por alternativas mais baratas e, em muitos casos, menos eficazes. A Associação Portuguesa de Farmácias (APF) reportou que um em cada quatro portugueses admite ter deixado de tomar a medicação prescrita devido a custos elevados.
A Resposta do Governo e Possíveis Soluções
Diante deste cenário caótico, o governo português delineou várias medidas, desde a renovação da frota de ambulâncias até a criação de incentivos para a permanência de médicos em áreas desfavorecidas. Contudo, as críticas surgem por todos os lados. Organizações de saúde e sindicatos têm chamado a atenção para a falta de um plano concreto e a urgência em aumentar o orçamento para o SNS, que continua a ser inferior à média europeia.
Uma proposta debatida em 2023 inclui a implementação de um sistema de telemedicina, capaz de aliviar a pressão sobre as unidades de saúde, permitindo à população obter consultas iniciais a partir de casa. Esta medida, apesar de ter sido bem recebida por alguns sectores, ainda enfrenta resistência devido à falta de formação adequada para os profissionais e à preocupação com a privacidade dos dados dos utentes.
Conclusão: Um Futuro Incerto
A crise de saúde em Portugal não se resolverá da noite para o dia. É necessário um compromisso sério por parte do governo, dos profissionais de saúde e da sociedade civil para enfrentar estes desafios. As soluções devem ser inovadoras e adaptadas às reais necessidades da população.
A pergunta que se impõe é: será Portugal capaz de redefinir as suas políticas de saúde e garantir o acesso a cuidados de qualidade para todos, ou estamos a assistir ao colapso de um modelo que há muitos anos se mostrou eficaz? A resposta a esta questão poderá definir não só o futuro do SNS, mas também a qualidade de vida de milhões de portugueses.
Com um debate aceso e a elevada probabilidade de provocar mudanças, este tema tem tudo para continuar a gerar repercussões nas redes sociais e além. A saúde é, sem dúvida, uma prioridade que todos devemos colocar em cima da mesa. A vigilância e a pressão da opinião pública são fundamentais para que o país faça as escolhas certas para um futuro mais saudável e sustentável.