A Reforma Fiscal em Portugal: Necessidade e Oportunidade
Nos últimos anos, a palavra “reforma” tornou-se um eco constante nos debates políticos e sociais em Portugal, mas quando se fala em reforma fiscal, o tom e a polarização alcançam novas dimensões. A escassez de recursos, a subida da inflação e o impacto da pandemia revelaram uma urgência inadiável para reavaliar o nosso sistema fiscal. Contudo, será que estamos prontos para enfrentar a controvérsia e aproveitar a oportunidade de transformar a nossa economia?
Um Sistema Fiscal Obsoleto?
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, cerca de 42,5% da carga fiscal em Portugal provinha do trabalho e do consumo, enquanto apenas 16,2% advieram da fiscalidade sobre o capital. Estes números levantam a questão: será que o nosso sistema está injustamente pesado sobre as classes médias e baixas? A par disso, um estudo recente do Banco de Portugal revelou que a desigualdade de rendimentos tem vindo a aumentar, com as 10% das famílias mais ricas a deterem mais de 50% da riqueza nacional.
A pressão sobre os cidadãos comuns é evidente, e o clamor por uma reforma fiscal que promova justiça social e equidade é cada vez mais forte. Com a inflação a rondar os 6,1% em Setembro de 2023, muitos cidadãos sentem que estão a ser esmagados por custos de vida exorbitantes, enquanto os super-ricos continuam a ver as suas fortunas crescerem.
O Que Está em Jogo?
Fazendo um paralelo com outros países da União Europeia, onde reformas fiscais têm sido implementadas com um foco em aumentar a progressividade e minimizar a desigualdade, Portugal poderia muito bem beneficiar de uma abordagem semelhante. Na Alemanha, por exemplo, a recente introdução de um imposto sobre grandes fortunas procura redistribuir a riqueza de forma mais equitativa. É uma medida radical? Sem dúvida. Mas também é uma medida necessária em tempos de crise.
Em contrapartida, as críticas à reforma fiscal em Portugal não tardam a surgir. Muitos argumentam que a austeridade fiscal e a pressão sobre os impostos poderia asfixiar a já fragilizada economia nacional, afastando investimentos e inibindo o crescimento. Além disto, o sector empresarial tem expressado preocupações sobre a capacidade do governo em gerir eficientemente uma reforma complexa sem impactar a competitividade nacional.
O Debate Público: Uma Questão de Vontade Política?
Em 2023, já houve várias propostas no parlamento, mas a falta de consenso entre os partidos transforma a reforma fiscal numa “cavalinha de batalha” na arena política. O que é necessário, diz a oposição, é um diálogo aberto entre o governo, os partidos políticos e a sociedade civil para criar um sistema que reflita as verdadeiras necessidades da população. A inclusão da sociedade no processo de reformas pode ser uma forma de construir a confiança que atualmente falta nas instituições.
Os dados mostram que 74% dos portugueses acreditam que a fiscalidade deve ser mais justa, mas o que acontece quando a vontade política não acompanha as demandas populares? O resultado é um impasse que não beneficia ninguém. As consequências de não agir podem ser severas: mais desigualdade, mais pobreza e um futuro incerto para muitos cidadãos.
A Hora da Verdade
A questão da reforma fiscal não é apenas uma questão técnica; é uma questão de justiça social. O mundo está a mudar e Portugal não pode ficar para trás. Com o aumento das vozes a favor da mudança e a pressão crescente para que o governo tome acções decisivas, será que estamos a caminhar para uma reforma que poderá finalmente trazer equilíbrio ao nosso sistema?
A história ensinar-nos-á que a mudança é possível, mas a decisão deve ser tomada agora. Um sistema fiscal mais justo não é apenas uma necessidade; é uma oportunidade de transformação social, económica e política que pode marcar a diferença para milhões de portugueses.
Com o futuro do país em jogo, a pergunta que se coloca é: estamos prontos para abraçar a controversa, mas necessária, reforma fiscal que Portugal tanto precisa?