Portugal e a União Europeia: Desafios e Oportunidades no Século XXI
Nos últimos anos, Portugal tem sido palco de intensos debates sobre o seu lugar na União Europeia (UE), uma instituição que, desde a sua criação, tem moldado o destino político, económico e social dos Estados-membros. Com os olhos postos no futuro, surgem questões que suscitam tanto esperança quanto apreensão: será que Portugal está a aproveitar plenamente as oportunidades que a UE oferece? Ou estaremos à beira de uma crise de identidade europeia que poderá por em causa a coesão do bloco?
Segundo dados recentes do Eurostat, em 2022, Portugal recebeu cerca de 18 mil milhões de euros em fundos europeus, dos quais 5,9 mil milhões estão destinados ao Plano de Recuperação e Resiliência. Com uma dívida pública que ronda os 120% do PIB, a gestão eficaz destes fundos é crucial. Contudo, a pergunta que se coloca é: até que ponto esses investimentos estão a ser canalizados de forma eficiente para modernizar as suas infraestruturas, reforçar a coesão social e combater a desigualdade?
Uma das maiores críticas que surgem neste contexto é a utilização e a transparência dos fundos europeus. A eurodeputada Ana Gomes afirmou que “a execução dos fundos em Portugal é ainda uma viagem tramada com falta de prioridades claras e uma gestão que deixa a desejar”. Se, por um lado, os destroços causados pela pandemia de Covid-19 evidenciaram a importância e a necessidade dos recursos financeiros provenientes de Bruxelas, por outro, a ineficiência na alocação destes pode resultar em uma fuga de oportunidades que Portugal não pode permitir-se.
Ademais, Portugal enfrenta também desafios provenientes do aumento da inflação e da crise energética na sequência da guerra na Ucrânia. Em 2022, a inflação atingiu valores que não eram observados desde a década de 1990, com a taxa a situar-se nos 7,2%. Esta realidade tem um impacto direto na vida dos cidadãos, cujos rendimentos são constantemente ameaçados. A questão é: o que está a fazer o governo para proteger os mais vulneráveis, num contexto em que a UE discute soluções para mitigar os efeitos da alta de preços?
Além destes desafios económicos, existe ainda a questão da imigração. Portugal, um dos países que mais se beneficiou da livre circulação de pessoas, enfrenta agora a pressão de uma crescente onda migratória, que, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), aumentou aproximadamente 50% entre 2021 e 2023. Como integrar adequadamente estes novos cidadãos, garantindo a coesão social e evitando a xenofobia? A experiência da UE em lidiar com crises de imigração, como a crise dos refugiados de 2015, deve servir de lição, mas as abordagens têm variado drasticamente entre os Estados-membros.
Uma nova mitologia está a surgir: a de que Portugal poderia ser uma ponte entre a UE e os países de língua portuguesa, particularmente no que diz respeito a cooperação económica e cultural. Contudo, será que os decisores políticos portugueses estão a usar essa vantagem estratégica? Ou estamos a deixar passar uma oportunidade de ouro para sermos um actor relevante nas questões globais?
No tocante à sustentabilidade ambiental, Portugal é frequentemente elogiado pelos seus esforços na transição energética. Entre 2019 e 2022, a procura de energias renováveis levou o país a alcançar que 60% da sua electricidade fosse gerada a partir de fontes limpas. No entanto, o crescimento das energias renováveis deve ser equilibrado com a necessidade de salvaguardar os ecossistemas locais e os direitos das comunidades que dependem deste património natural.
Portugal encontra-se, assim, num cruzamento de oportunidades e desafios em relação à UE. A habilidade do país em aproveitar as ferramentas e recursos disponíveis, ao mesmo tempo que enfrenta as questões críticas do presente, determinará se conseguiranos emergir como um verdadeiro exemplo de coesão e resiliência europeias.
O futuro é incerto, mas uma coisa é clara: os cidadãos têm o poder de exigir um governo responsável, que não só cumpra as regras do jogo europeu, mas que também coloque o bem-estar social no centro das suas políticas. É tempo de reavivar a discussão sobre o que significa ser europeu no século XXI e o papel que Portugal deve desempenhar neste complicado mas necessário mosaico europeu. No final, a sobrevivência da UE e o próprio futuro de Portugal podem depender da resposta a estas perguntas.