Reformar para Avançar: O Papel das Políticas Públicas na Transformação Social
Nos últimos anos, temos assistido a um crescente clamor por mudanças profundas nas estruturas sociais e políticas em todo o mundo. A crise sanitária provocada pela pandemia de COVID-19 expôs, de forma abrupta, as fragilidades e desigualdades enraizadas nas sociedades, exigindo um olhar crítico sobre a eficácia das políticas públicas vigentes. Em Portugal, a necessidade de reformas estruturais tornou-se não apenas um tema de discussão entre especialistas, mas um clamor popular que não pode ser ignorado.
Um Retrato da Desigualdade
A desigualdade social continua a ser uma marca indelével de muitas sociedades modernas. Em Portugal, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de risco de pobreza afetava 17,2% da população em 2021, um número que se mantém alarmante. Para agravar a situação, os efeitos da inflação e da crise energética que emergiu com a guerra na Ucrânia têm pressionado cada vez mais as classes sociais mais desfavorecidas. Em 2022, a inflação atingiu o seu pico, com a taxa anual a situar-se em 7,8%, a mais alta em 30 anos, colocando em risco os ganhos que tinham sido feitos ao longo da última década.
As Políticas Públicas como Motor de Mudança
Frente a esta realidade, o papel das políticas públicas ganha uma nova dimensão. São estas políticas que têm o poder de transformar a sociedade, proporcionando maior equidade e melhorando as condições de vida das populações. O desafio é garantir que estas reformas sejam efetivas e adaptadas às necessidades da população.
Um exemplo positivo pode ser encontrado nas reformas na educação, onde a descentralização e a aposta em metodologias de ensino mais inclusivas têm demonstrado resultados promissores. Segundo dados da Direção-Geral da Educação, as escolas que implementaram programas de inclusão viram uma recuperação significativa nas taxas de sucesso escolar e na satisfação dos alunos e famílias. Contudo, ainda se observa um longo caminho a percorrer para que todos os jovens tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente da sua origem social.
A Saúde em Primeiro Plano
A saúde pública, exigida durante a pandemia, também requer uma revisão urgente. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrentou enormes desafios e mostrou fragilidades, com a escassez de recursos humanos e a falta de investimento em infraestruturas. O recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, para garantir uma saúde equitativa, os países devem aumentar o financiamento em saúde pública em pelo menos 6% do PIB. Portugal, que atualmente investe aproximadamente 5,6% do PIB em saúde, necessita de um debate urgente sobre como reforçar este setor vital.
O Desafio da Habitação
Outro sector em necessidade de reformas urgentes é o da habitação. O Aumento exponencial dos preços das rendas, que superaram os 30% nos último dois anos em algumas cidades, reforça a urgência de políticas habitacionais que garantam acesso a casa própria e renda a preços acessíveis. O Programa de Renda Acessível implementado pelo governo é um passo na direção certa, mas as críticas persistem sobre a eficácia e a abrangência das medidas. Estudos indicam que é necessário um investimento elevado, sobretudo nas áreas urbanas, para garantir que a habitação não seja um privilégio de poucos.
Um Chamado à Ação
As reformas necessárias para uma transformação social real não podem ser vistas como tarefas de governo, mas sim como um dever cívico de toda a sociedade. É imperativo que os cidadãos se tornem proativos, participando no processo político e exigindo a transparência e a responsabilidade que merece. Com a crescente desilusão face à política, iniciativas de envolvimento cívico e comunitário podem oferecer uma resposta eficaz.
Conclusão
O futuro de Portugal depende da coragem de enfrentarmos os desafios estruturais das nossas políticas públicas. Reformar para avançar não deve ser apenas um lema; deve ser uma estratégia clara e objetiva que nos leve a construir uma sociedade mais justa, equitativa e inclusiva. A transformação social é possível, mas requer visão, compromisso e, acima de tudo, vontade política. Se não aproveitarmos esta janela de oportunidade, poderemos perder um tempo precioso e, com ele, a chance de criar um futuro melhor para todos.