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Estamos aqui ao lado de uma 35B de 1930, um dos carros mais icónicos da Bugatti, de competição, de todos os tempos. Um carro que foi usado para corridas por privados e pela fábrica, naturalmente, e que é dos carros de competição que mais vitórias reuniu até aos dias hoje. E hoje trouxemos estes dois carros, lado a lado, para dar aqui umas voltas pela Serra do Caramulo, para fazer um comparativo entre a 35B Bugatti 1930 e a Pur Sang de 2022. Esta é uma Pur Sang feita na Argentina. A Pur Sang é uma empresa que existe há mais de 30 anos, e que no restauro de uma Bugatti 35B, como o dono da empresa de restauro gostaria de ter um carro para ele, decidiu construir o seu próprio carro. Pegou nos moldes de uma 35B, nos blocos do motor e nas mais diversas peças copiou, fundiu e percebeu que existiria um mercado para construir réplicas quase autênticas e muito semelhantes ao que se fazia em 1930. Se não existisse a Pur Sang, muito provavelmente, já não poderíamos ver 35B a correr. Existem proprietários de 35B que, para não estragarem o carro, de valor tão alto, correm com um carro exatamente igual nas mesmas cores, feito pela Pur Sang, para que possam, em caso de acidente, não ter o dano de estragar uma peça histórica, como é um automóvel destes. Também acontece que existem carros destes originais a correr, cujos blocos do motor estão fora e estão motores da 35B Pur Sang aplicados, e peças da Pur Sang, mantendo as peças originais guardadas, mas usando a mesma carroçaria e usando o mesmo chassis. A diferença entre um carro e o outro é que, embora sejam os dois de oito cilindros, com compressor, a Pur Sang optou por instalar um distribuidor de um Ford V8, com um motor de oito cilindros em linha e uma ordem de inflamação diferente, que faz com que o carro fique mais rotativo e tenha mais potência em cavalos. A grande diferença é que a 35B tem a cambota partida em bocados, salvo seja, e assenta em rolamentos, e tem que se juntar os vários bocados de cambota, e as bielas não abrem portanto, também tem rolamentos e entram à medida que se vai unindo os vários pedaços de cambota. E a Pur Sang tem uma cambota normal de fundição, peça única, em que as bielas e os apoios de cambota assentam em capas. São meias capas, meias luas em capas que depois são apertadas no sítio. Na altura o que é que se isso resolve? É que na altura para se atingir este nível de rotação e as compressões que ela tinha, porque é um motor que não tem junta de cabeça, isso foi feito para poder ter o compressor ligado em permanência e, como os lubrificantes não eram tão bons e as bombas de óleo não tinham a mesma eficiência, Ettore Bugatti escolheu rodar em cima de rolamentos que lhe dava uma fiabilidade muito maior e a capacidade de atingir os regimes que ele queria, sem ter problemas de lubrificação e de gripar o motor. Ambos os carros têm uma coisa que é absolutamente semelhante, é que cada vez que o estamos a conduzir sabemos que estamos, praticamente a correr risco de vida porque, são carros que têm uma configuração de volante, suspensões, travões muito antiga, transmitem todas as sensações, mas também são carros completamente abertos, sem grandes sistemas de segurança. Vamos a bater com o cotovelo na roda de atrás, praticamente inclinamos nas curvas, não usam cintos, não usam roll-bar, e portanto, dá-nos este contacto com o exterior que transmite essa sensação de velocidade e de perigo. Também transmitem uma sensação de liberdade, tanto servem para dar um passeio, como para participar nas corridas de época, porque muitos desses carros são elegíveis para poder participar nessas provas, e naquela época, um carro com quase 180 cavalos de potência e com rodas com esta espessura, faz com que tudo isto seja uma aventura, com que no final possamos sentir-nos vivos. E como também são muito leves continuam a ser altamente preformantes, portanto estes carros a andarem, ao contrário de outros carros dos anos 30, em estrada são muito rápidos, continuam a ser muito rápidos. Portanto, é muito fácil ultrapassar, curvar, sentir a velocidade. Agora entendo o porquê destes carros, ou deste carro, ter tido o sucesso que teve em 1930 e ter ganho as corridas que ganhou desde meados dos anos 20 até 1930 e depois disso. Depois de pararem de ser fabricados continuavam ainda a ganhar corridas. Sim, a ganhar corridas, a debaterem-se com carros mais potentes e mais recentes. E, de facto são carros absolutamente maravilhosos. Para quem não pode ter um original acho que esta será uma solução a ter. A verdade, é que eles são iguais, mas depois a conduzir não te sei explicar porquê, mas noto alguma diferença. Sinto-me mais alto, provavelmente, porque o perfil dos pneus desse carro é maior, se calhar as molas não estão pasmadas como estas, eventualmente, ao longo do tempo já estão. Mas eu acho, que há aqui um inquantificável que é que este foi feito pelo Ettore Bugatti e esse não. Sim, exatamente. Este foi feito pelo Jorge Anadon, que é o presidente, e dono da empresa Pur Sang na Argentina. Quando nós juntamos estes pequenos inquantificáveis todos soma uma pequena diferença. Estes carros, como um verdadeiro carro de competição, não tem um conta-quilómetros e não eram feitos para saber a que velocidade é que se ia, eram feitos para ser o mais rápido possível naqueles circuitos, portanto podem ter algumas configurações que lhe mudam a velocidade de ponta, mas este especificamente, foi cronometrado a 201 km/h, portanto ele consegue atingir esta velocidade. O que tem aqui de interessante, que eu acho que é extremamente curioso para um carro de competição, é que nos seus instrumentos tem apenas a pressão de ar na gasolina, porque eles não têm bomba de gasolina mecânica, nem elétrica. A gasolina é pressurizada no depósito, primeiro manualmente para arrancar, e depois com uma bomba que tem, para ser injectada no carburador, porque tinha um grande débito para andar em altos regimes. E portanto, ali medimos a pressão da gasolina, a pressão de óleo, que neste caso, não nesse, de vez em quando, quando se curva para um lado a pressão cai completamente porque como está sem ter rolamentos, não precisa ter uma pressão constante. Um conta rotações bem à frente do volante, clássico elemento de um carro de competição, e um relógio. Um relógio que tem corda para oito dias! Tinha mais umas características interessantes, é que estes carros, que era um carro de Grand Prix, como se dizia na altura, o que actualmente seria o equivalente a um Fórmula 1, mas à época corria-se com o mecânico a lado e fazia-se provas tão longas, que os carros, que perdem tanto óleo naturalmente, que os carros podiam precisar de, em andamento, de uma inovação que este tinha, em andamento acrescentar óleo ao motor, então tem uma bomba aqui dentro do carro, em ambos os casos está desactivada, nem deve estar ligada ao motor presumo. Tem uma bomba de óleo normal, de um débito já bastante agradável para que se mantenha. Não, a minha bomba não está ligada. Esta aqui está ligada ao motor, mas já não tem o depósito deste lado, porque o passageiro ia em cima de um depósito de óleo. Quando começavam a perceber que a pressão estava a cair muito ele, manualmente, bombeava óleo para dentro do motor em prova, em andamento, mas tem ainda uma coisa engraçada que todas as Bugatti só tinham ou quatro cilindros, ou oito cilindros. O motor de oito são na verdade dois blocos de quatro, um à frente do outro, com um cárter que os une os dois e que se torna depois num motor de oito cilindros, e isso é perfeitamente visível num motor, que se diga, aliás, é uma peça muito elegante, muito bem desenhada de linhas retas, de uma simplicidade extrema e de um cuidado enorme e que parece quase uma obra de arte. Independentemente de um ter 92 anos e este ser do ano passado, não deixa de ser uma viagem no tempo conduzir um automóvel destes e é uma experiência da qual nós, tanto eu como o Tiago, nos podemos considerar como uns sortudos por poder usufruir e ter acesso a automóveis e a peças tão históricas, como nomeadamente esta 35B.