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[Música] Este é o gabinete de guerra da Rádio observador eu sou Luís Soares e connosco temos hoje o historiador Bruno Cardoso Reis bem-vindo Bruno e é inevitável hoje começar pelo discurso de Vladimir Putin no dia da vitória sobre a Alemanha nazi com também o habitual desfilo militar Bruno entre as várias declarações presidente russo disse que o país está a atravessar um momento crítico Há alguma novidade ou algo de particularmente relevante no discurso feito hoje eh Boa tarde Luís Boa tarde a todos bem eh eu acho que não há grande novidade eh Há um aspecto relevante que não é novo mas que é relevante do meu ponto de vista que é eh Putin Deixa claro que não tem interesse no alargamento da guerra e eu acho que isso é verdade muito aquilo que depois diz no discurso e que não é novo não é verdade ou seja toda esta ideia de que o grande problema para a paz do mundo é o ocidente para a segurança da Rússia é o ocidente quer dizer até da ideia que são os países ocidentais que andam a invadir a Rússia nas últimas décadas nos últimos anos e não a Rússia a invadir uma série de países vizinhos desde a Geórgia até a Ucrânia eh o mais recente e com um grau de intensidade que não se via desde a Segunda Guerra Mundial a partir de fevereiro de 2022 mas há aqui um dado realmente importante que é ele sublinhar que não está interessado numa terceira guerra mundial que pela Rússia isso não acontecerá e portanto parece-me evidente que pelo lado dos países ocidentais também não acontecerá certamente nenhum país ocidental eh queria esta guerra ou quer esta guerra eh e portanto H acho que isso é é positivo e mostra que realmente também algum daquele alarmismo que surge associado a alguma propaganda russa eh à questão do nuclear e tudo isso realmente é é isso é alarmismo enfim há um alarmismo que não é completamente delirante porque a Rússia é uma potência nuclear e tem tem alguma capacidade militar mas é evidente do ponto de vista racional a Rússia não tem nenhum interesse no em alargar a guerra quer dizer já está a ter muitas dificuldades em combater apenas a Ucrânia e com algum apoio em termos de equipamento ocidental é evidente que teria muito mais dificuldades muito mais problemas se alargar o conflito para enfrentar exércitos de países da Nato muito mais bem equipados muito mais bem treinados e e Portanto acho que isso apesar de tudo é é relevante e vale a pena sublinhar e E porque é que que Vladimir putino fala no momento crítico neste momento quer dizer eles até isso também não é novo e a partir da ideia do momento crítico é que tem algo de excecional e e é um ponto de viragem bem até agora não não se viu isso eu imagino que ele tenha esperança que realmente seja um ponto de viragem no sentido que se houver uma mudança de Presidente nos Estados Unidos em novembro pode ser o fim do apoio americano à Ucrânia eh pode passar a haver uma pressão para a Ucrânia fazer uma paz quase a qualquer preço mas se o que ele está a querer dizer é que a Rússia conseguiu aqui uma enorme está a conseguir grandes vitórias militares ou uma grande mudança da situação por por como resultado digamos da da da superioridade das das suas forças do seu equipamento isso realmente está longe de ser o caso as dificuldades que a Ucrânia tem passado têm muito a ver com por um lado um período longo de vários meses em que por razões de divisões internas nos Estados Unidos como nós sabemos os Estados Unidos Pararam a a cooperação militar que estavam a fazer portanto Foi algo que não não teve nada a ver com com a Rússia nem sequer com a Ucrânia e depois tem outras dificuldades que t a ver com a questão do do cansaço das tropas e tudo isso e mas aí também temos indicações de que isso também está a acontecer do do o lado Russo eh enfim não se manifesta da mesma maneira e não é tão visível porque temos um regime cada vez mais repressivo autoritário na rúsia eh mas mas também é evidente até por uma série de medidas que foram tomadas desde recrutamento de criminosos na cadeia até a tentativa de eh atrair pessoas de fora da Rússia enfim desde Imigrantes do Nepal até até Imigrantes da Ásia Central que realmente esses problemas também se colocam do lado Russo portanto h no fundo acho que isto tem sobretudo uma um objetivo de política interna ou seja tentar no fundo passar a mensagem aos Russos que é só preciso mais um esforço e que a vitória está está está quase a chegar eh mas sobretudo se entendemos Vitória como os objetivos iniciais e que permanecem da uc da da Rússia em relação à Ucrânia que é derrubar o regime acabar com a democracia ucraniana acabar com a aproximação ao ocidente voltar a colocar a Ucrânia na Esfera da Rússia Isso parece realmente muito afastado e muito difícil de alcançar hum hum Bruno falavas há pouco da da questão nuclear sendo que o presidente russo neste discurso assegurou também que as forças estratégicas nucleares estão sempre em prontidão militar isto depois dizer também que não permite que ninguém ameaça ameace a Rússia isto liga-se com com enfim com um tema que está sempre em discussão que é o envio ou eventual envio de tropas ocidentais para para a Ucrânia hoje a comissária europeia Elisa Ferreira numa entrevista ao público e à Renascença afirmou que abrir essa discussão sobre a sugestão de macron de enviar a tropas para a Ucrânia vai destruir a coisão interna da União Europeia mas a verdade é que outros países como a Lituânia dizem estar preparados para enviar tropas David Cameron o chefe da diplomacia do Reino Unido também admite essa possibilidade Estas são declarações que acabam por fazer também escalar a atenção Bruno bem eh eu acho que em certo sentido e desde logo ajudam a desmontar a propaganda russa que é a propaganda russa até surgirem estas declarações que visam do meu ponto de vista criar aqui alguma incerteza no planeamento estratégico Russo nomeadamente esta ideia que se houver uma mudança nos Estados Unidos a Ucrânia vai ser forçada a render-se portanto há aqui uma série de países europeus cada vez mais um número cada vez maior de países europeus a sinalizar que para eles consideram a defesa da Ucrânia tão importante tão Vital que podem pôr a hipótese de dar esse passo eh realmente seria uma escalada mas mas lá está a propaganda russa O que diz é nós já estamos a combater o ocidente Nós já estamos a combater a Nato até dá a entender desde o início do conflito que há imensas tropas da Nato disfarçadas e na Ucrânia portanto Afinal parece que não afinal parece que vai mesmo fazer uma grande diferença só ver mesmo tropas ocidentais eh na na Ucrânia portanto eh Há uma divisão realmente entre entre os países europeus há países europeus que estão muito mais próximos da zona de conflito sentem muito mais ameaçados diretamente pela Rússia que temem que sejam os próximos a os países bálticos a Lituânia que foi referida é evidentemente um desses casos e portanto aí a perceção de ameaça e a disponibilidade para correr mais riscos para arriscar inclusive mais tensões com a Rússia uma vez que a relação com a Rússia também já é muito má eh é bastante maior do que notros portanto é verdade que há uma certa divisão no C da Europa mas eh não parece que isso seja uma novidade eh ou que seja apenas o resultado desta desta questão acho que se tem de pensar muito bem realmente o que é que se grá a fazer eh para já o que estava o que estava a ser falado era no fundo uma presença de tropas como não na linha da frente mas em funções de treino mas isso em todo caso seria realmente uma um sinal importante de um reforço do apoio à Ucrânia e sinal importante não se ia deixar cair a Ucrânia portanto eu diria Se for possível evitar isso melhor até porque também eh em termos das próprias opiniões públicas não estou certo que haja um apoio esmagador para isso pelo menos fora daqueles países lá está do leste do Norte que se sentem mais diretamente ameaçados e mas também no passado Aconteceu muitas vezes noutros conflitos e a ver países que intervém e países da unão europeia que intervém outros que não intervém até em missões da União Europeia eh Portugal por exemplo está muito empenhado na missão de treino em Moçambique da União Europeia fornece a maior parte dos instrutores do comandante etc e muitos outros países europeus nomeadamente o leste não fornecem ou fornecem muito pouco portanto essas divisões também não parecem assim tão dramáticas nem lá está sem precedentes eh Bruno e a Rússia assinou um acordo de cooperação militar com zomei príncipe que prevê ajuda na formação de forças armadas utilização de armas equipamento militar logística também trocas de informações no combate ao terrorismo internacional o ministério português dos negócios estrangeiros recusou comentar mas assegurou que esse cordos não prejudicam a relação entre Portugal e São Tomé Será mesmo assim Bruno bem vamos lá ver eh eu tenho visto aí comentários e análises que me parecem um bocado descabidas quer dizer dá D ideia que há pessoas que acham que a cplp é uma espécie de e Império informal português ou ou que é Uma Aliança Militar que exclua outras alianças com isso nunca foi a cplp é muito clara na no elenco dos seus princípios sobre a soberania dos países os diferentes países têm diferentes alianças militares geralmente regionais fazem parte de diferentes mercados regionais TM sistema eh se H alguma coisa estes países até se foram afastando da da da União Soviética e da Rússia eh e e portanto foram reforçando a cooperação com os países ocidentais e inclusive com Portugal com Portugal assinou o primeiro acordo de cooperação militar em 1988 São Tomé basicamente fazia parte do bloco soviético em termos militares eh isso não foi visto como impedimento eu diria se calhar até pelo contrário Eh agora eu acho que é legítimo debater exatamente o que é que nós queremos da cplp e o O que é que queremos da cooperação portuguesa inclusive no campo da Defesa O que é que podemos fazer mais eu acho que estamos até a fazer alguma coisa em São Tomé eu há há muitos há anos que defendo que São Tomé e cab Verde deviam ser prioritários na na cooperação portuguesa nas várias áreas inclusive nesta porque com mais algum dinheiro em em países que são de uma dimensão relativamente pequena que geralmente não são uma grande prioridade para as grandes potências podíamos ter um impacto muito maior do que noutros países mas não me recordo de ver muita destas pessoas que agora estão muito espantadas e indignadas a defender exatamente essa ideia portanto Acho que sim sear pode fazer mais cooperação acho que a ideia de que eh nós podemos exigir a São Tomé porque temos cooperação militar com eles que eles não assinem acordos com outros países isso digamos não está prevista em parte nenhuma não parece que seja provavelmente muito realista não não creio que seja bem recebido em São Tomé e e inclusive até acrescento só para terminar duvido por exemplo os Estados Unidos nos peçam ou queiram isso se calhar os Estados Unidos estão mais interessados até em que nós reforcemos a cooperação com São Tomé se calhar até trilateral até tamb com os Estados Unidos eh porque eh Afinal os Estados Unidos Por exemplo aceitam manter tropas no niger ao lado de tropas russas portanto e a situação em África é muito complicada eh e e os estados africanos são muito resistentes à ideia de que e só podem cooperar com um lado a França tem tentado esse modelo não lhe tem corrido muito bem eh e apesar de tudo tem outros argumentos e outros argumentos financeiros e militares etc do que tem Portugal portanto parece-me avisada a postura eh da do governo Português em relação a esta questão Bruno vamos agora centrar atenções no que se passa no médio Oriente benjamina etanal respondeu hoje ao aviso de Joe biden de que os Estados Unidos vão parar de fornecer armas a Israel se as tropas israelitas avançarem para uma invasão em larga escala de Rafa as relações entre os Estados Unidos e Israel estão cada vez mais tremidas Bruno bem eh Há realmente detenções crescentes podemos utilizar essa linguagem eh eh públicas eh elas têm-se Tornado evidentes nos últimos tempos realmente os Estados Unidos tem impressionado muito Israel para ter uma ação militar mais contida para aumentar a substancialmente à ajuda humanitária eh E aparentemente desenharam aqui uma linha vermelha isso já se vinha eh enfim esboçando nos últimos dias na nas últimas par de semanas portanto sinalizando que eh se realmente houvesse uma ofensiva em grande escala eh ignorando a questão das salvaguardas da população civil nesta zona de rafá que isso realmente levaria a uma mudança da postura dos Estados Unidos apesar de tudo não estamos a falar de um corte de relações eh nomeadamente cooperação militar não estamos sequer a falar um corte eh de de todo do fornecimento de todo o tipo de equipamento Portanto o que é dito é equipamento Militar no fundo mais ofensivo eh enfim que eh à partida ou seja eh temos por exemplo o sistema do Iron Dome o sistema do Patriots etc portanto defesa antiaéreo por exemplo eh isso foi muito claramente dito não será eh não será incluído nesta suspensão ou nesta ameaça de suspensão não é e portanto eh mas sim é realmente um sinal de uma rotura pública entre Israel e os estados unos Unidos nomeadamente na cooperação militar Como não se vi há bastante tempo com esta questão que é os Estados Unidos têm sempre de equilibrar aqui também o receio de sinalizar sinalizar um abandono de Israel vamos P as coisas assim poderia ser interpretado por exemplo por atores como o irão como vimos ainda há poucas semanas tem grandes interesses em em atacar Israel podia ser visto como uma espécie de carta branca para avançar para uma ação mais agressiva na região E isso também não é algo que os Estados Unidos querem querem evitar é Bruno falando em apoios Espanha e Irlanda estão a considerar reconhecer oficialmente a Palestina enquanto estado no dia 21 de Maio a data que coincide com o conselho de ministros espanhol o canal público irlandês adianta que vários outros estadosmembros da União Europeia farão o mesmo Isto será boa ideia eh não sei eu acho que não ou seja se eu achasse que isto punha fim à guerra e se alguém achar que isso vai acontecer seria boa ideia se achasse que ia levar milagrosamente a um acordo de paz entre um estado da Palestina e um Estado de Israel ao fim da da ocupação Israelita acharia que sim mas não Parece que nada disso vai acontecer Portanto acho que isto é mais um exemplo de uma tendência que em que a Europa tem existido nos últimos anos que é grandes declarações grandes exigências grandes declarações unilaterais e o maduro Tem de se ir embora já não é já não é o presidente é o presidente gaid o Assad tem se ir embora e depois na prática não acontece nada e Portanto acho que isto só vai dificultar mais a credibilização da política europeia e e e não vai ter grande eficácia eh o que que em termos de da resolução do conflito e da e de preocupações legítimas como por exemplo a população civil palestiniana ou com o avanço do processo de paz Portanto acho que não ajuda nada eh em nenhum desses aspectos eh e portanto esse ponto de vista parece-me que será um um aqui um gesto um pouco vazio eventualmente para satisfacer a opinião pública interna porque é verdade que quer em Espanha quer na Irlanda a opinião pública ainda mais do que noutras regiões da Europa é muito favorável à causa palestiniana hum Bruno no minuto hoje o primeiro carregamento de ajuda para aeroporto flutuante construído pelos Estados Unidos em gasa partiu de Chipre Esta é uma ajuda também importante que vai chegar à região sim eh falamos disso em tempos acho que é importante sinalizar que os Estados Unidos estão ativamente empenhados em ajudar mais a população Civil de gasa eh e portanto no meio de todas estas manifestações e declarações muitas vezes parece que realmente os Estados Unidos eh não tê qualquer preocupação com os palestinianos ou com a população civil portanto inclusive estão aqui a criar tensões com o aliado histórico tradicional ao contrário do que muitos outros Fizeram por exemplo com a Rússia recusaram-se completamente a qualquer tipo de ação que pusesse em causa a sua cooperação com a Rússia quando a Rússia invadiu a Ucrânia eh os Estados Unidos estão a fazer muita pressão sobre Israel e estão a fazer algumas ações concretas a questão do lançamento por exemplo por via àrea de ajuda a certa altura e também construção deste Porto que demorou algum tempo mas é realmente mais um contributo para permitir aumentar a ajuda humanitária à população civil estou certo que os civis palestinianos agradecem é alo que é importante não é hum pronto Cardoso reios Muito obrigado pela tua análise em mais um gabinete de guerra da Rádio observador que vai ficar disponível aqui em instantes H em podcast [Música]