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[Música] vamos todos agora também canto hoje boa segunda-feira Boom início do semana isso uma boa semana para vocês muito belíssima semana Olha tem é um episódio com uma história especial todos os episódios são uma história especial Esta é especial por estas razões que eu vou passar ninguém sequer se atreve a dizer que não está a ser especial o episódio imagina mandar começar a mandar mensagens a dizer Este Episódio não foi especial quer que devolva o dinheiro é exato para já para já não isso até por acaso podem tá chado visual mas pod dizer assim Queres ver se para o ano tá a chicar tu também vai ser fica especial vem lá se não fica especial corrida bom agora depois de insultar os nossos ovinos vamos contar aqui um bocadinho h eu sempre que vou a algum sítio algum lado sobretudo os sítios até mais pequenos gosto ser podde andar a bisbilhotar às vezes até visitas a cemitérios bem de dia toponímia placas de casas de aqui nasceu o Zé Car tal e qual porque às vezes em em sítios mais inesperados conhecem figuras que não são figuras nacionais mas que T histórias absolutamente eh incríveis é o caso de hoje eu há um tempo fui apresentar o nosso livro Vamos todos morrer ao vivo a raimonda um convite da junta de Freguesia de raimonda uma gente muito fixe e muito simpática que dinamiza muito e já tinham feito vários Isto fica no concelho de passos de Ferreira e e tem um centro cultural M Gir e tinham lá tido vários escritores tinham lá tado várias pessoas e fui lá Foi uma noite muito agradável e perguntei eh ao ao presidente da junta o senhor joceline Moreira o joceline Moreira que é um tipo também muito incrível ag Pois uma junar muito fixe senhor presidente Vou sim Vou abreviar a história e sim uma figura daqui da desta desta região e falaram-me de uma de uma pessoa que é que o nosso morto de hoje que por coincidência eu andava nessa última semana eu acho que contei até esta história andava nessa última semana duas semanas antes de ir a raimonda a pens quem é que eu havia de trazer aqui para contar uma história que queria há muito tempo contar e esta pessoa é a pessoa certa para contar essa história imagina as coisas que acontecem em raimonda vamos lá então bem o resto não posso contar que eu também fme embora às 2 da manhã Ronda neste dia em 2016 não há muito tempo ui tá fresco Tá mesmo não há com H sim sim fica vai passando paraos intervalos da chuvas uma coisa lá vai ficar também nas cabeças deles e morria também para justificar a taxa do audiovisual clo e morria no porto uh coisa boa não foi ninguém pode morrer no porto só disse fui aos 95 anos já foi já foi na hora já já já estava despertador a toar lá atrás que não ouviu já estava um bocadinho dur ouv Tiago por amor de Deus concentra-te falamos do padre português Alexandrino bruxado Alexandrino nasceu em 1920 precisamente em São Pedro da raimonda o raimonda em Passos de Ferreira é um homem ali da terra tem lá a sua estátua e tudo o que este homem viveu 95 Anos 1920 1920 duas guerras e a história dele vai se colar muito a uma das duas guerras no caso a segunda que foi a que Ele viveu não se7 é incrível sim mas é incrível o mundo é aquela sabes que eu estou cada vez mais adepto da história daquela aquela franquia que nós metemos nas datas não corresponde nada a isso uma guerra quando acaba em 44 São anos de de aliás vemos presenciamos isto com o que estamos a ver dentro da Europa com as ucranias da vida e não sei quê não há uma data nunca vai ha uma data é assim uma temporada enorme ainda por cima duas guerras que se colaram quase que em sequência não é verdade sim é verdade e ele vai ter um papel muito especial na ao Não durante mas depois da segunda guerra mundial vamos dar assim uma acelera dela sabemos que ele vai ser padre Portanto vamos poder saltar para o seminário do porto tamba podemos saltar até para a sua ordenação em 1944 P Grand Salto Grande salto à ordenação sim passamos para seminário como se aquilo tivesse sido um uma um chá não sei quê aiha Nossa senora que há grandes aventuras sempre no seminário verdade é verdade depois ele deu aulas de religião e moral foi secretário do bispo do porto promoveu a construção de casas para Famílias pobres esteve quase desde a primeira hora ligado à Cáritas portuguesa O que é Cáritas portuguesa é um braço português de uma organização humanitária internacional católica chamada a Cáritas esta particular em em Portugal foi fundada em 1944 olha no ano em que ele tinha H ordenado Padre por Fernanda ivans Ferraz Jardin vemos trazê-la também calma MH é muito interessante e o nosso Padre vai ser presidente da Cáritas do Porto e é por isso mesmo que o trazemos aqui hoje ele vai ser responsável e a tal história que eu andava à procura de maneira da contar pelo projeto que trouxe para Portugal entre 1947 e 1958 crianças austríacas afetadas pela segunda guerra mundial esse projeto que dura bem 11 anos eh depois da segunda guerra mundial foram mais de 5.000 crianças acolhidas em Portugal acolhidas cá acolhidas cá sim eh é o terceiro Portugal foi o terceiro país que recebeu mais crianças destas eh desta nestas circunstâncias das Crianças austríacas a seguir à Bélgica e à Holanda também a Itália recebeu algumas coisas mas é eh Portugal era o foi o único país que recebe estas crianças que não tinha participado na na na guerra e alguns desses estavam completamente destruídos não é arras também eles próprios a razão era essa mesmo são completamente arrasados eh eh tanto que não foram só crianças austríacas havia também alemãs francesas húngaras polacas portanto estamos a ver o cenário de onde elas de onde elas vinam Isto é depois da guerra isto começa em 47 Claro a esmagadora a maioria das que veio para Portugal eram de facto da Áustria foi uma tarefa gigantesca como se imagina em termos logísticos não é a viagem começava em Viena isto organizada pela Caritas austríaca que que divulgava o programa este programa de vir para Portugal passar um tempo em Portugal H nas escolas junto das crianças também noutras organizações junto dos Pais para convencer os pais a mandarem as crianças por um período de tempo eu não vou lhe chamar uma colónia de férias porque tinha razões muito específicas não é e claro a guerra já tinha acabado não estamos a falar de de de pessoas que estavam a sair de situação de guerra mas tinham as suas vidas todas absolutamente destruídas e miséria e pobreza e fome e todas essas co de proteção não é dar assim um uma zona de proteção de liesa clar Era exatamente essa a ideia as crianças lá se inscreviam e depois eram escolhidas agora a a ideia Era exatamente isso passar mais ou menos um ano e a ideia original até penso que eram 9 meses ou isso mas depois quase toda se Estendeu um ano num país que estivesse em paz e que ao contrário do que onde elas viviam não fosse um cenário onde os compras as escolas destruídas a casas destruídas e hospis sim foi um plano da Caritas muitoo muito bonito nesse sentido Claro e depois do lado cá também era feita uma seleção das famílias que iriam acolher e que se inscreveram neste programa Claro e eram avaliadas eh quanto à sua situação material financeira e também moral não é isto aqui numa avaliação muito subjetiva que ficava ao cargo da dos critérios da Cáritas portuguesa portanto não é houve famílias em todo o lado do país Algar Valente joo Douro Acho que mais para cima também eraam castigo ainda para as crianças não priam ir mais para cima do douro brin tem que ser eu sei que estava dar uma dar uma leada Zinha estava a ver a ficar m ver quem que ia levar com não é era maldade também ass coitadas bem Vamos lá eh havia um padrão nestas famílias Claro pertenciam a uma elite eh financeira algumas até ligadas ao ao regime houve até o mito que a família do cazar tinha ela própria acolhida Algumas crianças mas não há nada que pareça indicar que isso foi que isso foi assim ainda assim Claro era um programa que do do imenso agrado do do ditador do Salazar que era a nível humanitário e até religioso que era nível de deixar bem visto bem Vista a ditadura eh internacionalmente sobretudo um lugar de acolhimento não é sim é verdade Claro porque logo a seguir à guerra é quando eh a ditadura se torna absolutamente insustentável em termos internacionais porque com colónias uma coisa que já não que deixou de existir não é não não estava-se a passar pel seguinte uma toda essa farça caiu não é cai Claro é um BO um bocadinho só que isto serve também um bocadinho de cartão de visita de de amenizar e a ditadura sobretudo a visão internacional da de Portugal e da ditadura até porque Portugal era no associado às crianças e aos pais austríacos como o paraíso e no contexto europeu era de facto um paraíso Era um país tranquilo em paz cheio de sol portanto era de facto um paraíso e agora e lá vinham as crianças asis 5000 não viam todas na mesma leva isto foram ao longo destes 11 anos ver é incrível que isto está cheio de camadas isto é uma história que está cheia de camadas muit muito incrível é muito uma história mesmo fascinante agora o paraíso desmor logo um pouco com a viagem não é as primeiras ainda vieram de avião organizou-se a viagem da mas depois as segintes já iram de comboio para génova penso eu e depois daí de barco para para Lisboa foram mesmo Isto é mesmo foram ao Sky scanner e disseram não não isto está muito caro avião e depois juntar coisas mais baratas viagem mais barata é carro Comboio e avião não foi Comboio mas foi a maioria delas fizeram a viagem toda de comboio não era nada fácil demorava uma semana nesta viagem e sem grandes condições não eram comis que tivessem em cama portanto ela elas coas saíam com aquela coisa vamos para o paraíso e depois Muitas delas ali passavam um um mau bocado naquela semana mas depois à chegada elas lá vinham traziam cada uma um cartão com o seu nome ao pescoço e as famílias de acolhimento lá estavam à espera os primeiros tempos foram um Choque Cultural normal são crianças algumas delas francamente pequenas o 7 9 10 anos a língua absolutamente não falavam uma palavra falavam apenas alemão não falavam uma palavra de português e quem é que aqui falava alemão não é que percentagem talvez Alguma coisa Alguma mas mas de facto ninguém fala de facto mas mas entende-se crianças são de uma plasticidade gigantesca pois a comida é uma coisa completamente diferente não é shnit que é shnit vai lá va toma aqui umn Cadinho mas também mal não ficaram também não agora não mas habituam-se uma sopa de feijão é trocada na boa pressa porcaria toda cidade Portuguesa e depois as saudades dos Pais naturalmente agora nós lemos tudo toda esta história Nós lemos em entrevistas aos adultos que hoje são essas essas crianças depois havia outro lado eram crianças que vinham de lugares devastados pela guerra também pela pobreza as crianças mais velhas lembravam-se das tinham Memórias da Guerra Claro e Muitas delas tinham perdido ou pai ou outras pessoas da família portanto vinham de situações de choque absoluto nãoé de trauma onde de repente chegar a um sítio Uma quinta no Douro uma planície no alentejo com uma família simpática Que el acolhia ainda que não falasse a sua língua com outras que não tinham tido qualquer tipo de realidade próxima vamos brcar com os teus irmãozinhos com essa história toda Claro deves ter parecido de facto um paraíso e falas muitas as raparigas nesse caso que falam dos dos vestidos bonitos que as as famílias de acolhimento tinham preparado dos lacinhos no cabelo que era uma realidade que já não tinham na na Ária onde as pessoas viviam pessimamente depois da guerra Claro agora e com a rapidez típica das Crianças aprenderam muito rapidamente a falar português habituaram-se à comida à família a quem a maior parte chamava pai mãe e os seus irmãos Claro não perderam contacto com a família biológica por carta era uma das regras deste deste programa Tudo supervisionado pela Cáritas austríaca que estava em Portugal e que lá umas senhoras até uma princesa do lichtenstein que era a senhora que andava que andava a ver se estava tudo a correr bem houve pontualmente casos que não se habituaram quer a família quer quer a criança mas foram as a grande exceção a grande exceção correu bem e no fundo acabou por ser um ano de férias em Portugal um não é foi estas crianças não iam à escola não estava previsto que fossem fossem à à escola Claro h e depois foi um ano de descanso que com certeza terá ajudado a tirar da cabeça as memórias do que a tinh Vi vida como tinhas dito é mesmo quase a fazer um um um reset ali às cabeças e depois ao fim de um ano há o regresso que foi para muitas e para muitas famílias de acolhimento muito penoso e triste foi um um novo choque sair de uma sobretudo em idades mais mais novas n é as crianças agora esta é a minha realidade e o regresso à Áustria foi muito traumático para Muitas delas já não falavam alemão as mais pequenas falavam já só português uma língua que os alest tríos fazem gala e não falar não tá muito long e agora estavam habituadas ao tal cozida portuguesa lá tinham que ser os chitos e elas perguntavam mas isto é o quê Isto é tão fininho Isto é isto é vitel isto é isto é o isto esta estes nudis por cima Isto é o quê e não brincade BR brinar um bocadinho Claro e depois estavam também habituadas e p a pegadas a outras pessoas tadinhas Isto deu a volta duas vezes não tadinhas sim e aliás em alguns casos o dano na relação com os pais biológicos durou para para para sempre e por isso hoje em dia o acolhimento de crianças no estrangeiro é uma solução só de ú recurso já não é uma prática comum no caso de muitas destas crianças a ligação a Portugal nunca se quebrou e começaram a organizar-se encontros e lá vinham elas adolescentes e depois adultos visitar os seus pais e os seus irmãos Portugueses e houve até quem voltasse e quem ficasse por cá e que se mudasse para Portugal e hoje em dia vive viv vive e e é português houve adoções legais ou até informais pessoas que não foram adotadas legalmente mas que estes pais de acolhimento lhes deixaram todas o seu toda a sua herança hum portug fo Tour touro já já morreu sugerimos também que Vejam o filme documentário viagem ao sol estu há muito pouco tempo que é sobre a vida destas crianças em Portugal e que mostra também a parte com com traumático também foi esta esta experiência Quanto ao nosso Padre ele continuou presidente da Cáritas do porto até morrer com quase 100 anos como já falamos claro que é impossível falar desta história sem nos lembrarmos de outras histórias que nós ouvimos hoje de outras crianças hum milios depois da segunda guerra tenh hoje uma relação tão complicada com outros refugiados vindos de outros continentes e de outras guerras acabamos com uma citação que encontrei num trabalho académico de Ana da Silva Pinho fazend aqui a vénia sobre este assunto a citação é de alenor martinovski uma das crianças austríacas hoje uma adulta que foi recebida naquela altura em Portugal Diz ela acho que hoje seria difícil encontrar essa prontidão para abrir os braços e as famílias e a casa e o seu ser a crianças de uma cultura estranha de um país estranho em circunstâncias estranhas e É uma pena é uma pena que nós como humanidade não tinhamos progredido nesse sentido o padre Alexandrino bruxado faz hoje morreu faz hoje 8 anos [Música]