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a canção que te faz sonhar tem tanto para contar pois o caminho a seguir é a missão de incluir nós vamos desvendar melodias Olá este é o desvendar melodias o podcast rfm onde falamos sobre música e inclusão de pessoas com deficiência e surdas eu sou a Marta Vitorino e estou aqui de novo com um convidado para ter uma conversa que de certeza não vais querer perder se é a primeira vez que nos estás a ouvir sabe que o podes fazer em todas as plataformas de podcasts e em www.rfm.com.br [Música] [Música] em muitos lugares mas acredito que um bocadinho do seu coração está sempre em Amarante foi lá que cresceu lá que a avó lhe deu a primeira guitarra e desde aí nunca mais parou mas foi lá em Amarante que deu Provavelmente o concerto mais especial da sua vida para muito poucos ele é Pedrinho para alguns mais é Pedro Fidalgo e para nós é o nóbel olá olá Obrigado pelo convite primeiro Marta e deixa-me dizer-te que isso foi uma bela introdução e o detalhe do Pedrinho que é bem verdade obada pelo menos na rua da minha avó onde eu fui criado vou ser Pedrinho até aos 80 anos provavelmente mas sim obrigado obrigado pelas tuas palavras e tens razão Amarante foi e é o sítio onde eu nasci onde eu cresci onde fiz onde comecei a minha carreira na verdade onde escrevi as minhas primeiras canções e é um lugar muito especial no meu coração foi um dos meus maiores concertos até hoje já vamos já vamos mais à frente falar sobre isso mas foi foi um sítio e é muito especial é o sítio onde eu vou ainda hoje para recarregar as minhas energias quando pensas no Pedro Fidalgo Pequenino esse Pedro Fidalgo cria o quê cria música ou cria 30.000 profissões como todas as crianças quis 30.000 profissões 30.000 não eu até aos 8 9 anos curiosamente Queria Ser Dentista que é uma coisa que não tem rigorosamente nada a ver nem com a minha personalidade h eu lembro provavelmente por volta dessa altura devo ter visto algum vídeo sobre sobre um dentista ou alguma coisa do género e percebi que aquilo não era não tinha perfil para aquilo Porque ter que estar ali olhar para a boca das pessoas o dia todo não era de todo que me cativasse e e e então depois mudei de ideias e quis ser engenheiro civil para trabalhar com o meu pai que trabalha na área da construção desde desde sempre eh entretanto na escola a minha mãe e bem eh deu-me ali uma forcinha para eu tirar o curso de mecânica e foi o que eu fiz mas aí já a música estava muito presente eh foi uma coisa que surgiu por volta dos 14 anos quando a minha avó me deu a minha primeira guitarra e E desde então nunca nunca mais ponderei fazer outra coisa porque era aquilo que me que me mechia que que me dava prazer e que me fazia sentir bem era a música Era o catalisador falas no teu pai teu pai também gostava de cantar meu pai gostava de cantar canta muito bem é uma das minhas maiores influências e é uma das pessoas que mais me incentivou para para continuar na música Eu lembro-me quando tinha 19 anos H passei por uma fase mais chata e a música Não Me estava a dar aquilo que eu queria dela que às vezes também temos que perceber que nem sempre as coisas são como nós queremos e não é por isso temos que desistir E e tava estavam frustrado era essa sensação que eu tinha e disse aos meus pais que pronto não queria mais não queria não queria investir na música Como uma carreira profissional sim manter isso como um hobby mas queria fazer outra coisa e estávamos à mesa a jantar e o meu pai com toda a seriedade do mundo virou-se para mim e disse que eu só ia desistir no dia em que ele não acreditasse mais em mim e nunca me deixou fazê-lo Então Ah isso é tão bonito a música aparentemente É uma carreira que dá um futuro difícil e que é preciso trabalhar muito não que para outras carreiras não seja mas se calhar não é um futuro tão assegurado eu acho que é questão de ser uma carreira muito volátil não é é tens tens muitos altos e baixos na na na carreira da da música mas como é muitas outras mas a música Eu entendo aliás estudo seja Artes e artes performativas é há sempre uma incerteza porque há muitos artistas e cada vez mais artistas com mais acesso à à à partilha e que podem mostrar a sua arte Isso dificulta é muito bonito e e dá espaço para que toda a gente mostre um pouco daquilo que tem para dar mas por outro lado também sobrecarrega as coisas e faz com que tenhamos que nos Reinventar todos os di para tentar continuar a chegar ao nosso público e a chegar às pessoas e chegar mais longe por isso é que existe essa incerteza eu acho e porque há tanta coisa boa que existe sempre aquele medo de sermos só mais um não é sim e e felizmente os meus pais acreditaram muito muito no no meu talento e e incentivaram me muito para que eu não desistisse dele mas o teu pai não te queria dar uma guitarra então foste pedir à tua avó meu pai não me queria dar uma guitarra porque tinha-me dado um saco sof quando eu tinha 12 anos e ao final de um ano eu desisti daquilo e quando lhe fui pedir a minha primeira guitarra porque os meus amigos tocavam guitarra e eu achava que era um elemento muito fixe para levar para o recreio da escola sabes via toda a gente sentada à volta deles e eu pensava bem eu tenho que estar no meio daquela roda não é e fui pedir uma guitarra aos meus pais e eles disseram-me redondamente que não porque já tinham gasto uma porrada de dinheiro num saxofón que mesmo para iniciante é sempre é caro não é e eu fiz aquilo que qualquer adolescente faria no seu perfeito juízo fui pedir à minha avó e ela não me disse logo sim só pegou na carteira Estávamos na loja dela e ela pediu para eu levar ao banco para ensinar a levantar dinheiro e eu lá pus o o que ela queria levantar montante que ela queria levantar e ela levantou e deu-me para a mão e disse pronto agora vai lá comprar a tua guitarra e foi muito engraçado comprei a minha primeira Viola e a partir desse dia e foi um caos porque eu sinto que eu olho agora para trás na minha adolescência e há tanta coisa que eu podia ter feito que não fiz porque eu passava horas e horas no meu quarto com a minha guitarra era a minha companhia era tudo aquilo que eu queria fazer os meus pais vinham me pedir para eu ir sair com os meus amigos imagina o meu docente não era fica em casa era por favor vai sair vai fazer alguma coisa vai ir ao Rio vai brincar tudo isso ao longo dos anos a aprender depois a tocares em bares e naquele dia com 23 anos quando dás o grande concerto no Largo de São Gonçalo sim o que é que tu sentiste eu senti muita coisa porque primeiro porque de tarde quando estávamos a fazer o teste de som a minha avó entrou no no camarim que era nos claustros da igreja de São Gonçalo e disse-me olha filhinho se não tiveres ninguém lá fora logo à noite não te preocupes sabes que Santos da casa não fazem Milagres e eu disse obrigado motivador Obrigado pelo apoio moral é bom saber que posso contar contigo para mim levar o astral eh e de repente chega-se a hora do concerto e nós ainda estávamos no camarim eu começo a ouvir um ruído muito muito alto muito intenso e começo a perceber que eram as pessoas a chamar pelo meu nome Nobel Nobel Nobel Nobel e eu saio daquele camarinho e faço o caminho para o palco e vejo o Largo de São Gonçalo cheio parece um mar de gente como eu nunca tinha visto na minha vida estava o Largo de São Gonçalo cheio a ponte cheia a rua que dá para o Largo de São Gonçalo cheia tem umas escadas do lado do palco que dá para a biblioteca municipal de Amarante tudo h não havia sítio para não havia sítio para mais ninguém e eu lembro-me de pensar que era estava in crédo porque eu chamei as pessoas pedi para elas virem e elas vieram vieram Celebrar e vieram celebrar a música que se fazia na minha cidade e vi ali caras conhecid desde a minha infância vi muita gente que nunca tinha visto Foi uma noite muito bonita e foi a primeira vez que eu ouvi porque foi o meu primeiro concerto desde no como Nobel não é sim foi a primeira vez que eu ouvi as pessoas a cantarem de volta para mim quando começamos a tocar a haney e eu calei-me porque era ensurdecedor todas as pessoas no lar que são onç salo naquele recinto a cantar em plenos pulmões a han de volta para mim eu cantei para eles eles cantaram para mim eu s eu acho que nunca senti em palco já senti muita coisa outra vez mas esse dia talvez por ser o primeiro por ser a primeira experiência que eu tive o primeiro contacto direto com as pessoas a cantarem as minhas canções as coisas que eu escrevi de volta para mim foi foi foi mágico quando tu eras só o Pedro Fidalgo tu pensavas chegar aí era uma coisa que nunca me tinha passado pela cabeça até porque no início antes de de de Nobel eu eu tocava um estilo um bocadinho diferente estava mais dentro da área do blues e do rock and roll uhum eh Noble surgiu mais tarde como uma necessidade porque eu comecei a tocar piano e comecei a escrever aquelas canções e não sabia bem Onde é que as havia de encaixar nos projetos que eu tinha porque não faziam sentido então existiu aí essa necessidade de criar alguém que fosse o cantor indicado para aquilo que era o Nobel eh portanto eu não estava de todo à espera nunca de de que isso fosse fse a minha realidade sabes sempre pensei que fosse um artista mais alternativo tudo bem e há artistas alternativos com grandes carreiras e que ten a mesma satisfação ou até maior muitas vezes do que um artista mainstream mas na altura eu não imaginava aquilo e e e quando aconteceu ainda foi mais marcante porque não estava À Espera não não era uma coisa que eu ansiava eu quero aquilo foi uma coisa que veio sem eu pensar que queria de facto aquilo então quando aconteceu foi ai nem sabia que Queria tanto uma coisa sabes esse sentimento nem sabia tanto que que era isto que eu queria que precisava disto e de repente aconteceu e e e marcou-me mesmo mesmo muito o que é que o nóbel tem do Pedro Fidalgo eu acho que acima tudo ten a voz felizmente eh e e atitude eu acho que a atitude Rock and Roll é uma coisa tu podes tirar uma pessoa do rock mas não Consegues tirar o rock de uma pessoa eh e eu e e eu vou vou tentar vou tentar perpetuar essa essa esse traço da minha personalidade e eu gosto muito de de curtir aquilo que estou a fazer em palco e acho que isso vem mais do rock até do que do pop e Portanto acho que é uma coisa que o Nobel mantém do do Pedro fidelo a voz atitude Rock and Roll gostar de roupas esquisitas ao longo de tantos anos de carreira há também muitos concertos muitas horas em estúdio muitas horas de de composição no meio de tudo isto Há algum momento Engraçado que nunca Tenhas contado alguma curiosidade que temha acontecido num concerto na composição de uma música Olha Há um momento de um concerto que me marcou muito mas não era ainda não era o Nobel sequer e tinha 16 anos Uhum E estava a tocar a minha Amarante num bar que havia lá que já já nem existe que era o darcos e o bar estava cheio eu tinha pessoas a 20 cm de mim era a distância do microfone aquilo que nós estávamos a tocar lá no meio e era toda a gente à nossa volta pá era uma festa e estava mesmo repleto de gente nem nem nos conseguíamos mexer a banda apertadinha era incrível e de repente eh eu eu tinha passado a noite anterior no hospital porque tive com uma gastrite e tive muito mal e vomitei vomitei bué fiquei com uma laranjita e tudo tanto vomitar e mas fui fazer o concerto na mesma porque quer dizer a música é isso não é também quem dá o que tenha mais não é obrigado e quando não podes fazer o que fazes faz o que podes e lá fui eu dar o concerto e estava desgastado estava mal mas estava-me a divertir e de repente no meio daquela multidão toda dentro do barzito Estava à Pinha começa a ver as cabeças das pessoas a afastar-se e o que era era o meu pai a vir pelo meio das pessoas com uma mala de guitarra que era uma guitarra que eu sempre quis desde desde desde que quero tocar guitarra sim e ele pousou a guitarra no chão abriu a mala e tirou a mala que era a minha Gibson lucil que é a minha guitarra a guitarra que eu mais adoro e ele virou-se para mim e dizer assim a próxima canção é para mim e vais tocá-la com isto e deu uma guitarra no meio do con Essa noite foi é uma das memórias mais queridas que eu tenho porque é a música A minha família e demonstra aquilo que eu estava a falar há pouco eles acreditaram sempre em mim e fizeram sempre de tudo para que eu não desistisse deste sonho e Deram umas ferramentas todas necessários isso foi porque era uma coisa que eu não andava a pedir pá quero guitarra quero não toda a gente sabia que aquela guitarra era eu tinha aquela guitarra no no wallpaper do meu computador estás a ver era a guitarra que eu e nesse dia sem contar chega o meu pai à meia e me0 no meio das pessoas todas e abre-me a guitarra no chão e dáme uma guitarra para eu tocar o resto do concerto com aquela guitarra e isso foi um momento e eu quero dizer já aqui do fundo do meu coração que se não fossem mesmo os meus pais eu sei isto mesmo Se não fossem os meus pais e a persistência deles e os valores que eles me que eles me transmitiram hoje não existia Nobel eu não era músico eu não não não estava a fazer nada remotamente parecido com isto foram eles que me ensinaram isso tudo não desistir e e continuar a lutar pel aquilo que queremos e pel aquilo que achamos que é o melhor para nós e eu gostava de fazer uma pergunta agora a ti Já estás f a tudo me fazer perguntas não sei se posso virar isto ao contrário eh podes não estava muito à espera mas por acaso tem a ver com a inclusão Principalmente nos espetáculos sim hh e e no teu caso tu vais assistir a um a um concerto eh tu ouves o concerto todo perfeitamente Uhum que é que te podia ajudar a ter uma melhor experiência por exemplo um vamos imaginar alguém com não alguém mas uma um mecanismo destes um fone Tás com um fone uns fones e tem alguém a fazer uma descrição visual do que está a acontecer Ok mas por exemplo Tu vais e preferes estar a sentir a música e a sentir o grave a sentir o ambiente ou ou preferes ter de facto de um lado de um ouvido ter alguém sempre a descrever o que é que o artista tá a fazer ou o que é que tá acontecer naquele momento então eu não tenho necessidade visual Ok ou seja para mim não me é importante dizerem me assim eu sou o Nobel e estou vestido desta e desta forma e tenho o cabelo desta maneira e sou alto e essa informação a mim não me interessa po mas não me interessa porque sei lá não me interessa não sei explic Car não não não é fundamental eu porque nunca foi exato porque nunca foi exato mas há pessoas que são cegas n cença e que e que gostam de saber como é que é e que imaginam muito o que é que seria e como é que seria e e tá tudo certo com isso E para isso eu acho que é importante haver uma audiodescrição agora eu Marta que não tenho esta necessidade e que vou um concerto para ouvir música eu quero a ir e sentir a música e estar ali a aproveitar principalmente se for com amigos eu quero estar a comer comar com os meus amigos e estás a sentir esta música Já viste esta versão que eles estão a fazer ao vivo incrível muito mais do que est a ouvir um músico está sentado no palco com uma guitarra não faz S quase é quase como quando vais no carro ou ver uma canção e de repente o GPS fala na próxima viras e de repente corta a eu eu estava a perguntar precisamente por isso mas acho que e para muita gente é importante po ser essencial eu acho que num concerto mais acústico faz mais sentido sim agora se for concerto dito vá vamos pôr aqui normal hum eu acho que vai cortar ali um bocadinho a vibe mas é a minha opinião e se calhar deixo aqui nos aos nossos ouvintes para dizerem nos comentários ouvintes cegos O que é que acham que seria mais útil com ou sem áudi descrição e onde Porque isto também estamos aqui para ajudar os artistas a tornarem os concertos mais inclusivos por isso também contamos convosco para ajudar nisto o o ideal que Eu Acho É provavelmente o ideal é sempre ter a opção não é imagina no teu caso tu vais ver o concerto e não não não sentes a necessidade de uma descrição desculpa como é que é o termo audiodescrição Ok não sentes a necessidade de uma audiodescrição então simplesmente não a usas não é outras pessoas que sintam essa o importante é ter opção à disposição não é exatamente e dar a liberdade Porque agora não é não porque eu tenho uma amiga minha a Marta que ela não precisa portanto não vou não vou fazer isso não não se pode generalizar não é o problema é nunca generalizar há sempre uma tendência mas é mas tem a ver com todas as não é incapacidade mas com todas as deficiências com tudo sim sim sim sim há uma necessidade de generalizar Porque toda a gente que tá com este problema ou que nasceu assim tem que se sentir não há pessoas que lidam é como estás a ver tu tu lidas de forma muito mais Leviana por exemplo pode haver alguém que S sente mes cidade e depois do concerto já de certeza que se não tiver essa audiodescrição já vai ser um quer dizer já já pode já não ser significar nada para a pessoa não é porque ela sente a necessidade de estar envolvida no ambiente Cada pessoa tem as suas vivências Isso é se calhar das coisas que mais me chateia não me chateia ao ponto de me irritar nem nada disso mas é se calhar uma coisa que me incomoda quando eu me encontro com alguém e a pessoa se vir e diz ahi eu tenho um amigo que faz tal igal como tu ou tenho uma prima que faz não provavelmente ou por exemplo isto Acontece muito nos Transportes aqui em Lisboa pessoas que já fizeram isto provavelmente H há muita gente que faz isto que é Vão dois segos num Autocarro ou num combai ou qualquer coisa assim OK e alguém se vira e diz assim ah sent ali menina tá ali um amigo seu eu oi não eu por acaso acho que vou sozinha então vou para trabalho não não combine nada com amigos Ah tá ali outro senhor que é ceguinho Ah mas são que os cegos não são todos amigos não se conhecem todos uns aos outros por isso é que se diz mais vale cair em graça do que ser engraçado e isso por eu acredito que isso seja uma coisa que cai muito muito mal tipo eu já só me Rio sim é é estás a ver são Ok e se e por exemplo pode haver alguém que ou se essa piada e até não seja e não sei não leva mal não tou dizer que go mal eu acho as pessoas não sabem eu tive Obviamente as as diversas fases eu quando era pequena e vinha de uma aldeia para toda a gente ver era a coisa mais incrível e obviamente se tu cresces com isto O teu objetivo é ver até que eu vou para uma escola diferente e começo a perceber que e pá eu posso fazer a minha vida e tudo aquilo que eu quero fazer agora e para futuro eu não preciso de ver então para é que eu me estou a chatear com isto só me está a cansar só me está a deixar triste e há todo o mundo para além da necessidade de ver aí está mais uma vez a minha vivência Se eu quisesse ter sido designer se calhar hoje em dia era uma pessoa muito mais frustrada Claro e e afins E então eu nessa fase para mim Ah tinha essa complicação Depois foi a fase de eu aceitar tudo OK mas não perceber como é que as pessoas não percebiam Aquela fase da adolescência em que nós também sabemos tudo e os outros não sabem nada e pronto e depois chega um momento em que ok a minha irmã estava-me sempre a dizer a está nessa fase de adolescência Marta as pessoas não sabem tudo até porque nós somos numa Terra pequena e as pessoas têm muita tendência por exemplo ainda hoje de se dirigirem às pessoas que estão ao meu lado e de não se dirigirem mim e eu hoje consigo perceber que as pessoas não fazem isso por mal as pessoas fazem porque não sabem agora uma coisa e isto é importante para todos os ouvintes uma coisa é fazerem quando não sabem outra coisa é serem expostos à informação e continuarem a fazer igual sim aí é que é mais complicado pior do que não saber é não querer saber exato e mas estavas a dizer uma coisa muito curiosa isto agora foi um pensamento que me veio à cabeça Espero que até não seja não não não sou mal mas o que eu queria estava a dizer que pronto chegaste a uma fase da tua vida em que percebeste que também a área que tu crias não era uma coisa que dependesse assim tanto da visão não é e que era um e portanto era uma coisa que tu conseguias fazer relativamente bem e fazes bem e eu eu acabei de entrar neste estúdio eu vi-te a montar esta entrevista toda entrevista esta conversa toda sozinha e eu estava aqui mãozinhas ao ar não fiz rigorosamente nada e curti muito aquilo do pois depois são esse tipo de de ferramentas não é leit dec Fantástico também tem Brail na mesa SOS ouvintes saberem mas e e estavas a dizer que se tivesse sido por exemplo para design ias te sentir muito mais frustrada sim eu acho que isso não é só uma coisa que vem que assista uma pessoa com algum tipo de deficiência eu acho que nós temos que ser sempre Humildes ao ponto de saber aquilo que nós também podemos fazer não estou a dizer que não devemos tentar fazer quando deixamos que temos uma alguma coisa que nos incapacite não é sim mas imagina Eh ok tu felizmente também era a rádio que tu querias e Não foste diretamente procurar o design senão ias insistir como é óbvio Nisso porque todos nós insistimos no nossos nos nossos sonhos para tentar realizá-los mas deve haver um ponto na nossa vida também é que nós percebemos Será que nós somos o Fit ideal para para isto que eu quero fazer por exemplo eu eu quando era miúdo hoje em dia não gosto de futebol mas quando era miúdo pá os meus amigos jogavam à bola e eu sempre quis jogar à bola também mas ó pá arrebentava me todo porque eu nunca na minha vida tive jeito para o futebol portanto eu acho que também era uma coisa inconcebível para mim andar vamos imaginar até aos 30 anos a tentar singrar como jogador de futebol não é sim sim às vezes também é essa capacidade que que temos que ter não estou a dizer é mais uma vez não estou a dizer que devemos nos limitar eh só porque sim do g a vou por ali porque vai ser muito difícil para mim não nada disso mas também às vezes temos que olhar para nós e ouvir o nosso íntimo e lá está aquilo que nós queremos e aquilo que é melhor para nós nem sempre são a mesma coisa não é claro eh e e é importante também encontrarmos soluções para nós próprios que nos deixem mais à vontade e mais confortáveis o que é que tu achas em relação a isso achas que é um tema muito delicado Acho sim não não eu acho que sim Acho que é um tema e que tem dois lados sim eu acho que é importante nós percebermos O que é que somos capazes ou não há coisas que não são visuais que eu com certeza não tenho jeitinho nenhum para fazer e não vou para aí porque não eu disse uma coisa há bocado que foi a questão do Design sim obviamente que o design para uma pessoa cega é muito difícil acredito eu e estou a falar há sempre alguma coisa que eu posso não saber mas acredito por ter ente visual é mais difícil mas se calhar há uns 60 80 anos se dissessem assim um cego vai fazer rádio o quê não o se tem que estar em casa houve pessoas que tiveram que lutar que tiveram que batalhar e eu acho que existe a linha uma linha muito T entre principalmente aqui na questão da deficiência tu não fazes porque não Consegues e nunca ninguém tentou Então tá quase pré-definido pela sociedade que tu não Consegues porque M ninguém desenvolveu ferramentas para ninguém fez nada porque est nunca ninguém tentou ou tu não fazes porque efetivamente não t jeito para fazer ya e é e é importante percebermos um bocadinho aqui esta linha é uma linha muito tens razão mas mas pronto vale a pena já que estamos na rfm não vale a pena pensar nisso nos teus concertos como é que estas ideias que tu tens e que tão bem pensadas e bem construídas como é que tu aplicas isto em termos de como o Nobel músico o Nobel músico eu acho que o melhor que eu eu tento fazer e eu até agora ainda não tive nenhuma nenhum concerto que fosse produção própria em que fosse eu que tivesse que fazer esse tipo de organizar o concerto e que tivesse dar a inclusão normalmente já quando somos contratados ou para festivais ou cada vez mais sinto que já existe uma inclusão melhor para pessoas com qualquer tipo de deficiência não é Sim tu vais a um festival qualquer tens aquelas plataformas mais elevadas para as pessoas que que usam uma cadeira de rodas para estarem ao nível do do Palco para conseguirem ver eh aquilo que eu acho mais interessante e é uma coisa que os C play também fazem muito e neste caso para as pessoas invisuais é e deixarem antes do espetáculo subirem ao palco deixa espaço para a imaginação isso eu acho que deve ser uma parte muito interessante dessa componente do toque sim sim não é eles deixaram-me tocar na guitarra do Scientist Imagina eu estava a tocar e meu Deus fogo que incrível estás a ver isso eu acho que é isso e no teu caso acredito que seja muito mais interessante isso do que teres um fone no ouvido a dizer que o crise Martin anda lá aos saltos de um lado para outro não ex examente e e e e eles eu acho que os colplay são e devem ser sempre o exemplo para todos os artistas porque eles são eu acredito que são a banda mais inclusiva que tem Os espetáculos mais inclusivos H aquelas platas formas vibratórias por exemplo para quem não ouve Ou aquele colete aquele colete com o subgrave o sensorial que estás ali e sentes a a batida da música ou baixo GR e nesse caso uma pessoa tá a ver o espetáculo mas não ouve mas tá sentes no teu peito aquilo sentes no teu peito o que tá a acontecer sentes o sentes a pulsação que eu acho que a pulsação é aquilo que nos une a todos Desde o dia que nascemos até ao dia Que morremos a coisa mais parecida que nós temos com o útero da nossa mã é pulsação por issso é que a música também é tão importante não é o sentido de do do tempo e eu acho que TS a ver um concerto e Imagino que seja muito difícil tanto não vendo não ouvindo H nunca não não não consigo falar de uma experiência pessoal porque não consigo imaginar sequer eu acho que coloco aqui um bocadinho de novo a minha vivência tem que ser porque eu não posso falar de vivências que não conheço Claro para mim ir a concertos é são experiências incríveis porque sa não não me faz diferença T me da multidão não me faz até acho desafiante e acho muito Gir e se tiver com pessoas com quem confio mais incrível ainda E então para mim não me faz diferença Eu gosto muito de ir a concertos mas por exemplo no do COD Play nós passamos pelos pelos surdos e eles estavam a sentir imenso com os coletos e com as pessoas que estavam a fazer a língua gestual inglesa no caso s e eles estavam a sentir imensa música e eu penso Desculpa pela minha ignorância mas se calhar até alguns anos atrás se me dissessem que uma pessoa surda ia a um concerto eu se calhar questionar Mia todos nós eu acho que todos nós assim como se eu for uma hoje em dia uma exposição de pintura e tiver alguém que me faça a descrição das imagens Isso é ótimo h e mas isto para dizer que ser inclusivo é sempre muito acho que deve ser um objetivo para toda a gente porque não há nada mais bonito do que tornar a experiência do outro melhor não é eu acho que é isso como artista e e de certeza que o chis Martin Eu não o Conheço também não deve ser uma pessoa incrível eh e essa sensação de saberes que e porque ele sabe que o concerto dele é muito bom não é como é óbvio como é óbvio e mas saber que está a proporcionar aquele concerto mesmo a quem há 10 ou 15 anos nunca na vida ia conseguir viver aquele concerto deve ser muito gratificante porque é existe mesmo uma sensação de agregação Consegues trazer toda a gente para ali para ver o espetáculo para sentir o espetáculo para viver o espetáculo acima de tudo eh e eu acho e o que eu te ia a dizer seja uma pessoa com algum tipo de deficiência ou não acho que a parte mais importante nestas coisas é sempre a companhia sim portanto Tu vais um concerto Estás a dizer que no no teu caso tava tu vais para uma discoteca vais para qualquer lado e vais curtir e vais sentir ah a companhia também faz sempre sempre a diferença às vezes não nem é tanto o sítio nem a situação onde nos inserimos mas sem com quem com quem a vivemos Não é sim mas também é importante sentir a confiança de imagina que há um música que eu quero muito ir ver e nenhum dos meus amigos querem ir ver eu quero também como pessoa com deficiência sentir H confiança para ir só para ir sozinha e sentir que eu não vou estar ali perdida eu vou ter apoio não é preciso ter uma pessoa ali ao lado ou se calhar para algumas pessoas é preciso aquilo que eu quero dizer com eu ter apoio é ter as ferramentas necessárias para que eu possa aproveitar o concerto de uma forma igual ou de uma forma equitativa e que eu me consiga divertir como qualquer outra pessoa independentemente de ter alguém para ir comigo ou não quer queres sentir que és queres sentir que independente Nessa tu e qualquer tu quando eu digo tu estou dizer toda a gente não é todos nós queremos sentir que temos a liberdade de de fazer o que queremos sozinhos não é eu também vou vou a n concertos sozinho é uma coisa que eu gosto muito e ao cinema também gosto de ir sozinho mas eh mas essa segurança de saber que vais E vais estar à vontade é é isso isso também é a verdadeira inclusão não é saberes que podes ir à confiança que vais ter uma boa experiência acredito que isso seja uma coisa que que puxa não é para ver um espetáculo para ir assistir um espetáculo e nos teus concertos H alguma coisa que tu gostasses de fazer para os tornar mais inclusivos ou não tens ideia ou assim assim de repente não tenho nenhuma ideia nova às ideias que já todos conhecemos que é como eu te disse mais uma vez os colplay são uma inspiração para todos os artistas eh mas há uma coisa que eu que eu gostava de fazer que era precisamente essa touch Tour sim que isso deve ser deve ser fixe e porque primeiro eu gosto de estar com os fãs antes do dos concertos gosto mas as colplay não estavam lá Não não só estava lá a equipa deles ah pronto mas eu estava à espera doos encontrar mas não claro Imagina mas dar essa essa oportunidade uma coisa que tem acontecido cada vez mais e que se vê muito agora mesmo em festivais e at coisas mais pequenas festas mais pequenas tem sempre alguém de linguagem de língua gestual portuguesa não é sim sim Portuguesa ou inglesa neste caso Sim e eu acho que isso também é é uma das coisas mais inclusivas que que se pode fazer h e pronto era tinha essa dúvida sobre a audiodescrição porque eu como te disse não não posso falar por experiência própria Mas o que eu imagino seria eu já sou uma pessoa que sou tantos distraído eu se tivesse Talvez um fone no ouvido e que tivesse a ouvir o concerto e ao mesmo tempo tivesse alguém a descrever o que estava a acontecer principalmente fosse um concerto frenético eu não sei se isso não ia ser um eh no meu caso não é lá está por isso é que é bom ter a opção para quem quer se tu quiseres está lá se não quiseres não está mas eu acredito que no meu caso não seria uma coisa muito tão divertido assim um caso muito concreto que nós podemos dar aqui como como exemplo hã é o caso da Jornada Mundial da Juventude nos eventos principais havia a possibilidade de sintonizar uma uma estação de rádio digamos assim em que as pessoas cegas podiam ter acesso à audiodescrição daquilo que estava a acontecer sintonizava a estação quando queriam quando não queriam não sintonizava Ou seja era uma opção eu podia estar com os meus amigos ou a fazer o meu trabalho voluntário quando tinha que fazer e quando estava focada naquilo e se de repente tivesse a haver um momento que era mais visual e que não tinha nenhuma questão descritiva e que se calhar para eles até era difícil de descrever porque estava muito longe eu podia sintonizar e tava a descrição a acontecer ou seja é o melhor dos dois mundos há tendência de colocar as pessoas com deficiência em lugares separados percebo O porquê disso acontecer acho que aí está volta à questão das vivências cada caso é um caso há pessoas que se sentem mais seguras assim portanto esses sítios Devem haver o que eu acho que não deve haver é a obrigatoriedade porque se eu quiser ir a um concerto com amigos e nenhum deles tem qualquer tipo de deficiência e eu quero ter eh no caso de ser por exemplo uma pessoa surda e estou a falar eu não sei como é que funciona a tecnologia dos dos coletos portanto faço já aqui o parênteses posso estar a dizer uma coisa errada mas por exemplo eu sou uma pessoa surda e quero ir a um concerto e todos os meus amigos ouvem eu quero viver o concerto com os meus amigos e se calhar não junto de tantas pessoas que OK são surdas como eu mas não me conhecem e eu não posso compartilhar para fazemo Então se calhar podíamos tentar perceber se é possível levar o colete sensorial para a zona Onde estão os meus amigos para poder viver o concerto com eles acho que ISO também é muito importante esta expressão é horrível mas é quase como se fosse uma na na cabeça de quem monta as coisas assim deve ser uma espécie de uma segregação positiva Exatamente é isso Juntar o útil ao agradável mas Pois é isso não retiras a experiência e a liberdade à pessoa de viver a experiência à for dela não é e eu acho que mais importante às vezes do que vermos alguém a fazer as coisas bem é é é é ver como é que as coisas foram mal feitas e eu gostava de fazer outra pergunta Marta sim assim recentemente Há alguma experiência tu que para ti não tenha sido mesmo agradável e que tu sentes que deviam ter mudado alguma coisa e que devia ter feito alguma coisa diferente que te deixa outos em concertos principalmente em concertos que é é a minha área concertos não não houve assim Hum nada boa boa boa eu só conheci pessoas cegas conhecer de estar mais do que uma hora a partilhar experiências normais e dúvidas normais a partir dos meus 17 anos eu eu sou muito H pessoa que pensa às vezes até demais como eu sou a minoria e atenção não no sentido negativo é eu sou minoria eu tenho me enrascar vocês podem me ajudar CL vocês veem podem-me ajudar a desenrascar mas eu não sou aquela pessoa que chega aqui e diz eu porque sou cega preciso disto e daquilo às vezes efetivamente se calhar até preciso Mas penso mais facilmente de como é que a Marta se não tivesse a possibilidade de ter essas coisas faria para se desenrascar e para ter a experiência do que o que é que já existe de adaptação que eu posso pedir e que se calhar até me Estão dispostos a ajudar a dar porque tem a ver com as minhas vivências então naturalmente eu não penso muito nisso isso e isso faz com que também eu não chegue a um concerto e penso e pá Será que isto tem aud descrição Será que isto tem adaptação de alguma coisa mas não não tenho mesmo sentir-me perdida ou sentir-me não mesmo na jornada a Jornada Mundial da Juventude foi um evento Sim Isso deve ser gigante e e eu trabalhei como voluntária e mesmo no meio da Loucura de tudo de tanta gente e houve alturas em que eu tinha que estar sozinha porque tinha coisas para ou seja não era sozinha mas era com pessoas que eu não conhecia porque estava no meu posto e estava na minha função tudo se resolveu e as pessoas o mentre e ajuda tão bonita que eu eu conheci pessoas e fiquei com o contacto de pessoas conheci na jornada exatamente por causa desta questão da deficiência e do chegar e perguntar olha podes-me ajudar aqui ou podemos fazer desta maneira e eu acho que às vezes as pessoas pensam muito naquela questão do pedir ajuda a vergonha ajuda exatamente um diminutivo da personalidade é e não é toda ninguém vive sozinho se ninguém vive sozinho qualquer dia Vais ter que pedir ajuda seja para fazer a coisa mais difícil seja para encontrar um caminho porque o teu gps ficou sem internet seja para o que seja nós não vivemos sozinhos e se vivemos uns com os outros não temos que ter vergonha de dizer podes-me ajudar com isto e às vezes fazem-se amigos às vezes conhecem-se pessoas e e é tão bonito isto não é é isso eu acho que isso é isso isso é um traço de humildade seja seja em que pessoa do mundo for saber reconhecer o momento em que tu Ok isto era mais fácil se alguém me desse aqui uma mão é é importante saber e e ter ter a humildade de pedir alguém para nos auxiliar seja com o que for eu não estou a falar só pessoas com com algum tipo de deficência estou a falar todos nós não é às vezes temos que pedir alguma coisa pode ser uma experiência sempre chata e e há muita gente que não gosta mesmo de incomodar eu sou uma dessas pessoas tento sempre não incomodar o mínimo possível mas há há momentos em que há coisas que são melhores feitas a dois ponto e é preciso assumir isso para terminar gostava de fazer a pergunta para ti incluir é agregar porque eu acho que não há nada mais bonito e principalmente na música E é isso que eu sinto quando vou dar um concerto sinto que eu estou em cima do palco estou a cantar estou a dar tudo aquilo que eu tenho e de repente V as pessoas que estão do lado de lá a dar tudo aquilo que T porque nós como artistas vivemos da energia que recebemos também como é óbvio Eu acho que o concerto por si só já agrega porque de repente tens ali um uma multidão de gente que está naquele momento toda a gente cada um tem os seus problemas ali os problemas em casa problemas no trabalho mas aquele momento é um momento de partilha e e e eu acho que é precisamente isso estamos ali todos agregados a viver o mesmo e quando tu Consegues incluir o máximo de gente possível de todas as formas e feitios isso é isso é incluir é agregar e incluir é partilhar também porque dá as oportunidade das pessoas viverem experiências comuns Eu acho que isso é muito fixe Obrigada Noel por esta entrevista Espero que tenham gostado desta conversa para a semana Há mais [Música]