🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
[Música] [Aplausos] sejam bem-vindos nas conversas do fim do mundo desta semana mergulhamos em vários locais recônditos e misteriosos do planeta é por lá que tem andado o nosso viajante em trabalho ele é etnógrafo vive atualmente numa aldeia dos himalaias mas já andou pela gigante Amazónia em busca de respostas a perguntas muito complexas vamos saber quais e hoje está aqui connosco aqui em Portugal na cidade de berço Guimarães onde nasceu e cresceu antes de Romar ao Reino Unido para estudar Olá Vítor da Silva Olá tudo bem tudo bem Vítor vives na Índia Há dois anos numa aldeia dos himalaias como é viver numa aldeia dos himalaias Ora bem é uma aldeia com três casas no fim do mundo mesmo Sim num lugar que é conhecido com como o fim do mundo habitável por alguma razão por trás dessas montanhas Onde eu vivo começa o Tibete Ah e como é viver lá é uma aventura eu vivo lá para parte do meu trabalho etnográfico que que me leva a Emir na na comunidade e e a estabelecer essa essa conexão ah para para deixar de haver quase uma separação entre eu como a pessoa de fora e a comunidade e eles ver-me ah pelo menos temporariamente como um deles e Através disso ah podermos trabalhar juntos e unir forças ah nos problemas que os afetam e e viver lá uma aventura é é é um é um lugar onde as pessoas estão ligadas à terra onde eles dependem da a sua subsistência é da terra e é um lugar onde onde a comunidade celebra o Divino como se não houvesse amanhã e estão ligados a tudo que os rodeiam Mas porquê viver naquela Aldeia em específico Aldeia enfim eh até se calhar é muito generoso chamar Aldeia um sítio que tem apenas três casas não é exatamente à volta da minha Aldeia existem outras aldeias que têm uma série de casas a minha já acaba por ser uma que tem só três casas mas o que me levou aqui especificamente foi o fa que essa comunidade que tem rituais sagrados muito antigos e eu descobri que existe um fenómeno a acontecer que liga a Europa e os himalaias basicamente essa comunidade celebra todos os anos da mesma maneira que nós celebramos o carnaval da mesma maneira que nós celebramos os caretos não é eles têm um ritual onde eles usam umas máscaras sagradas umas máscaras sagradas que estão vivas que não são não é apenas um objeto de madeira que pode ser substituído e o que está a acontecer é que essas máscaras sagradas a partir já já há mais de 20 25 anos essas máscaras sagradas têm sido roubadas das suas casas e dos seus templos para ser vendidas a colecionadores privados que vivem em Paris na Bélgica e que usam essas máscaras como um objeto exótico para pendurar a parede e o que acontece é que estão a a a a fazer com que essa comunidade perca eh o Não deixe de poder fazer o uso e de celebrar a sua cultura e os seus rituais porque uma vez que essas máscaras desaparecem eles não as podem substituir não podem simplesmente fazer outra masca de madeira portanto está a perder-se o património E com isso e uma parte importante da celebração de uma cultura é isso exatamente porque essas máscaras eles usam em ritual do fim de um inverno que é ardo on a Neve e essas máscaras só saem na na altura em fevereiro para poderem onde eles usam essas máscaras em ritual eles vão à volta da da Aldeia desse dessa montanha das Aldeias dessa montanha para poder proteger criar um círculo ah onde possam proteger essas essas comunidades ah durante o o o o ano que vem não é o vem o início da primavera é um ritual de passagem Ok e o teu trabalho consiste em quê Vítor Então nesse lugar Ah o meu trabalho é de entender o que acontece quando essas máscaras desaparecem Ah como é que isso afecta a o dia a dia dessas comunidades como é que isso afeta a a cultura dessa dessas comunidades e de que maneira eu posso trabalhar juntamente com eles para dar-lhes a oportunidade e o lugar da Fala para eles poderem contar a sua história para eles poderem eh explicar o papel que essas máscaras têm no seu dia a dia e para eh pôr lá fora no mundo um testemunho que mostre eh a esses colecionadores privados que eles estão a participar no desaparecimento de uma cultura que eles admiram é por isso que eles querem essas máscaras e hoje em dia nós falamos da repatriação de património cultural do colonialismo e e esquecemo-nos ou não temos a noção que isso está a acontecer enquanto Temos esta conversa e então eu quero facilitar Eh que que essas pessoas tenham a oportunidade a serem sujeitos e protagonistas da sua própria história e no futuro usar as minhas capacidades de direitos humanos e investigação para poder de certa forma repatriar algumas dessas máscaras que se encontram espalhadas pela Europa e museus e colecionadores privados Portanto o teu trabalho não é só de não é só de documentar todo o património que se perde e que se perde Isto é que sai e dessas comunidades mas também e desenvolver um trabalho de resgate e de regresso desse património para as aldeias de origem é isso exatamente Uhum é uma tarefa difícil não é É mas é uma trabalho é uma tarefa cheia de significado H E então mais do que porque a etnografia sempre foi uma disciplina à base da documentação ah muitas das vezes por paixão do etnógrafo ou para publicar livros para serem lidos aqui na na na sociedade dominante na sociedade moderna não mas não tanto a parte aplicativa de reciprocar e de poder dar de volta à comunidade e unir forças para reparar esses danos do colonialismo que se repetem hoje em dia Ó Vítor como é que se chama essa comunidade onde tu estás inserido ah essa comunidade Não tem necessariamente um nome são idades chamadas pahari que significa o povo da montanha e são comunidades que já vivem lá há centenas de anos nesses nesses lugares onde a vida é muito árdua não é pois e Imagino que seja isolada enfim do da sociedade enfim de uma grande cidade por exemplo não a cidade mais próxima fica a quantos quilómetros Ah mais ou menos a 1 hora da da da Vila mais mais perto Ah eles fazem uso de fazem uso do do acesso à modernidade e e e e e isso não não os Deixa de ser mais ou menos indígenas desse território Mas eles são independentes são autónomos e conseguem sobreviver naquele território por si próprios hum os ouvintes estão a ouvir a tua o teu testemunho e estão a perguntar mas o Vítor trabalha para quem para quem trabalhas Vítor eu trabalho para essas comunidades eu digo sempre que ah mas são eles que te pagam ordenado é isso não não Ou seja ó pá muito do meu trabalhou principalmente inicialmente era com os pequenos trocos que eu tinah ah sempre motivado por o facto que sinto que estou no meu caminho que sinto que estou a fazer bem independentemente da opinião dos outros e existem maneiras de monetizar esse trabalho de arranjar hã suporte e bolsas eh de de de de de pesquisa e que e que me ajudam a financiar de certa forma esses trabalhos mas ao mesmo tempo Ah não é uma coisa que me preocupe muito não é que anda não darem dinheiro pelo contrário Mas eu acredito que quando és o melhor do mundo a fazer o que fazes quando tens o coração no sítio certo o dinheiro e as oportunidades são a primeira coisa a aparecer muito bem uma delas é fazer expedições é isso Sim Isso foi uma coisa que H comecei é a primeira vez que estou a organizar uma expedição onde dou oportunidade a pessoas de fora que que seguem o meu trabalho para poderem e viajarem comigo e aprender sobre etnografia aprender sobre ética de como interagir com essas comunidades e de terem a oportunidade de visitar uma comunidade neste caso Na Amazónia No Brasil onde eu fiz o meu trabalho de campo hum para reciprocar e para dar de volta essa comunidade porque quando eu fui fazer a minha pesquisa há 5 anos atrás é a pesquisa é no âmbito da tua tese de mestrada é isso exatamente mado Na Amazónia Na Amazónia brasileira Quanto quanto tempo estiveste Na Amazónia brasileira a fazer trabalho de campo não tive muito tempo tive à volta de um mês porque o meu a minha o meu mestrado não permitia um trabalho de campo longo e eu fui dos únicos da minha da minha turma que que embarcaram numa jornada Assim muitos deles fizeram trabalho de de bioteca de de pesquisa e eu sabia que na altura que o bolsonaro tomou poder foi em 2019 que eu que lá fui sabia houve um chamamento que que me levou lá e Embora eu tivesse apenas uma semana depois de regressar de meu trabalho de campo para fazer sentido de tudo que lá aconteceu e escreveu uma tese e felizmente correu bem H tiveste uma uma semana para escrever uma tese de Mestrado exatamente ah ah campeão e fazia sentido das experiências todas que lá fui passar porque eu quando estava em Londres numa universidade que que eu digo sempre que é muito politicamente correta e eu tive o o desafio de convencer os meus professores que me pareciam metaforicamente debilitados a deixarem me e este macaco de barbas ir à Amazónia à procura de um antídoto usado pelos povos indígenas contra aqueles que ainda hoje acreditam saber o que é melhor para eles não é como aqueles tipos do desenvolvimento não é que que se sentam na capital do país e dão ordens que afectam as pessoas que sempre viveram de uma maneira autónoma nas suas terras Ok e descobriste qual era o antídoto sim eh descobri que o antídoto era a prática de dos seus rituais sagrados a prática eh que permite ou seja manter man manter manter e manter no fundo não é uhum manter viva a tradição é é uma forma de resistência é isso é uma forma de resistência Exatamente é uma forma é é foi o que eles usaram a partir do momento que os nossos antepassados portugueses ancoraram As Caravelas na costa atlântica daquele daquela terra que ficou reconfigurada como o Brasil Hum E eles encontraram vários desafios não é foram perseguidos e a única maneira que que os fez manter que fez com que eles pudessem manter a sua identidade forte e viva até aos dias de hoje foi a prática dos seus rituais sagrados às escondidas dos colonizadores para manter a brasa acesa esperando o momento historicamente favorável onde pudessem reacender a chama de quens São Ok ah e foi isso que eu conheci e não só eles conseguiram usar o ritual para para lidar com esse colonialismo de 500 anos mas mesmo hoje em dia com ameaças como o de bolsonaro recentemente continuam a usar essas Fer para através da efervescencia coletiva gerada nesses rituais poderem continuar a lembrarem de quem são estiveste no Brasil imerso em tribos eles falam desse passado Colonial português ou ou não é tema sequer é tema é assim eles falaram porque eu puxei a conversa eu quer entender mas chegar lá eles é uma coisa que não falam muito e uma coisa importante já que falaste disso foi que embora é irónico no entanto que embora eu seja português não é e seja Branco pois e e e e e os nossos antepassados tenham causado tanto sofrimento nessas terras que eles me tenham acolhido da mesma maneira que eles acolheram os nossos antepassados que foi de braços abertos hum foste bem acolhido muito bem acolhida embora eu eu eu tivesse cheio de medo de embarcar Ness Aventura eu tava se calhar foi das aventuras que mais medo eu tinha porque houve muitas questões de Será que eu estou a fazer coisa certa Será que é o meu papel é o meu lugar de fazer isso e ti muita resistência principalmente os meus colegas na escola na universidade que questionavam isso e eu tive que de certa forma ouvir o meu Coração Ouvir que esta era a minha jornada e e e correu tudo bem E graças a Deus e e e consegui lá está voltando à questão Inicial que tu me deste foi que neste momento estou numa posição que a pedido dessas comunidades e eu esteja numa posição em usar digamos entre entre aspas uma palavra que eu não gosto que é influencer não é que conseguir ter uma comunidade de seguidores que estejam dispostos a pagar por uma experiença dessas a pedido dessa comunidade e esse dinheiro os vai ajudar a comunidade a investir na sua segurança alimentar que é uma das preocupações que eles têm nos dias de hoje como assim segurança alimentar porque é assim esse território eh indígena onde eles vivem foi cortado ao meio a construir uma autoestrada pelo meio do seu território O Que atraiu a sociedade dominante não indígena que trouxe doença barulho poluição caça ilegal que foi tão insustentável que acabou quase com os animais todos dessa comunidade e então eles estão dependentes da da de uma de uma economia baseada em dinheiro para poderem Ir à cidade mais próxima e comprar comida porque os animais eh eu digo sempre que é quase tão exótico ouvir hoje em dia um pássaro nessa floresta amazónica onde eu estive é quase tão exótico como nós aqui numa floresta em Portugal encontrarmos um javali selvagem Sabes e estamos a falar da Amazónia pois olha que andam por aí muitos javalis selvagens e em Portugal começa a ser uma praga já há algum tempo Olha estamos a chegar aqui ao final da primeira parte da nossa conversa Vamos abrir o álbum de viagem [Música] Vítor da Silva guardas contigo Algum objeto que tenhas trazido dessas tuas incursões pel quenia pela Amazónia e que tenhas trazido da Índia agora que estás aqui em Portugal temporariamente então sim ó pá eu eu costumo dizer que eu uso o chapéu do avô que eu nunca tive e nesse chapéu que não é só para para o estilo e porque é bonito e é um um chapéu onde eu recebo às vezes encontro às vezes oferece-me que foi o caso da Amazónia brasileira onde o líder me ofereceu uma pena sagrada da dos dos seus animais e que basicamente é um objeto que eu que levo comigo nas minhas aventuras que me ajuda hum a estar desagarrar a coisas materiais porque o facto é que essas penas eu eu continuo a perdê-las e encontrar novas e e e ajuda-me a manter essa humildade de de impermanência e e é um objeto que eu que eu gosto de carregar comigo hum ah dá-te boa sorte tambm muito bem estamos à conversa com Vítor da Silva etnet no Instagram tem milhares de seguidores vamos fazer aqui uma curta pausa regressamos já a seguir [Música] 80 um avião Da TAP com 83 passageiros a Bordo é desviado para Madrid entrou por ali dentro e apontou mas o sequestrador que tem uma arma carregada apontada aos pilotos não é um pirata do ar comum chama-se Rui vive no Feijó e só tem 16 anos lev uma pistola o meu pai tem est pistola de facto Mostros a pistola [Música] Este é o piratinha do ar uma série para ouvir em seis episódios que faz parte dos podcast Plus do Observador é narrada por mim Margarida vilva e a banda sonora original é de David fsea pode acompanhar todas as semanas no site do Observador nas plataformas de podcast no YouTube [Música] estamos de regresso para a segunda parte das conversas do fim do mundo esta semana com Vítor Silva etnet no Instagram Vá ver parte da vida e trabalho do Vítor o Vítor é etnógrafo vive nos himalaias há do anos mas está por estes dias em Portugal mais concretamente em Guimarães Vítor já andaste com os massai no Kenia com o mauna Na Amazónia peruana com os Noque Queen Na Amazónia brasileira com os gond no na Índia central e também com os yukuna Na Amazónia Colombiana O que é que une esta gente toda e nós no fundo tu que estudas o ser humano Ok então ok parece vem aí uma grande resposta é isso respira a fundo é isso então ah é assim nós noss a nossa sociedade uhum infelizmente ainda viu os povos indígenas como tentativas falhadas de serem como nós tentativas falhadas de serem moderno então Existem duas visões muito distintas de quem são os povos indígenas ou seja temos uma visão muito paternalista em relação a a a Estas pessoas não é dizer que sim eu acho que no Spectrum político tens a visão da esquerda que acredita que os povos indígenas são os gordi da floresta que nos vão salvar destas Areias movediças em que nos enfiamos sim o mito do bom selvagem exatamente romantizado E tens o lado da direita que acredita que os povos indígenas não têm nada a oferecer e que eles devem ser integrados na sociedade dominante e tornarem seres capazes e seres produtivos e obedientes e o facto é que os povos indígenas são pessoas como eu e tu pois e e e o que os une é o facto que os povos indígenas no mundo inteiro eles AC contam como 5% da população humana Mas eles protegem 80% de toda a biodiversidade deste planeta e isto diz-nos que a mitologia a cultura deles está ligada de certa forma ao meio ambiente que lhes dão de comer que lhes dão materiais para construir a casa fazer os seus rituais e e estarem felizes e estarem com os pés na terra e o que AC acce é que enquanto nós devoramos e os nossos territórios e o nosso país e a Europa para o nosso desenvolvimento para alimentar a nossa ideia de mercado não é que lentamente se tornou a nossa própria mitologia ah os povos indígenas então Eh acontece que nessas áreas T muitos recursos naturais que continuamos a a querer extrair como o carvão e e outras coisas então é é sopa do dia ou seja Eles continuam a resistir a Tentar viver da maneira que sempre viveram e adaptarem-se a ao mundo mas o que acontece é que nós acreditamos que eles são primitivos e que e que devemos sacrificar a sua liberdade de ser humano e estar vivo para que nós podemos para que nós possamos continuar a usar os nossos Gadgets e e usar o conforto das nossas vidas eh que é antagonista e que é é muito diferente dos confortos que eles mas que eles têm não é mas que nos dão felicidade não é E tu também utilizas e exatamente tu tens milhares de seguidores no teu Instagram também porque filmas e document e fotografas não é e completamente exatamente eu digo sempre é uma pergunta é uma é é um bom ponto o que eu digo sempre é que é eu acho que não há necessariamente um problema sim de temos de usarmos essas ferramentas eu da maneira que eu vejo Isto é Ok eu estou a consumir estou aqui num hotel Ah estou aqui em frente ao Macbook mas é eu se puder usar essas ferramentas em serviço de de aliviar o sofrimento e de remar contra essa Maré do desenvolvimento e então eu estou de certa forma espero eu offset o o que eu estou a extrair do mundo Ou seja o meu trabalho h eu posso de certa forma dizer que sei lá os últimos 5 anos que trabalhei com uma comunidade na Ásia para os ajudar a a a cancelar umas minas de carvão que ameaçavam destruir as suas terras ancestrais mais de 20 ou 25 minas de carvão foram canceladas devido à à minha colaboração com essas comunidades e isso é do tamanho do Minho é o tamanho da zona do Minho portanto também há um lado ativista na tua vida sim e eu não gosto muito da palavra ativista mas P sim ya porque o ativismo hoje em dia qualquer pessoa que pegue num nos panfletos bonitos e vão para a cidade gritar uns slogans Tribalistas são ativistas e e eu decidi sempre estudar e equipar me e trabalhar em silêncio muitas das vezes fora do foco da atenção ah para trabalhar e e e e fazer uma coisa significativa que não necessariamente essas Por exemplo essa história das minas de carvão é uma história que tu nunca vais ver nas minhas redes sociais por razões de segurança e por outras razões mas que eu não faço isso por mim faço isso pelos outros OK muito bem já listei aqui algumas eh eh tribos com as quais eh tiveste contacto Qual foi a mais surpreendente até hoje Portanto Kênia Amazónia peruana Amazónia brasileira Amazónia Colombiana a mais surpreendente eu digo que é é mesmo a comunidade Onde eu vivo hoje nos himalaias indianos Exatamente é uma comunidade que tem uma cultura muito forte onde é uma comunidade onde eles estão muito ligados ao sagrado estamos a falar dos himalaias que é a origem as raízes do hinduísmo e e do budismo e de outras religiões espirituais e essas comunidades eles são regidos completamente s ao sabor quer dizer à lei da floresta e à vontado do Rio ao sabor do vento ou seja Eles têm e mesmo hoje em dia por exemplo eu conheço sou amigo lá de um padre de um rapaz de 21 anos que é padre e um dia destes eu eu estava na minha Aldeia ele viemme visitar e veio a casa de carro ele tá-me a contar uma história imagina Tás no carro um rapaz de 21 anos ele conta-me olha pá há este Jeep que eu queria comprar o meu pai já tinha guardado dinheiro há muitos anos estávamos prontos para comprar o Jeep mas antes disso eu fui consultar a a minha deusa para pedir permissão e ela disse que não que eu ainda não estava preparado então estávamos lá no stand dos automóveis para comprar então pedia a perguntei a Deus e ela disse que não e então há do anos estou à espera ou seja Isto é um exemplo que é difícil de metermos na cabeça não é Pois é olha e um ocidental como tu nascido e crescido em Guimarães como é que foi o o o contacto com essas comunidades eh porque são mundos completamente opostos gerou-se geram-se muitos momentos de incomunicabilidade Ou nem por isso nem por isso porque eu acho que o mais o mais importante é a metodologia E daí que embora hoje em dia temos muitos Viajantes com boas intenções que vão parar esses lugares remotos e eu para não cometer o erro de causar mais problemas daqueles que eu tento aliviar e eu decidi estudar e decidi equipar com as ferramentas para assegurar-me que eu ia fazer alguma coisa de positivo e não perpetuar então e que ferramentas são essas etnografia e os métodos antropológicos e da ética permitiram-me eh saber como orientar saber como me sentar e ouvir eh de saber eh entender Quais são os problemas deles O que é que eles precisam em vez de de de pensar que sei o que eles precisam eh E H há histórias interessantíssimas que posso dar exemplos onde nós ou desculpa dá dá dá exemplos queremos ouvir sim olha posso contar uma história eh interessante que que ouvi de um de um colega eh antropólogo que eh houve uns ocidentais que foram ao Zâmbia eh para ajudar uma comunidade que vivia lá uma comunidade indígena e então que eles fizeram começaram a plantar tomates lá na na na nos campos no Zâmbia e o que aconteceu foi na altura que esses tomates estavam a ficar prontinhos para ser colhidos estavam já a ficar vermelhinhos um dia de manhã eles acordaram e repararam que todos os tomates todas todos os ambos foram destruídos por uma manada de 200 hipopótamos E então eles viraram-se para o pessoal do Zambia e disseram o seguinte olha os Hipopó apareceram aqui e estragaram isto tudo ah olha porque é que vocês acham que nós não temos agricultura aqui e o pessoal e o pessoal europeu disse o seguinte então porque é que vocês não nos disseram que eram esse o problema então eles disseram o seguinte que foi vocês nunca perguntaram ah ok lá está sabes é essa atitude uma certa arrogância não é exatamente a atitude de superioridade nós achamos que sabemos o que é melhor para os outros pois e isso mina mina muitas vezes as relações entre as diversas comunidades n exatamente e Então ess essas essas metodologias que eu desenvolvi h ajudam-me a saber qual é o meu lugar ajudam-me a sentar mas a perguntas mas perguntas por exemplo o que é que precisam ou o que é que eu posso fazer por vocês eh é mais por aí primeiramente relaci ar como um ser humano com outro ser humano e de de observar de adaptar-me de de saber qual é a dinâmica dessa comunidade de me ajustar Nesse Ritmo dessa Aldeia sentir na pele os problemas observar Quais são os problemas e e e juntos começar a questionar e entender melhor para podermos fortalecer relações e entender como é que juntos como é que podemos unir forças e trabalhar juntos para aliviar esse sofrimento e para preservar as suas culturas da maneira que que eles querem Ok tu falas muito em aliviar o sofrimento dessas comunidades indígenas achas mesmo que há sofrimento ah existe porque existem muitas coisas que ficaram eh embutidas nessas comunidades já 100 200 300 anos através do colonialismo seja no Congo seja Na Amazónia seja na Índia e então existem muitas coisas onde essas comunidades estão a tentar Como eu disse anteriormente tentar lembrarem de quem são tentarem adaptarem-se a à às às às Forças do desenvolvimento adaptarem-se a essas pressões por exemplo orientais um exemplo sim sim ah por exemplo na comunidade onde eu estive em 2018 comunidade nómada nos himalaias num Deserto o que acontece é que o seu conhecimento tradicional que os ajuda a lidar com as pressões do ambiente estão a ficar eh obsoletas ou seja elas estão a deixar de ter aplicação porque por causa das mudanças climáticas eles não não conseguem acompanhar este este este estas mudanças que estão que estão a ser tão rápidas e que não os dá espaço para a sua para a sua cultura desenvolver e o seu conhecimento expandir e adaptarem-se h a esses a esses novos desafios e portanto corre-se o risco de se perder todo um património não é exatamente corre o risco de eles terem de se render à à promessa do modernismo à promessa do desenvolvimento e de se calhar abandonar porque quando no último dia que eu tive nessa comunidade nómada eh disseram-me que em 10 anos não haverá mais tendas feitas de lá de à que não existirá mais rebanhos eh naquele naquelas naquelas montanhas e nem haverá mais comunidade shanga porque o que acontece é que eles estão a perder a habilidade de poderem sobreviver e prosperar nesse nesse lugar que sofre essas pressões lógicas e e ao mesmo tempo tens a sociedade dominante a tentar puxá-los para as cidades modernas para eles terem também para o governo e essas Mega corporações terem a oportunidade de irem esses lugares que têm recursos riquíssimos e poderem extrair tudo que eles querem extrair Ó Vítor vives nos himalaias indianos há do anos como é que é o teu dia a dia partilha connosco Ok o meu dia a dia é a acordar Com o nascer do sol é merecer o meu lugar debaixo desse sol é ah por exemplo se precisar de comprar alimento tenho de de fazer hiking Pela montanha acima uns 40 minutos até chegar a ao meu carro e tudo que eu compro que vou ao mercado tenho que merecer Pela montanha a CMA às costas tu até o ao último grão de arras ou o último prego então isso dá-me uma e ou seja se está frio tenho que ir buscar lenha tenho que cortar a lenha seja chuva ou faça sol ou teja lar e e e estar mais importante ainda é estar nesse espírito de reciprocidade com os meus vizinhos porque eu digo sempre que é impossível viver nesse lugar eh árduo sem a a colaboração de um e de outro e isso em comparação em contraste com a comunidade de onde nós vimos eh é uma coisa Alienígena porque nós hoje em dia a partir do momento que fechamos a porta do nosso apartamento e vamos ao ao Uber it ou lá o que é e mandamos ver a comida e pagamos as nossas contas não precisamos de ninguém ou Nós pensamos nós mas ao mesmo tempo Portugal e o mundo ocidental Estamos doentes não é Ah há há uma história que me lembro e um dia que eu estava a caminhar pelo Deserto lá nos himalaias com a minha mãe adotiva eu lembro de comentar com ela que o as pessoas o povo de onde eu venho anda tão triste tão insatisfeito com a vida que precisa de ir ao médico e e quando eu contte essa história ela riu-se porque não entendeu ainda hoje eu me pergunto se ela faz a ideia que o que eu lhe havia contado era nada mais nada menos do que a pura e crua verdade do meu povo ah ela não percebeu que há pessoas que que procuram ajuda médica para para curar doenças do for mental exatamente não é nós eh vivemos numa epidemia h de da Saúde Mental sabemos lidar com isso porque nós estamos desligados um dos outros estamos desligados do mundo à nossa volta passamos muito tempo no intelectual a a a debater quem tem razão quem não tem razão quem é que deve est na esquerda viver não é e pouco a viver eentão quando eu vivo nas himalaias eu tou vivo com o corpo eu tou vivo com a alma e eu digo sempre com meu objetivo de viver lá e espero um dos meus objetivos com a minha esposa é eh de verdade viver e se calhar até morrer nessa nessas montanhas espero criar uma base lá eu digo sempre que o meu objetivo é ser profissional e estar vivo Entendes a lembrar-me do que é teus pés na terra lembrar-me do que é pegar numa fisga e atirar uma pedra contra uma árvore lembrar-me do que é beber água do rio e de subir às Ares para apanhar fruta que foi ah que era foi o ambiente onde eu cresci dito assim é bonito mas também tem momentos difíceis não Vítor momentos difíceis em termos de moment momentos duros difíceis viver no meio das montanhas nos himalaias Ah com certeza com certeza CL não é fácil ou é muitos desafios muitos desafios H muitos desafios existem também leopardos existem às vezes S dentro de casa eu moro numa casa feita de lama mas o o o o gozo que eu tenho de estar vivo lá e e estar nessa vida simples supera qualquer dificuldade foi a vida que escolheste portanto assumes não é ex para todos olha Vítor estamos a chegar ao fim vamos fazer checkout Bora vamos [Música] lá vou pedir-te para completares as habituais frases na minha mala vai sempre uma faca uma faca já tiveste que usar a faca para te defender ou pá eu felizmente aprendi na tropa que e depois da Tropa que com uma faca eu posso construir um navio e desapareceu pelo mundo fora então uma faca posso fazer tudo que quiser Fizeste a tropa regular ou tropa especial ah tive no no em Lamego na na nas Forças Especiais Hum ok a viagem com mais peripécias que realizei até hoje qual foi Vítor ah chegar ao deserto dos himalaias Ah sem saber que lá estava e e e foi um ir em partida do desconhecido sem planos nenhuns depois de desta mentalidade de Tropa onde tudo era controlado e planeado e foi primeira vez que mandei à Deriva sem telemóvel sem mapa sem nada e foi foi essa a viagem correu bem correu hum corre sempre corre sempre o crime de passaporte ou o visto mais difícil de obter Ah se calhar o acesso a regiões protegidas na Índia que atualmente passam por conflitos armados que não são reconhecidos cá fora mas continuam ativos e conseguir acesso essas zonas protegidas foram difíceis mas eh que consegui muito bem a recordação de viagem mais cara pá eu não sou muito do de turismo e viajar ou seja meu trabalho é que me leva esses lugares é mais uma cena de mochila às costas de uma maneira simples mas ó pá se calhar até posso dizer eu agora adme que sou casado mas se calhar a lua de mel eu e a minha mulher fomos para o Sudoeste asiático e alugamos uma mota e fomos pelo mundo fora se calhar foi das mais caras Ah boa quanto tempo durou a l de mel a dois meses dois meses mexer à costas e de mota incrível dois meses pronto como se fosse uma coisa normal claro nós não temos que ir para o escritório à segunda-feira foi Olha a refeição mais estranha Qual foi sopa de macaco uh onde é que foi isso Na Amazónia ex Na Amazónia é vale a pena vale Vale Tudo Vale a Pena temos que nos adaptar e existem mais do que existe outros tipos de comida outras maneiras de viver né olha gostava de viajar com ó pá eu gostava de voltar a poder viajar com o meu irmão mais novo que que recentemente através da meditação eh passou por um despertar espiritual quando viveu lá comigo nos himalaias durante uns tempos e hoje encontra-se em processo de Reintegração na sociedade que não não está a ser fácil e então um dia ah eu gostava muito de de poder viajar Outra Vez com esse rapaz que tem tanto a ensinar ao mundo muito bem levar a alma é preciso de vez em quando não é Exatamente olha chegamos ao fim Vítor Qual foi a música que escolheste para fechar a nossa conversa ó pá foi uma música que existe uma uma história que se calar vai ficar para a próxima mas que Consegues contá-la em 30 segundos em 30 segundos Ok então enquanto eu estava em londes em preparação para ir à Amazónia e eu eu costumo ouvir músicas indígenas para manter da comunidade para onde eu vou para me inserir nessa frequência e uma das músicas indígenas no meio de um álbum de 300 músicas que ressoou comigo muito forte foi essa e quando cheguei ao Brasil eu estava em Brasília numa comunidade indígena no dia que eu partia para a Amazónia eh houve um ritual dentro de uma casa de reza de um indígena que me deu um ritual de proteção antes de eu ir para a Amazónia e de repente no repertório de milhares de músicas a música que ele canta durante esse ritual sagrado foi essa música precisamente que foi momento de sincronia que me deu essa vontade e essa coragem de ir ao desconhecido e enfrentar os meus medos muito bem música que se chama Araruna é isso Araruna que significa papagaio Azul Macau papagaio Azul papagaio Azul muito bem Vítor foi um gosto obrigado muito obrigado bom regresso à Índia e muita força para viver Nas condições em que vives lá nos himalaias Muito obrigado mú indígena da Amazónia a fechar a conversa do fim do mundo desta semana estamos de regresso na próxima semana já sabem sejam bons e boas viagens [Música] [Música] SA [Música] [Música] ar [Música] [Música] ar [Música] di [Música]