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ser dona de um palco e de um lugar à frente da câmara é um ato de poder é agarrar as palavras contar uma história é impor-se perante os medos e os receios do Olhar dos outros e do seu é um ato de beleza e de força mas estar nos holofotes mediáticos É também por vezes não ser dona da narrativa e aprender a recuperar esse estatuto pintando a pressão a comparação numa Conquista permanente do seu espaço Esta é uma equação que ainda não tem uma Fórmula Mágica mas que tem de ser desvendada todos os dias por artistas e atrizes cada uma delas é um mundo de pensamentos sonhos e de opiniões a minha convidada de hoje já foi classificada por vários nomes da representação como uma das melhores da sua geração senão a melhor como lhe chamou Diogo Infante e é Bárbara branco bem-vinda aldona da casa és a dona da casa de hoje tu e eu é um gosto ter-te aqui comigo vou tratar por tu porque tens 24 anos eu tenho 31 anos portanto temos idades próximas e vou começar precisamente por esta questão da idade porque eh eu na preparação desta entrevista estive a ver várias entrevistas tuas eh e muitas vezes as formulações feitas são sempre em comparação com a tua idade os elogios uhum por exemplo eh para quem tem só 20 ou 21 anos como tinhas há uns anos tens tanta maturidade tens tanta consciência tens tanto trabalho feito tens tanto talento sempre em comparação com a aidade para quem tem 21 para quem tem 22 para quem tem 23 para quem tem agora 24 e os alarmes automaticamente soaram para estas questões por exemplo do idadismo que é uma discriminação em relação à idade em geral sobre as pessoas mais velhas eh associar a menos competência a menos capacidade a um idoso por exemplo mas que também existe em relação às pessoas mais jovens nomeadamente às questões de eh de associar a idade ainda jovem a pouca competência a pouca credibilidade etc esta comparação sempre daquilo que tu fazes e daquilo que tu és em comparação com a tua idade é algo que te deixa desconfortável ou achas que é sempre eh um elogio eu confesso que me deixou um pouco desconfortável porque H tantas pensei já chega de falar a idade dela ela é só madura e só talentosa independentemente de ter 19 20 ou 24 sabes que nunca me incomodou hum precisamente porque vinha sempre com essa com essa camada de elogio não é Vem sempre nessa nessa ideia de que te estão a elogiar bem para a tua idade tu és muito madura já trabalhaste muito já fizeste tanta coisa já trabalhaste com aquele hum portanto para mim nunca teve esse Impacto negativo para a tua idade não é Se bem que eu acho e pensando agora sobre isso acho que também se calhar sou mais madura ou sempre fui mais madura sempre fui h mais mais crescida com muitas aspas também para me defender da idade que tinha porque eu comecei a trabalhar muito muito nova eu comecei o meu projeto profissional em teatro primeiro de todos foi com 13 anos e em televisão foi com 16 portanto eu acho que também pela idade com que eu comecei tive que ganhar uma maturidade que que me defendesse dessa coisa Às vezes condescendente que tem em relação aos aos aos jovens tipo não sabes do que falas ou quando tiveres a minha idade é que vais perceber é isso mas mas achas que eh por parte das pessoas mais velhas há também muitas vezes algum paternalismo eh que é mascarado de elogio ou seja é um elogi mas ao mesmo tempo há ali eh algum paternalismo é mesmo isso achas sidade tendo em conta a idade que tens eh és super talentosa ou tens a capacidade de fazer isto Claro que sim hh e e e também é uma forma de te confinar em à aquele lugar não é Ou seja para a tua idade nessa caixinha onde tu estás agora que bem que estás e depois acho que o problema para mim o problema veio a seguir que é OK agora que tenho outra idade que até já estou um bocadinho mais velha já não tenho esses elogios não é já ninguém te diz para a tua idade para os 24 anos que tens já és uma atriz Ok continua a ser se calhar impressionante o currículo que que eu já consegui ter até aqui mas depois deixase de ser uma novidade não é Já ias agarrarte quê não é que que que que que aprovação exterior é que te é que te nutre e que te preenche E aí Vais ter que começar a arranjar outros recursos não é porque deixas de ter essa validação e Que recursos é que tu usas agora para conseguir continuar a provar esse talento essa e a ter essa consideração dos outros eu acho que eu estou numa fase agora em que estou a tentar fazer o caminho inverso que é eu não preciso dessa aprovação eu não preciso dessa validação eh ainda há bocar estamos a falar de de precisamente desta validação exterior desta desta necessidade de reconhecimento hã dos outros em relação à aquilo que nós fazemos e a quem somos eu acho que nesta fase da minha vida estou a tentar afastar-me um bocadinho disso mas chegaste agora a essa conclusão porque nos anos anteriores houve todo um processo também de pensar sobre esta comparação e sobre esta sobre esta pressão h eu sei que tu fazes terapia há 3 anos desde 2021 e que começou muito por questões familiares já lá vamos mas agora já que estamos a falar desta questão também do Olhar dos outros vamos pegar nesse ponto porque também era um um um aspecto que também de certa forma também te condicionou Em alguns momentos da tua vida como é que se precisamente se lida eh não só com este eh com esta Auto pressão que é colocada Porque queremos fazer bem o nosso trabalho e tu és uma pessoa que começou a trabalhar muito jovem portanto também tens essa vontade de de de ser uma boa profissional Mas também da opinião de toda a gente porque toda a gente tem uma opinião desde pessoas que te conhecem pessoas do Meio pessoas que não te conhecem h e toda a gente tem algo para dizer não é eu eu vou muito sincera eu obviamente que esse trabalho também começou na terapia começar a afastar-me disso mas eu ainda estou tão longe da pessoa que eu quero ser em relação a isso porque porque sinto que ainda dou e e agora já me penalize por isso e depois vem essa coisa da culpa tipo ah estou dar demasiada importância a olhar exterior Mas eu ainda sou muito refém disso lá exemplos práticos como é que isso te afeta no dia a dia redes sociais é o exemplo mais fácil de de de te dar em relação a isso porque porque as pessoas dão uma sua opinião e e mandam mensagens e criticam o teu corpo hã a pessoa que elas acham que tu és hum depois pronto sai uma notícia sobre x assunto da tua vida pessoal as pessoas também se sentem eh com espaço para opinar sobre isso e mandam mensagens sobre isso Hum e que tipo de críticas é que tu recebes ou que já Leste ai não já tive coisas duras em relação ao meu corpo por exemplo e acho que foi a partir daí também que já numa outra idade precisamente em 2021 que levou à terapia novamente foi precisamente a minha relação com o meu corpo mas o que é que te diziam por exemplo h eu na altura fiz o dança com as estrelas e eu lembro-me para já uma coisa muito direta de comparação eh e acho que isto para nós mulheres é ainda mais complicado e é como sempre fomos muito hã postas à margem e muito conotados como inferiores a inferiores aos homens acho que acabou por entrar aqui um bocadinho uma lei de sobrevivência que é eu dos mais inferiores tem que ser o melhor tem que tem que ser o mais visto o mais relevante o mais bonito a mais no caso a mais bonita a mais competente A mais profissional e na altura eu lembro-me do dança com estrelas ser um programa Super mediático e na TV sim na TV era uma competição de dança e todas as semanas um famoso Sim muitas aspas um famoso saía da competição e eu lembro-me de estar em constante comparação com as pessoas que estavam à minha volta a competir depois a competição competição as pessoas que estavam no programa comigo e eu entrava muito nessa coisa de da da competição porque comparava-o tão magra e não me sentia tão bonita e não me sentia tão bem vestida e na altura lembro-me de eu tinha quê 18 19 anos comentários estás grávida e porque estava mais mais gordinha eventualmente estava um bocadinho acima do peso que tem agora e e as pessoas sentirem essa essa necessidade de houve um comentário horrível que eu li na altura Hum que que era eu estava numa fotografia com alguém já não me lembro quem e diziam bem estás linda ou estás lindo mas a tua amiga Precisa de perder uns quilinhos e ou seja esta coisa de a pessoa achar-se no direito não é de e de opinar sobre o corpo dos outros sim mas isso depois afetava ou seja não era só o que a outra pessoa tinha a dizer era de que forma é que eu lia isso e e que tomava mesmo como a minha realidade porque o problema desse tipo de comentários não são são obviamente os comentários em si mas para a pessoa que os recebe não é o comentário é o tu o facto de tu pegares nisso no nisso que te dizem e tomares como verdade como uma verdade tua então durante muito tempo achei que era realmente mais gorda mais feia mais não sei quê gorda que sempre com uma coisa negativa pejorativa não é que sempre como uma ofensa uhum hum e ainda estou a tentar afastar-me disso porque acho que também é uma coisa que ainda me meha assombra essa essa agressão exterior e essa necessidade de que reconheçam o meu valor e reconheçam que mas essa necessidade essa necessidade achas que vem eh em geral de todas as pessoas no caso lá está uma pessoa mesmo que não não seja do Meio etc faça um comentário que seja negativo tu absorv muito ou achas que essa necessidade agora com o passar dos anos vem mais de pessoas que são os teus pares por exemplo ou que são pessoas mais próximas de ti Ou seja a terapia também te ajudou a diferenciar as opiniões que contam e opiniões que Não Contam Eu acho que isso eu sempre de certa forma sempre sempre senti hum sempre pus em caixas diferentes o o essas críticas de alguém da área e alguém a quem eu reconheço H propriedade para opinar não sobre o meu corpo porque não reconheço a propriedade absolutamente ninguém para opinar sobre o meu corpo a não ser eu própria eu sempre senti que conseguia distinguir h para já a intenção da crítica porque eu acho que isso é uma coisa que que tu sentes Quando alguém te diz alguma coisa tu sentes se vem com maldade se vem se calhar a crítica vem de forma meia tsca mas tu percebes que a intenção é boa e não é que valide mas analisas de outra forma mas eu acho que isso sempre consegui distinguir ou seja não punha no mesmo saco um comentário que eu lia no Instagram numa rede social ou um comentário que alguém me fazia de forma gratuita na rua ou por exemplo o que o Diogo Infante disse não não Não misturo de todas coisas mas ainda estou a fazer esse caminho de minimizar o impacto real que tem em mim porque porque até um certo ponto afetava mesmo e eu ficava mesmo muito abalada com com com este tipo de críticas e críticas ao meu trabalho e mas ficavas triste ou seja aqu elele consumia durante horas durante Dias consumia muito ao ponto de e chorar muito também era mais miúda eu acho que lá estavaem sempre desse desse sítio de procurar validação e procurar hum reconhecimento do trabalho e portanto afetava muito porque sentia-me pior a triste sempre h e acho que agora também já não tem esse Impacto mas porque também tem outros recursos e outras ferramentas que não tinha na altura e também porque esta área e tá muito focada em duas grandes coisas Digamos que é uma é beleza e outra é Juventude há quase uma obsessão da indústria da representação mesmo se concordas com a juventude a lora já está airar fazer uma cara quem não está a ver no YouTube ou nas redes sociais vejam porque a cara da Bárbara vale a pena mas há uma obsessão não há com a juventude e com a beleza eu eu com com a parte da Juventude ainda não me confrontei muito porque ainda tem 24 anos mas mas lá chegarei mas até E isso está relacionado com aquilo que eu comecei por dizer no início ou seja idade idade não é és tão jovem és tão jovem sempre como elogiu mas a parte da Beleza já sentiste essa obsessão em ti também Esquece já senti Ou seja já já senti os impactos disso e nesta fase Então para mim não me faz sentido nenhum Tu vês e agora também eh separando um bocadinho o que vemos lá fora obviamente que que depende das séries dos filmes dos espetáculos que tivermos a falar mas tu lá fora por exemplo há agora uma série eu não vi a série mas o bridgerton por exemplo tu tens atores de todas as formas e feitios tens séries ainda agora estou a rever uma uma série que vi há muitos anos que se chama gray and franky Uhum que é com a j Fonda e com a outra eu nunca me lembro o nome dela eu sou horrível sim também não me lembro mas conheço a série sim que é sobre duas mulheres de meia idade duas mulheres elas tem quê 60 70 anos 70 Pronto já já não é bem meia idade H 70 anos que se divorciam aos 70 anos e que começam a viver juntas e a descobrir a sua liberdade eh aos 70 anos e lá fora também se criam oportunidades para atores mais velhos para atrizes mais velhas que têm 70 e 80 anos eu acho que cá ainda temos um longo caminho para percorrer em relação a isso Hum e depois há esta coisa de eterna Juventude tu chegas aos 40 50 anos tens que começar a pôr coisas na tua cara para pareceres mais nova porque é é absolutamente proibido aparecer em ecrã com rugas porque senão és corpo real senão és ultrapassada E H esta narrativa que também é vendida pelas mais novas lá está sempre em comparação Sim estamos sempre porque estamos porque somos constantemente postas em competição umas com as outras seja porque da tua idade tu tens que ser ser a mais competente e a que faz melhor o seu trabalho seja porque se chegas a uma certa idade e ainda que sejas a mais competente e a melhor a fazer o teu trabalho o que quero que isso signifique há sempre a possibilidade de ser substituída por alguém mais novo que vai aparecer e que vai ser a melhor da geração dela e que vem ocupar o teu lugar isso também se vê pelo facto de haver muitos atores portugueses com 40 50 60 anos que de repente desapareceram do espaço público não é deixa de haver trabalho porque deixam de ser deixam de ser escritas personagens para essas idades e é tão se tu pensares por exemplo no pú que vê novelas é acima de tudo um público mais envelhecido porque o pessoal mais novo está no streaming Vai escolhe o que quer ver as pessoas mais velhas ainda têm o ritual Muitas delas de ver as notícias ao jantar e depois tentarem sa ver a novela é muito importante que essas pessoas se sintam representadas e se sintam vistas e sintam que os seus problemas e as suas questões nessas idades São não são só delas e que não estão sozinhas estamos a falar de idosos que muitas vezes vivem só sozinhos passam H um terço da vida deles mais sozinhos e seja porque perdem os seus companheiros porque h a família se vai vai vai ganhando outros contornos deixam de de estar em casa e acabam por se ver mais sozinhos e é muito importante que essas pessoas também se sintam vistas e e que sintam que lá está que não estão sozinhas e também há temas que quase nunca entram nas novelas não é e estou a pensar por exemplo em relação às mulheres as questões da menopausa ou outras outros temas que são que ainda são Tabu e que tem muito pouco espaço nas narrativas mainstream n é e e muitas vezes quando aparecem ou quando são faladas são faladas assim ah que estou na menopausa estou com calores e pronto e passam pela rama s ou ten num perspectiva mais cómica e não numa perspectiva efetivamente Mais mais mas pode mas ou seja o Grayson franky por exemplo é uma série cómica tu riste eu dei por mim a rir-me de coisas H que até a que até a mim me to com esse mesmo esse medo da Solidão medo de chegares a uma certa idade e acabar sozinho Ok se calhar é uma coisa ainda distante para mim mas mas é um medo e eu dei por mim a rir-me disso e a rir-me das peripécias delas portanto essas coisas podem ser faladas com humor e podem ser faladas h a rir Desde que sejam faladas eh e e lá está acho que temos um longo caminho cá em Portugal ainda a percorrer eh em direção a isso uhum Sim ainda em relação ao corpo eu sei que uma das questões que também te levou terapia foi precisamente esta questão eh da imagem corporal etc porque tu recebeste um convite aos 21 anos para fazeres parte do crime do do Padre Amaro h e Estavas com muitas dúvidas porque havia cenas que tinhas que fazer que implicavam alguma nudez e precisamente esse teu receio sobre o teu corpo fez-te pensar se estarias pronta fisicamente para abraçar aquele projeto ou não foi isto não foi como é que foram esses dias em que tu de facto ficaste eh em pânico com essa ideia e depois como é que fizeste o processo de de passar por aí eu vou ser muito sincera eu aqui só entra sinceridade o meu primeiro impulso quando receb uma proposta de trabalho é logo dizer que sim porque gosto muito de trabalhar e porque queria muito trabalhar com o Lionel e porque o projeto era muito fixe e porque era o Crime do Padre amar e então a minha resposta foi logo tipo Sim quero e depois de repente eu comecei a pensar espera lá deixa-me lá reler a obra para perceber o que é que isto realmente implica eu acho que foi nesse segundo momento em que eu fiquei mesmo muito assustada porque eu tinha e acho que tenho fases obviamente em relação ao meu corpo e há Fases em que estou super fixe e sinto-me muito bem sinto-me muito bonita e poderosa e tipo tem dona do mundo ex mas depois Há dias em que só me apetece ficar na cama e sinto-me feia e sinto-me horrível e também faz parte e E também temos que lidar com esses dias porque eles existem porque e porque faz parte Hum mas lá está nessa segunda fase que eu pensei bem se calhar eu não estou tipo se calhar o meu corpo não é certo não é o corpo certo para estar para aparecer no numa numa série em horário nobra na RTP tipo se calhar o meu corpo é fora daquilo que é suposto aparecer na televisão eh se calhar o meu corpo não está certo para o ideal que eu tenho mas o que é que vias que achavas que não estava certo tem a ver com com com a tua percepção com a minha per sim é o que era peso era formas era o que eu achava era as formas que tenho eu nunca fui h super magra sempre tive Curvas e de repente para mim isso passou a ser um entrave para aquilo que eu fazia para o trabalho que eu que eu estava tão entusiasmada por fazer porque esse entusiasmo nunca desapareceu e o conflito que eu tive que resolver Nessa altura foi Ei eu quero muito fazer isto eu quero mesmo Estar Neste projeto mas eu não tenho o corpo certo é a autossabotagem não é é autossabotagem é de repente eu eu pensar o meu corpo Como estando certo ou errado apto ou não apto indicado ou não indicado para para fazer o meu trabalho porque na verdade se tu vires o crime Ok o meu trabalho não é despir-me H mas também pode implicar essa nudez se eu me sentir confortável E se eu achar que é justificada e sendo uma nudez justificada como é no Crime do Padre Amaro e o Leonel foi super cuidadoso com isso e nós e trabalhamos a nudez em conjunto de forma super sensível mas nesse primeiro momento para mim foi Ok eu tenho de resolver isto com terapia Porque a partir do momento em que o meu corpo para mim é um corpo certo ou errado no no meu contexto de trabalho Há alguma coisa aqui que não ouel é sempre uma questão a tratar independentemente de ser trabalho ou não mas no teu caso o teu corpo é precisamente uma arma de trabalho também no meu corpo o que eu acho que foi a minha sorte foi para já ter possibilidade económica de ir para a terapia e de fazer terapia fa semanalmente não é tento fazer semanalmente sim quando quando Consegues por causa também de trabalho etc e acho sempre que nunca tenho coisas para falar e chegas já estou num ponto em que penso bem o que é que vou falar hoje na terapia e depois chego lá e acabo por ir ao sótão e vou buscar uma de coisas para falar mas felizmente H nesta situação número um tive possibilidade de ir para a terapia número dois tive esta profissão que eu acho que me obriga a estar sempre atenta e consciente ao mundo em que eu estou inserida e às pessoas que estão à minha volta e que me deu uma oportunidade para eu detetar uma Red fag em mim hum e Portanto acho que este este projeto foi muito importante para mim não só pelo projeto em si Mas pelo caminho que me obrigou a traçar a nível pessoal de relação comigo uhum e o Crime do pamar em concreto foi um projeto em que participaste com o teu namorado na altura que era o José condensa e eu até foi ao YouTube ao YouTube não ao Google ver-nos ver imagens de crime quando aparece Bárbara branc aparece logo fotografias dos seus dos seus parceiros exato mas eu pesquisei só o Bárbara branco e lá está para quem está no vídeo vou mostrar agora aparece louco Bárbara branco e Vítor Bárbara Branco namorado Bárbara branco e Vítor Costa Bárbara Branco idade Bárbara Branco altura Bárbara Branco José condensa Bárbara branco e Vítor Silva Costa estou a mostrar Estas são logo as referências que aparecem Sim claro que parecem a seguir ao te só para ver isto escrito só para ter uma uma prova real Ok portanto são assim as mais e as mais pesquisadas não é à partida Ou pelo menos aquelas que o GOOGLE acha que as pessoas querem saber e eu juntava então aqui um terceiro ponto que é além da belz além da Juventude há também esta obsessão com a vida privada com as relações que as pessoas conhecidas mediaticamente têm eh não vou perguntar como é que se lida porque isso é aquilo que toda a gente pergunta não é mas pergunto mal lida-se mal mas pergunte também pela tua surpresa agora como é que se lida e como é que se reage esta associação eh mais requerida à partida pelo público não é nesta fase já não me já não me irrita porque porque também já consigo reconhecer que sou muito mais do que isso até Há uns meses se calhar até ao ano passado isso se irritar-me bastante só para esclarecer para quem não sabe o Vítor é o teu atual namorado para quem não não sabe certo ai agora fiquei com medo é não é pronto mas até uns meses era uma coisa que te que te era também assim foi uma porta que eu abri o porque é que o que é que eu sentia agora racionalizando o meu processo quando era quando era mais nova e quando comecei a entrar neste mundo o que é que eu achava eu achava que porque eu sempre fui fui muito não diria sincera que eu acho que sempre Fi tive muitos filtros mas sempre achei que esconder coisas da minha vida era era não estar a ser absolutamente sincera e honesta em relação a quem eu era E então acho que abri essa porta tu e ele também não foste só tu sim sim ou seja naquilo que me diz respeito eu abri port CL ex ex é só para não pôr só a questão na mulher não é foram os dois exato sim olha de repente culpa minha não mas acho que foi uma porta que eu abri e que muitas vezes H há colegas meus e colegas minhas que não não abre essa porta de de vida pessoal e eu acho que também por por ser um bocadinho mais ingénua e mais nova abri essa porta Mas também eu fique em abr e depois fechasse a seguir não é que é o que eu estou a fazer ou seja por ISO que eu estou a dizer que é um caminho também eu estou numa fase em que isso já não me faz sentido porque porque lá está acho que depois para as pessoas que que leem essas notícias e que veem essas coisas e que dão importância a isso tu acabas por te tornar na relação que tens mas não faz sentido partilhar ou não faz sentido o partilhar porque se sabe que isso vai ser a headline dos das notícias Entendes a minha questão Ou seja no mundo em que não houvesse essa não houvesse essa Associação e lá está esta esta opção Com estes temas eu não deixo de partilhar Ou seja eu acho que agora partilho mesmo a nível de entrevistas até um certo ponto e o que o que o que me deixou de fazer sentido é abrir essa porta porque precisamente por causa disso porque eu não quero mais ser H misturada e e muitas vezes eh identificada como identificada como namorada de H que está numa relação com eu não sou a pessoa com quem eu estou eu não sou a relação em que estou eu sou eu própria que eu sou a a Bárbara que é filha que é irmã que é atriz que já trabalhou com esta pessoa que já trabalhou com aquela que gosta de andar trotinete elétrica sei lá tem sonhos eu sou tantas outras coisas para além dessa da da possível relação que eu possa ter no momento ou das possíveis relações que eu possa vir a ter na minha vida e eu simplesmente hã deixei de querer ser reduzida a isso porque eu acho que me reduz hum tanto que um dos meus processos também do último ano foi perceber vivendo e aprendendo quem é que eu sou fora de de da relação em que eu estou quem é que eu sou tipo o que é que eu gosto o que é que eu quero independentemente sozinha sem ter um namorado sozinha ya hum e lá está acho que também faz parte da aprendizagem eh o misturar-se nessas relações para depois também fazeres o processo de te h individualizar e por isso é que eu estou a dizer eu acho que neste momento já consigo rir-me disso há um ano ficaria muito muito irritado uma das coisas por acaso que também reparei Mas eu sou super feminista como sabes nós conhecemo-nos no Instagram não é há um mês ou há dois meses H foi precisamente o teu namoro com o José condensa acabou no verão passado não é por aí mais ou menos no Verão Passado namoraram cerca de 5 anos eh e depois em outubro ele recebe um Globo de Ouro eh pela precisamente pelo de melhor ator pela série O Crime do Padre Amaro e faz um discurso em que eh diz várias coisas e agradece-se a ti Agradeço também à Bárbara Branco hh enfim é isto e automaticamente os algumas publicações fizeram notícia de dizer José condensa agradece à ex-namorada José condensa agradece à ex-namorada eh naquela naquele intuito de mostrar que ele Enfim estava a ser super cavalheiro e super eh Super simpático por agradecer à ex-namorada Eu até fui ver com alguma curiosidade Qual é que tinha sido o discurso efetivamente e depois vi que eh no discurso ele te tinha Agradecido a ti eu na altura não sabia que também tinhas feito a sério com ele que ele te tinha Agradecido a Ti pela tua contracena porque tinhas trabalhado com ele ou seja eh ele agradeceu à pessoa que trabalhou com ele não agradeceu à ex-namorada mas isso na altura mexeu comigo no sentido de isto não é agradecer à ex-namorada eem ele nem merece um prémio porque agradeceu a ex namorada ele tá a agradecer à pessoa eh que se equipar a ele no eh no trabalho que ele fez e que provavelmente sem ela ele não teria conseguido eh brilhar ao ponto de receber um Globo de Ouro sim é isso ou seja estava lá o meu nome poderia estar o nome de outra com o protagonista com queem ele tivesse feito aquela série eu quando agradeço H um um eventual prémio que eu faço em relação a um determinado projeto eu Agradeço às pessoas que estiveram comigo e que me apoiaram naquele projeto obviamente Que hã nesse caso há há toda uma há todo um historial de projetos em conjunto que faz com que se calhar a relação a trabalhar também seja diferente mas claro que sim eu acho que é mais estas coisas mas reparaste em altur ou não Ou não reparei porque li coisas mas eh dizas rel na vida na vida das pessoas que não são atores ou atrizes conhecidas as relações começam as relações acabam as relações mudam Hum e tá tudo bem e não é um assunto O que eu acho que aqui começou a acontecer foi foi uma porta que foi aberta e de repente há um sentimento de que há uma propriedade de se falar sobre as coisas e de pôr as coisas de uma determinada maneira e o que eu sinto que aconteceu foi que ao longo destes 5 anos também fui permitindo com muitas aspas novamente que o meu trabalho fosse reduzido é essa caixinha de ser namorada desta pessoa ser namorada daquela nesta fase isto já não me faz sentido eu não sou namorada desta desta deste não não não é isso não é o que me define mas por exemplo na altura achas que foi diferente tu seres a namorada do Zé ou Zé ou Manel não tinha saído uma notícia se não fosse se não tivesse sido mas para ti e ou seja tu seres a namorada de é uma coisa ele ser ele namorar com a outra ou seja eh para ti eh de facto é é quase um um uma valid de um estatuto porque namoras com a pessoa x que tem x consideração pública x percurso etc eh mas tu és um se calhar mais um enquanto mulher se calhar és mais tu que és o objeto ali de de de valorização de Adorno e o e ele é o conquistador digamos sim não neste ou seja não neste caso em específico e não obviamente em relação em relação ao Zé gosto muito do Zé e quero o melhor para ele portanto Sim sim nem tem nada a ver e nem e nem tem nada a ver com a relação com a pessoa ou seja tudo aquilo que nós estamos a falar neste momento em relação a este assunto não tem nada a ver com uma relação que existiu tem a ver com o que é que a imprensa faz disso De que forma é que a imprensa escreve esse título de que forma é que a imprensa percepciona esse momento de que forma é que a imprensa usa esse momento para vender mais H exemplares eventualmente Portanto o problema aqui não é porque se eu quisesse ser e e o objeto de Adorno tudo bem o problema é quando a própria imprensa faz de mim ou de qualquer outra mulher eh objeto de Adorno de um homem ou ou de uma relação ou de uma situação neste caso profissional H Portanto o que tá errado aqui é precisamente o o título que é escrito depois desse momento que foi um momento bonito um momento importante para ele h e mas também e eu diria também um momento de alegria para mim por por por ele e conseguem tornar esse momento uma coisa tão redutora é muito TR e pela forma como a história é contada não é porque ou seja não é agradecer à ex-namorada é agradecer à à Bárbara branco mas Regra geral neste neste meio eu não posso falar pelos outros porque não conheço mas neste meio muitas vezes acabamos por ser reféns de uma narrativa que é contada e sobre nós e de um e e e de uma situação que é contada por perceção por a mais b a situação é assim e é assim que é passada pela para a imprensa e nós não somos tidos nem achados não temos muitas vezes também não quer não quero falar sobre esse assunto porque não uhum esse assunto em específico não não me interessa explorar Uhum mas as narrativas são muitas vezes construídas hum sem nós sequer termos alguma coisa a dizer sobre isso e muitas vezes sem poder eh repor a verdade não é sim olha fazes parte da geração z que são as pessoas que nasceram entre 1995 e 2010 tu nasceste já em 1999 faz os 25 anos em outubro certo Hum e Eu até fui ver eh porque há as pessoas que em este podcast são de gerações muito diferentes e a descrição da geração z tem características como são pessoas ansiosas com consciência social nativos digitais rápidos e ágeis relacionamentos rápidos identidades fluidas etc O que é que aqui neste neste rol de características achas que é verdade para ti mas também para as pessoas da tua geração por exemplo eu vou já aqui lançar uma delas estas questões das identidades fluídas por exemplo uhum acho que é uma questão muito de geração Z eh até à geração anterior à minha eu sou millennial até à geração anterior à minha as caixas por exemplo da orientação sexual eram muito fechadas ou és heterossexual ou és homossexual acho que tens de escolher e escolhes e é para sempre sim sim Acho que hoje com a geração mais nova do lá está dos 24 25 23 anos já há muito mais Liberdade pronto vz isso também a acontecer à tua volta com as pessoas que têm a tu idade Sem dúvida h e ainda bem que assim é e ainda bem que que que já não nos faz tanto sentido ter de caber em nessas nessas caixinhas sociais que nos são que nos são impostas acho que também só chegamos até aqui porque houve um um um trabalho das Gerações anteriores para que pudéssemos chegar até aqui mas sim sinto que somos que temos essa liberdade e ainda bem que temos porque é tão é tão aborrecido do teres de para já porque cresces com com com normas sociais que te empurram para seres e mulher ou homem heterossexual para construíres num família para teres filhos para primeiro casas depois tens filhos ou agora hoje em dia já se pode ter filhos e só depois casar já é uma coisa que já é OK Hum e acho que a nossa geração também vem um bocadinho romper com isso e e mostrar que também é possível sermos outras coisas e é possível ser isso tudo ao longo da nossa vida e é possível Hum eu com 24 ou eu com 74 decidir mudar o rumo da minha vida hã tu vez a vida assim com essa liberdade Ah sim sem dúvida eu eu quer dizer falo agora hum desta idade e acredito que sim que é possível sealar daqui a uns anos H se eu Possivelmente tiver eh família se tiver já uma estrutura um bocadinho mais estabelecida se calhar já vou ter algum medo de mudar radicalmente a minha vida mas eu quero acreditar que isso é possível que a qualquer momento da tua vida tu podes ir para onde quiseres seres quem tu quiseres e à volta de si também o teu círculo fazem parte de pessoas que são todas diferentes entre si certo sim mas também H cada vez mais me percebo que o meu círculo é um nicho e eu estou rodeada de atores artistas h e e por si só é um nicho Ou seja a liberdade que os artistas têm que os artistas criam para si e e para a à sua volta é muito diferente do mundo real novamente com muitas muitas aspas uhum hum porque acho que lá está vivemos no nicho e e as regras que se aplicam ao mundo dos Artistas muitas vezes não são não são o espelho da sociedade nesse sentido de liberdade e de possibilidade e esta primeira característica que eu falei sobre serem ansiosos eu sei que tu tens muito medo por exemplo de não viver ao máximo de não aproveitar tudo é verdade confirmas eu vejo muito isso no trabalho ou seja eu quero muito viver tudo e aproveitar tudo e aprender com aquele e com o outro e fazer teatro e cinema e tudo e tudo Acho que na minha vida já estou um bocadinho mais tranquila sempre fui muito caseira também eu acho e sempre fui muito caseira no sentido de muito e tipo calma Gosto de estar em casa com as minhas coisas não sou muito sair à noite por exemplo Hum mas sim tenho essa sede mais profissional do que a nível pessoal eu acho que a nível pessoal sou mais tranquila e calma uhum também queria falar com contigo sobre a tua família porque a tua família é o exemplo grande Exatamente é o exemplo prático e real daquilo que na verdade são as famílias hoje que são eh várias peças de um Puzzle que se vai juntas tradicionais nãoé exato Exatamente exatamente estamos a fazer referência enfim à aquilo que tem sido debatido agora Há uns meses H os teus pais depararam-se com 9 anos quando tinhas 9 anos eh e depois Entretanto a tua mãe voltou a casar juntou-se com com outra pessoa que é o Carlos que é o teu padrasto que tu chamas de pai certo é uma teu pai eh entretanto ele já vinha com dois filhos certo uma rapar e um rapaz e depois tiveram uma uma outra filha e os dois juntos pronto eh e eu sei que no início isso para mim foi um pouco complicado tu próprio enquanto irmã mais velha hoje à luz de hoje reconheces que na altura havia bastantes Ciúmes por exemplo eh teus isso marcou-se muito na altura marcou muito Aliás foi o primeiro contacto que eu tive com com com o psicólogo com terapia H porque na altura era mesmo muito complicado para mim gerir essa nova IDE dinmica familiar porque depois há aquela coisa de é o meu padrasto vem substituir o lugar do meu pai pois não é E então eu tinha essa esse receio e tinha receio que esta nova família depois me tirasse à atenção da minha mãe H pronto com 9 anos ainda não tinha o discernimento de perceber e as ferramentas para lidar com isso e com ess com isso que eu estava a sentir e foi meu primeiro contacto com trapia por causa disso por via dessa dessa nova família que se construiu e que hoje em dia também já disse em todo o lado que para mim esta família Acho que foi o não é o que me salvou não tem a ver com isso mas tem a ver com uma realidade hum onde eu realmente aprendi o que é que é amar porque o meu padrasto eu tenho a certeza absoluta que o meu padrasto me ama como como amo os filhos dele e me trata como trata os filhos dele e portanto para mim esta minha família tradicional eh foi onde eu aprendi o amor e portanto foi a melhor coisa que me aconteceu na minha vida como é que tu vais construindo o amor quando há sentimentos também tão dispares ao mesmo tempo não é porque é um amor na altura que está a competir com uma rejeição com com um querer só o teu lugar como é que isso se foi construindo para ti hum não sei eu acho que na altura a a a terapia novamente a terapia e me deu ferramentas pelo menos para entender que com aquela idade o mundo das crianças e o mundo dos adultos são coisas diferentes e que há um mundo que onde há comunicação e lembro-me na altura o psicólogo fez um círculo que era isto é o mundo dos adultos Ok outro círculo Este é o mundo da das crianças e um círculo no meio que era o mundo em que nós nos ah nos encontrávamos e partilhávamos momentos e íamos ao parque íamos brincar íamos e conversar sobre coisas que aconteceram na escola no trabalho e portanto para mim na altura foi importante perceber esta esta divisão Ok há coisas do mundo dos adultos que não são problema meu porque eu acho que na altura Também tomei muitas dores da minha mãe eu acho que isso acontece muito que é quando há divórcios hum há quase esta obrigação de escolher um lado e de estar ou do lado da mãe ou estar do lado do pai e se estás do lado de um estás contra o outro isto na altura não me foi imposto foi uma realidade que na minha cabeça era a certa é OK as meus pais separam-se eu tenho que tomar um partido Hum e pronto e na terapia também percebi que no meu caso não é era uma criança e que há coisas do mundo dos adultos aos quais Eu ainda não tenho acesso e não tenho capacidade para compreender mas também há coisas dos adultos que não podem entrar no no mundo das crianças e então foi um bocadinho esse processo que eu fiz na altura não sei eh neurologicamente e racionalmente o que é que aconteceu e que percurso é que eu fiz mas lembro-me desta ideia na altura ser muito clara para mim se tornar muito clara e Para ti também foi claro que a tua mãe ficou melhor depois da Separação ou seja tu viste viste a separação a acontecer viste a separação a chegar ou foi uma surpresa total para ti eu acho que vi eu acho que fui fui percebendo os sinais apesar de ser muito nova eu acho que fui fui captando não é se o ambiente familiar não não não está bom não está saudável toda a gente sente e mais ou menos capaz de raciocinar sobre isso todos sentimos e que eu acho que essa situação da minha mãe me ensinou muito foi essa possibilidade de de procurares a felicidade H noutro sítio e a qualquer momento a minha mãe Eh com 30 e tal 40 anos despediu-se do emprego fixo que ela tinha na área de Economia nãoé na Sim ela era sócia de de uma empresa administradora financeira e ela largou isso tudo e tornou-se massagista e terapeuta hum portanto ela também me ensinou essa possibilidade de escolher o meu caminho seja em que fase da minha vida for tu estás muito ligada a temas sociais não de forma ativa mas tens definitivamente causas e Já percebemos algumas delas nomeadamente em relação à igualdade de género por exemplo por é que estás aqui se não fosses se fosses contra não estarias aqui exatamente também tens feito alguns trabalhos que tocam aqui e ali nesses temas sociais lembro por exemplo da peça lul em 2020 sobre uma figura que era semelhante à Lolita depois recebeste um prémio da sociedade Portuguesa de autores um dos mais importantes e enquanto melhor atriz depois fizeste Uma Peça também e depois que é surpreendente para a minha idade exatamente mais uma vez exatamente e tendo em conta a minha idade é super sim porque o prémio da Spa habitualmente é para pessoas mais mais avançadas quer dizer não é necessariamente um requisito não é foi assim porque sempre foi assim não há nenhuma não há nenhum requisito para não ser para uma pessoa mais jovem enfim depois também ganhaste um Globo de Ouro também ainda muito jovem h e depois fizeste uma peça que se chama free que era sobre a crise migratória no no Mediterrâneo eh ligada às questões do Resgate no mar de de refugiados a tua personagem foi inspirada no Miguel Duarte que foi e um português acusado de auxílio ilegal à imigração hum desta altura desta peça que já foi há 4 anos eh O que é que tu te lembras de como este tema te tocou h para explicar explicar também às pessoas o que é que o que é que implicava e e a forma como lá está uma mulher de 24 anos olha para para um tema que não faz parte da nossa realidade digamos não é Ou seja não é algo com a qual nós tínhamos que lidar de forma concreta diretamente mas que nós ouvimos todos os dias e nomeadamente no círculo no circuito mediático e etc na altura Leste muito como é que como é que te preparaste para isto Ah o que o que eu acho que na altura porque eu eu tenho a sensação que me ligo muito às coisas que eu faço eh aos projetos que eu faço hã de forma de forma sensorial e emocional eh e eu precisava desse desse vínculo eu preciso sempre desse vínculo emocional às coisas que eu faço e o que eu sinto que aconteceu com o free foi eu lembro-me perfeitamente nós nós fizemos trabalho de pesquisa todos e vimos documentários e vimos vídeos de resgates no mar eu não sei se já já alguma vez fizeste essa essa p pesquisa de vídeos de resgates no mar é muito caótico não é é terrível é caótico super organizado ao mesmo tempo porque os voluntários estão super organizados e metódicos mas é um caos h e dependendo das das condições meteorológicas o caos pode aumentar e dependendo se é de dia ou se é de noite o caus aumenta e acho que na altura que me fez confusão porque bem ou mal Estamos todos familiarizados com estas temáticas o que eu acho que na altura para mim foi um gatilho para chegar ao espetáculo foi dar caras aos números Porque nas notícias dão-te números sim mas nunca te dão caras nem histórias nunca te dão nomes para as pessoas nunca te dão percursos e temos sempre a ideia temos sociedade que é confrontada com essas notícias que são aquelas pessoas de lá que se metem num barco porque querem vir para Portugal e muitas vezes são pessoas com sonhos como nós que têm famílias que querem H ter um bom futuro para as suas famílias que querem cuidar das suas próprias narrativas que querem ter uma vida melhor e que arriscam as suas vidas e as vidas das suas famílias para conseguirem Essa realidade melhor para irem atrás de um sonho eu acho que na altura O que foi o que me ligou ao espetáculo foi exatamente isso foi dar histórias e sonhos e caras e nomes a esses a esses milhões de números eh aos quais eu não alternativ acesso além da igualdade de género e também deste deste tema em concreto porque tiveste que trabalhar com ele da migração eh Há semim mais algum tema H Alguma causa alguma questão social que te preocupe particularmente Hã eu eu se preocupa não é no sentido efetivo tu és atriz e pronto não és ativista Mas alguma coisa que mexa contigo quando vêz essa discriminação a acontecer mas Sabes o que acaba por ser ou seja não sendo ativista acabo por neste momento da minha vida hum procurar também trabalhos que que me façam que me façam sentir que estou a abordar temas com os quais me identifico e sobre os quais quero falar hum acho que já não me chega fazer uma personagem num espetáculo hum vale o que vale se calhar daqui a uns anos teremos a falar aqui novamente e e direi coisas diferentes mas acho que neste momento estou a precisar de personagens e de projetos que que ressoem comigo nesse sentido e que falem de coisas que me que que me que me que me inquiet H seja as questões com o corpo que já me inquietar e que continua a ser um assunto para mim seja estas desigualdades seja o assédio seja os assédios h e os h o uso do Poder h para atingir um certo fim sim isso também também é um assunto que ultimamente tem tem mexido muito comigo e que também tenho trabalhado muito em terapia que é uma realidade muito presente nesta área não é Ah eu felizmente nunca tive nenhuma situação porque depois é isto né Ia dizer nunca tive uma situação muito concreta porque depois o é sempre este o que que é que é o que é que quer dizer uma situação super concreta de assédio A sensação que eu tenho é que e acontece e Acontece muito mas precisamente por me deixar na dúvida eu nunca nunca assumo uma situação de assédio como concreta mas foi confortável Claro que sim hum mas até até há bem pouco tempo era sempre uma coisa que me deixava meia na dúvida tipo será que é será que não é Ou será que a pessoa tava só a ser será que a pessoa tava só a ser simpática bem será que fui eu que percebi mal porque depois Regra geral são situações que te deixam desconfortável mas às vezes tu não Consegues apontar exatamente o que é que te deixou desconfortável na pessoa Às vezes é só um olhar e então este tipo de temáticas agora também têm estado na ordem do dia para mim mas no teu caso foi o quê foi um olhar foi um comentário em jeito da brincadeira muitas vezes sim isso Tás tão bonita Tás mais magra este tipo de comentários que são às vezes coisas tão subtis e eu algem com poder nãoé de um homem com poder por exemplo sim por exemplo de um homem com poder o hum ou ou de alguém que te pode dar trabalho h e de repente é é confuso não é é conf um toque num braço ou um toque então como é que estás miúda e assim aquele aquela vinha no braço aquela mãozinha na perna que que te deixam desconfortável mas lá está tipo ah será que foi será que não foi E então em terapia também tenho estado a a trabalhar esse assunto não pela situação ou seja Será que mão na perna é É sério não tem a ver com isso tem a ver com a minha forma de impor os meus limites e e de verbalizar o meu desconforto porque eu nunca H nunca consegui verbalizar o meu desconforto nunca me permiti verbalizar H lá está esse desconforto numa situação ho no meio de trabalho nunca me permiti não F ensinada não é acho não fui ensinada e era isso que eu ia dizer acho que é um trabalho que a minha mãe se calhar já começou a fazer mas que a minha avó não fez a minha avó ainda teve sujeita a a ambientes hostis deste género em casa e a ser objetificada e a ser h a a ter de estar sujeita a estas coisas eu já não tenho mas eu ainda não encontrar em mim a voz para verbalizar no momento em que as coisas estão a acontecer então também tem sido um tema para porque também lá está cruza com as questões do querer cumprir querer ser profissional querer querer ficar bem Vista pron dos outros não querer arranjar confusão não querer perder oportunidades Sim e eu quero muito trabalhar e eu quero quero muito continuar a trabalhar nesta área isto é uma conversa que existe até com outras atrizes né sobre estes temas sim e e e eu acho que também pela minha dificuldade de verbalizar e de falar sobre isto Hum acho que não falo o suficiente com as minhas colegas sobre o assunto porque a verdade é que de uma maneira ou de outra já todas passamos por situações deste género hã e não é só do meio deste meio em específico também é e é muito porque é um meio que vive da imagem que vive da forma como tu te apresentas da forma como tu te dás aos outros porque se eventualmente fores mais tímida ou mais fechada se calhar Não queras tanta empatia e não Te chamam tanto eh portanto este meio vive muito disso mas não é um um problema exclusivo não é uma problemática exclusiva deste meio e Portanto acho que ainda ten um longo caminho a fazer em relação a isso O Mito em Portugal foi muito incipiente não é não foi nada comparado com a realidade prática de todo de todo não e e e e e lá está a minha questão também obviamente tem a ver com percecionar eh os momentos de em que há um limite que é passado também tem a ver com essa perceção mas tem principalmente a ver com o verbalizar e o meu primeiro problema é sempre deitar cá para fora e falar sobre o assunto e felizmente Tenho muita confiança com a minha mãe por exemplo para falar sobre esta as coisas e debatemos muito e mas também porque e essa relação desigual é eh demonstrada na prática ou seja quem tem poder são os homens eventualmente fazse valer disso e e faz questão de sublinhar isso que tem poder não é que tem poder para tirar para dar e para tirar Claro não é e portanto Tu és um instrumento no meio disso Hum mas também é um caminho e é um caminho que já temos vindo a fazer e tenho lido muito sobre isso também H aliás estou agora a ler um livro chamado direito ao sexo feminismo no século XX 20 20 Hum e e e acho que passa muito porque eu eu sinto que ainda estou muito no início dessa caminhada para mim em relação a mim e em relação à aquilo que eu posso dizer e que ainda se calhar não me dou eh espaço para dizer e para falar mas eh ou seja em conversa já se consegue identificar que certas pessoas ou que certas dinâmicas existem por isso eh quase que se cria ali um clube em que as mulheres se auto eh se protegem umas às outras digamos assim no sentido de avisar se ouvem aconsel simim e neste M também o me K em Portugal é muito pequeno e portanto atenção que este aqui e já me fez isto sim eu olha eu senti-me um bocadinho desconfortável que com essa pessoa pois Ok normal eh é recorrente por exemplo Hum mas é um cam é um ainda é um caminho longo que temos que temos a percorrer principalmente em usar a nossa voz sabes em em hum em perceber que que devemos podemos e devemos falar sobre esta coisas e podemos e devemos falar umas com as outras sobre estas coisas mas mas acho que se cruza também com aquilo que já falamos que é hum há um medo Instalado não é porque efetivamente se o poder está só de um lado o medo é de de não conseguir agradar esse poder e portanto Portugal é um país tão pequeno as oportunidades são tão poucas nim é a lei da sobrevivência que também já falamos aqui que fica imposta eu não posso comprometer a as poucas oportunidades às quais eu tenho acesso não é e ISO estou a falar enquanto mulher branca heterossexual hh porque se formos para para outras eh comunidades ou outras camadas da sociedade o acesso é ainda menor as oportunidades são ainda menos portanto se eu enquanto mulher branca heterossexual me deparo com estas coisas por exemplo colegas meus da comunidade lgbtq h mais H que dificuldade é que não terão mas têm na prática dificuldade de acesso às oportunidades Claro que sim pareceria sexuais por exemplo não só mas também sim mas isso é lhes dito ou o que é que tu notas efetivamente é lhes dito diretamente que que não é que não é um papel para nunca é diretamente H estas coisas nunca são verbalizadas diretamente nunca te fecham uma porta a dizer tu não podes entrar aqui nunca te dizem isso mas acontece Claro que sim tu nunca quantas personagens transsexuais é que tu já viste numa novela portuguesa feitas por transsexuais não é sim sim ou seja fo personagens ou personagens eh que não sejam heterossexuais mas feitas por um por uma atriz ou um ator transsexual não há não não são criadas essas oportunidades portanto lá está é um longo caminho para percorrer principalmente neste meio artístico sim e sobre esse ponto uma curiosidade que agora gostava de ouvir a tua opinião hum aqui há uns meses houve umas polémicas relacionadas com se em Portugal mas não só até muito lá fora se uma pessoa que não é Trans pode representar um papel de uma pessoa trans por exemplo há quem diga que que não que não pode porque ser trans é uma experiência muito específica e por isso tem que ser representada por alguém que que seja parte da comunidade há quem diga que um ator é um ator uma atriz é uma atriz e pode fazer qualquer papel e tens tens opinião sobre isso Hum ou é dúbio é dúbio para mim e ou seja não não não consigo verbalizar exatamente de que forma que eu percio agora para mim uma coisa é muito muito clara havendo falta de acesso h a atores estrans atrizes trans para trabalhar neste meio que lhes seja dada primeiro que tudo a oportunidade de representarem alguém que cujas dores e temáticas e e forma de ser e pensar esteja alinhada com quem est sinta na prática não é s porque havendo esse essa oportunidade por pouca que seja dar Claro que sim dar essas P CL que sim não não não desperdiçar essas oportunidades que já são tão poucas uhum dá-las a quem a quem a quem as pode interpretar também com essa verdade e com essa propriedade dar-lhes esse palco e essa voz Claro que sim porque porque merecem e porque e porque tenhem de lá Estar Concordo a pergunta não foi para mim porque eu sou quem faz as perguntas mas eu concordo Bárbara eu sei que tu és muito organizadinha e sim muito duen duen duen texos nos textos escreves a letra toda certinha com os marcadores sempre da cores específica Já eras assim na escola sempre foste muito organizada muito J Pinheiro ia me entregar um um estojo com canetas por causa disso pronto h eu pergunto-me Onde é que tu te deixas pisar o risco Ah isso é uma boa pergunta é um caminho Ok eu sinto que venho para aqui tipo eu sinto que venho com mais com mais dúvidas do que do que certezas porque eu estou mesmo numa fase da minha vida em que estou a desconstruir e estou H tudo aquilo que eu achava que era até aqui hum estou estou no processo de de de desconstruir aquela pessoa que eu achava que era Hum e e o processo ainda é longo eu sinto mas sinto muita liberdade em coisas tão estúpidas como isto atenção Isto é muito isto para mim é muito até acho que tem um bocado de vergonha de dizer isto porque porque sempre me aprisionei muito Uhum mas para mim é super Libertador vai ser muito estúpido atenção não é estúpido n é estúpido aqui andar por Lisboa com os fones de trotinete elétrica eu mas cuidado porque há muitos acidentes comente elétrica S sim eu tenho e eu sei que isto é soua muito parvo mas foi um o meu trabalho desde os a minha vida desde os 13 anos que é trabalho casa casa trabalho trabalho casa eu acho que eu agora estou a descobrir que e muitas vezes com teatro e gravação de novela dia S meso Tempo Louco absurdo portanto é das 7 da manhã à meia-noite não é eu acho que neste momento e os meus o meu extravazar é nessas coisas parvas de ya tipo eu posso sair de casa e posso ir até à baixa de trotinete pronto que ainda enc Cascais ou já não já não já estou no centro de Lisboa mas moraste e cresceste em Cascais com a tua família sim os meus pais vivem em carcavelos há muitos anos portanto eu cresci aí mas para mim não há Liberdade maior do que estas coisas se calhar parvas do dia a dia mas tipo a possibilidade de eu podia sair de casa e ir dar uma volta e chegar a casa à noite e ir dar um passeio na praia ao fim de semana hum sim é aí que eu est são pronto não é estravazar não é não não conta como estravazar conta conta Sem dúvida conta não S muito sair à noite portanto são as minhas liberdades quo como um exercício de libertação e de fugir dessa organização máxima Bárbara um exemplo de que é possível termos várias dimensões vivermos com dúvidas mas também com sonhos com talento nesta casa há Donas de todas as idades de todas as e feitios Livres firmes e com muito para dizer é um gosto enorme tê-las aqui comigo para vos levar as melhores conversas sempre eu sou a Catarina Marques Rodrigues e estou convosco às terças a cada duas semanas aqui na antena 3 sigam-nos nas redes sociais da antena 3 e nas minhas também e também as da Bárbara agora para acompanharem e para partilharem também estes testemunhos para que a nossa voz se faça ouvir cada vez mais muito obrigada Bárbara obrigada pelo convite adorei conversar contigo fiquem bem e até o próximo episódio