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o dia chegou vamos finalmente responder à pergunta que inspira livros documentários que dá origem a conferências e Estudos académicos que incendeia as redes sociais e que alimenta a publicidade e os mídia Afinal o que é ser mulher quais as medidas certas desta régua moldada por tantas vozes e por tantas opiniões será que é ser mãe é ter a menstruação é comportar-se de uma forma delicada Qual é a fronteira entre a beleza a sensualidade e a objetificação da mulher que estrutura física que tom de voz Que profissão que infância tem uma mulher de ter para o ser como se desvenda esta equação do feminino o mundo está cheio de matemáticos de seres pensantes desta ideia Ainda não desvendada mas à nossa volta estão também figuras pessoas mulheres que são apontadas para precisamente alimentar este debate uma delas é Marina Machete mulher Trans Miss Portugal 2023 que representou o país no concurso Miss Universo ficou nas 20 selecionadas o seu apogeu deu-lhe destaque mas o seu caminho até aqui é semelhante ao de muitas crianças e jovens trans por esse país Hoje esclarecemos os conceitos todos trazemos os números a história e a vida da Marina Olá Marina Obrigada Olá bem por estares connosco hoje aqui comigo ao vivo mas também com as pessoas que nos estão a ouvir muitas Com certeza já gostarão do tema ou gostarão também de ti outras também terão muita curiosidade eh sobre este tema que ainda está envolto em tanta em tanto preconceito e em tanta desin formação sobretudo começo por te perguntar tu ficaste entre as 20 selecionadas do concurso Miss Universo mas recebeste também uma distinção que passou um pouco mais despercebida que foi de Miss confiança o título da da Miss Com mais confiança certo por isso [Música] várias etapas preliminares antes do concurso em termos de oratória e de a forma como nos desenvolvíamos e falávamos da nossa causa social e na altura eu falei um bocadinho da minha experiência pessoal e do que tinha passado na minha infância etc e eles acharam que por aquilo os juízes na altura os juris que por aquilo que eu tinha passado eu demonstrava a maior confiança após aquele aquele aquele caminho que eu tinha passado como adolescente e como criança com a minha condição portanto aquilo que foi durante muitos anos algo que te fez sentir menor e discriminada foi aquilo que depois foi visto pelos outros como algo que te fazia ti uma pessoa corajosa e uma pessoa eh confiante vamos começar já por aí e porque tu hoje tens 28 anos tens um um caminho que te levou também esta projeção pública mas a a Marina de três qu anos era uma pessoa completamente diferente e se calhar muito eh muito confusa na altura porque tu referes isso que começaste a perceber que havia alguma coisa que não estava certa com 3 4 anos exato o que eu te pergunto é o que é que aos 3 4 anos uma criança eh vê eh tão pequena ver eu acho que todos nós temos referentes e nos identificamos com com pessoas na televisão e especialmente eu identificava sempre com as personagens femininas nunca era nada era tudo natural porque as crianças têm aquel aquele sentimento de de Inocência quando estão a ver e quando imitam alguma coisa que vem na televisão e para mim era a minha Essência aquil estava a chamar por mim mas era o quê era o aspecto físico era as roupas eu acho que era a minha essência e desde pequena que se calhar os membros masculinos da minha família também pela sociedade onde vivemos e a sua masculinidade frágil acabavam por se afastar de mim porque sentiam aquela energia feminina sentiam que eu acabava por me aproximar mais às às mulheres tinha comportamentos que eram considerados mais fracos mais femininos e e eu não via essas diferenças para mim eu não achava que ser uma pessoa Feminina ou ser uma mulher era algo fraco simplesmente era quem eu era mas por exemplo a nível de brinquedos tu própria já tinhas mais interesse em brinquedos ditos femininos eu estou a fazer muitas aspas sim sim sim sim sem dúvida mas acredito que há outras pessoas que têm a mesma Histórias de Vida similares à minha e isso não era tão tão o foco não era tanto nos brinquedos acho que tem mais a ver com aquilo que nós sentimos na sociedade acabamos sempre por nos pôr de um lado ou de outro por exemplo a tua mãe comprava-se Barbies certo mas depois havia ali uma rejeição por parte do teu pai é verdade sim sem dúvida O que é que acontecia quando ela te comprava as Barbies era maioritariamente era tudo escondido porque também ela não queria esse depois essa confronto do meu pai exatamente eh e acabava por ser ela sabia que aquela era a minha Essência mas que era uma coisa que não era aceito pelos demais e portanto acabou por criar esse hábito de acabar por eu tentar esconder a minha identidade que durante alguns anos eu comecei perceber que não era bem-vinda não era uma coisa aceite quando ele jogava de carro tu automaticamente escondias tudo certo quando estavas sim até hoje o som da daqueles carros eu consigo ouvir e faz o trigger no meu no meu cérebro de a é o meu pai a chegar a casa mas claro que hoje já reage de uma forma completamente diferente e com terapia já consegui lidar com com esses traumas de Infância uhum eh desde essa idade então que sentias que que alg não estava certo porque tinhas um um nome que te foi atribuído que era um nome masculino e e porque te tratavam como como um paz eh o teu pai foi uma figura Central aqui além desta questão do dos brinquedos o que é que tu começaste a ouvir ou a sentir da parte dele eh que te fez perceber que não encaixava no modelo que era visto como o certo sim tanto por parte do meu pai como o meu avô como o meu irmão eu comecei a sentir essa energia e esse ou seja eles começaram se a afastar desde que eu era uma criança e eu sabia que era de uma forma inocente que eu existia e e e me movia e falava e comunicava mas que para eles eles viam algum tipo de maldade naquilo que eu era e portanto eu comecei a esconder esse comportamento e a tentar ocultar essa minha identidade O que é que eles diziam por exemplo eh eles acabavam por o meu pai simplesmente se afastou ou seja ele nunca conseguiu confrontar-se e até hoje é um bocadinho ele aceita tudo isto não é e falamos mas ele não gosta de falar sobre o assunto para ele simplesmente ele passou a página e eu passei a ser a Marina mas ess se passar a página foi muito doloroso para ele porque ele teve que lidar também com aquilo que a sociedade o peso que a sociedade pôs em cima dele não é dele ser homem dele criar um supostamente um filho homem e o que vem com essa pressão de ele achar alguma vez que falhou os seus pais cresceram contigo também na família em palmela numa pequena localidade que se chama Aires eh dizes também que as pessoas à volta também se calhar faziam comentários que ele ouvia ou questionavam tens essas memórias T esses exemplos sim sim os vizinhos e até hoje as pessoas mesmo depois de de eu de eu ser misso Portugal as pessoas continuam a ver algo com alguma estranheza Até porque eu para me proteger acabo por me afastar desses olhares e desses comentários e acabo por me tentar colocar um bocadinho à parte embora percebo que tem que se falar sobre estes assuntos tem que se justificar mas mas mas então achas que também esse afastamento dele foi muito por aquilo que as pessoas diziam à volta sem dúvida foi pressão da sociedade à volta acima de tudo no início se calhar havia muito uma confusão sobretudo da parte de quem Estava à tua volta porque quando um rapaz por exemplo começa a ter um comportamento que é dito mais afeminado o que se pensa logo é que ele é homossexual exatamente e também foi isso que que eu viste ou que sim sempre desde pequena que a minha mãe dis dizia-me que era isso que ela pensava ou seja ela não pensava que eu era a Marina ela pensava que aquilo que era mais comum se calhar acontecer que era eu ser uma pessoa homossexual uhum fazer aqui uma distinção importante entre identidade de género e orientação sexual identidade de género é aquilo que a pessoa é e orientação sexual é de quem é que a pessoa gosta certo portanto pode haver uma pessoa trans que é lésbica é etc e pode haver uma pessoa e não trans que também tem outras orientações sexuais quaisquer exatamente quando se começa a crescer a família de facto é um um núcleo muito importante e outro é a escola portanto tu aos 6is se anos terás ido para a escola e esse esse esse romper digamos com aquilo que te atribuíam foi sempre crescendo nunca nunca parou não é Foi algo constante sim como é que depois quando chegas à escola te integras num num sistema que está muito eh dividido em termos de género preto e branco ou és homem ou és mulher não é inicialmente começou a fazer-me confusão essa pressão que faziam à minha volta para eu me encaixar de um lado ou de outro e realmente eu comecei a perceber pelos outros também por essa pressão que eu não era normal por assim dizer e procurei percebi aste como apercebia-se pela rejeição dos rapazes e a aceitação das raparigas não era completamente ou seja claro que existia uma maior aceitação por parte das das raparigas e das mulheres à minha volta mas era mais havia certos momentos em que eu me sentia rejeitada Ou seja eu sentia que não pertencia a nenhum lado a 100% mas era através das brincadeiras era em comentos Sim era aquelas conversinhas que se tem às vezes no eh no intervalo e era Ai Marina não podes ouvir isto porque é só para meninas mas a maioria das vezes eu estava incluída nas conversas mas eu percebo que elas também se calhar tinham essa essas pressões da sociedade para pensarem Ah mas eu não sei se a Marina é um menina ou uma menina Então vou Ou seja faz sentido ela estar cá mas ao mesmo tempo como não é 100% aceita Então temos que por aqui alguma rejeição ex não era 100% menina também porque a minha aparência embora fosse sempre feminina ali antes de eu deixar crescer o cabelo e antes de eu entrar na adolesc era ainda uma aparência considerada masculina para uma criança portanto lá está os meus pais também não me permitiam vestir da forma que eu queria era uma luta constante contra aquilo que eu queria fazer e contra aquilo que eu sentia dentro de mim uhum e e e da parte dos rapazes também havia uma rejeição porque também o que é que eles viam em ti que eles achavam que não era masculino como eles tudo a forma como eu falava a forma como eu me sentava a forma como eu cruzava a perna a forma como eu andava a forma como eu comia ou seja desde muito nova eu diria desde os 6 7 anos que eu fui completamente rejeitada por todos os rapazes em qualquer turma que eu estive na escola e aí como é que se vai todos os dias para a escola Ah eu ia num estado em que começa a aceitar que esta é a minha realidade constantemente triste constantemente acho que eu na altura precisava muito de ajuda psicológica mas não havia esta abertura para falar da Saúde Mental como h hoje Portanto não era uma coisa normal e os meus pais a única coisa última coisa que eles pensavam era que eu precisava de de ajuda nesse sentido eles precisavam pensavam sim que eu precisava de ajuda a tentar perceber que era um rapaz e que tinha que ser aquilo que era suposto eu ser nos olhos deles Claro hum depois com esses dias todos na escola que começaram a ser muito difíceis ao mesmo tempo a tua identidade foi sempre e aumentando cada vez mais no sentido que foi se tornando cada vez mais real para ti eh mas é depois próximo dos 10 anos que que tu decides ir mesmo à procura de respostas Exato eu lembro a primeira vez que eu me pus em frente ao computador aqueles computadores quadrados grandes velhos e pesquisei o que é que eu sentia eu sinto-me como uma menina eu sinto o que é que era e eu comecei a pesquisar as coisas que me apareciam na altura que que não havia Grandes Coisas portanto havia havia se calhar uns vídeos no YouTube em inglês e foi assim que eu comecei a aprender inglês foi foi a tentar acessar informação em relação à condição que eu tinha portanto eu eu acredito que fui a primeira pessoa a diagnosticar me porque não haviam não havia ninguém a qu em quem pedir ajuda não é eu pedia aos meus pais tinha vergonha não havia respostas ou então havia uma forma Quase de tentar me levar para o lado oposto daquilo que o o chamado gatekeeping em inglês que é o quase fechar as portas ou fechar o portão à transição quando procuraste o que é que foste encontrando procuraste no Google não é o que é que foste encontrando logo vídeos de mulheres trans jovens trans na altura muitos no YouTube em que elas falavam não em Portugal não é fora de Portugal sim fora tudo fora de Portugal inls sim H basicamente como é que elas transicion avam histórias de família eu comecei a perceber que não estava sózinha que haviam pessoas que tinham passado pelas mesmas coisas que eu e a depois comentaste isso com alguém Não eu era muito fechada Para mim mesma tinha cerca de três amigas uma delas era minha vizinha eram as pessoas com quem eu passava algum tempo de resto eu fechava para o mundo completamente no meu quarto quando procuravas a informação já te apareceram Nessa altura aqueles estereótipos muito ligados às mulheres trans por exemplo Há uma grande confusão na sociedade ainda penso eu diz-me se concordas entre o ser trans e o ser travesti por exemplo e tu próprio também foste encontrando essas informações que não eram muito coincidentes E ficaste confusa com com aquilo que de facto fazia sentido para ti sim eu lembro-me de ter cerca de 11 12 anos e ouvir algumas conversas de adultos à minha volta que me tentavam dar umas dicas sobre o que é que era ser uma pessoa trans ou o que é que me esperava e toda e basicamente as informações que eu que eu sabia eram ah em Lisboa Há muitas pessoas assim há pessoas que saem à noite e se vestem de mulher ou seja era tudo era tudo com era visto como algo negativo algo sujo algo que não era bom que não era positivo e eu e eu comecei também um bocadinho a ter medo disso e daí depois veio também o medo dos meus pais que eu transicion asse e e tive alguns anos em que eu não transicion h a nível físico exatamente por esse medo eh da parte deles uhum só para também para esclarecer o ser traves ti é uma pessoa que que se veste por exemplo de mulher e que pode ter um trabalho artístico por exemplo que não tem nada a ver Queen exatamente mas pode ser um homem a sua identidade de género é um homem mas depois tem um trabalho artístico por exemplo como no teatro por exemplo exatamente e nesse momento é um travesti mas ser transsexual género é uma questão de identidade exatamente eh de género ex e de saúde exatamente e de saúde ah portanto ir para a escola para ti era uma Tormenta não é eh enfim adivinho que muitas vezes quisesses não não ir para a escola mas tinhas que ir na mesmo o que é que a tua mãe te dizia na altura por exemplo para te forçar ir para a escola eu eu eu não comunicava nada disto Aos aos meus pais nem ao meu irmão mas havia comentários da parte do meu irmão do género Ah mas não gozam contigo mas tu parece uma menina isto começou des desde muito cedo depois Acabei por começar a a evitar a escola a não não ir à escola porque a violência começou a escalar sim e aí eh gostava que nos nos levasse até esses momentos mais duros porque houve de facto ataques físicos mesmo para contigo que ataques foram esses eram humilhações desde ou seja constantemente gritarem o nome que me foi atribuído à nascença como quase algo que fosse shiming não é já para não usarem esse nome sim toda a gente me tratava por Marina desde muito nova usava o teu nome atribuído à nascença para te humilhar diminutivos seja era tudo muito na parte na base da humilhação água ainda quando eu utilizava o Balneário que foi até aos 13 anos mandavam água em cima ou seja tudo o que era para demonstrar que eu não pertencia que eu não devia estar ali que eu devia sair e depois realmente eu tive que deixar de usar o Balneário e tive um ano a utilizar uma casa de banho à parte a e depois realmente passei para o Balneário das raparigas aí Houve essa compreensão da parte da direção da escola não na parte de todos os professores não é porque havia professores também que que não eram assim tão simpáticos sim que se recusavam a tratar-me pelo pelo meu nome Marina não é e tratavam pelo outro nome assim ou então e que tentavam me ignorar e não nas aulas nas aulas sim sim havia muito desprezo também por parte deles estes momentos de enfim de ataques foram depois escalando e depois houve mesmo um momento que depois te obrigou a mudar de de escola exatamente sim quando quando eu faço esta pergunta o que é que automaticamente te vem à cabeça alívio de não estar nesse lugar e espero que hoje em dia já não haja ninguém a passar por esse por essas situações foram o quê h o apedrejamento para mim foi muito foi foi uma coisa que me marcou para o resto da vida foste apedrejada porque eu nunca pensei que isso pudesse acontecer mesmo na altura não foi há muitos anos atrás foi em 2013 eu nunca pensei que me pudessem apedrejar claro que eu sentia que havia um crescer daquela violência na escola e eu ainda bem que eu saí antes mas eu não não não não acreditava que quando eu voltasse à escola pudesse ser apedrejada e isso quando se tornou a minha realidade naquele momento eu eu senti-me super super vulnerável e portanto só para nós só para percebermos aqui a passagem tu entretanto desti da escola e depois foste oficializar a transferência para outra escola portanto tiveste que voltar a essa escola para assinar uns uns documentos eh E no momento em que regressas parece quase que estavam à espera que que regressasse não é alguns alunos mais rapazes mesm eram as turmas mais as turmas do 12º ano e dos e as turmas profissionais na altura costumavam ter aulas ou só de manhã ou só de tarde nesse dia e eu esperava que não estivesse ninguém porque há um parque muito grande em frente à escola comercial em Setúbal é um parque que estava em obras e que hoje em dia já está diferente porque tinha um muro muito grande e ao tirarem este mur tinha muitas pedras da calçada no chão e ou seja foi foi o momento péssimo para eu estar ali porque haviam pedras da calçada não havia ninguém à volta não estava ninguém à porta da escola e estava só esse grupo de rapazes no nesse parque nesse jardim em frente à escola o Jardim no Bomfim e foi aí que tu chegas e depois o que é que acontece eu chego entro vou à vou à vou à parte da para oficializar para assinar os papéis volto a sair e quando eu volto a sair já começa a ouvir esses diminutivos esse esse Dead naming e eu tento caminhar até para apanhar o Autocarro e voltar para casa e é aí que acontece o apedrejamento uhum muito casualmente quase que Ou seja eu nem sequer vi estas pessoas perto de mim foi algo completamente eu Eu não estive ali sequer 15 minutos foi entrar e sair da escola mas bastou ver-me ali a minha presença em frente à escola não é e o o que é que passou pela cabeça e pelo corpo e tudo naquele momento que faz com que essa memória esteja tão presente até hoje hum foi que eles realmente só se afastaram quando a pedra bateu num carro e eu naquele momento Claro que eu não pus isto na balança porque eu estava a tentar sair o mais rápido possível daquela situação mas é que o dano material era mais importante para eles ou mais alarmante do que um dano a um ser humano que que era eu Uhum E que a minha existência naquele momento era uma coisa calhar que ameaçava tanto a masculinidade frágil que eles conheciam Desde há tão pouco tempo porque eram adolescentes mas que era tão importante para eles mostrarem uns aos outros que aquilo era algo com que eles não concordavam e que queriam repudiar ao máximo isso é a Marina de hoje consegue fazer esse processo Lógico não é porque na altura Era só a raiva dor tudo ao mesmo tempo eu estava incrédula e a olhar a sim não é e e a e a fugir para Autocarro basicamente e a tentar correr o máximo antes disso também houve um episódio que eu também Li e que me fez ficar enfim muito sensibilizada com com isso que teve a ver com cacifos não é sim Antes de tu saíres da escola portanto o que é que aconteceu aqui fecharem dentro do cacifo numa brincadeira mas claro que não era uma brincadeira eu fui também empurrada para dentro de poas no inverno com a chover e ou seja estava frio podia ter ficado doente portanto havia uma certa um certo tipo de de atitudes que várias pessoas tinham até pessoas que eu achava que eram mais próximas de mim mas que se calhar guardavam algum rancor na minha na minha existência porque eu sempre existi de uma forma natural ou seja tudo em mim eu era simplesmente mais uma mais uma colega mais uma estudante naquela escola mais uma aluna portanto eu não era como se eu fosse uma pessoa que estava constantemente a tentar mostrarse Eu tentava estava a tentar ser o mais discreta possível porque eu sab sabia que se eu não fosse discreta eu iria ser ainda mais discriminada porque ias estar a reprimir uma coisa que mais tarde ou mais cedo iria acabar por por sair exato e se do cacifo foi colocaram dentro de um cacifo só para as pessoas também e imaginarem isto o cacifo caiu no chão e tu depois desmaiasse foi isto porque eu ainda por cima Sempre tive medo de espaços fechados e era daqueles cacifos que não estava prig à parede não estava presa à parede e ao ao mandarem o cacifo ao chão ou seja é uma força brutal eu lá dentro eu não não aguentei e perdi os sentidos completamente depois veio um funcionário virar o cacif ao contrário para abrir e desde aí eu já fiquei com isto foi um ano antes de eu sair da escola eu e já comecei a perceber aos poucos que aquele espaço não era seguro para mim e o que é que podia acontecer depois diso também uhum ou seja acontecem estas coisas não existe qualquer tipo de ou seja Estas pessoas não são responsabilizadas ex e os teus colegas nunca foram responsabilizados não é nunca sempre visto como uma brincadeira exato tu tinhas que suportar eu tenho que trazer aqui estes dados porque porque são são relevantes naquilo que estamos a falar eh os jovens trans têm mais probabilidade de suicídio do que os jovens não trans há várias estatísticas no Brasil uma associação diz que são 42% da população trans que já atentou o suicídio há outros estudos que dizem que os jovens trans têm cinco vezes mais risco do que os jovens não trans há um estudo na Dinamarca que diz que as pessoas trans têm 7,7 vezes mais risco de tentar o suicido do que as pessoas não não trans enfim Há muitos números todos eles dizem o mesmo que é eh é uma população mais vulnerável naquilo que diz respeito ao suicídio tu Consegues e relacionarte Com estes dados Claro sim claro naqueles momentos em que qualquer qualquer pessoa se está a tentar descobrir enquanto adolescente enquanto ser humano Mas em vez de existir apoio em vez de existir amigos existe a pessoa está completamente isolada a própria família rejeita portanto não há um espaço seguro para a pessoa existir e a pessoa pensa em não existir é o mais natural do ser humano o ser humano quer ser feliz quer viver em sociedade quer socializar quer amar Quer ser amado isso apenas o que existe é objetificação já naquela altura existia objetificação em relação à minha aparência ou seja existiam comentários existiam críticas questas sexuais por exemplo não é hum questões sexuais também sem dúvida também aquela curiosidade que é sempre um voar ismo de interesse eu era menor de idade ou seja São coisas completamente inapropriadas seja por parte de um adulto seja por parte de um de uma de um outro adolescente mas eram coisas que aconteciam comentários às vezes no gentes não é que eu própria estava-me a descobrir enquanto ser humano e não faz sentido existir esse tipo de agressões porque são agressões sexuais não éum tu entretanto Consegues depois ter algum apoio médico mas ainda antes disso fizeste uma coisa muito perigosa que é a automedicação certo S Sim sim eu automedique com hormonas houve esse G keeping Por parte dos meus pais e por parte de de vários médicos que não queriam que eu tomasse hormonas e eu sentia que eu precisava tomar embora eu eu vivesse a minha vida enquanto rapariga eu sentia que estava a crescer estava-me a desenvolver e não sabia que como é que eu podia masculinizar no futuro eu queria também parar esse processo de masculinização claro que passamos na na na adolescência normal no teu caso seria travar a produção de testosterona aou limitar de alguma forma esse processo eh acontece na adolescência que é ao mesmo tempo que tu própria também começas a inter interesse para tornarmos a conversa aqui um pouco mais ligeira começas a ter interesse também eh na moda nestas questões também ligadas à à moda enfim a este este universo eh e lá está como a nível social não conseguias tantas interações por causa dos outros começaste tu própria se calhar em casa eh a a pesquisar a ver coisas sobre sobre estes temas começaste a treinar o desf muito antes de eh concorrer a a miss Portugal sim eu eu fi durante o longo destes anos destes 10 anos eu eu fiz castings onde não passei conheci algumas pessoas que na altura Acabei por contar que era uma mulher TRANS e Isso acabou por impedir o meu agenciamento na altura de três quando eu tinha 18 anos de três agências conhecidas eh na altura só uma é que era conhecida que as outras duas acho que já não existem hoje h mas sim lembro-me que havia essa barreira por eu ser uma mulher trans porque eu quis comunicar essa parte de mim caso eu não quisesse comunicar eu acredito que eventualmente Teria trabalho hoje em dia já é completamente diferente nós já temos mulheres trans que são abertamente TRANS e são modelos e têm trabalho etc e mas mas foi te conseguindo um ou dois trabalhos enquanto modelo poucos muito poucos e tudo não era não era remunerado era pela experiência era pela pela visibilidade etc mas o que é que te fascinava nisto de ser modelo e de ser miss era o quê Eu acho que o facto de ser Miss eu acho que era mais conseguir partilhar a minha história o facto de ser miss porque especialmente para as pessoas que vem estes estes concursos eh tem muito mais a ver com oratória tem a ver com projeção em palco tem a ver com com respostas com a quantidade de línguas que uma candidata fala às vezes é no fundo é que representar o país não tanto com a sua aparência mas com aquilo que transmite através da da da sua aparência a ideia que nós temos estes concursos é que de facto é muito focado na objetificação da mulher não é aquela que tem o melhor corpo Ah e que depois até já foram feitos vários filmes várias séries a ridicularizar os concursos de Miss não é que depois chegam lá e quer o paz no mundo e e pronto e enfim aquela figura da da loira eh ignorante que está ali só como uma boneca o que tu dizes é que os concursos de deste género não são nada assim Ou seja é é o um concurso de beleza hoje em dia é muito mais entretenimento generalizado já não é aquele fque na beleza da feminina sim não é não é buscar aquele ideal de de beleza para representar um país quase Como aquela mulher que era venerada como a mulher mais bonita do universo isso hoje em dia não existe até se formos ver muitas mulheres que têm ganho os concursos grande Slam a nível Mundial especialmente o Miss Universo são mulheres com belezas diversas e que tu na rua não dirias esta mulher é uma Miss Universo porque se calhar Ainda temos aquela ideia de que tem que ser a mulher perfeita mas não é é uma mulher completa a em termos de forma como representa oo país em termos de oratória projetos sociais mas há essas provas Há esses S sim sim tudo tudo é tudo é visto pela organização primeiro para nós competirmos no concurso temos que ter uma ação social e essa ação social tem que ter tem que ser contundente tem que ter Tens que ter feito H conversas Tens que ter conteúdo nas redes sociais que o demonstrem Tens que ter feito um plano e mostra e mostrá-lo à organização plano de ação social com associações com voluntariado esse tipo de coisas no meu ano a primeira finalista o segundo lugar a rapariga que ficou em segundo lugar ela no no norte do país fazia mensalmente uma um grupo de mulheres que se sentavam e Falavam sobre a violência doméstica e o que tinham passado e ela tentava arranjar H soluções a nível de saúde mental e e alguns recursos para essas mulheres então a tua causa na altura já era qual já era a igualdade e e o apoio a à minha causa que é a parte do SIM de ser ser trans e tu a já tinhas interação com associações então sim eu desde os 13 anos que já que já fazia parte desde a primeira vez que eu fui a um grupo de era um género de um grupo de apoio de pessoas trans conheci pessoas da organização da ilga e portanto já estava nesse meio em 2018 fomos ao Parlamento na altura por causa daquela lei que saiu de basicamente aos 16 anos que agora as pessoas podem podem Auto autom mudar ou seja já não têm que ter aqueles trâmites antigos que existiam de ter que passar por vários médicos todos sim sim agora a partir dos 16 anos até aos 18 anos pode-se proceder à mudança de nome e Sexo no registro civil mas com aprovação eh dos pais ou dos representantes legais partir dos 18 anos maior de idade pode pode fazê-lo livremente CL examente exatamente H portanto uma das provas portanto ou um dos requisitos para concorrer Imagina eu quero ser misso Portugal portanto eu tenho que provar eh que tem ação social mais o que é que eu tenho que provar mais ou o que é que o que é que me é pedido que tipo de provas é que fazem falar sobre a tua história de vida e portanto E e ter algum alguma noção que isso que essa história vai impactar muitas pessoas e depois claro que existe a parte de Performance em palco mas aí por exemplo quando se conta a história de vida o que é que estão a analisar exatamente estão a analisar a tua capacidade de que referi de oratória de comunicação Exatamente porque lá a maioria das das provas que se Vão pôr são provas de comunicação ou seja não há uma prova de beleza ninguém vai fazer uma claro que vão fazer fotos e postar nas redes sociais Mas isso não é avaliado mas o que há mais são entrevistas e claro que no caso das as mulheres do ano passado da parte da inclusão a miss Nepal a miss Colômbia todas as que eram mães as que tinham filhos tudo o que era aquela quebrar aquela barreira dos concursos tradicionais que nós achávamos antes não era permitido exato não foi o primeiro ano ano passado que foi permitido mulheres casadas e com filhos participarem no Miss universo também foi o primeiro ano em que deixou de haver limite de idade porque antes havia limite de idade Man era até aos 28 anos só exos 28 a partir dos 29 já ninguém pode ser já ninguém podia ser miss universo acabou hoje em dia já acho que existe até uma candidata que vai com 43 anos este ano Uhum E também há uma que tinha 50 ou 60 anos da Argentina sim sim que foi Miss Buenos Aires Sim e ela foi ao Miss Argentina não ganhou Miss Argentina mas participou Uhum mas mesmo a participação de mulheres trans também só é permitida Desde há poucos anos sim desde 2013 que por acaso foi o Donald trump que permitiu que H mulheres trans participassem em concursos que qualificassem para o Miss Universo neste caso foi o Miss foi uma uma candidata chamada Gena no Miss Canadá em 2012 que ela quis ela quis participar entrou com uma uma ação em Tribunal contra a organização porque disseram que não não podia ganhou exato e foi o próprio Donald trump que disse que sim pode participar desde que seja uma mulher resignada e e que tenha os documentos mudados no feminino pode participar mas portanto a primeira mulher trans foi em 2018 não é que concorreu nível Sim foi a miss Espanha que participou em 201 esp este ano foste tu e uma outra também de de um outro país sim a miss Holanda fomos a a segunda ela a segunda e ou a terceira Eleita para participar uhum portanto este sonho de ser miss foi aliment foi se alimentando Mas tu própria para conseguires e ganhar o o concurso primeiro Miss Lisboa e depois para miss Portugal tiveste que passar por várias tentativas certo eu foi o primeiro ano que eu competi porque antigamente não era permitido as regras não tinham sido atualizadas para permitir mulheres trans participar Embora eu tivesse tentado já desde 2018 este ano fui ao m Lisboa e fui Dada como finalista para o Miss Portugal e depois fui ao Miss de Portugal e e na primeira vez que participei e fui coroada uhum quando falavas sobre sobre a Performance em palco O que é que o que é que é tido em momento eu acho que é confiança acima de tudo é confiança porque se formos a ver todas as representantes tanto este ano como o ano anterior eh Conseguimos ver que as a belea das candidatas não é algo que se pode pôr numa caixa ou seja havia uma uma candidata pela size o ano passado que passou comigo ao top 20 também foi a primeira vez não foi que foi a primeira vez que uma mulher pela size também entrou no top 20 do Miss Universo sim e portanto eu acho que eles ali vêm mesmo uma a confiança o brilho no atrás do olhar e também isso depois também tem que vir do apoio da organização em si embora a organ se calhar o apoio da parte do país tive de muitas pessoas Claro mas se calhar não tive assim de patrocínios é isso que digo mais em termos de apoio mesmo das pessoas em termos de comentários e partilhas etc também pela estranheza de ser da Miss de Portugal ser uma mulher trans portanto quando tu concorram da área interessa-te e segues se calhar no momento em que concorram hisória para ti pessoal também se calhar nesse momento e não antecipe que fosse acontecer depois de tudo isso que falas de desses comentários não era algo que tivesses pensado ou era nem não porque eu eu competi este ano porque supostamente este seria o penúltimo ano que eu podia competir portanto tal regra dos 28 anos 28 anos antes de ser alterada e eu queria muito e pensei este ano Mudou as regras vou vou competir e mesmo que eu não ganhe pronto participei e e Vivi um bocadinho desse sonho e e lá está e nesse ano que particip aí acabei por por ganhar e que comentários são esses que tu que te que te fizeram eh referir agora a isto O que é que tu te lembras Que que foi assim eu acho no geral porque Se nós formos a ver é é um concurso é aquela competição não é a nível internacional as candidatas chegam lá com muito apoio eh não só de patrocinadores como tinhas dito mas de das pessoas ou seja do país em si e eu cheguei com uma uma trajetória completamente diferente eu fui durante três Semas Semas um bocadinho bombardeada com comentários ameaças ameaças de de morte muitas ameaças mas o que é que escreveram e-mails seja ridicularizaram me em muito em muitos âmbitos os e-mails eram muito agressivos as mensagens eram agressivas os comentários também mas para mim foi tentarem e comunicar com a minha família foi tentar falar com a minha família isso para mim foi uma invadir a privacidade mas arrastar os contactos ir lá mesmo à tua zona não foi foram pessoas que tentaram mesmo ligar para a minha família eh mandar comentários negativos tentar passar negatividade num sentido como com Malícia isso para mim se fosse apenas para mim é uma coisa mas terem chegado a esse nível Isso acabou por deitar um bocadinho abaixo eu tinha aquela confiança de de ir ao Miss Universo que era um objetivo que eu tinha há tantos anos e acabava por aquilo estar tudo na minha cabeça Todas aquelas aqueles insultos mas sempre a questionar o facto de tu seres mulher ou de não seres mulher e também também também era muito esse S foco das críticas eu acho que sim eu acho que era mais por isso não era eu acho eu sei que não era pela minha imagem embora foi fui também bastante criticada mas acredito que tenha sido pelo facto da minha desta ser a minha identidade eu penso até o que é que teria acontecido se eu não tivesse dito a ninguém que era uma mulher trans tinha ganho o concurso e Muito provavelmente não tinha tido qualquer tipo de visibilidade nem positiva nem negativa ou talvez alguma positiva ah portanto acredito não tem a ver comigo em específico tem a ver com essa perceção que as pessoas ainda têm negativa das pessoas trans no geral essas três semanas foram muito intensas houve também um dos momentos que alimentou isso que for que foi uns comentários feitos por Miguel Sousa Tavares na na TVI hum estás a sorrir A Marina está a sorrir para quem não está a ouvir em podcast ah enfim H sorris explica-me tenho várias perguntas mas diz-me sim sim foi o que ouvi a minha vida toda eu ouvi isso a minha vida inteira não é e é é é um bocadinho cómico que dois meses antes de eu participar neste concurso eu eu estava numa relação com uma pessoa há 1 ano e meio portanto para mim não não havia qualquer tipo de problema eu amar e ser amada por uma pessoa simica como homem a pergunta que o Miguel fazia assim tentão jocoso era eh enfim I envolverte com uma mulher assim gostarias de ter uma mulher assim para para outro jornalista que lá estava José Alberto Carvalho portanto esse tipo de comentários Foi algo que sempre que sempre ouviste do sentido de tu não seres mulher suficiente para se relacionarem contigo é isso acho que independentemente de que mulher trans seja ou mesmo independentemente de que mulher estes comentários depreciativos vão sempre existir quando existe um homem que quer denegrir de alguma forma outra mulher e portanto são para mim eu eu quando lembro-me de ver o dia a seguir e de realmente não ter qualquer tipo de importância para mim para as outras pessoas tem sim marcou muitas pessoas que esse comentário foi feito em horário nobre para mim foi um bocadinho redutivo esse esse comentário mas para ti por exemplo hoje a tua vida sentimental e amorosa é algo que tu sentes que também é impactado pelo facto de seres uma mulher trans eu acho que é mais impactado pelo país em si a minha se calhar a minha identidade e quem eu sou É muito mais valorizado num país onde se calhar as pessoas têm outro tipo de mentalidade Mas tu sentes por exemplo que que a tua identidade eh te impede de teres uma relação saudável como tu queres ter da forma que tu queres ter seja ela talvez em quantidade sim em qualidade não portanto se calhar as pessoas que se envolvem comigo São pessoas que já estão muito mais seguras de si e que já viveram se calhar o suficiente na vida delas para perceber quem eu sou aquilo que eu passei o quão válido é a minha identidade enquanto mulher e se calhar para a maioria não mas isso lá está é é é aquela balança da da quantidade versus qualidade uhum recebeste comentários negativos como dizias mas também recebeste alguns comentários eh de meninas trans bastantes mensagens sobretudo não é porque os comentários públicos eh são são menos os positivos Sim foi algo mais privado eh e também de grupos de de de crianças e e pessoas que e crianças que se identificam adolescentes também que se identificam nesse espectro e que se calhar não tinham o que é que descreviam escreviam que acima de tudo houve um grupo de pais que queriam que eu os encontrasse pelo Natal e depois eu não pude e até hoje estamos a ver se encontrar sim a ver se nos encontramos e eu acho que isso é muito importante porque eu ponho-me no lugar delas e penso que se naquela altura os meus pais me tivessem apoiado os meus pais tivessem levado a encontrar uma pessoa que fosse TRANS e que eu visse como uma inspiração teria sido algo muito poderoso na minha na minha adolescência ou na minha infância uhum tiveste mesmo pais a pedirte Acho que mais mães corrija-me se eu estiver errada mais mais a pedir-te para tu ligares inclusivamente não era para para falares com elas esclarecer as dúvidas delas porque a filha estava nalgum sítio ou estava noutra cidade noutro país e ela não tinha contacto com a filha e ela queria saber qual era a melhor forma de abordar a filha tinha medo do que é que a filha podia estar a viver sozinha sendo uma mulher trans n outro país e isso realmente nesse momento eu percebi que aquilo não tinha a ver com o concurso seja que esta plataforma que o concurso me deu Claro e que acaba por dar a muitas mulheres que participam neste tipo de concursos é vai muito além de de qualquer tipo de beleza uhum hah essa questão da das Mães é muito e dos Pais é muito relevante porque nestes casos há sempre eh ou quase sempre quando os pais e as mães não não são informados ou compreensivos al uma disrupção mas mas também há muitas vezes uma disrupção no próprio casal porque às vezes a mãe apoia e a mãe tá presente e o pai e não ou o contrário e por isso há muitos divórcios que acontecem nestes casos h para quem no está a ouvir eh e enfim não tá muito próximo do tema não conhece ninguém trans como é que tu explicarias o que é que é ser trans Ou seja é é acordar e sentir o quê Sim eu próprio às vezes me esqueço que sou trans porque mas naquela altura se calhar agora tu és uma mulher s mas e foste mas naquela altura Claro quando tu começaste a perceber não eu sou mesmo TR o que é que era e e quando ainda não tinhas o a transformação que tu querias ter er acordar e sentir o quê eu acho que era acordar e sentir-me normal sentir-me aceito pela sociedade pelas outras pessoas era olhar-me ao espelho e ver quem eu realmente era E como eu realmente não via aquela imagem que eu sentia dentro de mim nada estava em sinton na altura ou eu achava que não hum isso criava mágoa criava depressão criava eu não queria sair de casa não queria ir à escola portanto era como se tivesses se tivesse a acordar num corpo diferente sim sem dúvida como se o teu corpo fosse uma uma prisão por exemplo exatamente e era E era uma prisão é como tu querias fazer a tua vida enquanto Catarina e e Olhas ao espelho e vês outra coisa que não é a Catarina as pessoas tratam como se não fosse a Catarina Mas essa é tua Essência quem tu tu és e transparece mas por por algum motivo não combina com o que tá cá fora isso acaba por te causar Muita ansiedade muita vontade de mudar de de viver outra realidade e por vezes é por isso que eu muito jovens que perdem a esperança sem o apoio não é e pensam que a realidade para não sofrer é não existir e é isso que se tem que seja estes comentários e esta negatividade em relação ao assunto tem que mudar as pessoas têm que se educar e que perceber que isto faz parte da nossa diversidade enquanto seres humanos uhum Olha porque é que escolheste o nome Marina tenho essa curiosidade Ah sim eh porque eu desde pequena que eu gostava muito não da da Ariel da pequena sereia em específico mas hh a história original da pequena sereia dos irmãos Anderson acaba com um final muito triste e a minha infância também foi muito triste e ali no início da minha adolescência eh eu identificava muito com esse conto original onde a pequena sereia se chamava Marina e ela no final da história Ela não fica com o príncipe e ela acaba por se transformar em espuma e depois transforma-se num espírito e ela vê o príncipe casar com a outra rapariga do do conto original e vê ele feliz e ela fica feliz por ele não sei aquele conto mesmo na tristeza dava-me uma esperança de ser feliz de alguma forma e eu sempre me identifiquei ser esida ou ou mesmo sentido no sentido mais simbólico da coisa talvez e eu sempre me identifiquei muito com esse conto e até hoje é o filme que eu me lembro mais nem tanto é o original da Disney é mais o aquele que era o original dos irmãos Anderson o mais antigo e sempre me identifiquei com esse nome Marina e também na altura não conhecia ninguém que se chamava Marina e gostava muito do nome uhum Marina foi o o nome que ficou inscrito no teu cartão de cidadão a há 10 anos e eu se calhar posso dizer que tu nasceste duas vezes em outubro nasceste em outubro a primeira vez e depois no dia 2 de outubro 2013 foi quando nasceste outra vez foi quando foi feita a mudança e do nome a nível legal e também da tua certidão de nascimento Hum quando este dia especificamente o que é que fizeste neste dia H recordas sim lembro-me que tentamos ir a Setubal no dia 1 e não não conseguimos então fomos fomos no dia 2 de outubro de 2013 à Almada porque supostamente segundo as senhoras lá de Setúbal eles tinham mais prática Com estes assuntos E aí conseguimos mudar fiz fiz a carta lá escrevi a carta entreguei e passado uns dias estava oficializado e tinha recebido Já em casa o novo cartão de cidadão Qual é que a importância de de ter o teu nome escrito ali ou melhor que constrangimentos é que te trazia Ah sim imensos teres o cartão de cidadão com com outro nome não podia ter um passe por exemplo porque ninguém acreditava na altura que que eu era h o tinha o nome com aquela imagem portanto eu tinha quear seja olhavam para ti viam uma coisa e olhavam para o cartão de cidadão e viam um nome masculino são altos constrangimentos para estudar para ir andar transportes públicos para fazer qualquer coisa na sociedade a nossa identidade é algo que nós tomamos quase como garantido mas é mas onde mais além do do Passo de transporte onde é que isso H sempre que me pediam o cartão de cidadão eh por algum motivo às vezes para ver se eu tive tinha mesmo 18 anos causava-me alta disforia e eu acabava por sempre nunca andar com o cartão de cidadão porque era algo que me causava transtorno e envergonhava-se e acabava por me expor também a a discriminação não é uhum por exemplo no médico também estou a pensar seria uma para quem não soubesse de facto que tinhas esta disforia de géo e eram momentos tensos para ti momentos de medo quando somos adolescentes e e nos chamam pelo o médico chama-nos pelo nome para o gabinete é que é um momento tão normal para tantas pessoas mas para mim era horroroso porque muitos deles às vezes não se lembravam eh porque eu tinha eu tinha 15 16 anos e muitos deles chamavam o nome que me foi atribuído a nascença e eu levantava uma miúda e ia até à sala do médico as pessoas claro que ficavam a olhar comentavam e eu sentia-me super constrangida uhum foi eh há poucos anos que que a Organização Mundial de Saúde deixou de classificar a transsexualidade como uma doença mental foi só em 2018 que retirou a a transsexualidade da lista de doenças mentais acho que isto também explica um bocadinho a desinformação das pessoas só para dar um exemplo a homossexualidade também chegou a estar nesta lista e foi só há 34 anos que saiu e que saiu da lista de de doenças e mentais há pouco refast referiste uma coisa que eu também queria explorar contigo que é e antes do do concurso tu estavas numa relação e tu achavas que o caminho a seguir era casar e ter filhos certo sem dúvida e depois concorrer e a pessoa que estava contigo não não concordou com desde o início do ano quando eu me candidatei que a pessoa me tinha dito que ou seja os nossos caminhos não ele não via aquilo para nós Hum E que caso eu decidisse participar no concurso que ele não queria esse tipo de Exposição e eu eu aceitei e chegou ao momento em que eu realmente tive que fui ao Miss de Lisboa e quando ele viu que eu fui eu ia mudar até para eu ia sair de Lisboa ir ir mudar para o Funchal e quando Decidi ir concorrer ao à à H à final Nacional foi quando acabamos por nos separar e esse momento para ti Foi uma mudança que tinha mesmo que acontecer por ti Sim claro que sim claro que sim foi uma no fundo eu escolhi a mim naquele momento não é e e com todo o sentido eu acho que isto acontece na vida de muitas pessoas não é não foi só na minha termos que escolher entre algo que nós queremos e uma pessoa que se calhar Não tem aquela aquele apoio Incondicional que nós pensávamos que tinah Uhum mas ser mãe continua nos teus planos ai Sem dúvida tens muito esse instinto mat sempre tive sem Adoro essa confiança de saber exatamente que quer e quer já é sempre tive assim possível já queria para ontem mas lá está a vida não permite que as coisas sejam feitas todas de de uma vez só as coisas têm que ser feitas com calma por agora continuas com o teu trabalho como diz-se assistente de bord ou Hospedeira de bord o tripulante de cabine quais é que são as qual é que é melhor po dier tudo eu no meu caso sou chefe de cabine ótimo mas eh lá está pode-se usar qualquer tipo de e gostas de de ser chefe de cabine e de trabalhar na Aviação gosto do meu trabalho sempre gostei que foi algo que também como ao concurso me permitiu h a minha independência financeira e permitiu-me ter uma vida muito mais confortável eh e dar passos na minha transição dar passos na minha realização pessoal enquanto pessoa viver sozinha sair da casa dos pais é difícil hoje em dia enquanto jovem eh em Portugal infelizmente Marina obrigada por por teres vindo aqui a este este dona da casa queria só terminar com uma pergunta que é o que é que é para ti ser mulher eu comecei com uma introdução sobre desvendar de facto o que é que é ser mulher h e acho que aqui fomos laçando várias pistas sobre isso mas o que é que para ti realmente significa ser mulher ser mulher para mim é tudo é ser uma irmã ser filha ser amiga ser mãe ser ser autêntica é sentir essa energia dentre de nós que é imparável e independentemente de qualquer obstáculo que venha nós conseguimos ultrapassar uhum obrigada por teres vindo aqui à dona da casa falei contigo por tu só porque temos uma idade muito semelhante e portanto não fazia sentido est estar a tratar-te por você já sabem que estamos juntos e juntas todos os 15 dias à terça-feira para trazer sempre mulheres pessoas com diferentes percursos diferentes objetivos diferentes características diferentes identidades Para conseguirmos chegar a um mundo mais igual e também mais diverso obrigada obrigada
2 comentários
Se o concurso era só para mulheres não é para trans este pais está perdido
☺️