🗣️ Transcrição automática de voz para texto.
bem-vindo ao clube dos 52 ao longo deste ano estamos a ouvir semanalmente uma personalidade das mais diversas áreas para falar da próxima década no país os desafios os obstáculos as oportunidades é uma das formas de assinarmos os 10 anos do Observador e os 5 anos da Rádio observador esta semana convidamos para o clube dos 52 João Vieira de Almeida cherman da sociedade de advogados Vieira de Almeida e Associados muito bem-vindo obrigado por se juntar a este a este clube e no artigo que assina esta semana eh o João viira de Almeida começa logo por antecipar um futuro que diz que é de transformação e de incerteza Eh estamos a atravessar uma fase que é particularmente volúvel é assim que olha para para o futuro imediato em primeiro lugar muito obrigado pelo convite tenho imenso gosto em estar aqui gostava de fazer um pequeno disclaimer Eu não me sinto especialmente qualificado para teorizar sobre sobre o futuro ou sobre política em geral ou em particular sou um especialista em General ou um generalista em especialidades que também é muito importante é muito importante e é nessa condição nessa condição que aqui estou eh é óbvio que estamos a enfrentar um quadro de enorme transformação e de grande incerteza na Europa um quadro que eu não imaginei eh pudéssemos viver e tão cedo eh e e enfim que tem aquilo que são eh que é as consequências de uma guerra que não sabemos como vai E como vai acabar mas também um quadro de transformação que passa por aquilo que é um momento crítico de transformação social económica e também obviamente e por causa disso no no quadro no quadro político H temos fenómenos como e a inteligência artificial e temos fenómenos como a transição energética eh os problemas climáticos uhum a uma radicalização a das sociedades na generalidade dos países dos países europeus e provavelmente agravarem nos próximos nos próximos tempos eh e depois as tensões no plano Global entre os Estados Unidos e a China a Europa aqui numa posição eh difícil do ponto de vista da da da definição e daquilo que quer ser e daquilo que pode ser eh e portanto são é um momento de preocupação da preocupação em que todos estes fenómenos estão interligados uns dependem dos outros e uns explicam os outros e apontaria aí a guerra a guerra na Ucrânia como o principal e a principal alavanca destes problemas todos e deste mundo mais incerto não sei se se se é principal é seguramente um acelerador e um acelerador destes problemas como dizem muito bem estão todos estão todos ligados H é é seguramente um fenómeno completamente inesperado que traz fantasmas do passado eh e que neste momento disse que nunca esperava ver isso vivemos momentos de muita tranquilidade ali no durante muitos anos durante durante muitos anos ali a partir dos anos 90 talvez Isso foi no fundo a minha geração a altura em que entramos no mercado de trabalho e até agora digamos Vivemos um momento momentos absolutamente um período absolutamente Extraordinário de paz e e prosperidade e em todo o mundo Na verdade uma uma calmia que agora não e aliás eh fala fala de de um mundo que aponta para muitos sinais contrários porque estamos a falar se calhar do fim do globalismo como o conhecemos mas ao mesmo tempo continuamos todos muito perto instantaneamente muito juntos uns dos outros eh com muito acesso à informação eh mas também com com indignações muito rápidas isto leva-nos aqui um a uma mistura que pode ser muito perigosa Explosiva estas coisas estão todas ligadas eu vamos lá ver em em em em em termos históricos em tempo histórico Isto são fenómenos eh eu tenho uma visão enfim fundamentalmente positiva eh E otimista eh e em tempos históricos nós estamos enfim isto é uma uma uma gota deágua não é nós podemos ter aqui uma duas décadas outra vez muito difíceis mas não tenho dúvida nenhuma de que o caminho Continuará a ser eh visto numa série longa um caminho de de prosperidade e crescimento e aquilo que se alcançou globalmente nos últimos 50 anos é absolutamente extraordinário do ponto de vista do que foi a criação de de riqueza e de prosperidade e de resolução de problemas em todas as áreas em todo o mundo agora a verdade é que nós vivemos neste neste pequeno momento neste pequeno momento histórico e É como diz a globalização e tem agora um revés eh isso sim muito forçado também e pelas pelas consequências e da guerra e do e das tensões com a China e de novos alinhamentos ou reforço de alinhamentos nomeadamente a China sim muitos novos não é alguns reforços mas muitos novos h e há como diz ao mesmo tempo que há um retroceder da da globalização nós continuamos todos a nível indual continuamos todos conectados uns com os outros através das várias plataformas mas referi outra coisa que é que o grau de informação é cada vez maior Talvez esse o grau de desinformação É talvez ainda maior do que aquilo que é informação hoje Esse é um dos principais problemas que nós enfrentamos e e aqui no observador Enfim este é uma ilha como Há outras felizmente mas que vão escasseando que têm cada vez menos habitantes onde nós podemos continuar a informar-nos mas a grande maioria das pessoas desinforma diariamente nas nas redes sociais e esse é seguramente um dos problemas e que está na raiz de muitas destas incertezas e dos perigos que que nós corremos mas não quero tomar muito tempo a falta de e aquilo que é a desaceleração da globalização tem eh outros problemas mas também gera outras oportunidades porque obriga os países a repensar e a maneira como se querem posicionar nas cadeias de valor nas cadeias de produção aquilo que é a necessidade de assegurar os mínimos para poder sobreviver tempos turbulentos como esse que que estes que estamos a passar e e a Minha tese e aquilo que que escrevi e tem que ver exatamente com as oportunidades que decorrem destes desafios enormes hums então olhemos para para o nosso país para para Portugal nesta turbulência é um país eh de oportunidades Apesar João viira de Almeida de de descrever um país assim um bocadinho bloqueado nesta altura como é que olha para o país bloqueado eu eu diria Porque fala eh fala de uma classe média frágil um país desertificado fala até em descrédito do contrato social com eh eh imprevisibilidade fiscal administrativa enfim faz um retrato um bocadinho eh bloqueado insisto um bocadinho pessimista do país mas há há de facto há fatores que nos que nos bloqueiam mas mas estão longe de de ser novos não é quer dizer nós temos Tem havido E como eu disse de facto foram décadas de prosperidade mas há muita coisa por resolver e eu penso que nós independentemente temos um olhar positivo para aquilo que que se Conseguiu alcançar não só em Portugal mas globalmente temos que ter uma ambição de ir muito mais longe muito mais depressa e portanto há muito a fazer e aquilo que são os fatores os fatores endógenos que nos que nos atrasam eh não são novos e estão muito relacionados com ISO n é portanto a falta a falta de capital e no país O enfim umas lideranças relativamente fracas quer no público quer no privado há há muito muito a fazer nesse Campo mas também aí registo melhorias que eu vejo dia a dia no contacto com as empresas com as empresas portuguesas onde as passagem de geração daquela geração que sucedeu ao 25 de abril e que agora passou para a segunda geração onde se vem quer diz há há uma diferença substancial do ponto de vista da qualidade dessa dessas lideranças tem a ver com formação tem essencialmente a ver com com com formação Claro a com formação com o crescimento económico com o crescimento das empresas com a exposição ao exterior e e portanto há há um enorme ganho de qualidade nesta nesta segunda geração mas mas há défices de de liderança e depois há em Portugal dois fatores para mim me parecem amente críticos que eu também assinalei que é por um lado e uma crónica falta de responsabilização panto há uma incapacidade enorme de responsabilização que está amarrada a raízes culturais fortíssimas e muito muito antigas responsabil falta de responsabilização a nível político social não é só em geral nas empresas nas organizações no estado em geral é muito difícil em Portugal concretizar mecanismos de responsabilização séria das das pessoas ui isso agora é uma isso acho não acabei aqui é só uma opinião que eu tenho mas eu penso que isso tem uma rige cultural forte muito muito forte que tem que ver com a nossa pobreza com as enfim com as origens não quero agora aqui estar a ofender ninguém mas com as origens daquilo que é a nossa cultura mediterrânica católica enfim são eu eu penso que são causas já o anteriro já o anteriro cantal escreveu sobre tinha as causas da decadência dos povos peninsular dos povos peninsulares e algumas algumas mantém-se e depois há um outro fator para o qual eu também chamar atenção e que me parece crítico também que é a natureza corporativa da nossa estrutura social aquilo que é a defesa a existência e e a defesa de pequenos territórios que se degl pela conquista de benes e sobretudo pela proteção dos dos esquemas e dos arranjos e dos direitos que conseguiram para si é um obstáculo Fortíssimo ao Progresso em todos os setores em todos os setores nós Muitas vezes desculpamos os políticos e os políticos têm seguramente a sua dose de responsabilidade e devem ser responsabilizados por isso mas muitas vezes eles são os únicos que são responsabilizados por isso pelo menos vão a eleições a verdade é que as corporações e os e os pequenos núcleos de interesse raramente são responsabilizados pela sua cota parte na na na obstaculização do Progresso isto passa-se na saúde passa-se na justiça passa-se na educação onde os interesses corporativos estão representados por ordens por sindicatos por associações e e onde é muito muito difícil conseguir passar uma mensagem de transformação e de mudança eh quando houve e ouvimos muitas vezes a ideia de que Portugal é ingovernável tende a concordar não apesar disso Apesar destes pequenos poderes desta quase apatia generalizada não não acho que não nem acho que nós sejamos caso único e também a temos muitas vezes a tendência de achar que somos sempre os piores da Europa ou os piores do mundo ou que temamos em Cent e tal disto e c e tal daquilo não parece que sejamos muito diferentes temos que olhar talvez não estamos a comparar-nos sempre com o norte da Europa ou com os Estados Unidos Terra porque acho que não Digamos que não é esse o ecossistema em que nós temos que nos comparar mas sobretudo temos que nos comparar connosco próprios e com aquilo que poderíamos fazer se fôssemos capazes de abandonar alguns destes destes hábitos e destes modelos aí precisamos de quê são já falou da da da falta de lideranças é isso que falta mecanismos de responsabilização sérios que implicam mecanismos de avaliação e de compromisso eh são uma ferramenta essencial essencial e limitar o alcance e o impacto dos destes centros de interesses corporativos acho que é vital h e depois é preciso é preciso que o no plano político e da gestão dos assuntos do Estado haja uma visão que seja uma visão que permita libertar a energia que há e é que é preciso criar no país para que se para que se possam fazer coisas nós continuamos a ter um estado pesado muito burocratizado e ISO está muito ligado a estes aspectos que L estou a dizer portanto Isto é um país onde há há uma falta de confiança grande é um país onde que nasceu sempre com com grandes grandes desconfianças sobretudo e sobre nada lembra-se enfim já não sei se será de do seu tempo mas no meu era assim tínhamos que ir ao notário por tudo e por nada assinar eles tinham que reconhecer ou tinha que haver testemunhas a dizer que nós éramos nós porque senão podíamos estar a enganar alguém muito desconfiados havia sempre uma desconfiança enorme mas repare que se a desconfiança eh se revelava Certeira e portanto Afinal a pessoa não era quem era depois não havia responsabilização nós preocupar-nos sempre em precaver os danos porque nunca fomos capazes depois de lidar com eles e de responsabilizar bem eh quem quem os causa eh e e portanto é preciso também libertar isso criar modelos que gerem maior confiança maior confiança entre os os atores sociais entre as pessoas e e o estado também tem aí um papel e muito muito muito importante que não tem sido não tem sido bem desempenhado É extremamente burocrático é impossível Neste País É muito difícil criar Inovar criar empresas investir é Extrem continua a ser extremamente complicado isso é a voz de um advogado generalista a falar com conhecimento de causa aqui com aqui com conhecimento de causa porque porque às vezes é exasperante ver o tempo que as que os que as pessoas esperam por coisas que devam ser relativamente simples licenças para conseguir investir muitas vezes em investimentos que TM interesse declarado pelo próprio estado e onde depois encontra organismos do estado que se deadi e quase se matam com opiniões diferentes sobre H sobre projetos em em com um investidor ouve dizer num sítio Olha este projeto é fantástico vamos para a frente e depois há uma licença que nunca mais aparece a justiça é um espalho dessa realidade ou é a consequência dessa realidade Vamos lá ver a justiça isso também há aqui um mito agora agora voltando aqui a vestir um bocadinho a a aqui o fato do do do do do otimista e do e da pessoa que tem uma visão algo algo mais positiva sobre sobre as coisas a justiça tem feito um caminho Fantástico sobretudo desde ali da segunda década deste deste 2011 2012 tem feito um caminho Fantástico de recuperação eh em muitas das áreas que que funcionavam mal temos conseguido recuperar prazos temos conseguido recuperar processos que estavam eh perdidos e por por resolver hoje em dia a taxa de resolução é maior do que entrada de de de processos na maior parte das áreas com exceção do administrativo e do e do fiscal Aí sim é preciso ainda fazer alguma coisa conseguimos enfim Hum muito imperfeitamente mas na medida do possível e apesar de tudo melhor do que em muitos outros países introduzir tecnologia e nos tribunais eh portanto as coisas não são tão dramáticas nem estão tão longe daquilo que são as medianas europeias em termos de de de de Justiça eh onde as coisas não funcionam bem é de naem minha opinião naquilo que aliás eu penso que foi muito bem assinalado naquela carta aberta das das 50 figuras das 50 personalidades sobre a sobre sobre a justiça e que tem que ver com algumas áreas onde é preciso fazer investimentos para que as coisas funcionem melhor e depois na administração enfim da política criminal e naquilo que tem sido o papel do ministério público e em rédia solta como nós temos assistido nos últimos nos nos últimos anos portanto H prefere olhar olha com otimismo para para o país e e e diz e rapidamente que tivemos um momento importante com a entrada na então CEE eh e agora com o prr o prr É Nossa grande oportunidade eu eu não vejo oportunidade tanto no prr eu eu vejo algumas oportunidades que não sei se vamos ser capazes de agarrar até porque implicariam ou implicam não não estou já não quero já matá-las implicam uma dose grande de colaboração público-privado que não é fácil e implicam uma visão a longo prazo do país que teria alguma maneira de ser consensualizada provavelmente entre os entre os maiores partidos Mas onde eu vejo as maiores a grande grande oportunidade não entanto no prr Digamos que na verdade é um cheque que que se vai passar e que vai seguramente permitir desenvolver projetos muito muito interessantes Mas onde eu vejo grande oportunidade é mais de uma perspectiva estratégica naquilo que são os desafios que mencionei portanto uma Europa que tem um potencial de guerra enorme onde nós temos uma posição geopolítica eh única não é quer dizer no canto da Europa com um mar um espaço marítimo às vezes é uma dificuldade outras vezes é uma vantagem é uma vantagem é não o mar para mim é é s é sempre uma vantag é a grande oportunidade que nós nós temos que agarrar Portugal tem a correr um processo já há muitos anos nas Nações Unidas Unidas para alargamento da da plataforma continental que se se vier a concretizar quer dizer dá-nos um um espaço de crescimento sem igual é uma oportunidade única para o país em em centenas de anos e provavelmente desde que usamos o mar para chegar a outros sítios temos agora de novo o mar com uma oportunidade de transformar decisivamente o país e portanto eu vejo mais aquilo que são as oportunidades que nós temos enquanto na um país para onde os outros poderão olhar e os investidores poderão olhar e os outros países poderão olhar de refúgio e para investir em e Tecnologias para investir na área e da Defesa para criar os data Centers que têm que estar protegidos daquilo que possa vir a ser um conflito mais generalizado na Europa e vejo aqui uma oportunidade brutal na transição energética eh que é Como sabe um setor Onde vai haver um investimento enorme nos próximos anos até 2050 e onde Portugal aqui talvez enfim em combinação com Espanha tem uma vantagem enorme porque tem os recursos temos o sol temos o vento temos o mar no nosso caso temos o lítio e portanto há aqui uma constelação que não vai durar muito tempo e daí a minha preocupação mas há aqui uma constelação e de de de fatores que gera em meu em meu entendimento uma oportunidade enorme para para Portugal é saber aproveitá-la João Vieira da Almeida muito obrigada por ter vindo ao clube dos 52 hoje estivemos a olhar para o futuro do país com otimismo vai ser assim todas as semanas numa conversa sobre o país na próxima década