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[Música] Filipa Francisco é coreógrafa Bailarina e performer é também uma mulher criativa e forte que não para e acredita que a dança pode ser o motor de mudança fundou a associação mundo em reboliço e dirigiu espetáculos com reclusos ranos folclóricos jovens da cova da Moura da Palestina do Nepal até de favelas brasileiras nasceu com metade do cabelo de cada cor mora na Caparica faz azeite na sua Aldeia já nou com tubarões o marido trabalha com o circul de solei e fala da dificuldade de ser mulher artista mãe 53 anos que quer continuar a criar e a dançar num país onde esta profissão é muito precária vamos conhecer melhor esta mulher apostada em capacitar e empoderar os outros através da arte Olá Francisca Olá é um grande Filipa Francisca é um grande grande prazer estar aqui a falar contigo tu tens muitas entrevistas e muito bonitas na net mas a primeira coisa mais engraçada que eu quero lembrar e falar aqui é da tua Aldeia e água das casas é uma aldeia linda estamos a falar do concelho de Abrantes exato parte norte do concelho de Abrantes tem uma uma grande parte entretanto que foi inundada quando foi a barragem de Castel de bot Exatamente exatamente mas onde tu te retirava também e fazias pravas à apneia era um desporto que tu fazias era lá eu juntei estas histórias todas eh mas a verdade é que esta tranquiliza exato exato esta Aldeia já por si É Uma tranquilidade porque tem eh 20 habitantes eh tem tem muito poucas casas tem uma uma uma natureza Apesar que há muitos Eucaliptos infelizmente mas foi foi foi assim foi as pessoas foram trocando não é de eh e e puseram muito muitos eucaliptos e depois há esta barragem do Castel do Bod que quando quando veio as pessoas ficaram muito tristes porque viviam outra margem nums sítios chamado cucão que diziam que era muito fértil e de repente tiveram à força de ser mudadas para a outra margem tinham os chamados niros que era que era os os os terrenos mais férteis da da região que foram inundados pel barragem ex mas não trouxe outras coisas boas a barragem não is troue muito muitas coisas porque eh depois mais água também mais terrenos férteis mas é foi a mudança foi esta repentina mudança que foi muito traumática de darem a escolher ficas ou vais mas não tens a hipótese de ficar sim engraçado porque disseste tinha 20 o mundo de facto é muito pequeno porque há uns anos há 4 anos para ser específico há 3 anos acolhi o José Martinho Gaspar aqui que é o meu primo que é o teu primo que Tu disseste Eu tenho um primo que escreveu sobre as origens ele veio cá porque teve um um um um romance vida por fios Nessa altura e quando saiu e também que tinha aquela o alanac da história de Portugal e ele de facto tá h 9 anos escreveu água das casas Memórias de uma comunidade e tu dizes o meu tio o meu primo contou a história que Professor o bibliotecário o escritor Historiador abrantina estes livros e tu falaste nele eu pensei Olha eu já recebi eu lendo nesta história da água das casas e tinha uma algo ressoou na minha cabeça e de facto este programa Como já tem uns anos já passou por teu P passou aqui muita gente e com muito prazer porque quando quando tu nasceste houve ali uma revolução na na água das casas porquê H sen nunca tin vist um bebé assim o que é que tu tinhas especial exatamente H dizem eh dizem dizem que eu nasci com uma parte do cabelo branca e uma parte do cabelo de cor escura ainda hoje eu tenho aqui atrás essa madeixa que à medida que eu crescia a madeixa foi diminuindo e dizem que a a minha avó ficou muito espantada a dizer ai ai ai ai ai Isto é coisa é coisa de Bruxas agora mais tarde eu via descobrir e tenho feito trabalhar trabalho sobre isso até com o meu primo José Martinho sobre estas histórias de Bruxas e lebres homens como se diz lá na terra e portanto tudo o que é diferente tem este caráter de mistério que é logo atribuído a a uma bruxa portanto eu já cresci com todas estas histórias a história que tens de pôr eh uma uma vassoura ao pé da porta para a bruxa não levar o bebé e portanto eu acho que punham isso na porta para não me levarem por cusa dos Vampiros ou exato que pões assim uma série de grãos para se aparece uma bruxa ela fica a contar os grãos e já não vai não entra em casa n vai assombrar eh tens de pôr a roupa ao contrário eh para não te transformares em lebres homem Man depois não te diz muito bem é toda a receita não é fica só assim no ar é muito Gir todo esse Imaginário popular e e que tá ligado à tua às tuas raízes é muito engraçado mas tu que tens muita sorte na vida também porque tanta coisa bonita te aconteceu e tem acontecido e também tens lutado muito por isso faz aqui Prest Justiça à tua carreira extraordinária também é muito curioso por causa do do teu avô o teu avô era o Barqueiro e eh da Aldeia o único que tinha telefone é muito engraçado o teu bisavó era o aliado da Aldeia que ensinava à pessoas a ler e a escrever tens histórias a tua avó imagina contar havia um deles que era para Psicólogo Algum deles ou tinha a ver com estes fenómenos e contava histórias do do dos lebres homens exato havia todas Estas pessoas da família que na verdade ligavam margens de alguma forma ligavam as pessoas o meu avô Barqueiro ligava margens o o o bisavô ligava às pessoas a Alfaiate através da aprendizagem das letras a minha avó através de contar contar estas histórias e até ela própria assim um um pouco também já com alguma capacidade de ver coisas e Ah e de e e sabiam muito mais do que nós sobre sobre sobre mesinhas sobre os quebrantos sobre como curar através das das plantas aromáticas da medicina tradicional Portuguesa que fomos perdendo mas que ainda há pessoas que sabem estas coisas e portanto exato no meu trabalho é agora também um bocadinho recuperar isto porque eu eu tentei um bocado fugir desta Aldeia para ser bailarina o meu foco era exato volt F as com a tua Aldeia tu não tens uma vida Filipe tu tu és um romance da dab alando ao vivo e a cores é muito engraçado e o máximo e actil dos teus pais que vendiam casas tu contas disso uma vez e que tu a tua infância passa fazes tão bonitas e por exemplo e h a tua professora primária que tu odiava é muito engraçado odiava a professora primária mas imitava tudo o que ela fazia para tar nas graças dela a fotografia de turma é a Filipa de branco ao lado a professora de branco de bata e muito contente mas que não gostava nada daquela professora isso está depois eu recolhi todos esses diários de quando eu tinha 11 anos Inclusive essa fotografia escrevias di escrevia diários isto faz parte deste projeto com com a tua amiga basta exato com com é isso com a idia Isabela e na verdade essa essa fotografia está está no livro como a ideia de simulacro não é esta ideia que tu tentas simular o outro para te passares despercebido e neste caso para sofrer menos porque esta professora ainda era antiga daquelas que dá reguadas exatamente como é que te nasceu a Filipa o fascínio da dança tu sei que tu queras ser Bina desde pequenina e tal mas esta coisa da da até tinhas estado em ginástica rítmica não tinhas grande jeito mas gostavas isto é extraordinário a tua vida é ótima é toda ela é um conto é uma dança é lindo mas como é que disseste eu quero ser isto quando pisaste um Palco quando tiveste aulas quando te inscreveste sem querer numa na como que nasceu este fasc foi foi foi foi isso tudo portanto eu lembro-me que andava mais ou menos com 10 anos na na dança rítmica lá está não tinha jeito deixava cair as bolas era um bocadinho Tati já que Tati meou Sim tudo me acontecia eh e depois num ano eu não tive não conseguia inscrever-me e só via aulas de balé portanto só só tinha vagas para balé clássico sim em Almada portanto eu já vivia em Almada eh e a primeira vez que entrei numa aula com esta professora que ainda está em Almada já tem uma companhia companhia dança de Almada eh a primeira vez que entrei na aula dela que é Maria Franco Foi assim amor à primeira vista aquela aquela aula que gostas muito mas tens imensas dificuldades em fazer mas isso ainda te faz mais querer eu agora eu vou transformar aqui o meu corpo para conseguir fazer isso portanto é Entre o Amor e ao mesmo tempo sempre a luta não é sempre e pedir ajuda para fazer espar ragat as as pessoas tua famí empurrem exato sempre eu chegava à casa queria continuar a treinar e portanto pedia à família toda ajudem-me agora eu tenho fazer para regata Puxa um braço puxa uma perna tu és ótima mas mas no entanto era uma carreira isto ser neste caso Bailarina e depois crió grafa era uma carreira que não era muito bem Vista a tua família lutou um bocadinho contigo nesse aspeto não não queriam que tu fosses porque que é que não vais para advogada ou professora exatamente não era devia ser uma luta um bocadinho tiveste que lutar aí um bocadinho contra até eles um dia a perceberem que de facto era a tua vocação era o que coisa que tu mais amavas e onde tens revelado tanto o que é que tem a magia da dança Filipe O que é que entre todas as artes o que é que a dança é única e que só a dança é que permite eu acho que a dança tem uma liberdade qu temm uma liberdade imensa primeiro porque utilizas o teu corpo para te expressar e depois utilizas a improvisação que para para mim é a forma mais livre eh de de te expressares através do movimento porque na improvisação tu podes colocar tudo eu eu estou aqui neste momento neste estúdio e posso de repente observar o a palavra observador e já começar com o corpo a com movimentos a a a colocar O Observador dentro do meu corpo e depois vou às luzes e depois vou aos sons e e com tudo isso eu faço aqui uma coreografia portanto eu com a a improvisação eu consigo ir buscar o mundo interior e o mundo exterior os sons a voz tudo isso por isso é que eu acho que a dança é realmente das Artes que contém uma uma enorme liberdade mas isso sou eu se calhar uma pessoa de teatro vai dizer aqui só tu que interessa aqui só a tua opinião que interessa é muito bom tem estudos académicos que tem uma formação académica longa e boa eh eh passaste pelo ISPA a tirar psicologia uns anitos de Psicologia Foi sim sim sim para perceber querias perceber um bocadinho a a pessoa como é que pensamos como é que reagimos foi por essa curiosidade sim porque quando trabalhamos em coreografia e também muito em também em trabalhos participativos em que estás a trabalhar com profissionais não profissionais pessoas de toda idade eh Há uma grande observação há uma tentativa de compreensão dos contextos físicos psicológicos e portanto eu eu achei que poderia através da Psicologia eh ter um uma aprendizagem mais profunda e ainda uma maior observação mas eu não consegui fazer as duas coisas ao mesmo tempo conciliar porque já estava com com Nessa altura a dançar com o Francisco Camacho uhum com muitas coreografias muitas residências fora de Lisboa e portanto ir às aulas do ISPA e principalmente fazer trabalhos de grupo que era o que eu não conseguia fazer não tinhas horas para reunir com todos exatamente era complicado depois de 2 anos eu tive de desistir a tua carreira extraordinária que passaste pelo Ramo do espetáculo on onde tiveste a escola superiora de dança Claro dança clássica que fizeste a dança moderna dança contemporânea tiveste com hga roris com o Rui horta o João fiadeiro dos melhores que há E H passaste por eu tinha 17 anos ainda uma das primeiras peças que fizeste com o grupo de teatro olho é engraçado porque o grupo teatro olho eu acho que marcou imenso porque era uma coisa um bocadinho fora daar da dança clássica porque era mais uma coisa género só me lembro do dos catalães do fur del Baus não é portanto é uma coisa muito física muito como tu dizes posso estar a espirrar sangue pela boca e arder roupa arder e isso atraiu porque é uma coisa podes dar expressar a tua o teu interior se quisesses que não fosse uma coisa muito clássica é muito bonito e tens que saber a técnica Ainda bem que aprendeste dança clássica mas o teu ser pedia mais coisas mais maneiras de exprimir sair desse desses desses canones certo sim na altura uma contradição entre a técnica da dança clássica e depois uma coisa como o olho eh pronto para para as pessoas perceberem um bocadinho à F del al Baus com uma interação muito grande com o público Muita fisicalidade muitos materiais alguns deles que pareciam sangue mas nós não tínhamos dinheiro e comprávamos ketchup até hoje o cheiro do Ketchup faz Muita confusão porque nas peças em vez de sangue do sangue compr Car para as pessoas e coisas diss e nós nós sem copiar Porque estávamos nessa linha mas sem copiar tínhamos esse tipo de espetáculos e portanto parecia uma contradição entre a bailarina clássica e depois a performer e mas ao mesmo tempo depois ao longo da vida as duas coisas faz sentido porque tu precisas da técnica e como diz a Pinus a seguir esquecer a técnica Mas ela está lá ex mas tem que exato tem que ser a base não é é muito importante isso tem que base eh e e depois outra coisa estud dinário Tu fizeste entre foste b série de várias da flade da Glen de de várias coisas mas três vezes em Nova York é muito engraçado porque conseguiste três vezes isto é uma coisa extraordinária e então foi uma bailarina na no least trb theater institute na na trisha Brown dance Company onde tiveste também no Main H moraste uma série de de de tempo em Nova York quando tinhas estas aulas estranhas disco yoga Isto É extraordinário o que é isto sim são várias várias fases da vida mas a formação muito à volta e muito em Nova iork porque Nova York est cidade que tem uma palete enorme de de formação de de espetáculos de bibliotecas que podes aceder facilmente e portanto o list rasg porque me dava ao lado do teatro Apesar que também e também tinha por exemplo música musical theater e tinha aulas para cinema h e e depois a trish Brown é o outro lado o meu outro lado que é a dança mais técnica e depois quando eu voltei passado uns anos eu quis fazer um estudo de dramaturgia neste caso com André Le pque E ao mesmo tempo queria fazer uma peça e portanto Ele olhou começou a olhar para os meus cadernos e percebeu que eu tinha imensas listas nos meus cadernos e começou a dizer então mas a peça se calhar tá aqui e eu comecei a fazer listas de coisas que já tinha fazer listas e e coisas que vi em Nova York e um uma das coisas que vi em Nova York é esta era esta oferta de aulas que parecem um pouco estranhas disco yoga de yoga portanto eu disse que o yoga Era exatamente uma aula de yoga mas com uma bola de espelhos e e o de yoga era no no final da aula podias ir beber um copo com alguém por exemplo e isto tudo eu encarava isto como uma observação da sociedade novaiorquina para depois perceber como é que eu punha isto na peça eh portanto há sempre isto lado viver mas observar para perceber como depois observadora tués a palavra certa estas no sítio certo tu moravas numa numa residência de freiras para para mulheres com com poucos recursos onde conheceste muitas muitas mulheres tu ouvias as histórias e e delas isso também te fazz lembrar as tuas avós também contavam histórias tu és uma mulher que conta histórias através do movimento da dança de projetos que faz às vezes não entras diretamente se calhar mas mas diriges eh és uma mulher de histórias e em Nova York captasse histórias de imensas mulheres diferentes de todo o mundo que ali passa o mundo todo né impressionante as histórias são mesmo importantes são mesmo importantes só depois é que eu percebi que era esta a ligação com com a minha Aldeia com os meus avós mas já passado muitos anos porque isto parece Evidente mas nem sempre é evidente estas ligações e também tu as Vais fazendo vais compondo a tua própria história mas realmente em Nova iork eu fui viver para essa residência onde existia muitas mulheres era só de mulheres e portanto eu comecei a ouvir as histórias delas de do país de onde vinham porque é que estavam ali em Nova Iorque a questão do Sucesso encontrar um sítio melhor para viver porque é que se migra h e e tudo isso foi recolhido não tanto em vídeo porque eu nessa altura não tinha sequer material nem sequer fui apontando porque eu não sabia para aqui porque não porque eu não sabia Para que por que para que que aquilo servia mas essa experiência foi ficando essa experiência que me abriu e os olhos e os ouvidos e o corpo para para escutar histórias então muitas vezes essas histórias são ditas no espetáculo mas às vezes são dançadas às vezes são só camadas que estão lá mas sim mas a partir daí e sem registro e sem fazer nada com elas isso foi ficando foi foi a metodologia que ficou muito engraçado o teu mundo de facto é um mundo em reboliço que que que foi esta esta ideia isto já fez vocês estão de parabéns estão a fazer 13 anos agora este ano o mundo em revolu eu adoro este nome isto é uma estrutura financiada pela direção Geral das Artes e E inclui todas estas valências da investigação experimentação criação e também circulação não é porque tu tu tu trabalhas na área da dança com e cruzamentos da dança com outras artes com diferentes comunidades H muito em criação e co-criação e depois levas estes espetáculos a Portugal e ao estrangeiro é muito engraçado porque tu tens espetáculos que estão em circulação há 10 anos há 11 há 12 há 13 isso é muito bonito porque as pessoas e mesmo no mais profundo da das águas de todas as Aldeias de Portugal gostas de levar as danças não é sim e e e num país e numa numa numa arte que é tão que é tão rápida e que não efémera eh consegui ter espetáculos que que que duram e que são feitas com várias várias pessoas vários grupos é uma aprendizagem enorme e e eu trouxe por acaso trouxe aqui o livro da viagem e esta viagem que é com grupos folclóricos Já tem 13 anos e portanto trabalhamos com 30 grupos em Portugal e no estrangeiro meu Deus portanto temos aqui camadas de memórias que vão ficando de Espetáculo para espetáculo porque é uma partitura em aberto em com cada grupo trabalhamos com esse grupo portanto nunca é exatamente o mesmo espetáculo vai evoluindo como fosse um ser vivo exatamente e portanto há esta riqueza não só circulamos com uma peça 13 anos mas nenhum espetáculo é igual ao anterior e portanto há sempre esta e por isso é que estas camadas estão todas lá a de investigação porque chegamos e investigamos as histórias os quebrantos a música tradicional as danças tradicionais depois com o grupo folclórico ensinamos a improvisar e eles ensinam-nos a dançar fazemos esta troca de conhecimento e no final a peça é uma desconstrução destes conhecimentos tanto da dança contemporânea como da dança tradicional com todas as idades dos se aos 80 anos portanto tivemos pessoas com 80 anos que nos diziam foi a primeira vez que eu tirei este som do meu violino eu improvisei pela primeira vez eu posso dizer isto aos meus netos bonito isto quando quando dizes quebrantos é o quê eh são são são formas de dança não não não são são coisas para tirar um mau olhado por exemplo Ah uma espécie de contra feitiços de exato exato que ainda as p para mim quebrantos sç tá-me dar o quebr se Car a origem tem um bocadinho a ver com isso não sei talvez por acaso não investiguei a origem origem exato exatamente muito bonito mas de facto Este é muito importante este espetáculo anda bem que falaste Isa viagem já teve cá no Brasil no país de galos Teve teve uma série de sítios onde e teve há muito pouco tempo no teatro fiado Se não me engano a última vez que apresentar de 25 e 26 de outubro 26 até foi lançado o este livro e um duplo vinil um trabalho extraordinário não faz a coisa pelo menos tu acho muito bem eh eh e que vi com com com o espetáculo que que viajaste com com com muitas companhias e ranchos de de vários países é muito engraçado porque é um espetáculo baseado nesta relação entre a dança contemporânea e dança tradicional porque tu dizes Porque é que o folclore há de ser não há de ser inspirado por drones e quebrantos e e e e Fandangos e e galinhas e e Cunningham porque é que porque é que há de ser uma coisa antiga porque é que a modernidade não pode tocar o folclore e tu faz estas misturas e Consegues dar um novo significado e uma nova roupa e as pessoas nas aldeias gostam disso participam imenso sim eh o início é assustador pois el devem-se espantar e porque há sempre esta questão nós dançamos estas danças há muito tempo e se calhar vem vem aqui estragar as danças e mas depois pouco a pouco com esta com estes ensaios com esta troca as pessoas também também também conseguem perceber não estamos só para mandar não estamos para mandar não somos os mandador nem nem sequer só para mostrar uma coisa que é vossa vocês mesmo para fazer exatamente uma colaboração e que estamos e que e e que aprendemos as danças tradicionais e que não ensinamos especificamente uma dança mas ensinamos a improvisar e desta destes dia destes dia dia a dia não é passado juntos mas também com com muitas com muita comida muita interação não é só nos ensaios que também faz parte exato este medo acaba por por conquista-los SEDU vais seduzi-los Sim por por ir embora e portanto e no final as pessoas dizem estamos muito cansados Mas queremos mais e às vezes já voltamos mais do que uma vez a um a um grupo folclórico até organizado pelo próprio grupo folclórico que vos sabar convocaram out ve convocaram para irmos aos festivais ao Festival de folclore desse desse grupo e portanto há aqui uma verdadeira troca e transformação porque nem a dança contemporânea nem a dança tradicional pretendem acho eu ficar cristalizadas pelo contrário agora que que dá medo e até a nós ao grupo que vai também não é será que vamos conseguir às vezes nós falamos no Milagre da viagem porque muitas vezes chegamos e há uma situação de de dificuldade ou porque o espaço é muito difícil de trabalhar ou porque Há muitas pessoas que não querem fazer e temos de conquistar ou porque vencer as resistências mas há sempre este outro lado de repente com a conquista-se e nós cli quando se dá o clique É extraordinário é é este dia da estreia é mesmo extraordinário sempre é também a viagem que tem a ver com o ramalah onde tu tiveste na Palestina foi também com a viagem ou com porque tu tiveste no fundo Este trabalho com com e também estas partilhas exchanges uma coisa que fizeste com com esta grupo com esta com esta companhia de dança elum e eh que são com com palestinos e onde tu viajaste pronto onde tu tiveste e que foi uma experiência também marcante para a tua vida sim na na verdade eh em ramala foi o início deste desejo de querer fazer a viagem ou seja foi foi uma viagem Que que fe inou a viagem depois inaugurou a viagem porque com o elun que ainda existe felizmente que é companhia de dança tradicional contemporânea de de ramala fui trabalhar com eles num workshop ti a sorte de poder viajar com eles também de check em check com muita dificuldade onde estavam os soldados comas exatamente com soldades a questionar mas há dança na Palestina mas a Palestina não existe ah ou com momentos de medo mas ao mesmo tempo de riso como um soldado muito jovem que diz todos os carecas no chão porque talvez pensaria que os terroristas eram carecas não sei foi M certeza não era para assá-los para goar com elos talz talvez Mas de repente toda a gente começou a rir percebeste esta colonização brutal que tem destruído muitos sonhos como tu diz muitos muitos sonhos e e foi aí que eu percebi que a dança tradicional tinha uma força tem uma força para aqueles jovens é a sua boia de salvação é a sua resistência é a sua identidade como tu dizes foi a pior e a melhor viagem que eu fiz Exatamente porque deve ser duro também assistir a isto e ver uma coisa que h a liberdade como tu és muito lutador pela Liberdade eu gosto M isso até do corpo não é e tu faz um sítio onde eles não podem para chegar a um teatro tem que passar check points e tem que ser investigados e apalpadas e e não deve ser fácil gera sempre violência e um estado permanente de vigilância desde desde que nasc eh não dá bom resultado como se está a ver construir muros não é a solução Solução eh portanto todas todas estas questões são muito difíceis cons soluções muito muito complicad a situação que eles vivem agora neste momento com a guerra da pal muit Sim este livro é dedicado ao povo palestino e eu contactei o alaun e vou-lhes enviar agora o livro e a situação eh na faixa de gis é muito muito complicada em ramala é menos mas é muito complicada Cada vez mais não colação persiste e mantém-se há décadas não é não não deve ser fácil interessant saiu este livro saiu o disco duplo eh H tudo isto tem a ver com este mundo em reboliço também não é e com a companhia caótica com a editora boca eh eh é é é muito engraçado porque porque vai reunindo este este este o disco também que tu lançaste foi gravado ao longo de 10 anos eh H cá e e no País de Gales e no Brasil deve ter também contribuições muito muito muito curiosas eh mas de facto esta esta viagem que aconteceu agora mesmo que voltou e ao Viriato onde já tinha estado há uma década se não me engan tinha estado lá também hh onde passou por exemplo em 2012 na capital da Cultura em Guimarães por exemplo passou em em diversos sítios eh vai estar e deportar Isto é um doss espetáculos que vai ter mais apresentações ou não o que é que tu nos podes dizer sobre Os espetáculos teus que vão agora em breve nos próximos meses digamos assim para ar para as pessoas poderem assisir porque vale muito a pena Claro eh a a viagem esteve agora em Viseu e e realmente o grupo que fez o de torredeita foi o mesmo que tinha feito H há 11 anos portanto havia pessoas de 16 anos que agora tem 30 e tal que voltaram a fazer a testa portanto Foi mesmo muito emocionante e o próprio público sentiu isso e eu vi que havia muitas pessoas na pl a chorar portanto Foi mesmo muito emocionante e esta viagem vai continuar nós temos alguns contactos eh para para o próximo ano Mas eu ainda não posso falar deles porque ainda estão a tentar ainda estão em negociações ainda estão em negociações mas entretanto este mês vamos para a Marinha Grande vamos começar uma investigação sobre o mar sobre as fábricas também sobre o vidro sobre os trabalhadores sobre a luta dos trabalhadores ainda vais começar isso ou já está ainda vou ainda vou começar para depois estrear no próximo ano em maio na Marinha Grande portanto vai ser a próxima grande criação vai ser esta Tu fazes sempre assim é o teu modos operando e assim vais para o sítio investigas falas com as pessoas investigas a história do local a história dessas fábricas neste caso e depois constróis um espetáculo com a comunidade local como é que é porque é uma das coisas boas que tem os teus os teus projetos é isso Filipa que tu chamas as pessoas e e e tratas lidas com elas e elas há o input da das Comunidades residentes isso é muito bonito e é assim que funcionas normalmente com Os espetáculos que vais fazendo daqu e o quá Sim essa essa é geralmente a metodologia ir para um sítio investigar eh conhecer as associações locais profissionais não profissionais perceber como é que podemos colaborar e depois pensar na peça que é o produto final que pode ou não ter essa participação As pessoas podem só participar por exemplo na investigação e depois não não fazer o espetáculo mas a maior parte das vezes é tão é tão bom eh é tão V trabalhar com com pessoas que que que são tão talentosas não sendo profissionais da dança mas têm outros talentos talentos porque tocam porque cantam ou porque dançam ou porque sabem muitas histórias ou porque e fazem algum tipo de artesanato e que a maior parte das vezes acabam por estar dentro do espetáculo e pensando que às vezes são figurantes eu digo sempre a mesma frase Nós não somos figurantes da nossa vida portanto num espetáculo não somos figurantes somos todos atores principais vou dar um salto agora para outras coisas que tu fazes a falarmos da apneia que é um bom escape que tu tens de vez em quando e entre os quais por exemplo já já naste com tubarões e tu baleia na Tailândia foi isto faz parte das tuas viagens quando vais com a tua filho para visitar o teu marido que está normalmente a trabalhar com o Cicco do solei e tanto pode estar na Indonésia Como pode estar na na em Singapura Como pode estar no sítio qualquer e lá vão vocês e então aí é que passaste para Tailândia mergulhar com Com estes bichos estranhos sim mas estás habituado a trabalhar nas artes em Portugal para ti não é não é difícil trab com bichos com bichos complicados complicados exatamente ao lado eu eu gosto imenso de ler sobre atletas de alta competição sobre maratonas e portanto sobre de passar os limites do corpo e depois de alguma forma eh eu t eu faço isso no meu trabalho mas depois os hobbies também tem um bocadinho a ver com isso esta apneia também tem Dá Uma tranquilidade mas tem também tem a ver com isso e realmente viajo muito viajo em trabalho mas pois o meu marido também tá fora tá com cro de solei e quando temos a oportunidade vamos pego na minha filho vamos visitar quando ele vem a Portugal depois vamos nós isso tem nos dado oportunidade de visitar muitos sítios e com uma criança que neste momento tem 11 anos portanto é o outro lado de ver as cidades pelo olhar de uma criança as as as coisas de mergulho ainda foi antes de ter a filha mas brevemente Possivelmente ela vai começar a mergulhar eu ia perguntar isto tu tinhas 11 anos quando foste para o balê que é que ela tens a idade dela era a idade dela agora que ela fala em quê no no já fala alguma coisa gostava de fazer ou não fala de muitas coisas fala fala de de poder cantar dançar mas falta também dos animais tem tem uma voz incrível incr fala de animais que quer ser tratadora de animais somos voluntárias num canil portanto portanto há esse cont goas muito era de botânica esta parte botânica da tua vida existe plantas carnívoras e e jardins botânicos e esse g de coisas faz parte de ti também fez parte de um espetáculo em site específico eu gosto de tudo que seja a explorar para um sítio específico e nesse caso foi num num Jardim Botânico Mas na minha Aldeia agora com este regresso este reencontro com a aldeia eu tenho tido agora nos últimos dois anos a oportunidade por exemplo de apanhar as azeitonas e de fazer azeite faz azeite mesmo para consumo consumo portanto lá está a botânica agora ligada a este voltar para a aldeia esta tentativa de de de construir aí uma ligação com com a minha vida mas com o trabalho também Talvez um estúdio de dança mas são só sonhos sonhos não é porque eh não são concretizáveis assim de um momento para o outro mas é bom senhar s e falaste dos livros que que que lês e que t a ver um bocadinho com o teu trabalho e já agora também deixa aqui a dica que tu és um grande fã dos livros do lentinho do a o Tolentino de Mendonça de facto é um poeta e escritor e e Cardal e tu e tu gostas muito daquela cena em que ele conta do que o que é amar um país muito bonito este exemplo que tu que tu dás da da perguntaram à Margaret meid H que é que ela havia nos primatas E qual seria esta antropóloga H Qual é um estudante perguntou-lhe Qual é o primeiro sinal de civilização eh à espera que ela dissesse uma ferramenta um um machado uma p uma um Ramo e ela disse que não um fémur partido que foi curado eh quer dizer que alguém que foi acompanhado é muito Bonito essa essa ideia do nós nós nós é que criamos é uma ideia que eu sepr passa na tua cabeça exatamente passa o primeiro sinal de civilização o sinal de comunidade quando esta pessoa não foi de colaboração não foi deixada sozinha e portanto há este fém quebrado que é que é curado pela comunidade e portanto se passa do eu para a nós e eu vejo muito isso na vida e na arte este nós criar é um nós e e por isso é que eu gosto tanto de trabalhar exatamenteo dientes em diferes Entre entre vários projetos teus nós estamos quase a terminar mas não posso deixar de de falar nisto e esta questão que tu tiveste com com com o re re existir este projeto que tu tiveste durante 7 anos com com os reclusos e reclusas da estação estabelecimento prisional de Castel branco que foi uma coisa eh extraordinária para para também empoderá-las para foi S anos é bastante tempo mas esta coisa em que tu depois reparaste fizeste estas oficinas ou este trabalhos com eles que depois eh reparaste nos sintomas no que isto provocava As pessoas já ficavam amigas recebiam vos a cantar eh cenas dos vossos teatros isto deve ser super comovente e gratificante de ver sim foram 7 anos eu posso dizer que quase que é o estabelecimento prisional de Castelo Branco foi a minha verdadeira escola sobre o que é colaborar Bito porque eu não não podia chegar com uma ideia e depois ok É isto não esta falada a importância dela neste momento neste estabelecimento para Estas pessoas e o que é que vamos fazer com isto e Demoramos muito tempo até sair da prisão para fazer espetáculos porque eu eu queria queríamos eu queria e queríamos a equipa um respeito portanto a primeira vez que saímos já foi sem ser dentro de uma carrinha celular já foram em carros eh sem sem sem algemas eh já não havia armas eh os próprios os próprios guardas já cantavam as canções já haviam um respeito muto Ah porque saias com eles saíam contigo para apresentar o espetáculo na aldeia ou não Sim foi em eh o um deles foi no teatro Camões aqui em Lisboa vieram de Castelo Branco e na estreia uma das recol reclusas saiu do Palco para a família em liberdade era esse o dia o seu dia em que saía da prisão foi mais um momento muito muito emotivo muito meu Deus e eh e o outro momento que tu contas o o dos frutos destas destas E deste dar tempo ao tempo que vocês precisaram para conquistar os reclusos os guardas os os profissionais e e as a direção do estabelecimento um dos momentos foi muito bonitos foi também quando quando quando nós cantavam as canções e eh Sem Vergonha Sem Medo os próprios presos e presas e o momento em que dois reclusos que normalmente estavam sempre à luta organizaram-se para um ler ao outro cenas do Mercador de Veneza que tinha a ver com o vosso trabalho não tenado porque eu não sabia ler e então o outro ajudava e consegui fazer isso e assim mesma no mesmo sítio na mesma cela não estavam bem e depois durante os ensaios havia essa questão Um não sabia ler o outro sabia ler escolhemos tínhamos vários livros escolheu-se Este texto e depois ouvíamos e quando entrávamos esta leitura de um para o outro e e e e pronto esta relação que nasceu ali de de uma nova amizade e que e pronto e para além da peça o mais importante depois a peça na verdade é uma desculpa claro claro para estarmos juntos a a fazer uma coisa juntos Realmente nós nós já ficar sem tempo mas há coisas tão bonitas para para falar sobre o que tu tens feito e este tuntun por exemplo com com migrantes e descendentes da da margem sul este este com com o Bruno cchá o Ricardo Freitas este aqui este no que apresentase no festival de todos no festival de todos há 4 anos com com jovens do Nepal e do Portugal eh H tantos tantos trabalhos Muito bonito este no creb na bo ona que fizeste este quer ir na tua onda com as wonderful wonderful cova M da cova da amoura uma produção de Alcântara e com os jovens da cova da amoura que Tu fizeste e eh São trabalhos que que marcam as pessoas Às vezes as pessoas que têm menos Liberdade têm são mais perseguidas associamos a estereótipos de violência ou de crime e que tu pela Liberdade por por estas por estas eh criações Consegues dar um novo sentido à Vida destas pessoas e não faz mal nenhum a nós todos cá fora também assistirmos e vermos e partilharmos disso tu faz essa ligação muito muito bem conseguida sim porque a há há esta imagem por exemplo nos bairros os bairros eh São só gansters ou os palestinos são só terroristas ou há há há toda estes preconceitos essas generalizações que não ajudam a arte ajuda a ver vários mundos muitos mundos eh este medo do outro ajuda a a a retirar a retirar esse medo ultrapassar esse medo e isso também vem muito não é desta mestra que é ala Rodrigos que que eu Visitei na Méia na favela do da Méia onde ela tem a sua própria companhia portanto ela abre a companhia aqueles jovens da Maré que podem encontrar uma profissão serem bailarinos e fazer uma companhia que circula por toda a Europa e por outro e por outros países portanto is é um bom exemplo de de uma forma como a arte é é política de certa forma e que pode em ponto interrupção pode transformar o mundo pode transformar exatamente pouco a pouco Pouco a Pouco ser ir transformando estes mundos e a arte é ativista não é ainda podia perguntar se tivesse de fazer da tua vida um espetáculo uma biografia teatral O que Farias Se Tu conheces esta frase mas eu acho que a gente vai deixar isso para o fim vai deixar isso para depois ver mais espetáculos teus tante ainda a mostrarnos explicar-nos Filipa Francisco quero agradecer muito a tua desidade em ver aqui à rádio observador foi um grande prazer conhecer-te desejo a maior das forças e das inspirações porque tu és uma pessoa que de facto Pouco a Pouco estás a empoderar as pessoas que mais precisam e estás a mudar no mundo muito obrigado pelo teu trabalho muita inspiração bem obrigada [Música] obrigada m