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por norma à distância hoje de forma presencial está aqui connosco o escritor e argumentista Alexandre Borges que assina uma crónica com o título O Último caçador de gelo bem-vindo Alexandro obrigado por estar aqui connosco quem é o último caçador de gelo falar Não não estava combinado mas mas só depois de do convite para estar aqui hoje é que pensei olha Afinal esta que até tem qualquer coisa a ver com com o tema eh embora em contracorrente h o Baltasar usca era e o o faleceu há há poucas semanas mas a notícia durou um bocadinho a chegar mas mas mas chegou era eh o eu chamo-lhe caçador de gelo de facto os espanhóis os espos dizem yero não é seria geleiro Não há bem uma uma tradução para isto mas era alguém que ia eh que subia ao tchim Borat ou a montanha mais alta dos Anes duas vezes por semana para ir buscar gelo num tempo em que não havia frigoríficos nem arcas congeladoras nãoé e vendê-lo nos mercados depois da e das cidades vizinhas continua a fazer isto até ao último dia da sua vida até aos seus 80 anos a ir buscar quando já mais ninguém ia a ir de picareta subir a 5000 m de altitude buscar blocos de 20 kg de Gelo e carregar as suas mulas com eles e e lá está e trazê-los cá para baixo para a venda para a pração dos alimentos para para tudo aquilo que e esse o objeto de reflexão do Alexandre o mundo Poli avança e a vida de Baltazar inevitavelmente foi afetada por essa evolução e no caso em apresso pelo aparecimento e disseminação dos frigoríficos nada que tivesse impedido Baltazar de continuar a seguir a sua rotina dia após dia exatamente ou seja o primeiro impacto da história acho eu para já a um lado parece o mito decisivo nesta nesta história não é da figura que representa no mito representa toda a humanidade não é e um bocadinho esta e em que o AB cus pegava que é esta nossa luta contra o absurdo um bocadinho do que andamos aqui a fazer e a procuro de um sentido que era aquele homem não é que todos os dias subia à montanha tentava levar uma pedra lá para cima depois ela caía e ele voltava cá baixo e no dia seguinte voltava a picar na pedra e voltava a subir e assim sucessivamente Este é um bocadinho o a trajetória da nossa vida observada por um existencialista é bom exercício não é ao menos isso hoje em dia Podes ver a coisa desse ângulo não é H tá aqui um bom workout Mas e no caso do Baltazar USC há algo muito similar a isto mas quase mais requintado ainda porque Alinda por cima vai buscar um bem que é completamente perecível que é a coisa mais passageira talvez que existe mais transitório que é o gelo não é num ponto que de resto é o ponto mais próximo do sol na terra já agora isto descobri a partir desta história não só não é o Everest é o chimborazo porque como a Terra é achatada nos polos portanto a esfera não é toda Idêntica o diâmetro da terra é maior no Equador que é onde fica esta montanha já agora não é portanto medida desde o centro da Terra esta é na verdade a maior montanha do mundo e até ao século XIX se pensava que era mesmo medida desde a superfície do mar a maior nãoé Portanto tem este lado de me decisiv se confunde um bocadinho com toda a humanidade depois parece um pouco quem é que se dic esta tarefa tão dura tão árdua fazer isto para trazer gelo que é uma coisa que a gente abre um uma porta em casa e tem lá agora agora agora o que é que movia Baltazar Eu acho que o que move Baltazar é aquilo que no fim nos deve mover um bocadinho a todos nós de facto fazemos as coisas por amor ou vocação e a e eu e quando as fazemos assim fazemo bem e contamos a nossa própria história independentemente daquilo que o mundo e procura naquele momento e porque no fim e e o que o que quando fui explorando mais a história fui sentindo é fui passando da sensação de exotismo daquela figura para esta sensação con que terina um bocadinho a crónica que é de pensar eh quando é que vai ser a nossa vez de sermos os últimos caçadores de gelo quando é que as nossas profissões parecerão de repente estranhas e obsoletas eu na na escrita por exemplo não sentes isso exato mas mas é isso sim não nos últimos meses já comecei a deparar muito com esta coisa de me dizerem Ah mas ah não eu agora na minha pracial para escrever isso exatamente Não não é incrível estou aqui a dizer estas coisas sem Inteligência Artificial incrível não mas mas Vais ter não é Já estás a ter essa luta vais tê-la cada vez mais agora eh parece-me que fará sempre toda a diferença a paixão Evocação e talento com que tu fazes as coisas e eh nem o gelo do Baltazar usca ou o gelo do chim Borato era igual ao gelo artificial não é h e não devemos deixar que o nosso sentido de vida seja afetado pela percepção das pessoas que nos rodeiam neste caso em concreto pela avaliação do custo-benefício daquela missão ininterrupta de Baltazar Exatamente exatamente não é é o a resposta nunca virá de fora num sentido muito filosófico eu acho que cada um de nós faz o trajeto que tem de fazer que é impelido por si próprio e isso isso tem um reflexo direto naturalmente no nosso no nosso bem-estar e pode ter um reflexo muito concreto no tipo de e produto que somos capazes de colocar cá fora isto faz faz só Recordar um pouco a história dos I merchants aquela aquela fez fez lembrar sim sim aquela curta metragem Lindíssima Portuguesa que foi que foi nomeado a Oscar e foi aquela vez em que pudemos quase Celebrar não era aquela coisa Ah há um há um assistente do diretor de fotografia que ainda vem a ser primo de um Imigrante português não é não somos todos deuma forma exatamente dessa vez o ano passado o Ice merchants era mesmo um filme de autores portugueses não é que estava que estava candidato ao Óscar e que de facto que era lindíssimo não é tinha um bocadinho esta história de um de um de Uma Família no caso um pai e um filho que depois percebemos não não fazendo o spoiler mas mas que envolve mais um familiar não é e também uma transição de família que iam que iam buscar gelo e vendê-lo Mas eles eles iam depois de paraquedas né eles depois tinha esse lado muito bonito aqui o Baltazar não subia e descia todos todas as semanas duas vezes 5.000 m de altitude já agora associado também não só uma transformação tecnológica mas à própria transformação do mundo e das alterações climáticas e e que neste caso obrigava sempre ao longo destes 60 anos a subir um bocadinho mais em busca do Gelo não é porque ele porque ele ia desaparecendo Alexandre temos eh um minuto jul que temo suficiente para responderes a esta última pergunta fruto esta tua reflexão Afinal o que é que andamos todos aqui a fazer sentido da vida num minuto assim olha num minuto vamos lá vamos lá resolver isto é eu acho que o sentido da vida é é é procurá-lo não é acho que nós e passamos a vida à procura dele e nisso e nisso se se faz o caminho mas nesta altura de enormes e transformações eh e este tipo de his verdadeiramente eu sinto muito encontrado nelas não é eu sou a pior pessoa do mundo para falar de inovação quando quiserem falar de coisas antigas e de coisas que supostamente eternas eu tenho todo o gosto mas eu acho de facto que no no meio de todas as transformações e e e quem tenta vgar à superfície das das das modas inevitavelmente perde-se e e portanto quando nós fazemos quando encontramos de facto A Nossa vocação e o nosso caminho esse chamamento interior é aquilo que responde por tudo e essa a reflexão que o escritor e argumentista Alexandre Borges partilha com os leitores do Observador nesta crónica intitulada O Último caçador de gelo Baltazar Alexandre muito obrigado por o colonista do dia