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bem-vindo ao clube dos 52 ao longo deste ano estamos a ouvir semanalmente uma personalidade das mais diversas áreas para falar da próxima década no país os obstáculos mas também e sobretudo os desafios e as oportunidades é uma das formas de assinalar os 10 anos do Observador e os cinco da Rádio observador esta semana convidamos para o clube dos 52 a maestrina Joana Carneiro que neste momento é também conselheira de estado eh muito bem-vinda muito bem-vinda ao clube dos 52 Joana carneira a Joana eh escreve no artigo que tem alguns sonhos para esta década mas eh pede sobretudo tempo o um tempo um futuro com tempo Isto é porque andamos muito acelerados é isso Olá Carla e Olá a todos que nos estão a ouvir muito obrigada por este convite e parabéns a observadores hh pelo seu trabalho e também por este aniversário hum os músicos pensam muito no tempo sim e respeitam o tempo e no fundo o ritmo é uma interrupção desse tempo não é eh pequenina ou grande a música interrompo O e esse tempo ou faz parte desse tempo de uma forma essencial E então eu penso muito no tempo Ah no tempo da música no tempo da minha vida Hum e sobretudo nesta última década tive a sorte de expandir a minha família eu acho que isso também fez ver as coisas de outra maneira como acontece a muitas famílias famílias a nascem crianças ou quando há um acontecimento relevante e fez-me ver o tempo e também já fui uma mãe tardia também me fez valorizar o tempo de outra forma Hum E eu costumo pensar que há muitas coisas que nós podemos ganhar na vida e perder na vida e materiais certamente podemos ganhar e perder na vida mas há uma coisa que nunca poderemos ganhar mais que é o tempo sim E então quando eu penso no futuro nos próximos 10 anos nos próximos 20 anos tendo filhos tão pequenos penso nos meus filhos que serão jovens adultos e como eu gostaria eh que eles se fosse esse o desejo que fosse a vida deles claro que sejam pessoas que que contribuem com os seus talentos para para o seu país para para a humanidade para o mundo mas que também tivessem tempo para desfrutar da vida e de tudo o que a vida nos pode darum hã e eu acho que esta esta noção veio mais tarde na minha vida porque eu também no quando tinha 20 anos quando tinha 30 anos estava realmente muito muito direcionada para a minha carreira h e para o progresso e dessa parte da minha vida e agora embora gosto muito daquilo que faço e dedico muito do meu tempo a a esse lado da minha vida encar a vida de outra forma e também por ter tido filhos mais tarde porque valorizo ainda mais o tempo fora da minha profissão que passo com as pessoas de quem gosto e a fazer outras coisas para além da música digamos assim Claro claro e portanto aliás criamos as máquinas e a tecnologia para termos tempo para isso para o ócio para a arte para a música seguramente Isso não está a acontecer aliás é um desses sonhos da Joana que todas as famílias possem possam ter todos os filhos que querem ter sabemos eh em Portugal mas não só que há um desfasamento muito grande entre aquilo que se quer e aquilo aquilo que se deseja e aquilo que se consegue ter eh O que é que falta o que é que nos está a faltar para não conseguimos fazer isso concretizar esse sonho eu tive a oportunidade de falar com a com a presidente da da Associação Portuguesa das famílias eh numerosas há uns tempos porque enfim gostava de ter mais dados e gostava de saber um bocadinho mais hh sobre o que se estava a passar e eles publicam relatórios e estudos sobre sobre estes assuntos e de facto H um relatório de 2019 e que depois foi hã revisitada em 2023 fala desse sonho das famílias quererem ter filhos e quererem ter mais filhos das pessoas quererem ter filhos e quererem ter mais filhos Isso é uma realidade portanto é um facto que as pessoas querem ter filhos e o que está a faltar é é como tê-los não é como do ponto de vista económico como é que nós podemos tê-los então penso que esta incapacidade de de das pessoas cumprirem este sonho se o tiverem que é de ter f filhos estará relacionado com com os seus salários com o acesso à habitação com aquilo que nós sentimos todos os dias no cabase alimentar nos últimos anos e tudo isso tem um impacto muito grande nas pessoas e nas famílias que querem H aumentar o seu agregado familiar eh e também quando falávamos de tempo e o tempo da conciliação tal palavra que se usa a conciliação e esta reflexão até vem muito no enquadramento de que h eu viajo muito não é para fazer aquilo que faço e e Desde há muitos anos H entra em diálogo com os músicos dos países e que vou porque do ponto de vista estrutural nós fazemos a mesma coisa do ponto de vista essencialmente nós eu toco sempre da mesma forma mais ou menos são sempre as mesmas sinfonias é sempre a mesma forma de trabalhar em todo o mundo mas as pessoas vão mudando e a forma como elas se organizam socialmente e eu tantas vezes me tenho a encontrado em debates e em diálogos Com estes músicos para tentar perceber Como vivem e porque são mais felizes ou menos felizes e e como resolvem os mesmos problemas que todos sentimos e temos e e e gosta de apontar a Suécia aí como exemplo gosta a Suécia é um país onde eu trabalho muito e os Estados Unidos que são países que têm estruturas completamente diferentes mesmo a nível fiscal a nível social a nível político Mas onde eu encontro o o o uma certa tranquilidade do ponto de vista de as há uma previsibilidade digamos assim do que vai acontecer como como é a vida de de um músico eu vou falar dos músicos que é a realidade que eu conheço e na Suécia Eu trabalho muito lá e é o país onde eu sinto que os músicos eh têm uma vida tem uma se sentem organizados de uma maneira particularmente eh feliz digamos assim que sentem uma eh um se sentem felizes não só porque tem bons salários tem boas condições de trabalho tem estabilidade de trabalho existe muito trabalho na na na na vida cultural na vida musical e é uma população parecida com a nossa em número portanto é uma população é um são realidades fáceis de comparar mas todos eles com quem eu falei e claro estamos a falar de uma forma empírica mas que depois este esta este contacto acaba por ser hum corroborado por todos os relatórios e dados que nós vamos encontrando estudos mas realmente as as pessoas sentem que há ah hum um um real uma real prioridade na conciliação daquilo que é a atividade profissional com o tempo pessoal quer seja em família quer seja com amigos ou para pensar como eu próprio digo e digo nas minhas nas palavras que escrevi h e Neste País eu sent em particular isso ou seja ao a partir de uma certa hora do dia é raro ver pessoas a trabalhar nos escritórios porquê porque porque há realmente esta vocação que vai para além do trabalho e que é privilegiada nestas sociedades claro que isso implica uma organização Uma economia muito forte H todas essas questões que vão muito para além do do âmbito do meu conhecimento mas de facto o que as pessoas o que nós vemos o andando pelas ruas destas cidades é que esta organização se passa em todos os países nórdicos digamos assim e nós e nós não conseguimos mudar isto com com a lei eh as mulheres são as mais prejudicadas quando a família aumenta Não sei não sei não sei se se se as mulheres serão a mais as mais prejudicadas acho que há dados que apontam nesse sentido que existe ainda uma um um acumular de tarefas um um acumular de funções eh em termos estatísticos eh lá está está fora do âmbito daquilo que eu que eu faço mas pelo aquilo que eu leio h h penso que assim é penso que assim é que assim é eh eh quando compara com outros países sobretudo aos da aos da da Europa do Norte isto leva-nos à à questão da imigração até por aí por essas condições e pela facilidade de articulação das das várias facetas da nossa vida a imigração em Portugal é uma inevitabilidade ainda será no na próxima década bom hã pode falar só entre os músicos também só entre os músicos entre os músicos eh eh alguma parte será a não ser que não nós tínhamos a capacidade de aumentar o número de de de entidades culturais na Suécia eu há pouco tempo contei penso que foram 19 orquestras profissionais e cinco casas de Opera que é um bocadinho diferente da realidade que nós temos em Portugal nós temos belíssimas instituições culturais ao nível da música e também ao nível da educação musical nós temos uma educação musical eh de nível excelente é o que escreve no artigo diz que o ensino da música em Portugal é excelente isto não é uma opinião nós temos isso Pelas universidades a não fora de Portugal onde chegam os alunos que vêm preparados de Portugal pelos pelo ensino da música em Portugal e vemos como como os nossos músicos que são formados em Portugal vingam não só ao nível académico como ao nível profissional em todos os países Hum e portanto existe uma uma questão de quantidade de trabalho portanto não existem suficientes orquestras para absorver todos os músicos que nós formamos em Portugal Hum e e depois quer dizer relativamente a outras profissões sabemos o que é que motiva a imigração não é e eu em 1998 saí de Portugal porque quis e abriu quase porta abriu quase a porta dos músicos portugueses Nessa altura não eu e e a geração imediatamente antes da minha que já abriu a minha porta porque me aconselhou muito para onde eu deveria ir porque quem está em Lisboa e tem 19 ou 20 anos eh Ah não sabe muito bem qual é o próximo passo a seguir não é e o mundo da direção da orquestra é então na altura e e não havia o conhecimento tecnológ o acesso à tecnologia que temos hoje o Google ajuda-nos mais agora do que nessa altura mas havia ranking já havia uma série de coisas que nos podiam ajudar a ter uma orientação Mas eu creio que e a emigração existirá sempre mas que seja por escolha é se eu pudesse ter um sonho se eu pudesse H pensar no os meus filhos por exemplo que se quiserem sair eh que saiam porque querem e não porque se veem obrigados para cumprirem os seus sonhos e sobretudo Por uma questão de subsistência que não se sintam obrigados a sair do nosso país por essa razão esse esse é um é um sonho grande outro se calhar mais concretizáveis um coro porque é que é tão importante porque que isso seria tão importante parece assim uma coisa muito inocente não é parece pequenina hum hum ao longo destes quase 30 anos já que eu dirijo orquestras profissionalmente eu tenho sentido uma felicidade muito grande na minha profissão na execução da minha profissão e e e tenho sentido realmente que eu me dedico à música muito por por frutos é um fruto de sementes que foram plantadas eh na na na minha primeira na minha segunda infâncias e na minha adolescência e que t a ver com esta particularidade que as classes de conjunto quer seja um coro uma orquestra um out um agrupamento e tem que é a capacidade de nós criarmos qualquer coisa em comunidade e qualquer coisa que é sempre boa e qualquer coisa que todos nós independentemente da opinião que temos daquele que está ao nosso lado H queremos cumprir bem eh Isto é é uma coisa que parece muito simples mas é extremamente profunda porque na nossa prática orquestral porque todos os dias nos sentamos ao pé de pessoas que têm eh opiniões diferentes das nossas hã que têm vidas diferentes das das nossas que chegaram aqui às 10 horas da manhã vindos de realidades diferentes se calhar de conflitos se calhar de não conflitos mas naquele momento todos contribuímos para qualquer coisa de boa e de Bela e o os benefícios da educação musical estão amplamente estudados cientificamente e os o os benefícios do coro também e os benefícios vão para além da da da da expressão artística da imaginação da contribuição para a sociedade através da arte tem a ver com questões sociais de comportamento tem a ver com construção a construção do bem comum hum h e e eu acredito que a arte e a música feita em conjunto em particular pode ser um veículo muito importante para conseguirmos com gestos pequenos construir qualquer coisa de muito bonito e e sempre bom em que todos contribuem sempre para fazer o bem independentemente daquilo em que acreditamos e por isso é um sonho porquê É um sonho que eu considero realista pensar claro que eu adoraria que todas as crianças tocassem numa orquestra ou que tivessem tocassem um instrumento mas inclusivamente as direções que nós temos eh que vem do Ministério da Educação sobre eh aquilo que deve ser o ensino artístico no no no no no primeiro ciclo é através da voz as direções as indicações são que é voz voz e a o corpo humano como é que a voz interage com o corpo e e creio que a voz aliada portanto agarrando essas orientações que são públicas e que são e que vêm das instâncias mais mais altas e e e h e alargando esses estudos mais internacionais e mais mais amplos sobre os benefícios que a prática da da arte e da música em que tem eu creio que seria um sonho bastante exequível digamos assim e que seria possível de conquistar com poucos meios mas com um impacto enorme naquilo que é a nossa vida sobretudo nós todos somos reféns desta vida agora um bocadinho solitária que temos até com os telemóveis e os computadores e a tecnologia todos nós eh fazemos parte desse mundo então Eh seria um bom veículo para para sairmos de nós mesmos e e nos dedicar naquele momento a qualquer coisa que vai para além de nós a qualquer coisa com e falou muito aqui no Belo não é o impacto do Belo nas nossas vidas parece que não é muito valorizado e pode mesmo ajudar a mudar o país se pensarmos assim nessa nessa dimensão maior Talvez sim não é Acho que tudo o que tem a ver com com com a reflexão daquilo que nós somos daquilo que pensamos daquilo que vivemos através da arte acho que pode ter um impacto muito grande e a a arte tem essa função para mim de de de de de alertar de observação de de de reflexão e de pensarmos em quem nós somos e e quem nós poderemos ser também tem a arte tem essa capacidade de nos fazer sonhar e Mas também de nos fazer refletir sobre sobre quem nós somos mas sempre através da da beleza e a arte tem também a capacidade de transformar tantas coisas que fazem parte do nosso quotidiano que podem não ser bonitas sempre em momentos de beleza e por isso eu eu acho mesmo que que pode ser um veículo muito importante na construção e e um pilar fundamental da da vida de cada criança de cada adolescente e de cada adulto e que tem frutos como teve na minha vida depois na minha vida profissional eh diz aliás que a música é um exercício de de respeito cedência e de empatia é um é aqui uma boa um bom triângulo fundador de uma de uma sociedade com mais energia Aliás com a experiência toda da imigração vê alguns sinais de que vai chegando essa essa energia dos dos jovens que vão lá para fora e que alguns pelo menos vão vão regressando ou trazendo eh essa essa influência Há alguma mudança havia alguma mudança Ness eu acho que tem um impacto na na até nos sonhos que que eu vejo os J músicos na dimensão dos sonhos porque nós vemos essa excelência chegar tão longe a temos jovens portugueses entrar orquestra orquestras como orquestra H Orquestra filarmónica de Londres H grandes grandes orquestras do pelo mundo fora eu acho que isso só pode ter um impacto muito grande nos sonhos das das nossas crianças e dos nossos futuros músicos e é um impacto positivo saber que podem sonhar eh o mais alto que quiserem desde que trabalhem claro não é Ah mas que que para um português trabalhador e sobretudo com esta com Com estes Pilares que nós temos na nossa educação musical que eu considero muito positivos acho que podemos sonhar até onde quisermos que Boa mensagem Joana Carneiro foi tão bom tê-la aqui no clube dos 52 muito obrigada por ter passado por aqui estivemos a olhar para o futuro do país sonhando sonhando acordados e assim todas as semanas uma conversa sobre o país na próxima década l