Existem diversas abordagens por parte das equipas ao Iberian Supercars e Campeonato de Portugal de Velocidade – algumas montam uma estrutura em redor de um carro, ao passo que outras apostam numa estrutura com carros de marcas diferentes. Provavelmente, não existem modelos certos ou errados, sendo antes a forma como uma equipa gere cada uma das situações que determina o sucesso de cada uma das abordagens e a Speedy Motorsport comprovou a sua.
A Speedy Motorsport é um dos exemplos de equipas que têm mais de um carro e marca a defender as suas cores. Este ano, tem dois Toyota GR Supra GT4 EVO aos quais se juntam três Porsche, dois Cayman GT4 MR e um Cayman RS CS.
Esta composição chegou depois de, no ano passado, a formação do norte de Portugal ter conseguido chegar ao título de pilotos com José Carlos Pires e Francisco Abreu, então aos comandos de um novíssimo BMW M4 GT4.
O mais natural seria que a Speedy Motorsport se mantivesse fiel à marca bávara, dado os bons resultados de 2023, mas a opção Toyota foi ganhando força ainda durante a temporada de sucesso com a BMW. “Fui estando atento ao que se passava nos outros campeonatos, particularmente no campeonato francês, onde o Supra esteve sempre na luta pelas vitórias”, começou por dizer Pedro Salvador que continuou: “após o primeiro contacto com a Toyota Gazoo Racing, gostei da receptividade, da visão que têm sobre a categoria, da pro-actividade no desenvolvimento do carro e do apoio técnico disponibilizado. O processo seguiu os trâmites normais e estamos muito satisfeitos com a forma como a época se desenrolou. Com a presença de mais Supras no Iberian Supercars / Campeonato de Portugal de Velocidade, a disponibilização de um enorme pack de peças sobressalentes e o constante apoio técnico são uma enorme mais-valia”.
Porém, para além dos dois Toyota – um para César Machado e Jan Duran, que venceram o Campeonato de Pilotos do Iberian Supercars, Campeonato de Portugal de Velocidade e Supercars Jarama RACE na categoria geral GT4 e da divisão GT4 Pro, e outro para Luís Liberal –, a Speedy Motorsport compete também com dois Porsche – um Cayman GT4 MR para Andrius Zeimatis e um Cayman RS CS para André Nabais e Miguel Nabais, que venceram a divisão GTX e a divisão GT4 Am do Campeonato de Portugal de Velocidade, respectivamente, ao que se juntou um segundo GT4 MR na parte final da temporada para Pompeu Simões e Duarte Camelo.
Pedro Salvador sublinha que ter duas marcas na mesma equipa não é um problema, dado as medidas implementadas pela estrutura para acolher esse desafio. “Após nove anos de actividade, nas mais diversas competições, é algo que acontece naturalmente com a normalidade que se impõe (n.d.r.: competir com carros de marca diferentes). Dentro da mesma estrutura, temos equipas técnicas que funcionam de forma independente, o que acaba por simplificar a tarefa. Da parte da ligação à marca, temos uma óptima relação também com a Porsche Motorsport e com Manthey Racing, das quais somos clientes há alguns anos. A única limitação acaba por ser ao nível de material sobressalente, uma vez que a marca não se faz representar no campeonato com um camião de peças, tal como faz a Gazoo Racing via Sports & You”, apontou o chefe de equipa da Speedy Motorsport.
No entanto, no caso dos Porsche existem alguns desafios extra, dado serem carros de gerações diferentes, ao contrário do que acontece com os Toyota que, uma vez serem o mesmo modelo, permite uma partilha de informação entre as duas máquinas. “A metodologia de trabalho é comum a todos os carros, independentemente do modelo ou categoria abrangida. No caso dos Porsche, uma vez que se trata de gerações diferentes não há trabalho de ‘set-up’ que seja útil de um para o outro, ainda que as informações recolhidas sejam sempre úteis. No caso dos Toyota, o trabalho de ‘set-up’ acaba por ser útil de um carro para o outro, ainda que o ‘fine-tuning’ de cada um deles seja feito de forma independente, de acordo com o ‘feeling’ dos pilotos”, revelou Pedro Salvador.
Para além da Speedy Motorsport, também a Sports & You e a Batina Racing, mais recentemente, têm como cavalo de batalha o Toyota GR Supra GT4 EVO. No automobilismo existe um elevado nível de secretismo, dado que todos são adversários de todos, no entanto, acaba por existir alguma forma de colaboração entre as três equipas, ainda que não de forma directa. “O facto de existir outras duas equipas é muito positivo não só para o campeonato, como para o peso da marca presente no campeonato. Do ponto de vista técnico, o apoio presente por parte da marca é partilhado entre as três equipas, sem a partilha de informação que é confidencial a cada uma delas, uma vez que no limite somos adversários na mesma luta”, apontou o chefe de equipa da Speedy Motorsport.
A abordagem acabou por ser uma aposta ganha, como o atesta o título de Equipas conquistado no Iberian Supercars. “Este ceptro representa muito, acima de tudo o reconhecimento pelo trabalho de equipa, um trabalho de um ano que e para nós é memorável, na só pelos resultados, mas também pelo crescimento que tivemos como organização, na capacidade de trabalho de equipa, por um espírito de equipa que deu frutos e que nos permitiu alcançar diversos campeonatos, em que o corolário é o de equipas. Podíamos também ter vencido o do Campeonato de Portugal de Velocidade (n.d.r.: de Equipas), mas verdadeiramente não tivemos a sorte do nosso lado, devido aos problemas que tivemos no carro do César (Machado) e do Jan (Durán). Recordo que tivemos sempre dois carros nomeados que não estavam verdadeiramente a lutar pelos lugares do Top-10 – o Luís Pedro (Liberal) estava numa perspectiva de progressão e crescimentos, com excelentes resultados na primeira metade da época; os irmãos Nabais (André e Miguel) fizeram uma época fantástica, que lhes permitiu terminar com um nivel de andamento muito superior ao do início. Tudo isto representa um trabalho de equipa fantástico com o ‘coaching’ e acompanhamento que fazemos com os nossos pilotos e com a progressão que conseguimos fazer com todos eles. Portanto, para nós o título de Equipas representa ‘teamwork’ e a temporada deixa-nos extremamente satisfeitos nesse sentido”, afirmou o líder da Speedy Motorsport.
O homem forte da Speedy Motorsport admite que o grande desafio é manter o nível e acompanhar o desenvolvimento do campeonato, mas garante que a humildade e o respeito são dois valores basilares da equipa: “o desafio na fase inicial, era conseguirmos preparar-nos de forma a defender os títulos alcançados na temporada anterior. Voltámo-nos para os GT em 2023, foi um desafio que encarámos como todos aqueles que tivemos nos últimos nove anos. Preparamo-nos com a ambição de lutar pela vitória. Este ano, o desafio maior era não só repetir os resultados de 2023, mas sim alcançá-los com um nível de performance, andamento, trabalho de equipa, organização e afins que fosse superior ao alcançado no ano anterior. Foi essa ambição inicial, foi assim que preparámos o ano de 2024, que exigiu muito, muito de nós, mas penso que foi um grande passo em frente na gestão das corridas e do fim-de-semana na perspectiva de que chegámos ao último evento e festejámos mais quatro títulos, da GT4, GT4 Pro, GTX e GT4 Am (n.d.r.: do Campeonato de Portugal de Velocidade). Estes feitos realmente provam que a seriedade, humildade e o respeito de como foi abordada a época, conscientes do crescimento do campeonato e da sua competitividade, foi com a perspectiva correcta, sempre conscientes de que há muito mais para fazer e evoluir, e é com esse pensamento que estamos já na época de 2025, com a mesma humildade que tínhamos em 2023, quando iniciámos. A humildade mantém-se, o que vai crescendo é a ambição de fazer mais e a vontade de fazer mais e melhor”.
Os resultados e os sucessos da Speedy Motorsport são ainda mais saborosos pelo nível do campeonato, algo que não passa em claro. “Para além de dar os parabéns a todos os nossos pilotos pela temporada que protagonizaram, quero dá-los também à Race Ready. Todos nós fomos, inconscientemente, acompanhando evolução e o crescimento do campeonato, que neste momento marca o panorama, não só ibérico, mas também europeu ao nível dos GT4. Parabéns à Race Ready pelo trabalho feito”, sublinhou Pedro Salvador.
A estrutura criada por Pedro Salvador mostrou estar no bom caminho, com a conquista de inúmeros títulos, e o que poderia ser visto como uma desvantagem, não estar focada apenas numa marca, pode até ser uma forma de desenvolver a equipa e torná-la mais ágil para os desafios que poderão aparecer.
Seja como for, o futuro da Speedy Motorsport está bem definido e traçado de forma vincada. “A aposta que fizemos na época passada foi concretizada em pleno, com a conquista nove títulos. Este ano, estivemos presentes regularmente com quatro carros e é esse o plano para 2025.”, garantiu Pedro Salvador.