Título: O Fim do Estado Social em Portugal? A Nova Direção da União Europeia e Seus Impactos
Introdução
Nos últimos anos, a União Europeia (UE) tem enfrentado uma série de crises que desafiam o seu próprio modelo de funcionamento. Desde a pandemia de COVID-19 até à atual crise de refugiados e o aumento da inflação, os Estados-Membros estão a pressionar as suas economias e, consequentemente, o próprio conceito de Estado social está a ser colocado em cheque. Em Portugal, um dos países mais afetados pelas políticas da UE, esta realidade levanta questões delicadas sobre a sustentabilidade dos serviços públicos e da proteção social. Estaremos a assistir ao declínio do Estado social em Portugal? Neste artigo, analisamos os dados mais recentes e discutimos o panorama atual.
Desenvolvimento
De acordo com um relatório recente do Eurostat, Portugal está entre os países da UE com as maiores taxas de pobreza, atingindo 17% da população em 2022. Este dado torna-se ainda mais preocupante quando se considera que a taxa de risco de pobreza entre as crianças sobe para 23%. Além disso, o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 2023 revela que o investimento em serviços públicos, incluindo saúde e educação, caiu para os níveis mais baixos desde a crise financeira de 2008.
A pressão da UE para que os países membros mantenham déficits orçamentários baixos tem levado a cortes orçamentais em áreas essenciais. O pacote de recuperação pós-pandemia, embora tenha prometido vastos investimentos em serviços sociais, resultou na imposição de medidas de austeridade que muitas vezes contradizem os objetivos propostos. A earmarking das verbas para áreas específicas, por exemplo, tem sido uma faca de dois gumes: enquanto algumas áreas recebem fundos, outras são deixadas a definhar, uma vez que os países são obrigados a equilibrar as suas contas.
A nova estratégia da UE para 2024, que foca na "transição verde" e na digitalização, levanta igualmente bandeiras vermelhas. A pressão para uma transição rápida pode ameaçar empregos em setores tradicionais, sem a devida salvaguarda de políticas sociais que protejam os trabalhadores. Portugal, dependente de setores como a agricultura e o turismo, corre o risco de ver uma parte significativa da sua população a ser deixada para trás nesta transformação.
Enquanto isso, a saúde pública, que já estava sob tensão devido à pandemia, enfrenta novos desafios. Um estudo publicado pelo Ministério da Saúde de Portugal em 2023 aponta para um aumento das taxas de mortalidade evitável, um claro indicativo de que o estado dos cuidados de saúde se deteriorou. A falta de médicos e enfermeiros na linha da frente, exacerbada pelas reduções orçamentais, coloca em questão a capacidade do sistema nacional de saúde em lidar não só com a pandemia, mas com crises de saúde futuras.
Conclusão
A trajetória de Portugal nas mãos da UE é complexa e repleta de contradições. O dilema entre a responsabilidade fiscal e a manutenção do Estado social pode definir não apenas o futuro económico do país, mas também a dignidade de milhares de cidadãos. O que nos leva a questionar: estamos a assistir ao desvanecer do Estado social em Portugal, enquanto a UE se concentra em outras prioridades? Se as tendências atuais continuarem, será difícil garantir que todos tenham acesso à mesma qualidade de vida, um dos pilares mais importantes da própria União Europeia. A escolha que enfrentamos é clara – ou nos unimos para defender os nossos direitos sociais, ou nos resignamos a um futuro incerto e desigual. Que tipo de Europa queremos construir? O tempo de agir é agora.