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Esta é a história do dia da Rádio observador Paula reggo submissa Maria Paula figir willing sou eu São muitos os nomes num só nome dos quais apenas dois ficaram para a história Paula arrego aqui ouví-la entrevista à TVI uma figura maior da arte e da cultura portuguesas
Mas que teve de sair do país para alcançar o reconhecimento Paulo arrego morreu em Londres aos 87 anos esta quarta-feira 8 de Junho de 2022 a pintora portuguesa é um nome com projeção internacional como chegou este patamar e como ficará na história da arte hoje vou conversar com o editor de
Cultura do Observador Tiago [Música] Pereira bem-vindo Tiago Olá Ricardo vamos ser aquilo que Paulo arrego não foi Vamos ser aqui certinhos ISO vai ser dif no alinhamento começar pela vida antes de irmos à obra Paulo reggo Tiago Pereira nasceu em Lisboa nasceu em Lisboa Este é um daqueles detalhes que
Se calhar não nos lembramos acho que se calhar evitamos pensar nisso ou o nosso subconsciente faz com que não pensemos nisso que é eventualmente Paulo RE terá nascido um dia não é parece que há uma memória coletiva que Paulo rre e esteve Obrigatoriamente no meio de nós sempre
Mesmo quando nós não estávamos cá de alguma forma exe Mas nasceu em janeiro de 1935 no dia 26 em Lisboa h e nasceu e Numa família republicana e Liberal h e são são expressões e são frases que aparecem muitas vezes nas nas notas biográficas eh quando quando as pessoas eventualmente quando queremos recordar
As pessoas ou ou Recordar um traço biográfico mas aqui tem importância fulcral este lado da da republicana e Liberal eh este aspecto eu acho que podemos chamar-lhe a filosofia da família teve Depois uma influência decisiva naquilo que viria a acontecer depois na vida de Paula rgo seguindo essa lógica biográfica estudo num
Colégio inglês em carcavelos C julin exatamente e seguiu ainda muito jovem para Londres seguiu seguiu a meados da década de 50 portanto teria e ainda antes de de ter 20 anos seguiu para exatamente para Londres foi estudar para a slate School ofart h e e logo aí
Foi muito cedo que se fez notar pelo seu talento foi muito cedo que se fez notar pela sua atitude pela sua vontade e pela forma como hh eh mostrava que havia obviamente uma personalidade a esculpir e a desenhar mas havia um um um desejo talvez desejo
Nem se nem seja a palavra certa porque desejo implica de alguma forma uma consciência absoluta não é mas uma uma natureza eh indisciplinada no que de indisciplina tem de bom estamos aqui a falar de criatividade é ca de isso e foi nesta SL Paula fez questão de dizer várias vezes
Em entrevistas que ninguém lhe disse minha menina e vais ser uma artista e para seres uma artista portanto agora vais para este sítio estudar a ideia não foi essa e as coisas aconteceram Portugal era outro Portugal Inglaterra e Londres era uma outra cidade se as distâncias existem pensemos na década de 50 exatamente
Londres no início dos anos 50 seria muito diferente de Lisboa nos anos 50 ainda mais de um Portugal nos anos 50 totalmente diferente Ah o pai de Paula arreg chegou a dizer-lhe eh este país não é para mulheres o meu pai quando eu era tinha 15 anos disse assim olha tens
Que ir embora daqui isto não é um país para mulheres ah de Portugal vai-te embora e mandou-me mandou-me embora daí este lado de de liberal no que demais eh eh no que de liberdade existe aqui de vontade própria de seguir um caminho e e não subjugar a regras que não faziam
Sentido e que não encaixavam minimamente nos anseios tanto de Paulo Rego como da família e depois este O que é incrível é que h não é incrível Depois vemos as obras isso faz sentido eh pauloo sai de Portugal vai estudar para Londres faz a
Sua vida ou boa parte da sua vida não só em Londres havia ia de fazer também em Portugal mas boa parte dessa vida é feita em Londres mas a obra há de espelhar muito daquilo que de Portugal ela levou e continuou a marcá-la uma imagem muito foi foi uma imagem decisiva
E e abrasiva como se H conseguisse entrar pela pele e ficasse lá não saísse mais e ela constantemente levou isso para para os quadros dela e para a obra dela isso isso é muito interessante porque e em 1960 p arrego pinta um quadro que se tornaria icónico na obra dela e na
Carreira dela Salazar a vomitar a pátria é um Marco importante e seguindo essa tua linha de raciocínio Tiago Pereira isto ajuda-nos a enquadrar e perceber o percurso que esta artista Portuguesa vai ter ao longo da vida eu eu não diria que é uma prova definitiva de não sei se lhe podemos dizer
Orientação estética e criativa no que de mais formal isso tem porque como qualquer artista o fazes diferen CL até porque é bem diferente daquilo que ela pinta no final não exato e e isso é mas também é importante para perceber a evolução e de onde ela começa por onde
Ela passa e até onde ela chega não é eh sempre estranho dizer ela não é uma pessoa qualquer P sempre um pouco estranho eh eu eu acho é que esse esse esse momento 1960 é sobretudo uma prova de eh lá está de liberdade de coerência eh eh reforçando esses dois aspectos quadro
Feito em 1960 recusada em Galerias inglesas H exposto em Portugal no início da década de 70 antes do 25 de Abril apesar da mudança de nome teve ali uma pequena teve um trabalho de maquilhagem para o que é obviamente compreensível a palavra o nome Salazar não apareci sim trocado
Por S um verbo que de repente se transforma em inglês eh mas o essencial estava lá que era indicar uma visceralidade impressionante e eu acho que a palavra visceral depois há de ser e permanente na obra da Paula Rego Claro isto posso ser eu aqui a a a
Criar esta imagem mas eu acho que é uma imagem que cxa muito bem É como se houvesse uma espécie de ligação direta entre o cérebro da artista não é aquilo que acontece na tela h e haveria um filtro mas o filtro seria sempre a decisão criativa formal e estilística no
Momento fosse uma coisa mais direta fosse depois com modelos que ela usou ao longo da carreira vários modelos eh pessoas reais né que transformou em quadro mas aqui está esta esta questão Liberdade coerência e e e o sentido viseral e do ponto de vista pictórico como estivemos aqui eh aqui no áudio não
Conseguimos ver o quadro mas é um quadro se calar mais difícil de entender do ponto de vista pictórico exatamente e avançamos depois precisamente para uma arte mais mais figurativ Aquela que está mais presente no nosso Imaginário que naquelas figuras e por vezes Fantasmagóricas consegue transmitir a angústia do universo
Feminino no mundo machista tal frase que o pai lhe disse parece percorrer aqui também os quadros não é concordo em absoluto mas e e se e e não é para isso que aqui estás não não A questão não é essa se te lembras de estar frente a frente a um quadro da
Paula re compreendes rapidamente e sentes rapidamente todo o universo feminino e tudo o que rodeia a questão de ser mulher e que está naqueles quadros mas é impossível sendo homem não sentirse a obra como coisa tua e independentemente de género dito isto é óbvio que terá
Sido uma das mulheres que de forma mais impactante e e com mais resultados práticos nas pessoas que testemunharam essa obra trabalhou sobre o que é ser mulher uhum e quais são as consequências de ser mulher num mundo que é obviamente machista e que o fez com uma força incomparável é difícil encontrar outra
Artista que tenha feito isto assim o ano passado falamos com Paulo arrego a propósito da retrospetiva que a Tate fez a maior de sempre falamos dentro do possível foi uma conversa por escrito foi foi uma coisa breve e perguntávamos a Paula reggo se ela senti que revolucionou a forma como as mulheres
São representadas e ela disse que nunca tentou mudar a forma como as mulheres são representadas e que apenas pintou as mulheres que conheceu eh Isto pode ser entendido como H uma espécie de humildade tudo bem mas também pode ser entendido como a realidade e a visão e e
O lugar e da da da da vida de Paulo RE estava tão no meio desta realidade eh que ela eh para ela era só natural e indispensável e obrigatório pintar eh sobre mulheres e sobre a condição mulher e e e sentia uma necessidade também de de intervenção cívica na defesa das
Mulheres nomeadamente a questão do aborto onde se envolveu de forma muito muito ativa e do ponto de vista e aqui da da arte mais artístico H ela consegue já aqui aludimos Essa é isso eh consegue dar um novo rumo à arte figurativa assim uma espécie de beleza grotesca na obra
De de de Paulo Riga ela consegue dar aqui um novo rumo àquilo que é a arte figurativa ela consegue eh eu diria que ela consegue fazer e quase o impensável se não virmos se virmos a eh por exemplo um quadro como e os quadros Dog woman em
Que ela tem e uma mulher eh que que foi o modelo foi a Lila Nunes e e e e é uma mulher que está agachada que está em em parece que transparece violência transparece e uma perturbação enorme a mulher cão era uma mulher velha que vivia numa casa sozinha com os bichos
Todos dela com as galinhas com os gatos com com os cães e com tudo e depois um dia ouviu uma voz que lhe veio para chemine AB baixo e diz come comos comos eraa uma voz de criança e ela acocorou-se abriu a boca os juis correram todos à
Volta da mesa entraram para guela dela dentro e ela comeu tudo mas é quase como se vemos de facto aquela mulher à nossa frente aquilo está a acontecer não é mas as cores são muito fortes as cores são sempre muito fortes e ela dizia que nesta entrevista que eu estava a dizer
Ela também fala de da questão do autorretrato e dizia eu detesto a a pintar a mim próprio não não não não não vamos falar de autorretratos A questão não é essa eh E perguntávamos se ela sentia-se papel Central na na arte figurativa na segunda metade do século
XX ela dizia nem por isso não estava minimamente preocupada eh era era uma havia uma uma uma uma espécie de ambiente de tragédia uhum tensão a cara os rostos das personagens eh conseguiam perturbar quem visse eh não sei se alguma vez tiveste essa essa experiiência de estar muito sim
Sar ol são perturbadores sempre são perturbadores e HS tantas ou ficavas podias ficar desconfortável podia Ok eu não quero ver mais este vou andar para a frente mas aquilo de alguma forma há pessoas que não gostam da da pintura de não porque sentem precisamente esse esse lado mais brutesco porque é difícil mas
Era todo um significado na na forma robusta como ela desenhava de facto que como é que é possível não considerar que e essa e a influência que teve de facto nessa arte figurativa e a relação com Portugal a relação com Portugal e nunca nunca cessou nunca desapareceu
Como dizias há pouco Como dizia há pouco não é Portanto sai de um país que não lhe dava não era o país não era o sítio não lhe dava condições para ela ser a mulher que queria que podia ser e para ter a formação que queria e seguir o caminho que queria
Seguir mas quando ela no final dos anos 70 consegue uma bolsa da GL benken para transformar contos tradicionais Portugueses e mudar isso através da sua arte eh é de facto a Portugal que ela volta eh o o pensamento e sobretudo na hora de criar surgia na palavra portuguesa eh e aquela aquela
Eh a forma atabalhoada como nós tendemos a dizer as sílabas e quando estamos aqui ao microfone da Rádio tentemos ter um pouco mais de cuidado mas não é assim que falamos não é toda essa confusão essa embrulhada que eu acho que também estava muito presente na na na obra dela H ela
Foi vivendo na Ericeira por exemplo e os os os três filhos dela boa parte cresceram e foram educados na Ericeira era um sítio onde ela ia regressando tempos a tempos era um sítio que a inspirava e que lhe dizia muito era muito muito importante a crítica social
E política foi constante a série aborto nasce em resposta à questão do referendo nos anos 90 a criatividade de Paulo R esteve sempre ligada a Portugal a forma de olhar para o mundo esteve sempre ligada a Portugal sempre que havia o regresso foi constante a comunicação foi
Constante portanto eh não não acho que não podemos falar aqui numa separação e o reconhecimento internacional é tardio eu não eh Há dois lados eh por um é enquanto o Paulo regreg está a fazer a sua a sua o seu percurso eh até que ponto eh o objetivo de ser reconhecida
Internacionalmente e de ter esse mérito não sei como é que lhe podemos chamar esse mérito eh mediático esse mérito crítico até que ponto seria de facto a principal eh preocupação h no final dos anos 80 a galeria marl borrow é fundamental as nursery rymes a série nursery Rhymes é reconhecida e dá-lhe de
Facto esse mediatismo que ela se calhar até aí não tinha tido eh no ano seguinte ela é convidada pela National Gallery para integrar um programa de residências e aí já não há volta a dar ela já é um nome fundamental da arte contemporânea do Século XX e o legado e a influência só
Continuaram o ano passado Houve essa retrospetiva na Tate E ela ficou muito contente com essa retrospectiva que foi a maior de sempre e poucos meses antes nós falávamos com ela sobre uma exposição que houve na casa das histórias em Cascais em que havia uma ligação entre a obra da Paula
R e de Josefa dbitos e ela dizia-nos uma das coisas que ela dizia era eu quero viver para ver a retrospectiva na Tate Conseguiu ver a retrospectiva na teate e E era uma coisa que era importante para ela mas também lhe perguntamos na altura é tão importante é mais ou é menos do
Que o reconhecimento de Portugal é igual eh era uma questão artística não é não era uma questão de nacionalismo e também convenhamos uma retrospectiva na teit tem uma retrospectiva para o mundo inteiro ver CL Claro claro tem uma importância gigante e quando falamos de Paulo arrego e aqui olhando para o
Título do episódio de hoje falamos de insubmissão e falamos de tormenta não estamos a falar da paisagem da Ericeira mas quase também é insubmisso e tormentosa não sim uma insubmissão e uma Tormenta essa eh constante recusa de rótulos e de géneros e e aqui estou só a falar de arte eh a catalogação
Necessária neste tipo de coisas e que ela recusava sempre hum a forma como eh lidou com o luto do seu marido Victor willing e e como isso influenciou o resto sua vida o a forma como ela lutou eh contra a opressão Face às mulheres a forma como lutou contra eh uma uma
Espécie de ditadura e de julgamento em relação a questões como ao aborto que foram sempre importantes a forma como ela foi afetada por uma depressão profunda já no início do século XX eh e e que terá feito uma série de quadros e e uma série uma uma uma pintura muito perturbadora que ficou
Guardada que ficou fechada como quase como se fosse fosse um segredo muito muito seu e difícil e de de de partilhar mas depois havia sempre um outro lado havia sempre um uma espécie de lado eternamente de criança uma uma espécie de Inocência desconcertante desconcertante e que eu acho que nos faz
Pensar sempre que sempre que víamos ou ouvíamos a Paula Rego ou a obra dela ficávamos eu acho que era muito imediato pensar Quem me dera chegar a esta altura ou ter esta este conhecimento esta experiência de vida e manter esta Inocência de quer estar constantemente a descobrir ela fez aquela pintura o Anjo
Que é muito conhecida uma mulher com uma espada na mão eu acho que tem um lado tanto de agressividade Mas também de Redenção Obrigado Tiago obrigado Tiago Pereira editor de cultura e presença assídua na rádio observador podemos ouvi-lo no lado bom da vida no popup e no isto não passa na
Rádio esta foi a história do dia neste Episódio ouvimos sons de entrevistas de Paulo arrego à RTP e à TV participaram ainda neste Episódio o jornalista João Santos Duarte e o sonoplasta di Cinha a música do genérico É do João Ribeiro eu sou Ricardo Conceição a história do dia
Regressa na próxima segunda-feira 13 porque esta sexta é freado [Música] n