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eu sou o Manuel Carvalho e este é o p24
tema para hoje o colonialismo e a
reparação dos seus pecados a reparação
dos crimes coloniais parece uma promessa
condenada a ressurgir cada passo antes
de mergulhar na controver que acaba
sempre por se diluir no esquecimento até
à promessa seguinte em causa está o que
sempre acontece quando se revisita o
passado e se lhe aplica a ideologia dos
valores do presente abrem-se feridas
saber exatamente se esse reavivar serve
para as sarar como muitos pretendem ou
se pelo contrário como outros propõem
serve apenas para as tornar em carne
vida o Presidente da República decidiu
reabrir a discussão dizendo no encontro
com os jornalistas estrangeiros que
Portugal assume Total responsabilidade
pelos erros do passado que esses crimes
da escravatura aos massacres coloniais
tiveram custos que o país tem de pagar
Pergunta a presidente há ações que não
foram punidas E os responsáveis não
foram presos há bens que foram saqueados
e não foram devolvidos e responde vamos
ver como podemos reparar isso a
discussão alarga-se a todos os países
com passado colonial com o tempo
consolidou-se uma fratura nas opiniões e
nas sociedades por vezes as opiniões se
seguem conceitos intemporais de justiça
e ideias progressistas associadas à
esquerda outras vezes entra-se numa
espéci de balanço mais próximo dos
valores da direita no qual o respeito
pela memória histórica exige que os
erros ou Os crimes do passado se
conjuguem com juízos tidos como
positivos como de uma ideia de progresso
civilizacional espalhado mundo fora pelo
ocidente a discussão eterniza isse ainda
mais porque em causa está entre outros o
receio de alimentar o nacionalismo da
Extrema direita aí o tema despe-se da
razão e contagia com a emoção a ideia de
Pátria enquanto a identidade histórica e
a sua defesa contra terceiros bem o
sabemos foi sempre um poderoso motor de
violência portanto Qual é o ponto da
discussão em termos internacionais E
como sempre processado entre nós o
debate sobre a reparação da memória
histórica para responder estas perguntas
o p24 convidou a antropóloga Elsa
paralta que é investigadora principal do
Centro de Estudos comparatistas da
Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa e investigadora associada do
Instituto de Ciências Sociais o ICS
também da mesma Universidade Este é o
p24 E hoje é segunda-feira dia 29 de
Abril de
2024 Olá Elsa para alta muito obrigado
por ter vindo ao p24 eu começava por lhe
perguntar que que evoluções é possível
constatar nos países europeus em torno
da reparação dos crimes coloniais sobra
muitas vezes a sensação de que o debate
emerge depois desaparece sempre com a
mesma velocidade e e praticamente também
sempre com as mesmas consequências ou
seja poucas ou
nenhumas muito obrigada É uma honra e um
prazer estar aqui a contribuir para o
debate alargado sobre este este tema Ora
eu não eu não sei se concordo de facto
que ele emerge e desaparece eu acho que
eles têm têm vindo a ganhar corpo e
emergência cada vez eh maior na
sociedade eh Portuguesa no espaço
público português eh e repare eu comecei
a fazer esta investigação em 2008 a
minha investigação sobre este tema e
depois desdobrou-se num em outras
investigações mas sempre sobre as
questões do passado Colonial h e na
altura eh em 2000 8 embora o debate já
existisse eh não com o volume que tem
hoje mas já existisse na na academia
portuguesa através manifestamente
através de um conjunto de textos que
foram muito influentes a partir da
viragem do miléo a verdade é que em 2008
eh mesmo no contexto académico este
ainda era um tema ou um debate muito
circunscrito e um campo de investigação
diga-se também muito circunscrito que à
medida que o tempo passa se começou a
avolumar até que chegamos a um momento
eu diria a eu e colegas eh concordamos
ou identificamos o ano
2017 como o ano zero eh eh por assim
dizer da emergência de um debate
alargado na sociedade portuguesa eh
sobre o tema das heranças coloniais
h o momento em que o debate extrapola
para além daquilo que era o círculo mais
mais restrito da investigação académica
dos debates eh de uma esfera ativista
ainda bastante circunscrita e para uma
esfera mediática e para o discurso
político mais alargado eh não sem alguma
polémica mas que ele vem de facto H
ganhar essa visibilidade com temas como
por exemplo h a questão do Museu da
descoberta eh a questão do da estátua do
Padre António Vieira eh também eh na
sequência das eh declarações feitas por
Marcelo Rebel de Sousa na ilha de goré
em que eh afirmou eh que embora a
escravatura tivesse sido má Portugal
teve aí um papel Pioneiro por ter sido o
primeiro à bola e portanto eh tudo isso
gerou uma um várias ondas de polémica em
que h a esfera académica se envolveu eh
muito no sentido eh de eh Clamar eh acho
que posso assim dizer Clamar
publicamente com com cartas abertas
publicadas em jornais clamar por uma
verdade histórica relativamente àquilo
que foi o passado Colonial português e
clamar também por hh uma
hh restituição eh não necessariamente
uma reparação material mas uma
restituição simbólica da Verdade eh
daquilo que foi o colonialismo português
apar com os outros eh colonialismos
europeus eh e deix suas das das
violências eh inerentes a ele muito
importante diria portanto que eh o
debate que desde 2017 se está a fazer eh
em Portugal portanto e os círculos que
abrange não apenas na academia mas
chegando portanto à sociedade no seu
todo e passando pelos Mia etc H
acompanhar a tendência internacional
nomeadamente europeia ou H eh é possível
constatar entre nós mais abertura mais
reservas do ponto de vista qualitativo
como é que situa o debate em Portugal
comparativamente ao dos outros países
bom antes antes disso eu acho que é
muito importante dizer outra coisa que
eu não disse antes que é este debate
também é muito proporcionado pela
emergência de uma esfera H ativista eh
implicada eh de pessoas de origem
africana de afrodescendentes e
portugueses não brancos que tomam a as
as eh omissões e os H logros que a
história Colonial como ela é é é é é
contada no livro escolar com a
mitificação que lhe é inerente que todos
conhecemos não se revê nessa história e
mais essa história eh serve para h uma
ocultação daquilo que é
h o lugar a presença eh destas pessoas
enquanto portugueses eh na sociedade
Portuguesa e eu acho que eh não quero
deixar os méritos para a esfera
académica nem para a mediática porque de
facto o grande propulsor dessa mudança
como noutros locais e agora respondendo
à sua questão Eu acho que esta mudança é
H eh propulsion grandemente eh por estes
eh grupos ativistas por grupos de
pessoas anónimas não necessariamente
ativistas eh que ganham uma uma
consciência histórica eh da sua
secundarização eh nos Estados nação H eh
europeus que foram eh antigas potências
coloniais na qualidade de nacionais
portanto amando essa posição não
enquanto imigrantes mas enquanto pessoas
racializadas pessoas não brancas
nacionais e que reclamam lá está os
direitos de cidadania plenos não só no
cartão de cidadão e mas também na no
reconhecimento simbólico Isto é um
movimento que que que que vem
acontecendo de é mesurável e sim e que
vem acontecendo de maneiras diferentes
com as suas particularidades históricas
vejamos o caso francês tem as suas
idades como o caso português eh terminou
com com uma guerra terminou com um
retorno massivo portanto a
descolonização
eh está na memória coletiva e trouxe de
facto grande tensão social como no caso
português o caso britânica é uma
situação H diferente com uma transição
através de da
commonwealth enfim cada caso tem as suas
particularidades que tem que ver também
com as particularidades de cada Colon
ismo agora esta é uma onda que nem
sequer é restrita aos colonialismos
europeus vamos dizer assim aos países
europeus é uma onda que que é
acompanhada por exemplo no Brasil
H nos nos Estados Unidos como movento
Black Liv SMA que nós podemos dizer eh
não estamos ali a falar necessariamente
do mesma do mesmo contexto histórico mas
estamos a falar da mesma problemática Se
quisermos na longa duração da história
eh da racialização H das economias de
plantação que estiveram nos Estados
Unidos H na na na secundarização eh das
pessoas não brancas enfim e fazer a
afiliação disso a relação disso com o o
colonialismo com o evento histórico eh
do colonialismo de uma forma geral ou
seja o colonialismo prolongado depois
das das independências acontece por
exemplo no Brasil relativamente aos
indígenas não é
um população
neg enfim que tem depois isto aqui junta
à questão da das assimetrias sociais eh
que existem as populações negras
tendencialmente As populações eh mais
pobres com carências sociais e
vulnerabilidade social diversas enfim
portanto é São são é uma luta no fundo
pela pela igualdade
H das pessoas independentemente eh da
cor da sua da sua sua pele e perceber
que essa desigualdade é tem uma origem
tem uma origem é construída é o
resultado de uma de uma de uma história
eh de de de exploração das pessoas e a a
senhor professora falou há pouco de uma
questão que é portanto enfim se os
crimes do colonialismo são têm sido
assumidos não é Ou seja a escravatura e
eh os abusos o trabalho forçado eh todo
esse tipo de crimes que foram-se
cometendo portanto há esse
reconhecimento Mas falou aí portanto que
muitas vezes as Reparações materiais são
difíceis de de de de de conseguir eh
porque enfim nós sabemos que há obras de
arte Como disse também que foram objeto
de pilhagem e portanto e uma reparação
consiste em pegar nessas obras portanto
devolvê-las e mu eventualmente criar
condições nos países de origem para que
elas possam ser devidamente preservadas
mas agora portanto há outra questão que
está muitas vezes no âmago da discussão
das pessoas que tem a ver com o valor da
reparação ou seja por exemplo como é que
se repara e um massacre
e ou outro tipo de abusos de direitos
humanos reconhecidos que sejam bom eh
aqui as posições eh eh a questão da pró
a questão da Restituição vem muito H à
luz do dia a partir do famoso relatório
macron sobre a a restituição e o
presidente macron ter sido um dos um dos
Pioneiros dessa da da do reconhecimento
do do do mal do colonialismo vamos dizer
assim que o colonialismo foi eh mau e
não Foi muitas vezes aquilo que é
apresentado H que nos é apresentado dado
Como encontro de culturas e portanto ess
essa dimensão e o presidente macron foi
dos primeiros a fazer isso mas teve
sempre muitos cuidados relativamente à
questão da reparação mesmo a questão da
Restituição vai depender muito dos
países os alemães por exemplo tendo não
tendo tido um um um colonialismo tão
recente eh TM sido eh eh muito ativos
muito envolvidos na questão das
restituições e pensar em formas de
reparação simbólicas agora a questão da
a questão da reparação h
é é é uma questão muito muito complicada
H Há diferentes autores e diferentes
protagonistas e políticos que por
exemplo falam da questão das dívidas
externas e falam da questão de
diferentes formas de reparação mas até
sempre um assunto que é tratado com
pinças
h não só pelas questões técnicas que
envolve a questão de como é que vamos
aferir quanto agora há um aspecto que eu
acho que é central e que é fundamental e
será o primeiro deles que é é a
reparação simbólica é o
reconhecimento não bastará E concordo
com isso não bastará eh eventualmente
quer dizer um massacre a escravização eh
séculos eh de de menor Isa de populações
inteiras e tudo isto é muito difícil de
reparar mas quer dizer a verdade
histórica será em todos os casos um
primeiro passo para isso acontecer e eu
acho que a verdade histórica pode
prevenir
hh que eh os malos do passado se se
repitam eh no presente e no futuro é o
tal dever de memória que que todos temos
devemos ter em relação à a todos os
malos do passado termos um conhecimento
deles para e não e não e não olharmos
para o passado apenas porque nunca é
assim em todos os casos como um momento
de época dourada e neste caso
absolutamente não foi portanto a questão
note-se o caso da do memorial da
escravatura a em em Lisboa H lá está da
iniciativa de uma associação de
afrodescendentes que ganhou
legitimamente o o
o o orçamento participativo a iniciativa
da Câmara Municipal e está Isto foi
também em 2017 salvo erro e está até
hoje a aguardar com projeto com tudo
feito e com com o desenho da obra e a
aguardar que o memorial seja seja H
implantado na cidade é só isto que e
avanço que me foi que me foi devidamente
discutido e aprovado democraticamente eh
uma última pergunta a professora Elsa
paralta eh Há noção de que este tipo de
discussões eh é eh um estímulo eh para a
Extrema direita principalmente para a
Extrema direita que se alimenta eh do
nacionalismo h o que é que sabem as
Ciências Sociais ou o que é que têm
estudado sobre este possível reflexo eu
acho que
h o que o que as Ciências Sociais sabem
e o que investigam é é que há franjas da
população aqui obviamente E no caso
português maioria de razão há franjas da
população que tem uma maior resistência
pela sua pelo seu percurso histórico h a
a a lidar com esta ideia da reparação ou
lidar com as questões que estão
relacionadas com o passado Colonial
ainda assim eh e e as Ciências Sociais e
investigação nomeadamente que eu tenho
feito e colegas têm feito demonstram que
nós não podemos homogeneizar estas
populações pensarmos que todas Estas
pessoas eh são uns colonialistas
empadronados e que não fizeram a sua
própria eh reflexão eh aliás E eu aí
considero e e e parece-me que que é
evidente até pelo que os estudos nos
mostram que eh cabe às instituições cabe
ao estado eh ter a pedagogia histórica
necessária para que essas narrativas não
tenham o combustível que lhes querem dar
a partir de argumentos que são
argumentos H vazios e argumentos sem
factualidade histórica alguma portanto a
investigação histórica e sociológica
Pode mostrar isso e e eh eh populações
que podem ser tendencialmente atraídas
para essas narrativas
e enfim serem serem H lidad
democraticamente através destes
instrumentos da pedagogia acho que não
se pode h
com o receio de que sejam um combustível
para alimentar conflitualidades latentes
não lidar com estas com estas questões
de todas as maneiras no caso português é
é é de salutar que pela primeira vez se
chamem as coisas pelo seu próprio nome e
pela primeira vez se fala de crimes
agora qual é o o alcance que isso irá
ter do ponto de vista político eu não
sou uma analista política portanto não
serei dizer não sei dizer portanto Há um
novo Capítulo da da da da discussão H
Muito obrigado professora Elsa paralta
pelas suas pela sua ajuda e pela sua
explicação foi um gosto muito
obrigada tomá salehi um raper iraniano
foi condenado à morte depois do Supremo
Tribunal ter confirmado a sentença do
tribunal revolucionário de
isfahan o seu crime ter apoiado com as
suas canções dos protestos contra a
morte de masha amini que estava sobre a
custódia da polícia depois de ter sido
detidas por vestir um e considerado
impróprio o crime perpetrado pelo Estado
contra a liberdade de criação e de
expressão merece censura condenação e
exemplo como este
people uma canção da norte-americana P
Smith para lembrar o regime dos aat a
superioridade civilizacional das
democracias Tenha um bom fim de
semana o P2 é um podcast do público com
música de Ana Marques Maia a sóa plastia
deste Episódio é de Ruben Martins o
público fica no ouvido
1 comentário
A esfera académica que pague do próprio bolso ou, melhor ainda, que sofram uma redução nos ordenados e o dinheiro pode ser investido na área da saúde. Muitos elementos ligados á academia e "cóltura" são apenas parasitas do erário público que não apresentam nada de relevante.