Liberdade de Expressão: Pilar da Democracia ou Risco para a Sociedade?
A liberdade de expressão é frequentemente considerada uma das pedras angulares das sociedades democráticas. É o direito que permite a circulação de ideias, opiniões e críticas, sustentando o debate público e a accountability nas instituições. No entanto, à medida que o mundo evolui e se torna cada vez mais interconectado, surgem questões perturbadoras sobre os limites e as consequências deste direito fundamental. Seria a liberdade de expressão um pilar da democracia ou, pelo contrário, um risco iminente para a coesão social e segurança pública?
Recentemente, o debate sobre a liberdade de expressão ganhou nova força, impulsionado por incidentes que mostram a fragilidade desse direito em diversas partes do mundo. Em 2023, observamos uma escalada de tensões que refletem o dilema contemporâneo acerca da dicotomia entre liberdade de expressão e discurso de ódio. De acordo com um relatório da organização Não Gubernamental (ONG) "Protecção dos Direitos Humanos", houve um aumento de 30% em incidentes de discurso de ódio nas redes sociais em comparação com 2022. Este aumento não só se traduz em ataques verbais, como também coloca em risco a segurança de diversas comunidades.
Em Portugal, o panorama não é diferente. O movimento nas redes sociais tornou-se um terreno fértil para a propagação de desinformação, muitas vezes disfarçada de liberdade de expressão. Só no último ano, a Direção-Geral da Saúde alertou para uma série de campanhas de desinformação sobre vacinas, que contribuíram para o aumento da hesitação vacinal no país. A potencial ameaça à saúde pública levantou questões sobre até que ponto a liberdade de expressão pode ser utilizada para justificar a disseminação de notícias falsas.
Além disso, a polarização política também tem sido intensificada por discursos extremos cada vez mais comuns. O "caso do relatório sobre a liberdade de imprensa", publicado pelo Centro de Liberdade de Imprensa, aponta que 47% dos jornalistas sentem que a sua segurança física e psicológica está ameaçada devido a assédios e ameaças que recebem. Esse ambiente hostil não só compromete a qualidade do debate público, mas também resulta num claro cerceamento de vozes que deveriam ser ouvidas.
No entanto, muitos defensores da liberdade de expressão argumentam que limitar qualquer tipo de discurso, mesmo aquele considerado problemático ou ofensivo, é um perigoso caminho que poderá levar a um estado de censura. O filósofo e defensor da liberdade de expressão, Noam Chomsky, enfatiza que "é precisamente as vozes mais incómodas que devem ser ouvidas, pois elas nos desafiam a pensar criticamente". Para estes defensores, o verdadeiro desafio está em educar o público para discernir entre informações verídicas e desinformação, em vez de silenciar opiniões divergentes.
Com o avançar da tecnologia e a constante evolução das plataformas digitais, a responsabilidade das empresas de redes sociais também entra em cena. Grandes plataformas como Facebook e Twitter enfrentam uma crescente pressão para moderar conteúdos e proteger os utilizadores, balanceando entre garantir liberdade de expressão e prevenir abusos que possam ameaçar a democracia. Em 2023, estudo da Universidade de Harvard mostrou que 71% dos utilizadores acreditam que as redes sociais têm um papel crucial na propagação de desinformação e, por conseguinte, na desestabilização da ordem democrática.
À medida que o século XXI avança, a intersecção entre liberdade de expressão e os desafios sociais torna-se cada vez mais complexa. E a pergunta que se coloca não é apenas até que ponto deve ser garantido este direito, mas qual é o custo que a sociedade está disposta a pagar para proteger a sua integridade. O desafio será encontrar um equilíbrio, onde a liberdade de expressão continue a ser um pilar da democracia, mas não à custa da segurança e inclusão social.
A verdadeira discussão sobre a liberdade de expressão e os seus limites é, portanto, não apenas académica, mas extremamente prática e urgente. Em um mundo em que todos têm voz, como podemos garantir que todas as vozes sejam ouvidas de forma justa, respeitosa e construtiva? O debate está lançado e as respostas poderão moldar a sociedade que todos desejamos construir. O futuro da democracia e do diálogo público depende disso.