Nos últimos anos, Portugal tem conseguido, em grande parte, manter-se à margem das principais ameaças terroristas que assolaram várias nações europeias. No entanto, a situação global tem vindo a mudar rapidamente. Conflitos geopolíticos, o aumento da radicalização nas redes sociais e o retorno de combatentes jihadistas têm elevado a atenção sobre a segurança nacional em solo português. O que está em jogo?
A Nova Realidade do Terrorismo
O terrorismo internacional tornou-se mais complexo e multifacetado. Com o colapso do Estado Islâmico em várias regiões, muitos dos seus militantes e simpatizantes retornam aos seus países de origem, e Portugal está na rota de alguns desses indivíduos. De acordo com o Relatório de Segurança Interna 2023, publicado pela Polícia Judiciária, o número de indivíduos sob vigilância por comportamentos radicalizados em solo nacional aumentou 20% em relação ao ano anterior.
A realidade é que, apesar de não termos assistido a ataques terroristas significativos em território português, a ameaça nunca esteve tão próxima. O aumento das tensões políticas, a crise dos refugiados e a ascensão de partidos de extrema-direita têm alimentado um ambiente de polarização social que pode facilitar a radicalização.
O Papel das Redes Sociais
As redes sociais desempenham um papel central na propagação de ideologias extremistas. Um estudo recente da Universidade de Lisboa revela que 30% dos jovens inquiridos admite ter sido exposto a conteúdos extremistas online. Esta exposição facilita a sua normalização, tornando mais fácil o recrutamento de novos adeptos. Além disso, as redes sociais também facilitam a comunicação entre grupos radicalizados, permitindo a troca de táticas e a disseminação de informação.
Medidas de Segurança e Riscos Latentes
Portugal possui uma série de dispositivos legais e operacionais destinados a lidar com a ameaça terrorista. A Lei de Combate ao Terrorismo de 2003 e a criação da Unidade de Informação e Segurança (SIS) são pilares fundamentais da estratégia de prevenção. No entanto, apesar destes avanços, críticos alertam para a necessidade de uma abordagem mais proativa e integrada. O foco excessivo na vigilância poderá não ser suficiente se não houver um envolvimento ativo com as comunidades que facilitam a integração social e a educação contra a radicalização.
Recentes abordagens mais comunitárias têm demonstrado potencial. Um programa em curso em Lisboa, que envolve jovens em atividades culturais e de convívio, tem como objetivo combater a isolação e a radicalização. O sucesso deste programa poderá servir de modelo para uma melhor resposta nacional.
A Lição dos Vizinhos
O atentado em Nice, França, em 2021, onde um indivíduo radicalizado perpetraram um ato violento, serviu como um grande alerta para a Europa. Embora Portugal não tenha enfrentado tais atrocidades diretamente, as lições tiradas pelas nações vizinhas são essenciais. A colaboração internacional em termos de partilha de inteligência, estratégias de prevenção e desradicalização é crucial. Numa era em que os crimes não têm fronteiras, a coesão interna e internacional é mais necessária do que nunca.
A Estratificação Social como Fator de Risco
A estratificação social em Portugal, que penaliza os grupos mais vulneráveis, pode criar um terreno fértil para a radicalização. A crise económica que se intensificou com a pandemia de Covid-19 deixou muitos jovens sem perspetivas de futuro, alimentando um descontentamento que pode ser explorado por narrativas extremistas. Em um estudo publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, 56% dos jovens de classe baixa em Portugal sentem que não têm voz nas decisões políticas que afetam as suas vidas. Essa sensação de impotência é um vetor que deve ser urgentemente abordado.
O Caminho a Seguir
Portugal está à beira de um precipício. A gestão da segurança nacional, em face da ameaça do terrorismo, exige um equilíbrio delicado entre vigilância, educação e inclusão social. O futuro da nossa sociedade dependerá da nossa capacidade de unir esforços contra a radicalização, ao mesmo tempo que respeitamos os direitos e liberdades dos cidadãos.
A pergunta que se levanta é: estaremos realmente preparados para enfrentar a ameaça que já se insinua nas nossas comunidades? A resposta colectivamente acarretada pela sociedade e pelo governo poderá determinar se Portugal permanecerá um bastião de paz ou se se tornará um alvo vulnerável em um mundo cada vez mais instável. A vigilância está em alta, mas a verdadeira segurança poderá ser encontrada nas ações que tomamos a partir de hoje, em suas comunidades, nas suas escolas e nas suas redes sociais.