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[Música]
António Vilares nasceu clandestino por
força das circunstâncias é filho de Alda
Nogueira e de Sérgio Vilares dois
históricos do Partido Comunista
português António descreve o pai como o
recordista europeu de anos na
clandestinidade foram 32 anos durante
esse tempo só esteve com ele três vezes
mas nem essa experiência de início de
vida fez com que se afastasse daa
política peloo ailha anos e me quando
foi o 25 de Abril portanto não sabia o
nome dos pais nem da mãe era só pai e
mãe não é porque nós mudá de nome para
António Vil rigues a música da revolução
não é a de Paulo de Carvalho nem a de
Zeca Afonso mais inscritas na memória
coletiva é de um cantor e compositor
argentino at tá o alpa e o
[Música]
Punky em 1974 era jovem tinha 20 anos
mas já estava pela segunda vez na
clandestin
ouvi na Rádio Renascença 1:30 da tarde
de 25 de Abril anio soube que algo
estava a acontecer pronto nós dissemos H
qualquer
[Música]
coisa este o podcast clandestinos uma
série de histórias sobre pessoas a quem
o 25 de abril de
1974 devolveu a liberdade mas também o
próprio nome eu sou Inés Rocha
[Música]
neste Episódio o jornalista Camilo
soldado conta-nos a história de António
Vilares que foi Aníbal Ricardo e Américo
para fugir à pide Um percurso atribulado
à primeira vista mas que para António
que nasceu clandestino não tem nada de
traumático é absolutamente normal
[Música]
então chamo-me António Vil rigues e
tenho 70 anos de idade nasci em 1953 na
clandestinidade Fui expulso por inocente
e má figura da clandestinidade com 4
anos e
meio segundo se conta fiz lá uma birra
em casa que queria ir brincar com os
avantes clandestinos com o meu com um
vizinho meu da minha idade António era
demasiado novo não tinha consciência do
Risco nem do que estava em jogo foi que
os pais decidiram que era demasiado
perigoso ter o filho com eles na altura
moravam em Lisboa e António Foi viver
com a avó materna conta que durante esse
período foi educado para não ser
comunista não só pela avó mas também
pelos tios não resultou eh Entretanto a
minha mãe um ano e meio do anos depois
foi
presa nas ruas de Lisboa depois numa
perseguição quase ostilo dos filmes não
é portanto com o taxista a fugir da P
portanto a minha mãe foi foi presa em
outubro de 59 eu tinha 5 anos e nasci em
dezembro portanto ia fazer seis e foi
libertada em dezembro de 68 já eu tava
também para fazer e 15 anos portanto
teve uma pena prisão de 8 anos em
medidas de segurança as medidas de
segurança
portanto na prática podiam ir até à
prisão perpétua se fossem
sucessivamente prorrogadas também Saiu
em liberdade regressou à clandestinidade
portanto no caso concreto dela para o
estrangeiro Porque ela tinha tido
poliomelite quando era jovem portanto
cocha o que tornava rapidamente
identificada por qualquer po político ou
não António fala aqui da mãe Alda
Nogueira figura importante do movimento
democrático de mulheres membro do comité
Central do PCP e depois da revolução
Deputado à Assembleia da República o pai
é uma figura histórica do partido esteve
nas piores prisões do regime no alju em
peniche u heroísmo e tarrafal e fez
parte do restrito núcleo de oito
comunistas que deram início à
reorganização do PCP em
1940 em 74 Sérgio Vilares foi o último
dirigente do partido a regressar à
legalidade meu pai é recordista europeu
di Anes de clandestinidade 32 anos
seguidos portanto sempre que lhe
perguntava ele dizia disciplina
rigorosíssimos
es clad estidos perguntaram-lhe O que é
que o polícia perguntou-lhe o que é que
leva aí publicidade abriu e fechou
acelerou o caminho meteu-se noutra Rua
passou pronto se nem sabe se o polícia
veio atrás dele ou
não António teve poucas oportunidades
para ouvir estas histórias da boca do
pai entre os seus 4 anos e 1974 quando
já tinha 20 anos só ou viu três vezes
mas a vida continuou e aproximou-se do
PCP
namorei juntei-me com com a mãe das
minhas filhas fomos viver para uma um
andar de um prédio por acaso ao pé da
Sueiro Pereira da atual sede do
PCP 50 m ou 100
m era eu que tomava conta da casa era o
digamos o senhorio portanto que vagou
vivíamos nessa casa portanto até ao
momento em que a a pide nos veio
procurar e nós por acaso portanto a
minha avó tinha falecido nós estávamos
no funeral da minha avó quando o apido
nos veio para prender não propriamente a
mim mas à à minha companheira que já
tinha estado
presa duas vezes a primeira vez aos 16
anos a segunda teve presa 6 meses depois
teve se meses e liberdade voltou a ser
presa e salvo o erro foi a
única jovem do portanto raparigo ou
mulher eh que eh legal portanto era uma
jante do ensino secundário que foi
condenada à pena maior
eh portanto em todo o regime fascista
não é portanto como exemplo das lutas
Santis ela foi presa em 64
eh na mesma altura por exemplo na mesma
vaga da do Fernando rosas portanto foi
nessa mesma vaga
eh portanto e e a pide vem-nos sobretudo
para aprender a ela o que significava no
caso dela no mínimo cinco ou 8 anos de
prisão porque já era tridente já era a
terceira vez que iria ser presa portanto
e depois passamos à clandestinidade a
mulher desta história é lí calap Gomes
na altura sua acompanhara a pide não os
encontra em casa e a porteira vai ao
funeral da avó de António dizer-lhe que
há pessoas esquisitas no prédio percebem
o que está a passar quando são
informados de que está em curso uma vaga
de prisões e já só havia uma solução a
tomar e e a partir daí decidimos eh
seguir para o
porto para C para cortar cortar tanto em
em termos já já são termos clandestinos
portanto para cortar as ligações da
forma que aid não nos pudesse seguir
havia um familiar da minha companheira
portanto que que era do partido e na
clandestinidade fomos ter com ele
eh ficamos escondidos no numa casa
arranjada por ele e depois o partido
entendeu E
e pediu-nos que nós tratássemos
diretamente porque havia condições
financeiras para isso que nós
tratássemos diretamente da passagem
clandestina da
Fronteira na altura em
1971 é o partido que sugere que devem
deixar o país e fazer caminho para
França Li estava grávida da primeira
filha que nasceria já em Paris a ida foi
atribulada tiveram de passar o Rio Minho
a custo num barco instável e de fundo
chato só viriam a casar-se anos depois e
logo no dia 24 de novembro de
1975 já ele estava a cumprir o serviço
militar no Regimento de comandos da
amadora mas a história que António Vil
rigues poderia contar sobre o seu
casamento e o 25 de Novembro daria para
outro podcast
em
1972 regressam de França e voltam à
clandestinidade portanto tivemos um ano
na prática portanto passamos à
clandestinidade a 3 de Junho portanto
Isto foi no dia 3 e regressamos ao país
a 16 de julho Portanto o ano depois pelo
aparelho clandestino do partido já
Portanto o que foi uma passagem que não
teve nada que ver com a
[Música]
primeira estamos com umas compras na mão
bebé na mão com se meses posta Gne da
Guarda fiscal ao lado o passador a dizer
adeus pronto depois tínhamos um taxi à
nossa espera iamos sendo presos logo no
no primeiro dia porque à meia-noite
houve uma operação
Stop eu
tinha um bilhete de identidade
clandestino mas que estava fora de fora
de prazo não é portanto já estava
ultrapassado eh mas e a minha filha com
6 meses a Sofia Salv onos porque o a GNR
condoeu-se disse siga siga siga é muito
tarde siga siga siga pronto e e o
primeiro sítio onde dormimos em Portugal
ironia também foi uma pensão na estação
ao pé da estação de comboio da paragem
da estação de comboio de visu cidade
portant e agora estou a residir no
distrito de vieu portanto foi essa
passagem depois fomos e para o porto eu
tinha acabado tinha um problema eu tinha
18 anos portanto mas tinha que ter idade
de quem já tinha feito a
tropa portanto tinha uns óculos daqueles
de teatro portanto que não TM coiso
e fato e gravata era uma coisa que me
incomodava com calcula não extremamente
e e portanto era irmão da
da Zita Seabra portanto tínhamos acabado
o curso eu tinha acabado o curso em em
Coimbra e estava aliant estava ali a
descansar
portanto tivemos aí se meses não era
para ser tanto tempo mas acabou por ser
a seguir À Revolução mal pode viu-se
livre do fato que tanto o incomodava
viria a sentir falta dele quando recebeu
um convite do presidente da república em
1976 portanto eu fui portanto porque era
amigo do filho não é ele era membro do
da uec o filho do do General Costa Gomes
Recebi um convite pessoal para ir à
assinatura da Constituição não tinha
fato na altura não tinha dinheiro para
comprar o fato não fui à assinatura
porque foi a primeira coisa que eu vi
livre foi do fato daquelas coisas de
jovens né tinha 19 anos quando foi o 25
de abril de Penafiel mudaram-se para uma
localização em São mamed de infesta em
Matozinhos mas também não ficariam lá
muito tempo uma vez que um acaso obrigou
a uma troca apressada eh a casa
infelizmente durou pouco tempo porque
nós um dia andávamos a passear com com o
bebé para pronto comportamento normal
para a vizinhança etc
eh íamos atravessar a estrada
nacional passa mais gente apide num
carro com um chofer que me conhecia a
mim que tinha estado a caminhar 9 anos
para Caxias e que conhecia como é óbvio
a minha companheira que tinha estado
presa a 3 anos portanto chegamos a casa
fizemos as malas e mudamos de sítio
fizemos o tal corte fomos até à trofa
voltamos a entrar no porto hav
conseguimos contactar portanto forma de
arranjar casa tivemos numa casa e fomos
depois para a última casa que já foi do
outro lado do rio portanto nos Carvalhos
numa Vivenda
geminada era no meio de uns Pinhais
portanto tínhamos eraa
isolado mas era de fácil controlo se
aparecesse se alguém estivesse a vigiar
e de
identificar todos os cuidados eram
poucos viviam num estado constante de
alerta e Vigilância ao ponto de um
episódio mundano parecer pôr em risco a
liberdade era preciso fazer tudo para
não dar nas vistas eu tive duas
abordagens homossexuais na
clandestinidade portanto eu pesava menos
30 kg qual que peso agora já lhe dis
portanto uma Estava à espera do
Autocarro convenci-me que ia ser preso
portanto na na circul na circulação do
Porto e aproximou-se um falando de mim e
estava a ver uma operação stop e numa
das rotundas da circunvalação Pronto ele
andou de volta de mim seé até que me fez
o convite aberto para eu ir aí pronto aí
passei eu ao ataque portanto não passei
ao ataque ó ó quero que eu V chamar a
polícia e tal Claro que não ia PSE quero
que eu vai chamar a polícia era o que
faltava não é Dios os dois para a
esquadra eh Portanto ele assustou-se e
foi-se embora a outra foi no Autocarro
portanto teve uma abordagem
E isso estava nas vistas nãoé no porto
António Vilares ficou responsável pela
organização do ensino secundário da
União dos Estudantes comunistas a uec
uma estrutura que tinha acabado sa
creada era nessa casa dos Carvalhos sem
Gaia que imprimia o material de
propaganda e era lá que estavam quando
souberam que havia uma revolução em
marcha estava nessa casa quando foi o 25
de Abril eh nós sabíamos que estava em
movimento portanto não sabíamos como é
óbvio a data estava uma criação no
movimento das Forças Armadas etc
H estávamos a a a imprimir comunicados
da da UE
apelar à greve no primeiro de maio das
dos Estudantes do ensino
secundário portanto e só nos apercebemos
de uma
forma curiosa só nos apercebemos do do
25 de Abril à 1:30 da tarde porque as
rádios no norte não estavam a transmitir
nós normalmente era a que tinha melhor
música ouviamos a Rádio
Renascença pronto e de repente a Rádio
Renascença põe no ar uma
nós
con nós disos qualquer coisa Ráo renc
não passa uma música
[Música]
revolucionária pronto fomos à procura
das outras Estações foi assim que
tivemos a noção
entret passado a ser
responsável controle
portanto entrou em contacto connosco
arranjou maneira de entrar em contacto
connosco e e portanto disse-nos quais é
que eram as regras portanto as regras eu
não fui ao Primeiro de Maio nós íamos
ficar continuar sem aparecer entretanto
depois com a evolução dos acontecimentos
e eu posso estar enganado em junho ou
julho portanto mas acho que foi em Julho
portanto Saímos de dos Carvalhos para
grande pena dos Senhores choraram voltem
e não sei quê vai vão lá para baixo mas
depois volta e a casa fica à vossa
espera aquelas coisas nós dissemos Não
não faça isso e tal aqu el foi muito
comovent despedida a minha filha tinha 2
anos e meio quando foi o 25 de Abril
portanto não sabia o nome dos pais nem
da mãe era só pai e mãe não é porque nós
mudável não era propriamente o nome
vulgar não é
H passado uns anos ligou-me e pá quero
ir ver as casas destinas Pronto já era
adulta já estava-se a viver sozinha etc
pronto OK fomos às voltas Ela foi
direitinha à casa àquela casa onde a
manhã de 25 de abril de
1974 pareceu uma manhã normal
normalíssima
almoçamos tivemos a imprimir conversar
ouvir música Há 1:30 da tarde h tá o
alpa e o Punky bastel Y mand e portanto
bast aá de fazer os doc paramos logo
como é óbvio ainda ficamos na dúvida mas
depois começamos a ouvir os apelos do
mfa e percebemos que não era o causa da
Raga que não era um golpe de extrema
direita portanto
que pronto mas não foi só o Jorge
Sampaio que ficou em casa não sei se
conhece a história né Jorge Sampaio é
que disse já era Presidente creio eu que
deve ter sido o único português que
ficou em casa e que cumpriu as
instruções do o mfa Nós
também portanto por outras nós e outros
funcionários do
[Música]
partido o dia foi is pronto e Depois
ficamos acordados prto já não dormimos
já não dormimos bem nessa noite etc
depois fomos Depois ficamos à espera que
que Aita entrasse em contacto
portanto e pois a partir daí
desenrolou-se normalmente é uma palavra
que António Vilares aplica com
frequência quando fala desses tempos
normalidade neste caso o curso normal
dos acontecimentos significa que ficou
mais uns meses na semic clandestinidade
não festejou o 25 de Abril nas ruas nem
o primeiro dia do Trabalhador em
liberdade custou-lhe Mas eram as
indicações do partido esses primeiros
tempos passou os a a reunir organiz
portanto pronto sem as preocupações do
corte portanto aliás mantendo a
preocupação do corte Enquanto nas
semanas nas duas ou três semanas que
ainda ficamos em nos Carvalhos
continuando a reservar onde é que era a
residência e como é que se contacta etc
portanto não havia telemóveis não é
portanto esses primeiros meses foi assim
acompanhar a mobilização o primeiro
comício do PCP no campo pequeno uma
chuvada
monumental lembro-me
que ainda estava na smic nidade fomos
limpar a António Serpa não é que era a
sede da legião Portuguesa de Lisboa
e nunca tinha visto tanta porcaria na
minha vida eles eram um bocadinho de
porcos houve coisas que houve camadas de
porcaria arrancadas com espátula do chão
e das
paredes nunca mais meque era uma casa
antiga na António Serpa portanto ao pé
do campo pequeno
eh daquelas que tinham muitas divisões
esse trabalho contrasta com os tempos em
que viviam sob outros nomes e com a
necessidade de manter as aparências
porque estava inerente que era mim que
era a Lígia eh nós dividíamos os
trabalhos domésticos isto na
clandestinidade não podia ser
visível tinha que aparecer a a mulher a
fazer os trabalhos domésticos
o homem a ver e tal não é tal quando
muito Olha toma lá estende lá e tal não
é é portanto tivemos que manter essa
fachada António teve vários nomes muitas
identidades os documentos falsos serviam
apenas para raras ocasiões portanto de
pseudónimos tive vários fui Aníbal fui
Ricardo fui fui Aníbal fui Ricardo fui
Américo portanto tive vários foi foi
também estudante tradutor e contabilista
em cada casa a sua profissão o nome o
bilhete identidade era só em última
utilização portanto se fosse preciso
assinar um contrato Portanto o António
José da Silva funcionou para para para
para as três casas não é tanto
de já não me lembro os nomes da minha
companheira Zita se crei que era Luísa
portanto se bem me lembro portanto e era
minha irmã António Vilares só voltaria à
superfície em Julho de
1974 com a nomeação do segundo governo
provisório o de Vasco Gonçalves o pai
Sérgio demoraria ainda mais o meu pai
foi o último a sair da clandestinidade e
portanto o meu pai
e teve 32 anos na clandestinidade 30
dentro do país dois fora portanto havia
o secretariado do comité Central e havia
uma comissão que estava uma parte fora
do país e havia uma comissão executiva
do comité Central que estava dentro do
país pronto e rodavam portanto em 72 o
meu pai saiu do
país e entrou o Otávio pato o José
Vitoriano tanto que estavam fora
portanto houve uma troca uma rotação eh
Portanto ele estava em Paris quando foi
o o portanto veio a seguir ao 28 de
Setembro teve antes cá no país portanto
veio às reuniões de comité central tamb
pronto mas eh sempre quantos tin nessas
voltas e Viagens viu o pai apenas três
vezes em
1969 em 71 e em
72 A primeira foi quando a mãe foi
libertada da prisão eles encontraram-se
eh no túmulo de Inês e Pedro e Inês
portanto acabaram por estar algumas
horas juntos eram para estar éramos para
estar uma semana mas entretanto o irmão
do meu pai ligou para o telefone para a
minha mãe que estava sob escuta portanto
a porteira mudou quando a minha mãe saiu
em liberdade passado poucos dias a
porteira do prédio foi trocada portanto
por alguém que nos viava portanto pelos
chamados informador bufos pronto
informadores da pide que eram 20.000 não
é portanto foi o encontro que tive com o
meu pai em
1969 depois em 71 Portanto ele foi a
Paris ver a neta recém-nascida
eh teve connosco ainda se meteu comigo
pá tu estás mais clandestino que eu
porque eu tive todo o tempo em Paris sem
documentos não é portanto não era não
era estava mesmo totalmente clandestino
eh Ligia não tinha o seu bilhete de
entidade tinha os seus
documentos Pass porte etc mas os meus
Ficaram só depois do 25 de Abril é que
os
reavi e depois já na clandestinidade
tive um encontro com o meu pai na
primeira casa portanto Fi encontrar-me
com o meu pai em Penafiel e depois
tivemos um dia juntos etc e depois só
depois do 25 de
Abril dos hábitos ou rotinas que
adquiriu durante a clandestinidade Foram
poucos os que
Ah foi ao contrário eu fiz a
clandestinidade toda sem registar uma
morada um nome um número de telefone
tudo de cabeça aperfeiçoei uma memória
visual eu se o visse assim na rua era
capaz de dizer e me chamasse a atenção
era capaz de dizer onde é que eu tinha
enc dizer mentalmente onde é que o tinha
encontrado portanto tinha uma memória
criei uma memória fotográfica
com preocupação a memória fotográfica
essa memória fotográfica desapareceu
poucos meses depois do 25 de Abril a
outra
permaneceu no dia a seguir à gravação da
entrevista António Vilares encontrou-se
com o Adriano Miranda fotojornalista do
público o Adriano foi até Penalva do
Castelo para lhe fazer um retrato e mais
do que chegar a horas chegou antes do
tempo isso desbloqueou uma memória a
Vilares é é uma coisa pequena Diz ao
telefone mas talvez valha a pena
acrescentar mesmo que esta parte da
conversa não tenha sido gravada é que
afinal há um hábito que lhe ficou dos
tempos da
clandestinidade ser absolutamente
pontual não chegar nem muito antes nem
muito depois a compromissos agendados
era uma forma de reduzir a probabilidade
de imprevistos diz de regresso à parte
gravada da entrevista quando pergunta é
sobre as marcas deixadas pela
clandestinidade a dele e a da família
António Vil rigues mantém o registo não
entra em comoções diz recusar o carimbo
de criança traumatizada que lhe querem
aplicar repar Cada pessoa tem a sua
desculpe lá o palavrão a sua indios
secresa nem eu nem a Lígia nunca tivemos
mas V quem tivesse que inclusive é
tomasse medicamentos portanto nunca
tivemos angústia na clandestinidade nem
a preocupação Vamos ser presos Não vamos
não quer dizer que não houvesse
vigilância rigorosíssimos
portanto não eu sempre considerei normal
portanto e h e h e h algumas pessoas
algumas com as quais cortei relação uma
ou duas com quem cortei
relações não sei porquê achavam que eu
que tinha que ser um traumatizado
portanto pá eu tinha a chave de casa e
tinha uma mesada que em termos líquidos
era superior ao se calhar ao dos os
trabalhadores da fábrica do meu avô
portanto eu não sabia o que é que havia
de fazer ao dinheiro tinha tudo pago
portanto gastei o em Livres falá podia
me ter dado para outra coisa pronto
gastei quando passei à clandestinidade
com 16 anos 17 tinha 2000 livros lidos
não é portanto eu tinha uma biblioteca
portanto já com 2000 livros né Eu sou de
uma geração em que o menino António não
é e ia ia à minha avó ou i ou I as
empregadas no
comprar o todos os dias a garrafinha de
leite Primor à
Pastelaria os iogurtes eram de boiões de
vidro tinham que ser encomendados na
pastelaria não acho que isto seja
traumático portanto portanto como
encarei a passagem à clandestinidade
normalmente como sempre encarei as
coisas com algum com toda a
normalidade de uma forma
menos e sem ter falado com ele e sem
conhecer ess ideia procurei sempre ter
um comportamento semelhante àquilo que o
Álvaro cal dizia né o meu camarada
Álvaro dizia nunca me arrependo daqu das
decisões que tomei porque pensava porque
sempre pensei naquela altura feita a
análise que era a decisão mais correta
pá a prática depois demonstrou que não
era isso é uma coisa diferente quando
faz esta ressalva que a prática depois
demonstrou que não era a decisão mais
correta não fala da sua ligação ao
partido foi funcionário até
1991 e continua militante fala da sua
vida privada não da atividade política
embora as duas forçosamente não possam
ser separadas eu tomo hoje uma decisão
vou-me casar com aquela pessoa te meita
tal tal pronto mas depois a prática
demonstrou que não era eu arrependo-me
de ter casado com a pessoa não naquela
altura á como o nível de consciência
como o nível de
conhecimentos Não não sou daqueles que
diz Eh pá arrependo-me não pronto se me
arrependesse era logo
portanto encaro assim mas há quem não
encara assim portanto eu aceito
perfeitamente quem não encara
[Música]
assim clandestinos é um podcast original
do público conduzido e sonorizado por
mim Inês Rocha a entrevista que ouviram
neste Episódio e o guião são do
jornalista Camilo soldado a coordenação
é da Patrícia Jesus Se gostou deste
Episódio não se esqueça de fazer seguir
na aplicação onde houve e de nos dar uma
avaliação nas próximas quartas-feiras há
mais histórias de clandestinos para
ouvir Até lá boa semana
[Música]
1 comentário
Pois… mas tentou impor o comunismo… aos democratas…