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eu sou Manuel Carvalho e este é o p24 a
resistência foi em si mesma uma Pátria e
ainda oou é estamos em vésperas do 25 de
abril e por muitas coisas que se digam
sobre o meio século da Democracia por
muitos eventos que se citem ou
personagens que se invoquem há sempre
lugar para um olhar novo quem ler o
livro Memórias minhas de Manuel Alegre
uma magnífica viagem pela história da
sua vida que é como quem diz pela
história de Portugal contemporâneo
encontrará sem dúvida muitos ângulos uns
mais outros menos conhecidos para
descobrir algo de novo sobre o 25 de
Abril ou em última instância para
encontrar frases antigas que se foram
desgastando com o tempo até recuperarem
novidade nos nosos dias quando se Anunci
para as prximas eleições europeias o
reforço dos partidos nacionalistas
populistas e antissistema palavras como
Resistência tornam-se de novo
pertinentes Como foram no tempo da
repressão das liberdades do estado novo
escolher Manuel Alegre em vésperas do 25
de Abril é também uma escolha entre as
muitas democracias que foram prometidas
aos portugueses com a revolução Alegre
andou pelo partido comunista mas desde
1968 sabia que o seu irreprimível gosto
pela vida e pela Liberdade não batiam
certo com esse lugar onde como recorda
no seu livro não há lugar para o foro
íntimo ele bateu-se contra o regime foi
preso teve de se exilar mas depois de
abril de 1974 esteve na Linha da Frente
em defesa do modelo da Democracia que
triunfou no país a menos de 24 horas do
início da festa da Democracia palavra
para Manuel Alegre histórico do partido
socialista e do 25 de Abril Este é o p24
E hoje é quarta-feira dia 24 de Abril de
2024 Dr Manuel Alegre muito bem-vindo ao
p24 Boa tarde e antes de mais panto
parabéns pelo lançamento do seu do seu
livro Memórias Minas e neste livro há há
há muita política há muita poesia dia
muito idealismo e também é natural para
quem viveu no estado novo Alguma
desilusão mas há também um outro lado
que mostra paixão pelo sol pelas
mulheres pela caça pelo mar que lhe dá
uma feião muito e camana revê se nesta
comparação eu estava a ler o seu livro e
estava-me lembrar de algumas passagens
de cios é defeito meu ou é virtude sua
de cam não não creio que tenha grande
afinidade talvez com amingo e mais com o
amingo com o camio mas eu gosto muito do
camio camio é um dos meus aores Eu gosto
muito de facto fala do sol do mar do
lado festivo da da da humanidade talvez
talvez diga uma coisa seu doutor o facto
de publicar este memórias minhas em
vésperas do 25 de Abril tem para si um
Óbvio significado pessoal não é H como é
que vai celebrar o 25 de Abril amanhã no
dia 25 olha irei a ao centro cultural de
blé onde há uma cerimónia com os chefes
estado africanos que vem a Portugal e e
lá estou convidado como membro do
Conselho de estado
e e e como 25 de Abril é inseparável
também do problema da do problema
colonial e da solução do problema
colonial e do estabelecimento de novas
relações com os países africanos que
depois chegaram à Independência e isso
foi um aspeto importante da minha luta e
da minha vida eu vou vou Celebrar assim
o 25 de Abril porque o 25 de Abril sem o
25 de Abril a guerra teria continuado as
coisas teriam sido diferentes
e portanto eu acho que é inseparável
como nós dizíamos na altura a luta
antifascista e a luta anticolonialista
são inseparáveis o seu livro Portanto
tem 400 páginas 250 páginas são enfim
desde a sua infância até ao 25 de Abril
até 1975 em concreto e depois portanto
as outras 1150 é eh Portanto tem a ver
portanto com a sua autobiografia desde
1975 até praticamente à atualidade isto
quer dizer de alguma forma portanto que
os a sua vida antes do 25 de Abril foi
digamos assim mais intensa mais densa eh
ou enfim para este caso a cronologia e
eh o volume das páginas que estão
transcritas no livro não é tão
significante não foi uma vida muito
intensa em plena Juventude eu tinha 26
27 anos quando estive na guerra e na
cadeia e depois tive que ir para o
exílio portanto foi uma vida em que
aconteceu eram muitas coisas com muitos
episódios D impressão que são várias
vidas de uma vida e foi uma vida muito
intensa porque eu passei por tudo aquilo
que passou a minha geração uns não foram
à guerra e partiram para a
imigração outros estiveram na cadeia
outros outros foram à guerra e não
aconteceu nada eu estive na guerra
estive na cadeia e fui parar ao exílio
portanto foram todas essas coisas que me
aconteceram e aconteceram no me idade
que as coisas se vivem muito
intensamente não é uhum o o sor escreve
a determinada altura em nambuangongo
olhei a morte e fiquei nu
H foi o momento da sua vida em que teve
medo enfim esta pergunta e obviamente
faz particular sentido porque habituamos
noos a olhar para o Dr Manuel Alegre
como alguém que não tem medo ou que
nunca teve medo na sua vida foi o
momento da sua vida em que diria que
teve mais medo quando esteve em na buang
gong não eu estava em na eu estava em
nabong gong quando chegou o corpo de um
soldado morto nesse mesmo dia não é e
isso fez muita
impressão fez muita impressão e marcou
muito essa minha estadia na na Bong
descobrir descobrir a morte através do
outro e quando se descobre a morte
através do outro eh pensa-se na nossa
própria morte não é aquilo que acontece
a outros pode acontecer a nós próprios
mas a guerra fazia medo evidentemente
que a guerra fazia medo porque era uma
guerra em que não se via o inimigo em
que as coisas aconteciam de maneira
inesperada e imprevista e em que estava
sempre com carado na boca sobretudo nas
zonas de guerra propriamente ditas Como
era a zona de nabo quando chegou lá e
quando chegou a Angola portanto como
alfer
miliciano teve algum momento em que se
arrependeu de não ter sido refratário ou
desertor como tantos milhares de jovens
da sua geração não
não era uma experiência que tinha que
ser vivida estava ali A grande maioria
da Juventude portuguesa também e eu eu
quis fazer essa prova em relação a mim
mesmo não quis que se pensasse nem que
eu próprio pensasse que deixava de ir a
guerra por ter medo da Guerra portanto
quis fazer essa
prova ter essa vivência até par ter
razão em todo o sentido eu já era
crítico de guerra pensava que os povos
tinham direito à elação e à
Independência mas fiz a guerra também
conspire e fiz uma e participei numa
tentativa do golpe militar contra o
contra o regime que foi abortada Não não
não resultou e o que levou à prisão mas
de qualquer maneira de qualquer maneira
nunca pensei em desertar nunca pensei em
ser legatário era uma experiência que eu
queria fazer de qualquer forma portanto
também no seu livro eh define o dia 31
de Maio de 1958
quando Humberto delegado eh visita
Coimbra como o dia que mudou e as nossas
vidas e foi a partir daí que sim é uma
pedrada no é uma pedrada no charco uhum
o delgado levantou o país com uma frase
obviamente demito levantou o país e nos
poucos dias em que ele conseguiu falar
na rádio as pessoas juntavam paravam na
rua lembro em Coimbra parava na rua para
ouvir a rádios e a chegar chegada dele a
Coimbra é uma coisa impressionante eu
nunca vi tanta gente em Coimbra nem nem
mesmo depois do 25 de Abril eu lembro-me
da chegada dele ele dava as mãos
praticamente como se tivesse a puxar por
nós e a querer levantarmos a querer
levantarnos do chão e é uma Mag
inesquecível e o delgado com a sua com a
sua maneira de ser com sua com com a
campanha que ele fez
mudou mudou a situação política e mudou
a própria oposição e e e portanto Isso
foi um acontecimento quando diz que muda
as suas vidas portanto do ponto de vista
político o seu empenho na causa do
combate à Ditadura do estado novo e
ganhou outras raízes ganhou outra
dimensão é isso que quer dizer com esta
frase não é porque com essa experiência
do Delgado fez de mim nessa altura um um
militante muito mais ativo porque quando
vieram os resultados das eleições o o
delegado podia não ter ido eleições
poderia ter feito um golpe de estado mas
o levantamento Nacional era de tal hora
ordem ele próprio se convenceu que podia
ganhar as eleições sem ter pensado que
os cadernos estavam
E era uma fralde que as eleções iam
centas e eu quando saíram resultados
senti uma revolta tão grande foi como se
me tivessem relevado uma parte da minha
própria alma e atir daí a partir daí
tornei-me um militante muito mais ativo
Isso mudou a minha vida e o que
aconteceu a mim aconteceu a muita gente
muito mais tarde portanto continuamos a
viajar portanto andar aqui um pouco para
trás e para a frente e e na na
cronologia do século XX português e da
sua vida refletida neste memórias minhas
H muito mais tarde dizia eu no congresso
do partido socialista de dezembro de
1974 escreve que virou o sentido da
discussão eh e o seu discurso foi
importante eh para que o partido
socialista abandonasse Definitivamente a
via da e democracia Popular h o que
enfim eh olhando para o seu percurso e a
relação que teve com o Partido Comunista
eh o seu exílio em Argel a sua prisão PL
pide seria natural que depois do 25 de
Abril tivesse uma certa aversão à
democracia dita burguesa não não não não
eu a minha luta depois de 25 de Abril
foi p uma democracia política pluralista
e p partidária a democracia burguesa
foram utopias de juventude mas quando eu
cheguei a Portugal eu já tinha saído do
Partido
Comunista já tinha feito a experiência
da lá fora e também na França e tinha
compreendido as razões da
degenerescência da União Soviética e
para mim a ideia do socialismo tinha que
ser uma ideia democrática uma ideia
gradual inseparável das liberdades
públicas
e a minha luta depois do 25 de Abril foi
contra a deriva da revolução e por uma
democracia pluralista e pluripartidária
por uma democracia constitucional e
contra ideia da Democracia borgues
porque a democracia não tem que ter
adjetivos a democracia é ou não é em
nome da Democracia borgues fizeram-se
ditaduras totalitárias e a chamada
democracia Popular que não era outra
coisa senão uma ditadura Aliás o o o o o
sor desde as primeiras reuniões portanto
estamos a falar de coímbra nos anos 50
no PCP e escreve isso no seu livro em
que há um momento em que e numa reunião
do Partido Comunista alguém fala sobre
uma relação que tinha com uma namorada
portanto e o sor responde que isto era
do seu foro íntimo e a resposta que
houve do outro lado é que no Partido
Comunista não havia for o íntimo logo aí
portanto essa espécie de cerco da sua
liberdade portanto Foi algo que enfim
não caía bem com a sua maneira de ser já
na altura não acontece que na minha
geração as pessoas que se distinguiam na
luta
estudantil por na oratória por tribunos
ou por qualquer outra razão acabavam por
se encontrar com o Partido Comunista
porque o Partido Comunista era a única
força organizada a única força
organizada e capaz de
encontrar as pessoas que
andavam a lutar pela Liberdade não é de
maneira que a minha adesão ao partido
comunista é uma adesão resultante das
minhas convicções
antifascistas da minha vontade de acabar
com o regime e e e ter compreendido que
o partido que sem sem uma força
organizada isso não seria possível mas
eu saio do Partido Comunista depois
razão da Checoslováquia pelas forças do
pacto Varsóvia
porque eu tinha tido uma conversa com o
Dr Álvaro cunhal em que ele me tinha
dito tinha feito Elo do cheque e tinha
dito que as experiência cheque era
importante para nós próprios para
conciliação entre o socialismo e as
liberdades e depois o Partido Comunista
aprovou a intervenção ao contrário do
Partido Comunista espanhol do Partido
Comunista italiano e até do francês
embora o francês de uma maneira mais uma
no cará e outra na ferradura e isso foi
para mim uma uma grande desilusão e não
tive outra solução senão demitir do
Partido Comunista o o Senor escreve
também neste neste livro de Memórias eh
a resistência é em si mesmo uma Pátria é
nela que estou e é a ela que pertenço e
esta declaração H faz sentido em
permanência eh principalmente para
alguém que tem a sua a sua sua biografia
mas eh não lhe parece que de alguma
forma faz ainda mais sentido agora eh
que assistimos ao crescimento de forças
da Extrema direita que põ em causa
alguns dos consensos Democráticos
essenciais Sim Sim nós vamos ter que
resistir outra vez e saber resistir
embora as coisas são diferentes
eh a história funciona por ciclos não se
repete
mecanicamente mas eu quando disse em si
mesmo a uma Pátria porque nós sentíamos
que a pátria nos tinha sido usurpada
vivíamos uma Pátria amordaçada um país
amordaçado e era na resistência que nós
encontrávamos o país o país que
queríamos o país sonhado o país futuro
era nesse sentido que eu disse que a
resistência era uma Pátria mas a
resistência é também uma Filosofia de
vida uma forma de vida e realmente a
democracia nunca Está acabada a
democracia é uma flor frágil
e nos tempos atuais a democracia vive um
período difícil aqui e em toda a parte
eu lembro-me que depois do 25 de Abril
houve um período eufórico da Democracia
o americano Samuel huntington disse que
o 25 de Abril tinha inaugurado uma nova
era democrática e realmente o 25 de
Abril influenciou a transição
democrática em Espanha na Grécia no
Brasil em muitos países da América
Latina e influenciou porque nós
conseguimos passar da ditadura para a
democracia sem cair numa nova ditadura
de sinal contrário foi um período
eufórico da Democracia neste momento
estamos a viver um
período muito difícil para a democracia
com o populismo com com a chan fobia com
a Extrema direita por todo lado já não é
uma era de construção da Democracia mas
mais de desconstrução da Democracia
dentro da própria democracia portanto
daí portanto esta declaração a
resistência eh é onde eu estou e é ela
que eu pertenço portanto continua a
fazer eh particular eh sentido Dr Manuel
Alegre Muito obrigado e uma vez mais
muitos Parabéns pelo seu livro que eu
recomendo muito vivamente E E H
desejo-lhe também e um ótimo e 25 de
Abril Muito obrigado foi um prazer
conversar consigo quis
saber quem
sou o que faz sou
aqui quem me
abandonou de quem não
esquece
perguntei por
mim quis saber de
nós mas
uma não me traz
como a manhã é freado o p24 estará de
volta apenas na sexta-feira passa os
olhos pelos programas de celebração dos
50 anos do 25 de Abril que foram
organizados em todos os cantos do país e
decida qual lhe interessa como
alternativa pode passar os olhos pela
autobiografia de Manuel Alegre quehe
falamos aqui hoje vale muito a pena
tenha um bom freado o P2 é um podcast do
públic com mús
episdio de
morrer Como amar é
ganhar e
perder tu e Esta
flor
eu te desfolhei
tu te deste em amor
[Música]
te no teu coro
amor
[Música]
ador e a
morrer o público fica no ouvido